Tempo – 2018

Revista Ideias#204|Setembro 2018|Travessa dos Editores

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Duas lágrimas por Ziraldo

Perdemos no final de semana um dos nossos maiores artistas: Ziraldo Alves Pinto. Cartunista, ilustrador, quadrinhista, artista gráfico, escritor, teatrólogo, educador. Eram muitas as facetas do talento desse mineiro de Caratinga que tanto orgulhou o Brasil com sua arte e criatividade. Foi ele que nos deu Super-Mãe; Jeremias, o Bom; Mineirinho Come-Quieto; Os Zeróis; Flics e O Menino Maluquinho. Tem mais de 130 livros publicados, sendo os mais recentes “Uma Professora muito Maluquinha”, “O Planeta Lilas”, “Menina Nina: Duas Razões para não Chorar”, “Os Meninos Morenos”, “Menina das Estrelas”, “A Bela Borboleta”, “Meninas” e “Um Amor de Família”. Ele foi, também, o autor de algumas das melhores charges críticas à política e aos costumes do país. Mais do que tudo isso, no entanto, além de ter sido um dos fundadores do jornal “O Pasquim”, Ziraldo foi o pai do mais brasileiro de todos os personagens das histórias-em-quadrinhos: o incomparável Pererê. Vou deter-me nele.

Lançado na extinta revista O Cruzeiro, Pererê ganhou revista própria em outubro de 1960. E através dela Ziraldo fez desfilar um mundo de personagens capazes de encantar grandes e pequenos. A começar pelo próprio Saci, de cachimbinho na boca e carapuça vermelha na cabeça, personagem-símbolo do folclore nacional (“Tanto que é o único com nome e sobrenome” – justificava o autor), transformado quase que em um menino, inteligente, cheio de truques e de generosidade, como todos os meninos brasileiros. Tinha apenas uma perna visível (porque a outra, embora também existisse, era invisível – como descobriu Monteiro Lobato), mas isso apenas lhe dava um charme especial.

Em seguida, vinha a turminha toda da Mata do Fundão: o indiozinho Tininim, um bravo e divertido guerreiro da tribo dos Parakatokas, cujo nome foi tirado de um pequeno Txucarramãe; o macaco Alan, comprido e ajuizado; a onça Galileu, meio trapalhão, mas bom-samaritano, sempre às voltas com seus implacáveis caçadores, o Compadre Tonico e Seu Neném; o jaboti Moacir, de profissão carteiro e o único da turma com emprego certo; o tatu Pedro Vieira, sério e habilidoso, cujo maior sonho era ser dentista; Geraldinho, certamente o único coelhinho vermelho do mundo e o caçula do grupo; Boneca de Piche, a namoradinha do Saci, famosa por sua intuição feminina, mas capaz de provocar o ciúme do nosso herói ao dar bola para o primo Rufino, um carioca bom de samba que se mudou para o Fundão; a doce indiazinha Tuiuiú, namorada do Tininin, que também sofre o assédio de Flecha-Firme, filho do cacique da tribo rival; Mãe Docelina, doceira emérita e amiga de todo o pessoal; e, claro, a coruja General Nogueira (no tempo da ditadura militar, teve o nome trocado para Professor Nogueira, por motivos óbvios), sábio e ponderado, cuja missão maior é tentar colocar um pouco de juízo na cabeça da turminha.

Contava Ziraldo que, quando começou a fazer as aventuras do Pererê, ainda não haviam inventado a palavra curtição. Mas hoje ele estava plenamente convencido de que aquela foi a maior curtição de sua vida. E explicava:
— Sem ter feito trinta anos ainda, eu estava vivendo dentro da redação de uma grande revista nacional, no meio do Brasil, no centro dos acontecimentos, os anos mais fascinantes da história da cultura brasileira, onde tudo era novo, o cinema, a bossa da música, o teatro nas praças, o pensamento, as esperanças, as palavras. O Pererê nasceu no meio dessa euforia.

Pois durante quarenta e três meses, a revista circulou, em cores, por todo o Brasil chegando a vender mais de 150 mil exemplares por mês, uma tiragem excepcional na época, rivalizando com Luluzinha, produção importada e então o carro-chefe, no setor de quadrinhos, da Editora Gráfica O Cruzeiro.

Em abril de 1964, juntamente com várias outras boas coisas deste país, Pererê deixou de existir. No entanto, como registraria Moacy Cirne, em “A Linguagem dos Quadrinhos”, Editora Vozes, 1971), Pererê foi “o primeiro grande marco dos quadrinhos brasileiros, e, em termos comparativos, uma obra tão importante quanto o cinema de Glauber Rocha, o romance de Guimarães Rosa ou a poesia de Oswald de Andrade”.

No sábado 6 de abril, foi a vez de Ziraldo nos deixar. Tinha 91 anos. Além de uma obra memorável, está deixando muita saudade.

Publicado em Célio Heitor Guimarães | Com a tag | Deixar um comentário
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Chatô, naquela vez, tinha razão – 2022

Corriam os tempos do governo João Goulart, setembro de 1963, com inflação, revoltas militares, campanha feroz da grande imprensa e etc…, quando foi anunciado que o marechal Josip Broz Tito, ditador da Iugoslávia, viria ao Brasil. Os governadores Adhemar de Barros (São Paulo) e Carlos Lacerda (Guanabara) anunciaram, sob os aplausos d`O Estado de São Paulo, que não receberiam o personagem, como se isso fizesse alguma diferença para o Tito.

Assis Chateaubriand, já com o corpo inteiramente paralisado pelo AVC que havia sofrido anos antes, apenas com o indicador da mão direita, escreveu um editorial para seus jornais, descendo a lenha nos três.

Disse Chatô que nossos governantes entendem tanto de política externa quanto entendiam os tapuias e tupinambás. Adhemar de Barros, Carlos Lacerda e Júlio de Mesquita Neto (o dono do jornalão) são “límpidos marginais em relação ao drama internacional”. “Vejo-os em 1500, de tanga, trepados nas árvores, à espera de que frei Henrique de Coimbra reze a primeira missa”.

Passados 59 anos, o “Messias” foi à Rússia para garantir “fertilizantes”. Putin, na semana passada, anunciou o veto da venda dos mesmos ao Brasil. O “Jajá Bozó”, que entende tanto de política externa quanto entendiam os tapuias e os tupinambás, agora se encontra de tanga, trepado na árvore, à espera que o saudoso Frei reze a primeira missa. Límpido marginal em relação ao drama internacional.

Maiores detalhes em:

MONTEIRO, Karla. Samuel Wainer: o homem que estava lá. São Paulo: Companhia das Letras, 2020.

MORAIS, Fernando. Chatô, o rei do Brasil: a vida de Assis Chateaubriand, um dos brasileiros mais poderosos do século XX. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.

*Paulo Roberto Ferreira Motta – 1960|2023

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Mais dois meses

O ministro Dias Toffoli deu prazo e Arthur Lira se mexe.

O Supremo Tribunal Federal deu dois meses para o Congresso regular as redes sociais. O recado foi passado via Dias Toffoli, um dos ministros da corte com melhor relação com parlamentares.

Em nota, Toffoli afirmou que a ação onde é discutida a responsabilização de plataformas por conteúdos de terceiros está liberada para julgamento desde maio do ano passado, e não foi julgada até agora a pedido de parlamentares. Disse que o tema será pautado até o fim de junho.

Luiz Fux também é relator de uma ação similar, mas ficou calado no seu canto. Ninguém sabe se ele também pautará o caso.

O aviso do STF deu certo. Ainda na tarde de terça-feira (9), Arthur Lira decidiu recriar um grupo de trabalho para analisar o PL das Fake News. Tudo recomeçará do zero. Nem o relator do projeto atual, Orlando Silva, deve ser mantido.

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, também pediu que a Câmara retome o projeto. Apesar do ato de Lira, há resistências na Câmara. A bancada bolsonarista é contra as mudanças e tem apoio das big techs.

No Senado, o sentimento de boa parte é de frustração. Alguns entendem que essa queda de braço política com o STF só reforça o protagonismo da corte em detrimento do Congresso. Em ano de eleição, senadores dizem que seria bom votar o tema para dar uma resposta à sociedade.

No STF, os ministros Luís Roberto Barroso, Alexandre de Moraes, Edson Fachin, Cármen Lúcia e Gilmar Mendes tendem a preferir votos mais duros na regulação das redes sociais. Terão o apoio de Flávio Dino e Cristiano Zanin, indicados por Lula, que também tem interesse na pauta. Não se sabe como se posicionarão André Mendonça e Kassio Nunes Marques, ministros indicados por Jair Bolsonaro.

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Mural da História – 2010

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Marielle, sempre!

Marielle Francisco da Silva – Marielle Franco (Rio de Janeiro, 27 de julho de 1979 – 14 de março de 2018) foi uma socióloga, feminista, política brasileira e militante dos direitos humanos.

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Modigliani

© Dalcio Machado

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Você conhece a Família Thimpor? – 2018

Romão Thimpor – Quarto-zagueiro, Romão Thimpor, o peito de aço, o único membro da família com tendências futebolísticas. Está sempre correndo atrás da bola. Quando alcançar, não sabe o que vai fazer. Cumpriu pena de 5 anos por ter violentado uma travessa de maionese em praça pública.

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A carne, sempre marvada

Hugo Moura e Deborah Secco não mais dividem os lençóis. Ele, diretor de cinema, saiu de casa, deixando só a desconsolada mulher e atriz. Detrás das câmaras da vida assistíamos, Hugo e nós, a alma de Bruna Surfistinha invadir o corpo de Deborah, sua intérprete única e eterna. O normal está em a arte imitar a vida: livro, filme e peça terminados, ator e personagem voltam para suas casas. Também acontece, há registros, de a força da arte levar o personagem a invadir o ator e não mais deixá-lo.

Lembro o personagem de Dustin Hoffman, que morre por acreditar que cujo intérprete levou o personagem para a vida real; ficou tão incômodo que o roteiro acabou por assassinar ator e personagem. É de de 1997, chama-se Wag the dog*, expressão inglesa que lembra o rabo a sacudir o cachorro. Se o rabo de Bruna Surfistinha revirou Deborah é tema para outros, o Insulto só vive de fazer analogia, mas obriga-se a lembrar a cena do “então, tá”, ponto algo na trama. Na vida, Hugo pode fazer vida e arte arranjando-se com Fernanda Torres, a virginal caipira Sacarula, de A marvada carne. Ainda e sempre a carne, ficta e real, mas no caso de Sacarula a carne de boi, carência dos personagens. *No Brasil dos títulos malucos o filme, pasmem, foi anunciado como Estranha coincidência.

Publicado em Rogério Distéfano - O Insulto Diário | Deixar um comentário
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Telefone pedindo bis!

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Glenda Bradley.  © IShotMyself

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Mural da História – 2011

Ridendo castigat mores – No Beto Batata:  Elma, Francis e o cartunista que vos digita. © Julio Covello

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Pra nunca mais esquecer!

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