Já tenho pelo menos um título pra ir pro Guiness Book. É o de Campeão Mundial de Pessoas que Entram em Coisas que não dão Dinheiro. Canso de ler biografias de gente que tem poder de atrair dinheiro em tudo o que faz. Canso! Jogam um ovo pra cima, cai no chão é ouro. Nem ponho no meio a moralidade do ato de ganhar dinheiro dessas pessoas. Nem sei se é honesto ou não. Falo da facilidade com que o dinheiro vai pro bolso delas e dali pra bancos suíços ou iates de cento e vinte pés. No meu caso, é fatal. Se me convidam prum evento, exposição, negócio, revista, jornal, livro… é certo que não tem dinheiro na jogada. Pelo menos pra mim. As pessoas que me convidam acreditam que o dom (ou sei lá o quê!) que tenho de escrever já compensa tudo. Ou pensam que ganho fortunas com outro negócio e que escrever é apenas um passatempo. Se alguém chega pra mim e diz que meu texto é imprescindível na revista que está lançando, já sei que quer de graça. Quer dizer, minha suposta fama vai trazer mais leitores pra revista e… mais dinheiro pro dono. Sei que tem pessoas que não se importam em dar textos de graça.
Elas acreditam que aparecendo numa revista qualquer — tem centenas nas bancas — o nome delas vai ser conhecido e reconhecido na sociedade. Será? Já me pediram conselhos sobre produtos, restaurantes, lançamentos quaisquer. Já me pediram textos pra aniversariantes, bodas de ouro, sites, campanhas publicitárias. Já me pediram colaboração pra revistas, jornais. Parece que a facilidade de fazer um texto atesta que ele não deve custar nada. Nem deve ser remunerado. Também tem aquelas famosas coletâneas que exigem pagamento de cada autor. E depois mandam uns exemplares gratuitos. Publicar livro próprio, então, só pagando! As editoras sempre alegam que estão com calendário tomado — por estrangeiros — até 2016. Recebo vários e-mails de editoras do tipo faça já! Depois de publicar, às próprias custas, as pessoas querem o livro de graça.
Assim vai. Ai de mim se tento me defender e pedir pagamento de qualquer texto. Viram a cara, me esquecem. Acham que estou sabotando o negócio deles. Num tempo em que tudo — nem só o tempo — é dinheiro, fico a ver cofrinhos de poupança com asas no ar. Não sei mais quantos escritores passam por isso. Sei que canso de ver folhetos, catálogos e outras peças publicitárias cheias de aberrações em matéria de texto. Se tento uma aproximação pra oferecer correção, querem de graça! O nome de famosas empresas vai pro ralo porque pagam pouco pra agências de propaganda ruins.
É difícil fazer as pessoas entenderem que escrever é um ofício. Deve ser um ganha-pão! Hoje, pra mim, pelo menos, é um ganha-migalhas-de-pão-dormido! Amém!
Rui Werneck de Capistrano é autor de Nem bobo Nem nada.
O diagnóstico era obscuro, o tratamento claro. Teria que descansar, sair do país de preferência, onde os telefones celulares não me alcançariam, os e-mails seriam esquecidos, os compromissos descartados. Ano passado fiz duas viagens longas para a Europa. Quase 4 meses viajando, é verdade, a trabalho. Abri o mapa. Minha ignorância me afasta de locais como a Austrália. Minha total inaptidão na relação com o mar (gosto muito de vê-lo) me afasta de outros destinos prováveis. É fato, meu pânico de avião não me levaria até Bora-Bora ou lugares isolados no meio do Pacífico como o Havaí. Um dos sintomas do stress é frio. Cortada a Russia, portanto, que não conheço e que desejo tanto conhecer. Lugar para curar stress não é a Persia, não é o Cáucaso, não é a África. Pensei na África mais um pouco. Um dia. Sobrevoar o Saara foi algo inesquecível, mas meu avião costuma sempre passar pelas piores turbulências na costa do Senegal.
É claro, além de Paris, sempre teremos o Japão, mas longe e com 12 horas de fuso-horário, o que me causaria um transtorno enorme. O Brasil é sempre uma grande idéia, não conheço todo nosso litoral, nem os Lençois, nem Bonito. Mas qualquer um poderia me alcançar, mesmo vestindo um snorkel, submerso no rio Sucuri. Um ex-amigo me sugeriu um cruzeiro pelo Alaska, Coréia (um momento perfeito) e China. Minha empolgação pelo Caribe me fez passar umas duas horas em Aruba e entrar no primeiro avião disponível de volta para casa. India não. Mongólia não. Turquia, ainda não me resolvi quanto ao genocídio Armênio, Grécia! É isso! Mas ando tão atrasado com meus estudos pré-Socráticos. Arrisco Platão, Aristóteles e até um período decadente, cínico, cético ou estóico, mas o que falar sobre os epicuristas. O que falar sobre o prazer da vida?
E aí decidiu? Ela perguntou. Limpei a garganta e disse: Detroit? Ela não acreditou por algum tempo. O que você quer fazer lá, ser assassinado? Bem, você mora em São Paulo. Mas é a minha casa, eu nasci no Rio, conheço meus perigos. Tem algumas cenas musicais fluentes ainda, é a cidade do MC5, do The Stooges, Jack White. Além, é claro, de conhecermos Hitsville U.S.A., o quartel de Berry Gordy e da Motown. Não aceitou. Disse, hoje é um museu pequeno e nada mais, com roupas penduradas e bonecos de cera. Mississipi. Ela desacreditou. Eu repeti. Descer o Mississipi. Olha, está tudo aqui, desenhado no mapa, saímos de Nova Iorque (nós não vamos para lá há 3 anos). Passamos por Nashville, dizem que a cidade está incrível, vários grandes discos estão sendo gravados lá, cruzamos Dockery Farms, o que é Dockery Farms?, ela pergunta, uma plantação de algodão no Delta do rio, onde aparentemente trabalharam Charley Patton, Son House e Howlin`Wolf. Ali perto fica o cruzamento da 61 com a 49, para onde, é claro, o que é claro?, Robert Johnson, ainda muito jovem, levou sua guitarra e entregou para um homem negro e alto, reconhecido como o Diabo, que tocou algumas canções para o garoto antes de devolver o instrumento. Robert Johnson vendeu sua alma para o Diabo aqui neste lugar, você está vendo?, com o alfinete vermelho. A próxima parada seria Memphis Tennessee, a segunda cidade mais violenta da América, isso considerando que você descartaria Detroit, a primeira, o que eu acho triste. Em Memphis conheceríamos o Sun Studio (olha, fiquei arrepiado) onde Elvis gravou seu primeiro compacto, para presentear sua mãe, lado A My Happiness, lado B That`s When Your Heartaches Begin. Tudo está lá como Sam Phillips deixou, o mesmo microfone usado para cantar o primeiro single de rock-and-roll, Jackie Brenston e os Delta Cats, Rocket 88, em 1951. Passaram por lá, eu mal posso esperar, Johnny Cash, Carl Perkins, Charlie Feathers. É claro que, se eu perdi Detroit e a Motown, o que eu acho lamentável, conhecerei a Stax de Jim Stewart e Estelle Axton.
Espera aqui um pouquinho. O que é isso? Ela pergunta. Booker T & The MG`s. Eu poderia ter escolhido Pain In My Heart do Otis Redding, mas não sei porque essa me faz lembrar mais de lá. Descer até New Orleans, até o começo do século, a era do Dixieland, você sabe, depois, na década de 30, tudo isso espalhou para Nova Iorque e Chicago, a era do Swing, a do Bebop, mas lá no French Quarter poderemos sentir no ar as notas esquecidas de Basin Street Blues, Tiger Rag, When The Saints Go Marching In. O que é isso? Livery Stable Blues, o primeiro single de jazz. Ler Faulkner por lá deve ser uma experiência maravilhosa, não acha? Depois, poderíamos passar dias viajando de carro, a música popular Americana é a mais forte e a mais importante do século XX (concordo com Caetano), ouviríamos com o passar dos dias e das noites Skylark do Johnny Mercer (que nasceu naquela cidade que você quer conhecer, Savannah) passando por Santa Fe, ouvindo Change Partners a caminho de Las Vegas. O histórico Flamingo é uma boa escolha para 3 noites decadentes. Enfim, a California, Lacma, Rainbow Bar, Chateau Marmont, Sunset Boulevard, Hollywood Hills, Mulholland Drive, Death Valley, Mojave, Inland Empire, tudo ao som de Her Eyes Are A Blue A Million do Captain Beefheart, uma coisa meio Big Lebowski, e enfim San Francisco onde começaríamos nossa tour Kerouac, North Beach, Haight Ashbury. Ficaríamos em um lugar alto pra ver a cidade, Nob Hill ou Pacific Heights. A partir daí, faríamos a rota da primeira viagem de On The Road ao contrário, Salt Lake City Utah, Central City e Denver no Colorado, Cheyenne Wyoming, Stuart e Newton Iowa, e enfim, Chicago e Ozone Park em Nova Iorque. Se você se animar poderíamos passar por Detroit na volta. Você iria comigo?
Liberdade e Arte de Desenhar. Orlando Pedroso ensina o caminho das pedras. Maristela Garcia, administradora da Gibiteca de Curitiba e Soruda, pegando no pesado.Foto de Vera Solda
Prêmios sempre serão discutíveis e limitados. A vulnerabilidade está na essência do fato de apontar quem é o “melhor em arte. Deveria ser proibido. “Mas nós gostamos de no mínimo sermos indicados. Nossa Gralha Azul caducou há pelo menos 10 anos. Está acamada, entubada e não morre. Respira um ar provinciano. Ela é forte justamente por ser estéril. Não pariu. Não tem herdeiros. E suas asas fechadas hoje evocam saudosismo.
Curitiba mudou muito. O movimento teatral pede outras formas de mostrar os destaques da cena teatral. Não adianta querer repensar o troféu tendo nas mãos os regulamentos anteriores.
O premio foi criado num momento muito impactante da classe artística, regulamentação da profissão, novos grupos independentes e efervescência cultural na cidade.
Hoje vivemos outro tempo, outros impactos, outras efervescências. Uma riqueza e uma diversidade fenomenal e muitos talentos em todas as categorias do fazer teatral despontam a toda hora.
Nosso teatro é reconhecido fora dos muros da província. Mas a gralha não consegue abrir as asas. Seu vôo rasteiro é comandado pelo estado com sua postura miserável, aquela que nos engana com migalhas do tipo “com eles nossa obrigação está cumprida”.
A mudança deve ser radical e pensada pelos jovens artistas maduros que a cidade está repleta. Temos que ter coragem de dizer não e de deixar o velho morrer, de desentubar o moribundo! Pra que é que serve ganhar este premio hoje? Um prêmio engessado na estrutura de um estado que nunca foi tão omisso. Um prêmio que deveria ser fruto de política cultural, palavra desconhecida dos nossos governantes.
Nossa cidade merece prêmios todos os dias, todos os meses, e em todas as estações! O melhor prêmio que o estado pode nos dar é um reconhecimento que parta do olhar pela diversidade. Se o estado conseguir abarcar nossos talentos e nossas produções abrindo muito mais espaços de trabalho, arejando os corredores ociosos, ventilando as salas de reunião, liberando verbas significativas, não precisará oficializar numa estátua e numa festa mixuruca a sua atenção pelos artistas de teatro.
Se ele fizer sua parte gerando movimento cultural e visibilidade da produção criativa, pode ser que outras instituições venham a criar outros prêmios.
Se o estado nos acolher no dia a dia com menos burocracia “a gralha botará ovinhos e os filhotes aprenderam a plantar o pinhão sem chão demarcado”. Prêmios sempre serão discutíveis e limitados se forem assim burocráticos e circunstancias.
Quem vai dirigir a festa-cerimonia este ano? Quanto de grana os premiados vão ganhar? Vai ter desconto de imposto? E depois nos meses seguintes quem vai continuar nos bajulando? Não precisamos de falsos paternalismos. Se for para premiar com grana que ela seja bem gorda!
Primeira questão que eu botaria na roda: – Quanto o estado vai investir neste prêmio? E depois como? Caixinha de natal é humilhante.
Segunda questão ou pedido:
– Que nenhum amigo ou inimigo desta classe artística aceite ser membro da comissão julgadora para 2011. Se não tivermos comissão o tubo está desligado. Neste caso uma interrupção do prêmio seria saudável. Dar tempo para surgirem outras idéias, mais condizentes com as novas realidades.
Não se decidem mudanças. Elas acontecem se forem favorecidas.
E se houver reflexões maduras poderá renascer das cinzas uma gralha-fênix com vôos mais arrojados. A minha casa talvez seja o maior reduto deste peso cultural chamado Troféu Gralha Azul. Não posso negar sua utilidade pratica de separar os livros nas estantes. Mas, eu não quero ficar velha, chata e saudosista lustrando plaquetas. Minhas Gralhas requereram a eutanásia e eu comecei hoje mesmo a desparafusar as asas de todas elas.
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