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A mais bela história que ouvi sobre Will Eisner me foi contada por Álvaro de Moya. Desde 1958, época em que Will trabalhava para agências do governo americano, ilustrando manuais didáticos, Álvaro era amigo dele. Ele me contou sobre os encontros marcados com Will na frente de edifícios que só resistiam na memória da juventude do criador de Spirit, o herói sem superpoderes. Quando Álvaro chegava nestes encontros, percebia Will desolado, repetindo: “O edifício não existe mais”. Eisner tratou deste tema em quase todos os seus romances gráficos, em especial na terceira e última fase de sua carreira.

Foi o encontro com a contracultura de Art Spiegelman, Robert Crumb e Denis Kitchen que projetou Will Eisner do jeito que o conhecemos nos últimos 30 anos. O criador de obras-primas como O Contrato com Deus, No Coração da Tempestade, New York — A Grande Cidade, City People Notebook e, a minha preferida, A Life Force, em que Jacob Shtarkah, um carpinteiro desempregado, diz para uma barata: “Você só tem de lutar para viver mais um dia, eu tenho que saber por que”. O Will Eisner que tratou de baratas, judeus, despedidas, pequenos milagres, vizinhanças. Ele que soprou chuva na minha juventude quando peguei nas mãos a minha primeira edição de O Edifício. Li, líamos, Will Eisner e John Fante demais. Não sei se porque o Leminski traduziu o Fante, para a clássica editora Brasiliense, mesmo sem saber direito quem ele era, ou se porque a L&PM editou aqueles quadrinhos todos na década de 80: Bob Cane (Batman), Jack Kirby (X-Men), Jules Feiffer (esses três primeiros, assistentes de Will) e Crepax, Quino, Chester Gould, o livro negro “Minhas Mulheres” de Crumb e muitos títulos de Eisner. Só sei que líamos muito esses homens, e que isso ficou gravado na nossa alma como Krazy Kat & Ignatz do George Herriman ficou na de Will, como uma carta de amor escrita com faca fica na Pont Neuf por um século.

Quando andava pelo verão gelado de Glasgow, em 2004, Will estava lançando uma edição de seus sketchbooks. Comprei, na Forbidden Planet, o livro e voltei apaixonado para o hotel. No início de janeiro de 2005, durante os ensaios de Avenida Dropsie, Will Eisner morreu e o edifício mais importante da minha juventude desapareceu. É claro que, como ele próprio nos contou, o fantasma desse homem brilhante estará sempre nos assombrando com seus traços e palavras. Palavras, porque eu me lembro de alguém que me disse que, se fosse possível imaginar um Will que não desenhasse, ainda assim, Will valeria como Proust, Singer ou Bruno Schulz.

Quando ouvi isso, chovia violentamente em São Paulo. O prédio do Teatro Popular do Sesi, na Avenida Paulista, escorria chumbo como se derretesse. Da minha janela, São Paulo parece, como Will Eisner disse, com qualquer imensa cidade do mundo. Daqui, não consigo escutar os judeus no Bom Retiro, os nordestinos no centro antigo, os japoneses na Liberdade. Quando chove ácido sobre essa cidade, penso no Will que carrego comigo: cinza e preto e branco, sombrio, mas intensamente realista. Penso na solidão coletiva de uma grande cidade. Em detalhes dessas histórias perdidas na imensidão vertical dessa floresta de aço e poeira. Na música desta cidade que ecoa nos prédios vozes de crooners das décadas de 30 e 40, música iídiche da primeira metade do século passado, 78 rotações da antologia perdida do folk americano por Harry Smith, punks e rappers, brancos e pretos do Brooklyn e da zona leste.

Foi uma temporada linda, cheia da chuva que materializa o Eisenshpritz (o modo clássico como Will Eisner desenhava as tempestades), e fog de pensamentos escapando pelos respiradores do metrô, e cartas de amor que escorrem pelos bueiros dizendo “espero que você me entenda”, e de banhos de sol refletidos nas poças de água que a chuva deixou. Will Eisner, vocês sabem, desenhou tudo isso. Talvez porque amasse o pai, imigrante do leste europeu, pintor de cenários do teatro iídiche. Talvez porque amasse, desde a origem, o cinema.

Odiava, como eu odeio, a expressão “perdedores”, vulgar na cultura e educação norte-americana. Dizia: “Meus personagens não são perdedores. São como todos nós: incapazes de controlar nossa arqui-inimiga – a Vida!”

Felipe Hirsch (O Globo)

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Dia
Milhões de carneirinhos
De novo eu contaria
Pra ver você raiar

Dia
São tantos passarinhos
A me dizer bom-dia
Que bom você chegar

Dia
Não mais que um instante
Pra mim será bastante
Um pingo sobre o mar

Dia
Sem nome e sem horário
Em algum calendário
Eu sempre vou te amar

Paulo Vitola

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Eu vou de ônibus

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Cesar Marchesini

Gazeta do Povo.
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Rá!

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Poluicéia Desvairada!

Pra não dizer que não falei de flores. Bem na minha
janela. Foto de Lee Swain.
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Na moldura

Lela Carvalho e Soruda san, Teresina, 2010.
Foto de Vera Solda.
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Tchans!

Naomi Campbell. TaxiDriver.
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Meus arquivos da Ditadura

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Empurrando com a barriga

Carli Filho. Foto sem crédito.
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Hoje!

Clique na imagem para ampliar.
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Guto Lacaz

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Na moldura

Talita do Monte, Teresina. Foto de Albert Piauí.
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Rá!

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Poluicéia Desvairada!

Pastas de arquivo do estúdio do Ziraldo. Em alguma travessa da Lagoa Rodrigo de Freitas. Foto de Lee Swain.
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