O irritante guru do Méier

PREDESTINAÇÃO

Tinha no nome seu destino líquido: mar, rio e lago.
Pois chamava-se Mário Lago.
Viu a luz sob o signo de Piscis.
Brilhava no céu a constelação de Aquário.

Veio morar no Rio.
Quando discutia, sempre levava um banho.
Pois era um temperamento transbordante.
Sua arte preferida: água-forte.

Seu provérbio predileto: “Quem tem capa, escapa”.
Sua piada favorita:
“Ser como o rio: seguir o curso sem deixar o leito”.
Pois estudava: engenharia hidráulica.

Quando conheceu uma moça de primeira água.
Foi na onda.
Teve que desistir dos estudos quando
já estava na bica para se formar.
Então arranjou um emprego em Ribeirão das Lajes.
Donde desceu até ser leiteiro.
Encarregado de pôr água no leite.

Ficou noivo e deu à moça uma água marinha.
Mas ela o traiu com um escafandrista.
E fugiu sem dizer água vai.
Foi aquela água.
Desde então ele só vivia na chuva
Virou pau de água.
Portanto, com hidrofobia.

Foi morar numa água furtada.
Deu-lhe água no pulmão.
Rim flutuante.
Água no joelho.
Hidropsia.
Bolha d’água.
Gota.
Catarata.
Morreu afogado.

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Pressão sobre Lula – e nada

Lula tentou. Escolheu uma mulher preta para a Comissão de Ética da Presidência da República. Espera, com isso, diminuir a pressão para a escolha de uma mulher preta para o Supremo Tribunal Federal na vaga da ministra Rosa Weber, que se aposenta este mês.

O governo já recebeu mais de dez mil e-mails direcionados à Presidência da República com pedidos para que o presidente fuja da escolha de um homem branco para o STF. Lula, porém, não está sensibilizado.

Como mostrou o Bastidor, até a primeira-dama, Janja da Silva, entrou na tentativa de persuasão. Mas, no final, o escolhido deverá ser mesmo um homem branco.

O presidente tem se alinhado a correntes dentro do PT que defendem deixar para o PSOL as pautas identitárias e focar na tradicional disputa de classes para ficar acima do bolsonarismo. E, na escolha para o Supremo, Lula deve preferir o mais seguro – inclusive para si.

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© Jan Saudek

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Mural da História – 1980

© Dico Kremer

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Metamorfose ambulante ou barata maquiavélica?

Lula vomitou grosseira e tosca metáfora de futebol sobre a demissão de Ana Moser e a nomeação de Fufuca para o ministério do Esporte. Foi desrespeitoso com a atleta que ao aceitar ser ministra honrou-o com a credibilidade que um Lula fragilizado precisava após derrotar Jair Bolsonaro (a pequena diferença de votos e a não eleição de uma bancada ou coligação musculosa dizem muito). Com a cada vez mais cínica e fria falta de noção, não deixou barato para o novo ministro, retratado pelo presidente como mero peão no tabuleiro coalizão da picaretagem.

O mínimo que se pode dizer de mais este palpite infeliz de Lula é que o presidente supera-se na arrogância dos vaidosos que consideram seu sucesso um atestado liberatório para a ignorância, sua língua a resvalar no cacoete autossuficiente de ditador ditador cucaracha que revelou ao sugerir que as decisões do STF sejam secretas.  Ao sair, ofendida e humilhada, a ex-ministra mostrou superioridade e elegância ao nada dizer sobre o comportamento do presidente. A metamorfose ambulante transforma-se em barata maquiavélica.

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Divinas tetas

Intervenção sobre grafismo de Luiz Antonio Guinski.

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Hoje minha amiga Priscila faria 45 anos

Ela era mais introvertida, mas eu a equilibrava

Hoje minha amiga Priscila faria 45 anos. Ainda sonho com ela quase toda semana. Estamos em uma festa, ela está feliz, saudável, cabelos imensos, animada com alguma viagem ou paixão.

Temos vinte e poucos anos. O lugar está lotado, a música, alta. Uma vida pela frente. Mas, em algum momento do sonho, nós nos olhamos e sabemos que ela vai adoecer, e então ficamos melancólicas, sem conseguir dizer muita coisa. Estamos nos despedindo, mas minha amiga sorri mais do que eu.

Em outro sonho recorrente a encontro no que passei a chamar de “locais transitórios”, uma espécie de metáfora meio psicanalítica meio espírita para aeroportos e saguões de hotéis. Se estou chegando, ela está indo, e vice-versa. Eu tento me aproximar, e Priscila parece ocupada, com mala de rodinhas, sempre bem-vestida no estilo empresária descolada, misturando terninhos com tênis.

Ela me dá tchau em corredores, vejo-a por portas de vidros transparentes. Em uma das vezes usava um cachecol azul-claro, de cashmere, e aquilo me deu uma sensação boa, de que ficaria tudo bem, seu peito estava cuidado, aquecido e vivo.

No primeiro ano da faculdade, Priscila deu uma festa de aniversário em sua casa e não me chamou. O sucesso do evento foi tanto que todas as melhores histórias, os possíveis casais e as piadas internas entre colegas foram criados a partir daquele aniversário –e eu tinha ficado de fora.

Obsessiva desde sempre, tomei como missão conquistar aquela garota magrinha, tímida e que ria de um jeito charmoso demais, como se cochichasse.

Íamos a pé da faculdade até o Espaço Unibanco, na rua Augusta, onde hoje funciona o Espaço Itaú de Cinema. Eu falava o trajeto todo, me empenhava em parecer engraçada e inteligente. Ela foi gostando de mim aos poucos, até que viramos melhoras amigas.

Um dia Priscila me disse: “Sei que escolho pessoas como você, desinibidas, meio doidas, piadistas, porque equilibra comigo”. Nesse dia, ela me sinalizou sobre muitas parcerias felizes que eu ainda faria no trabalho, nas amizades e no amor.

Nossos filmes preferidos eram os franceses, iranianos, queríamos parecer estudantes “cabeça”. Uma vez vimos um filme alemão chamado “Edukators” e ficamos alucinadas. Era o primeiro contato das duas com a música “Hallelujah”, do Leonard Cohen, e terminamos o filme aos prantos.

Antes de ir para casa, ficamos sentadas um tempo, digerindo a história daqueles jovens lindos, anarquistas, que acreditavam poder mudar o mundo. Queríamos ser como eles? O que a juventude tem de extraordinária e singular é exatamente o que ela tem de mais clichê.

A partir desse filme, decidimos que o Daniel Brühl era o homem mais lindo do mundo. Qualquer pessoa que minimamente se parecesse com ele, em algum bar ou danceteria (ainda se chamava “danceteria”), a gente já se olhava e falava ao mesmo tempo: “Tem um quê dele”. E com sorte, vez ou outra, uma de nós beijava o Daniel versão brasileira.

Quando começaram os primeiros estágios, angustiadas, com nossas crises de enjoos e coceiras nas pernas, a única coisa que eu e a Priscila sabíamos era que eu queria escrever em vez de trabalhar em empresas e que ela queria juntar um dinheiro e viajar o máximo que pudesse.

E assim foi. Eu me tornei escritora, ela conheceu e morou em vários países. Se casou com um escritor francês que prometeu recentemente me apresentar ao Édouard Louis. Quando Priscila ficou doente, comprei algumas passagens para vê-la, mas eu estava vivendo a pior fase das minhas crises de pânico e não conseguia nem ir até a esquina sem me medicar.

Desisti de última hora todas as vezes que ameacei ir até Paris. Nós nos falamos cinco dias antes de ela ser internada pela última vez e morrer. Eu disse que a amava muito e que ainda queria dizer tantas coisas. Ela respondeu que não precisava e que também gostava de mim. Ela era mais introvertida, mas eu a equilibrava. c

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Playboy|1950

1956|Gloria Walker. Playboy Centerfold

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Flagrantes da vida real

Vista aérea de Maringas Maciel, por ele mesmo.

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“A Beterraba Assassina” é um marco na história da literatura boliviana. Quem conhece a obra de Firmino Garcia Meza y Gasset vai encontrar neste livro a mesma irreverência e o mesmo sentimento de latinidade peculiar no autor de “Rajada Indiscriminada”, sucesso editorial que revelou ao mundo o romancista mais procurado pela polícia do seu país.

Firmino Garcia Meza y Gasset relata as aventuras do índio Chiuchiu Figatil, tentando resistir às tentações do capitalismo selvagem, mesmo que isso lhe custe a própria vida ou as plantações de coca na Bolívia. O bravo herói percorre as páginas de “A Beterraba Assassina” procurando respostas para o vazio da existência da Polícia Federal, a violência no futebol e as modernas técnicas de dinamização dos remédios homeopáticos. Narrativa forte, estilo agressivo e traficantes perigosíssimos: eis os ingredientes de Garcia Meza y Gasset.

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Daryl Hanna, em Blade Runner, de Ridley Scott, 1982.

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Jacob Miller – Natty Dread

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