Influência literária

Uma das perguntas mais rotineiras que se faz a um escritor, ou a um artista em geral, é: Quais os autores que o influenciaram?  Nas minhas noites de insônia fico meditando sobre a função dessa pergunta e chego à seguinte conclusão.  O entrevistador quer saber quem são os autores que Fulano tenta imitar, para poder avaliar se ele está conseguindo ou não.  Porque a tal da influência, pelo que vejo por aí, consiste, no frigir dos ovos, em “escrever parecido” com Fulano ou Sicrano.  Se eu disser que sofri influência de Harlan Ellison, meus contos passarão a ser lidos de uma maneira diferente do que seriam se eu anunciasse uma influência de Tchecov.  (E talvez levasse o entrevistador a tentar descobrir quem é Harlan Ellison, para lucro de ambos.)

Amigos, nem sempre a influência consiste em produzir texto parecido.  Eu, por exemplo, fui muitíssimo influenciado por Guimarães Rosa, mas dou grátis um livro meu a quem apontar um só parágrafo meu onde possa ser demonstrado que tentei escrever parecido com o beletrista de Cordisburgo.  Por outro lado, nossa literatura hoje em dia está saturada de gente reproduzindo os tiques e cacoetes de Rosa, os arcaísmos e regionalismos de Rosa, as prefixações inusitadas e as derivações-na-marra de Rosa.  Se influência é isso, seria melhor tentar inventar uma vacina que acabasse com ela.

Nem sempre é o estilo de um autor que nos influencia; às vezes é o seu método.  Uma das primeiras coisas que me chamaram a atenção em Rosa foi, nas edições de seus livros pela José Olympio, as páginas em fac-símile mostrando o modo minucioso e completo como ele repensava, revisava e refazia cada linha, cada parágrafo, cada palavra.  Decidi escrever assim, e escrevo assim até hoje.  Rosa viajava sempre com cadernos e cadernetas anotando tudo para possível uso futuro; ainda aos vinte e poucos anos, decidi fazer o mesmo.  Nisto recebi também influência de Maiakóvski, que aconselhava anotar tudo; mas duvido que algum poema meu seja parecido com algum poema do bardo de “A Plenos Pulmões”.

Imitar o método de um autor é mais saudável do que imitar seu estilo.  Com a ressalva, sempre, de que somos biologicamente incapazes de imitar o método (ou o estilo) de um escritor com quem não nos identificamos, um escritor de diapasão diferente do nosso.  Melhor esquecer o estilo e tentar adotar hábitos, métodos, técnicas, rotinas e atitudes de A ou B que sentimos serem capazes de fazer render melhor nossos textos, dando um resultado muitíssimo nosso e pouquíssimo de A ou B.  Imitar o estilo alheio nos reprime e nos desfigura; melhor imitar um método alheio quando este ajuda a nos desenvolver e nos revelar.

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From Russia With Love

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The Skatalites – From Russia With Love

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O sujeito oculto

Na trilha do julgamento, Supremo chegará ao papel de Bolsonaro na intentona de 8/1

A certa altura do voto do ministro Gilmar Mendes no julgamento do primeiro condenado pela intentona de 8 de janeiro de 2023, o decano da corte pontuou: “Falta alguém”.

Referia-se a quem dominava os fatos que acabara de relatar numa linha do tempo dos inúmeros e repetidos atos de insuflação que culminariam na tentativa de golpe de Estado.

Para os bons entendedores dali e de alhures, aquelas duas palavras bastaram. Serviram à compreensão de que o sujeito oculto no cenário traçado com precisão e contundência por Gilmar e por demais ministros sobre o significado dos ataques chama-se Jair Bolsonaro.

O que se depreende desse início de julgamento é que a hora dele chegará. Ao acompanhar na maioria o voto do relator Alexandre de Moraes, o Supremo Tribunal Federal estabeleceu as balizas para as análises das condutas de quem executou, patrocinou e, sobretudo, incentivou ações cujo ápice deu-se naquele domingo nomeado o “dia da infâmia” pela ministra Rosa Weber.

Como, quando, onde e quem começou tudo? O engendramento não surgiu das cabeças dos que compõem a leva dos réus executores nem de um sentimento espontâneo do núcleo dos patrocinadores financeiros.

Foram —todos vimos, pois o mentor não procurou esconder (ao contrário, exibia-se)— estimulados desde o início do mandato de Bolsonaro a pensar que uma ruptura da ordem institucional era possível.

Primeiro, o então presidente cercou-se de militares invocando os ecos da ditadura como a forma de melhores tempos para o país. Depois, passou a pregar a desobediência civil à Justiça enquanto mantinha o Congresso ocupado com a administração do Orçamento.

Ensinou a seus seguidores o caminho para desacreditar de antemão o processo eleitoral e, ao sobrevir a derrota, recolheu-se em silencioso autoexílio como quem aguarda um acontecimento de cuja responsabilidade a distância o absolveria. É o plano que o Supremo está em via de desvendar.

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Flagrantes da vida real

Ave, Lola! © Maringas Maciel

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MON realiza exposição de Victor Brecheret

Mulher Ajoelhada. ©Victor Brecheret

O Museu Oscar Niemeyer (MON) realiza a mostra “O Feminino na Obra de Victor Brecheret”, que poderá ser vista na Sala 1 a partir do dia 22 de setembro. Com curadoria de Daisy Peccinini, a exposição apresenta mais de 100 obras desse importante nome do cenário nacional e internacional das artes visuais.

“A finalidade da arte é expressar sentimentos, pensamentos e convicções por meio de valores estéticos. É o que acontece nessa potente mostra”, afirma a diretora-presidente do MON, Juliana Vosnika. “Exposições como essa justificam a nossa busca incessante em trazer cada vez mais visitantes para essa fruição de conhecimento, beleza e reflexão promovida pelo Museu.”

A secretária de Cultura, Luciana Casagrande Pereira Ferreira, enxerga cada exposição como uma jornada que ajuda na construção do MON como uma das mais importantes instituições culturais do continente. “Essa perspicácia em juntar linguagens, épocas e propostas diferentes enriquece a trajetória da instituição. Agora, é a vez do grande mestre Victor Brecheret encantar e seduzir o olhar do espectador. O Paraná recebe esse novo recorte de suas obras com muita honra”, afirma a secretária.

Conteúdo

A exposição “O Feminino na Obra de Victor Brecheret” reúne esculturas e desenhos que alternam materiais e técnicas variadas, como bronze e mármore, bico de pena e caneta tinteiro, produzidos ao longo de décadas. Seus trabalhos têm como característica o desenhar com poucas linhas, límpidas e leves. Imagens femininas tomam forma a partir de poucos traços. Continue lendo

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Bom dia, do Plural Curitiba

Hoje, sexta, 15 de setembro. Ah, o cheiro de golpista condenado pela manhã! Um foi condenado. Quantos faltam?

O Supremo decidiu nesta quinta o futuro dos três primeiros réus do 8 de janeiro. Todos foram condenados a mais de uma década de cadeia, e pelo jeito isso vai ser uma constante nos mais de 1,4 mil processos que vêm pela frente.

Claro que tinha um paranaense no meio dos golpistas já condenados. O sujeito saiu lá de Apucarana para ir tentar derrubar o governo legitimamente eleito pela população – como pena, pegou 17 anos e cinco meses de reclusão.

Os réus ainda estão sendo condenados a pagar uma continha de R$ 100 milhões em danos morais para a sociedade. Fatura essa que, dividida entre os condenados, deve ficar perto dos R$ 100 mil para cada um.

Haveria muitos comentários para fazer aqui. Mas fiquemos com um só: que isso sirva de lição para qualquer um que queira acabar com a democracia.

Leia mais aqui.

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Desagravo em NY

O convite de Lula para que o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), o acompanhem a Nova York tem o objetivo de garantir o prestígio reclamado, especialmente por Lira, das nomeações privadas dos ministros André Fufuca (Esporte) e Silvio Costa Filho (Portos e Aeroportos).

O argumento oficial é que o Brasil precisa demonstrar a seus pares a união dos poderes da República em defesa das pautas de respeito ao meio ambiente e mudança climática, aos direitos humanos e à democracia durante a Assembleia-Geral da ONU e nos encontros bilaterais organizados pelo Itamaraty. Mas não é só.

Lula quer recuperar o mal-estar criado com a cerimônia escondida de posse dos ministros do centrão e, ao convidá-los, especialmente o presidente da Câmara, espera melhorar o clima.

Lira, dizem seus aliados, não é apegado aos convites do presidente para viagens internacionais. Lembram que ele recusou o convite para ir à China no primeiro semestre. Por enquanto, porém, diz um interlocutor, não há por parte de Arthur Lira disposição para alimentar um atrito com Lula.

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Lídia Brondi, em algum lugar do passado.  © Revista Playboy

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Mural da História

Rogério Solda, irmão, Eurides Solda, meu pai, e Alzira Nunes Vidal, avó materna. Todos já estão em Alhures do Sul.  © Newton Solda

As Mãos do Meu Pai

As tuas mãos tem grossas veias como cordas azuis
sobre um fundo de manchas já cor de terra
— como são belas as tuas mãos —
pelo quanto lidaram, acariciaram ou fremiram
na nobre cólera dos justos…

Porque há nas tuas mãos, meu velho pai,
essa beleza que se chama simplesmente vida.
E, ao entardecer, quando elas repousam
nos braços da tua cadeira predileta,
uma luz parece vir de dentro delas…

Virá dessa chama que pouco a pouco, longamente,
vieste alimentando na terrível solidão do mundo,
como quem junta uns gravetos e tenta acendê-los contra o vento?
Ah, Como os fizeste arder, fulgir,
com o milagre das tuas mãos.

E é, ainda, a vida
que transfigura das tuas mãos nodosas…
essa chama de vida — que transcende a própria vida…
e que os Anjos, um dia, chamarão de alma…

(Mario Quintana)

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Mural da História – 2010


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Com a voz, a Loucura. Neste libelo do teólogo Erasmo de Rotterdam (1469-1536), quem fala é a Loucura. Sempre vista apenas como uma doença ou como uma característica negativa e indesejada, aqui ela é personificada na forma mais encantadora. E, já que ninguém mais lhe dá crédito por tudo o que faz pela humanidade, ela tece elogios a si mesma. O que seria da raça dos homens se a insanidade não os impulsionasse na direção do casamento?

Seria suportável a vida, com suas desilusões e desventuras, se a Loucura não suprisse as pessoas de um ímpeto irracional e incoerente? Não é mérito da Loucura haver no mundo laços de amizade que nos liguem a seres imperfeitos e defeituosos? Nas entrelinhas de Elogios da Loucura, o humanista Erasmo critica todos os racionalistas e escolásticos ortodoxos que punham o homem a serviço da razão (e não o contrário) e estende um véu de compaixão por sobre a natureza humana.

Pois a Loucura está em toda parte, e todos se identificarão com algum tipo de loucos contemplados pelo autor. Afinal, como ele próprio diz: “Está escrito no primeiro capítulo de Eclesiastes: O número de loucos é infinito. Ora, esse número infinito compreende todos os homens, com exceção de uns poucos, e duvido que alguma vez se tenha visto esses poucos”. Coleção L&PM Pocket, Vol. 278.

Portanto, se você está rasgando merda ou comendo dinheiro (e vice-versa), fique tranquilo. Nem tudo está perdido.

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Gente de Itararé

Marina Solda – Itararé, 1935 | Curitiba, 2009.  © Diego Singh

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