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Gallus gallus domesticus

© Myskiciewicz

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© Jan Saudek

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Mural da História – Vida

Quatorze anos, creiam, e já revirava esta gaia vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais pelo avesso. Na redação do Diário Popular, do grande Abdo Kudry, batíamos ponto, eu e Luiz Manfredini, numa azáfama pretensamente jornalística, inquietos e rebelados. Ô vida! Ô Tempo de viés! Lá se vai quase meio século e a gente nem deu por isso…

Pois foi ali que, fãs ardorosos de nosso ídolo e guru Bento Munhoz da Rocha Netto (1905-1973), movemos cerrada campanha contra o então imbatível candidato ao governo do Estado, Paulo Pimentel. Não sabíamos, aquele tempo, de sua invencibilidade, e nem de que fizera uma das mais extraordinárias revoluções na agricultura paranaense. Pupilos diletos de Bento, traí-lo, mesmo em nossa precoce ética de meninos, era impensável. E, para nossa frustração, Paulo Pimentel foi eleito ao Palácio Iguaçu. Com direito a desfile em carro aberto pela Rua XV, numa noite memorável de luzes e foguetórios. Tudo isso me vem à lembrança ao ler a biografia Paulo Pimentel – Momentos decisivos, do mestre Hugo Sant’Ana, recém-lançada pela Travessa dos Editores.

Misturo coisas, olho o passado feito uma vertigem e constato, não sem melancolia, que o “menino prodígio”, de ainda ontem, à roda da Boca Maldita, já é quase um vetusto sexagenário.Mudei de jornal, de política e mergulhei, sob as luzes de Jamil Snege e de Paulo Leminski, de cabeça, na literatura. Com 16, 17 anos, se tanto… E estupefacto testemunhamos que o jovem e brilhante governador, contra o qual havíamos nos batido, lançava, através da Fundepar, o mais importante concurso literário de que o Brasil tem notícia. O Concurso Nacional de Contos. A premiação? Aí uns 800 mil reais ao primeiro colocado.

Lembro que uma fábula. Meu saudoso amigo, Roberto Drummond, revelado ao Brasil, pelo célebre concurso, me confirmou, há alguns anos: com o dinheiro do prêmio acertara a vida – da compra de apartamento em bairro nobre a chácara nos arredores de Belo Horizonte.

Logo depois, desfeitas as ilusões adolescis, mergulhado na clandestinidade e na resistência à ditadura, notícias chegavam de longe: Pimentel travava nova luta, então contra o neyismo ditatorial. Um combate que alcançava unir até mesmo os funcionários da Rádio Iguaçu contra os generais no poder.Meu patrão, e patrono, há quase dez anos, neste canto domingueiro de jornal, me somo às homenagens ao Dr. Paulo registrando aqui que pertencer ao seu grupo (né mesmo, Vera?) é dessas honras que exaltam e consolam. Ainda que se Bento houvesse ganho o Iguaçu, eu bem que poderia ser hoje, quem sabe?, conselheiro aposentado do Tribunal de Contas. Com salário de príncipe e mansão em Mar del Plata…

17|8|2008 – O Estado do Paraná

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A mensagem de Bolsonaro após Moraes homologar delação de Mauro Cid

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Feldschuh Gallery

Study on Voyeurism I, Los Angeles, 1989. © Helmut Newton

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Em fogo brando

O governo vai tentar “cozinhar” a reforma administrativa no Congresso, afirmou ao Bastidor um auxiliar do presidente Lula. Nesta terça (5), integrantes da equipe econômica, incluindo os ministros Esther Dweck (Gestão) e Fernando Haddad (Fazenda), da articulação e da Casa Civil, se reuniram para discutir o tema.

Inicialmente, havia a possibilidade de o governo propor um texto alternativo ao que está pronto para ir à votação no plenário da Câmara e foi elaborado durante o governo Bolsonaro. Mas Haddad pressionou os colegas para que o governo só entre no debate depois que a reforma tributária for aprovada.

Como o Bastidor vem informando, a previsão é que o texto da reforma tributária volte à Câmara depois de passar pelo Senado, onde sofrerá modificações.

Desta forma, o governo tentará segurar o debate sobre a reforma administrativa até o próximo ano. A esperança é que a proximidade das eleições municipais diminua o ímpeto do Congresso em aprovar as mudanças em 2024.

Historicamente próximo dos sindicatos de servidores públicos, o governo Lula é contrário a uma reforma que certamente desagradaria o setor.

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Achtung!

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Potoqueiro ambulante

Lula garante que Vladimir Putin não será preso caso venha em 2024 para a reunião do G20. Poderoso – e garganta – nosso presidente. Lá o Brasil tem cacife para prender chefe de Estado, inda mais ditador com arsenal nuclear? E Lula tem lá cacife de sozinho mandar cumprir ordem de prisão do tribunal da ONU? Não sei o que ele e Janja bebem na Índia. Deve ser água muito ardente, coisa forte, porque nesta viagem Janja postou – e despostou depois de confrontada com a tragédia gaúcha – que na Índia sente “vontade de dançar”. Quem gostava de dançar era Micheque, sua antecessora, como naquele fuzuê desvairado e vulgar quando celebrou a nomeação de André Mendonça, seu afilhado, para o STF.

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Traje casual

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Lá…

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Moças Finas – 2006

Sabe esses desenhos de guardanapo? Então, este livro é meio isso. Ou é como um flog onde você posta umas coisas que vai fazendo assim ao acaso. Ilustra­dor profissional desde 79, produzo bas­tante mas rabisco muito mais e este livro foi feito rabiscando direto, sem esboços, sem retoques. Nem silicone nem photoshop. Apenas moças. Moças normais. Tá, tá certo. Tem uma ou outra bizarrice mas o bizarro hoje é tão normal. E tudo começou no blog do Solda, o grande responsável por esta produção depois das próprias moças, claro. Primeiro fiz uma, depois mais outra, mais quatro ou cinco de uma vez até que num determi­nado momento me senti no ginásio ro­deado de moleques cheios de espinhas na cara e pelos nas mãos que pediam para eu desenhar mais uma gostosa. Orlando Pedroso

Para quieta aí, pentelha,

Pra eu poder te desenhar,
Eu sou a tua pinça, mina,
Cheguei pra te depilar.

Te penteio com o meu pente, nega,
Te pinto com minha broxa, grenha,
Despenteio a tua tocha cheia,
Faço o teu pelo desenrolar.

Pelo sim e pelo não,
Não me faz embaraçar,
Que eu te descabelo toda, mola,
Pena e pluma a deslizar.

Me revolto e te revolvo,
Minha garofina fina,
Faço de você boneca,
Cabeluda colombina.

Mexe-mexe as madeixas,
Mata densa emaranhada,
Mete isso na cabeça,
Mecha luz enraizada.

O meu pente banguela,
Todos os dentes perdeu,
A tua crina, megera,
Minha palma amoleceu.

Fica paradinha aí,
Que eu quero só te espiar,
Faz de mim o teu reflexo,
Tua imagem a me mirar.

Barbara Gancia, 48, é colunista da Folha de S. Paulo e da BandNews FM  e apresentadora do Bandsports. Ela se depila com uma receita caseira  de açúcar queimado.

Orlando pediu segredo enquanto preparava este livro. Então, secretamente, lá vai: eu tenho um blog: Cartunista Soldagrande novidade, quem ainda não tem um? — com uma seção chamada Mata Atlântica, onde posto fotos de mulheres com os pentelhos inteirinhos, isto é,  os pelos pubianos sem depilar. Mata Atlântica é oxigênio! E não me chamem de saudosista! Um dia, Orlando mandou um desenho sobre o assunto, relacionando os pelos de baixo com os de cima, ou seja, o penteado com os pentelhinhos. E diariamente mandava aquelas maravilhas que só ele, ilustrador de mão cheia, sabe fazer. E fomos publicando, e os internautas se deliciando com as gurias.

Uma manhã ele mandou um e-mail com os desenhos, chamando-os de Moças Finas. Taí: adotei na hora o nome, que não substituiu a Mata Atlântica, mas acres­centou um espaço dedicado só ao Orlando, El Pedroso. As Moças Finas do meu blog são do coração e da prancheta do Orla.

Orlando é meu amigo desde a década de 80, por tabela, pois ilustrava a coluna que Paulo Leminski — putz, estou destinado a falar sobre o Polaco pelo resto da minha vida! — meu companheiro de trabalho e de mesa de bar, publicava no caderno Ilustrada, da Folha de São Paulo.

Depois o conheci pessoalmente em Teresina, no Salão de Humor do Piauí, ambos suados, quase desidratando e Orlando com sua maquininha digital que só foto­grafa desenhistas. Temos uma mania: trocamos e-mails monossilábicos e também conversamos as­sim. E nos entendemos perfeitamente. E, parece pacto, só nos encontramos em Salões de Humor. Mas quando eu for a São Paulo, vou visitar o seu estúdio mági­co, de onde saem as maravilhas que vocês vêem impressas em revistas e jornais do Brasil inteiro. Creio que ele é capaz até de, ao me atender, ser gentil e me convidar pra entrar. E quando ele vier a Curitiba, repetirei o gesto.

Mas não contem isso que eu escrevi pra ninguém: continua em segredo a pedido do Orlando, El Pedroso, até que este livro seja publicado. Solda — o monge do Bacacheri (bairro curitibano).

Moças Finas|Fantasma Editor – Quem procurar, acha!

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Éramos todos selvagens

Vivíamos em uma montanha-russa, circulando por parques de diversões que não passavam por fiscalização

Lembra como éramos? Viajávamos para a praia em sete pessoas num carro pequeno. No banco da frente, o pai sem cinto de segurança. Ao seu lado, a mãe segurando no colo o irmão mais novo que, por sua vez, segurava um cachorro. Obviamente, todos sem cinto.

Em trajetos mais curtos, quando éramos muitos, um ou outro embarcava no porta-malas. Ou na moto sem capacete. Ou de pé na carroceria da camionete, rolando soltos lá atrás feito melancias.

Os pequenos fumavam cigarros de chocolate. Os adultos, de nicotina. Em restaurantes, escritórios, aviões. Cheguei a pegar um elevador em que havia um cinzeiro. Fiquei sabendo de um ginecologista que não largava o cigarro nem para examinar as pacientes. As pernas abertas, ele apoiando o cigarrinho num canto, a baforada quase entrando na vagina.

Refrigerante era água. Como meu pai tinha um restaurante, já dávamos largada com Fanta sabor laranja no café da manhã. Quando minha mãe resolvia ser saudável, servia Tang. Não era só na minha casa: festa de criança sem Coca-Cola não era festa. Conheci uma família que comia diariamente macarrão instantâneo com molho de salsichas. Estão vivos, mas não sei se passam bem —por falta de informação, tempo ou dinheiro, ainda há muitas famílias fazendo esse lento harakiri.

Com o bucho cheio de sódio, pulávamos na piscina sem saber nadar e sem usar boias. Nos dependurávamos da janela do décimo andar sem rede de proteção. Se alguma coisa desse errado, os pais batiam. Cintada, chinelada, tamancada.

Na escola, o bullying, que nem esse nome tinha, era livre. Colegas e professores aderiam a apelidos como: Arroto de Crush, Tiziu, Baleia. Crianças desciam na boquinha da garrafa em rede nacional. Programas de tevê voltados para toda a família faziam troça com gay. Piadas de salão envolviam anões, negros, judeus e portugueses.

Leões e macacos davam duro no circo. Aplaudíamos elefantes cabisbaixos levantando a patinha. Jorrando água pela tromba. Garotos matavam passarinhos com estilingue. Amarravam latas nos rabos dos gatos. Multidões enchiam touradas e farras do boi. A rinha de galo era um sucesso. E quem achava crueldade, era viadinho.

Vivíamos em uma montanha-russa, circulando por parques de diversões que não passavam por fiscalização. Andávamos em barcos que não tinham coletes salva-vidas. Quase ninguém usava protetor solar. As mães roubavam a Coca-Cola dos filhos para passar no corpo: prometia o maior bronze. Os homens se recusavam a usar camisinha: é como chupar bala com papel.

Conheci mulheres que alisavam os cabelos com ferro de passar. Nenhuma delas dizia para a outra: seu cabelo é lindo do jeito que é. Chamavam pessoas orelhudas de Dumbo. Tive uma amiga que, para ir a uma festa, colou as orelhas com Super Bonder.

Muitos homens nasceram, viveram e morreram sem tirar um prato da mesa. Quase todo mundo dirigia bêbado. Depressão era frescura.

Sobrevivemos. E evoluímos, como evoluímos. Mas desconfio que, daqui a trinta anos, olharemos para trás e pensaremos como éramos selvagens em 2023.

Publicado em Giovana Madalosso - Folha de São Paulo | Deixar um comentário
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Tempo – 1991

Fontanarrosa, El Negro, e Crist, Bogotá. © Myskiciewicz

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Flagrantes da vida real

Antonio Thadeu Wojciechowski e Ivan Justen Santana, dois poetas sentados, em pé de guerra. © Maringas Maciel

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