Aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro temem não só o caso das joias, mas o que mais o ex-ajudante de ordens, Mauro Cid, pode dizer à Polícia Federal.
A notícia da revista Veja de que o advogado Cezar Bittencour afirmara que Mauro Cid confessaria que vendeu as joias a mando de Bolsonaro e entregou a ele o dinheiro, fez o ex-presidente explodir e preocupou seus aliados.
Segundo relato de um aliado próximo, Bolsonaro gritou, chamando o pai de Cid, general Lorena Cid de “ingrato”, atribuindo a ele a movimentação do advogado (entenda o por que, para Bolsonaro, o general é ingrato).
Segundo uma fonte com acesso a Bolsonaro, ele já andava irritado com as ameaças de seu “amigo” – Lorena Cid e o ex-presidente foram colegas – de que o filho não iria “segurar nada sozinho” (aqui e aqui). Mesmo assim, Bolsonaro dizia acreditar que seu ex-assistente não o comprometeria.
A preocupação de aliados de Bolsonaro com a disposição de Mauro Cid falar está no fato de que o ex-ajudante de ordens estar sempre presente no dia a dia do ex-presidente.
Cid pode encrencar Jair Bolsonaro não apenas na investigação das joias, mas em outras frentes, como eventuais tentativas de grampos de Alexandre de Moraes, a minuta do golpe para a permanência de Bolsonaro na Presidência da República ou em outros casos. Afinal, foram quatro anos de convivência diária e intensa.
Lembra o aliado que Mauro Cid não apenas participava de reuniões, era um operacional, o faz-tudo de Bolsonaro. Significa que, se o ex-ajudante de ordens decidir ir além da confissão e colaborar com à justiça, poderá indicar os meios para se obter provas contra o ex-presidente.
Segundo relatos de fontes com acesso a Cid, ele demonstra insatisfação principalmente porque sua família ficou exposta. Seu pai foi alvo de operação da Polícia Federal no inquérito das joias na semana passada.
Esta semana, Bolsonaro teve outro baque. Seu amigo e advogado, Frederick Wassef teve quatro celulares apreendidos pela PF.
Jair Bolsonaro acusa de ‘kamikaze‘ a estratégia de defesa do advogado de seu ajudante de ordens no caso da venda das joias sauditas: que o coronel Mauro Cid apenas cumpria ordens. Como o coronel só tinha um superior hierárquico, as ordens vieram do presidente da República. Os kamikases eram os pilotos japoneses da II Guerra Mundial, que morriam jogando seus aviões sobre os navios inimigos. E como Bolsonaro não é a faca mais afiada no faqueiro, sugere que o inimigo do piloto Mauro Cid era ele, Bolsonaro, o navio inimigo.
Imagem sugestiva, que revela o alcance da inteligência de Jair Bolsonaro, que compara a bravura e a honra dos japoneses com a covardia do coronel que se safa acusando o capitão que fazia um general, um coronel e um almirante agirem como contrabandistas e receptadores. Mauro Cid não tem a honra nem a bravura dos kamikazes. Só Getúlio Vargas teve a honra e a bravura que faltam a Jair Bolsonaro e a Mauro Cid, a de lavá-la com o próprio sangue. Mas falta aqui o pressuposto da honra, essa virtude escassa nos políticos.
No frio de Teresíndia. A economista e turismóloga Creuza Martins (descendente do Visconde da Parnaíba, o cara que governou o Piauí por 26 anos e mais alguma coisa) espia o que vê sem poder acreditar! Por volta das três da tarde, sol a pino, de cozinhar miolo de pote em Teresíndia, em frente ao hotel Metro onde estavam hospedados, ao lado do Theatro 4 de Setembro, os curitibanos Solda e Vera Solda, quando se dirigiam para o Aeroporto Petrônio Portella, para pegar o International Gate Number One do ex- Santos Dummont, e voltar para o lar doce lar deles, deram uma de ter um frio danado de ranger os dentes, o que os obrigou – o casal já com quase cidadania piauiense – a tirar do fundo da mala aquele casaco londrino que eles usam quando descem as serras azuis e verdes da terra natal.
Poeticamente, Solda deu essa explicação: – “É o frio da saudade, já, de todos vocês”. Talvez sob influência do nosso Da Costa e Silva – “Saudade – Asa de Dor do Pensamento”. Não se preocupem, esperamos nos encontrar, de novo e novamente, no próximo Salão de Humor do Piauí, ano que vem (ou que o traremos de qualquer jeito), com ou sem a permissão do alcaide Silvio Mendes. Não é verdade, Albert Piauí? A foto é (do outro tão abismado São Tomé).
A criminosa febre dos testes rápidos de psicologia barata
Para o estudante de psicanálise, o capítulo sobre o narcisismo, um dos mais geniais, complexos e revolucionários escritos por Freud, rende pelo menos umas cinco aulas tão exaustivas quanto fascinantes. Depois de alguns meses ou anos, ao retornar ao texto, a sensação de que ainda falta extrair muito daquelas linhas continuará lá. Talvez você sinta que precisa recomeçar a formação (ou nascer de novo?), pois deixou escapar zilhões de caixinhas e gavetinhas que não foram abertas. E é por isso, por me causar tanto incômodo (e por me fazer voltar todos os dias para a sensação da primeira leitura), que Freud sempre será minha pessoa favorita no mundo.
Mas, com a febre dos testes rápidos de psicologia barata (travestidos de joguinhos de autoconhecimento) no TikTok e no Instagram, ignoram-se completamente estágios do desenvolvimento psicossexual, as fases autoerótica e fálica e os conceitos de ego, objetos de amor, alteridade e pulsão de autoconservação.
Também são escanteadas as teorias brilhantes e radicais de Melanie Klein (em contraposição ao narcisismo freudiano), como ego precoce, projeção e introjeção, investimento libidinal, instinto destrutivo e seio persecutório. O mesmo para Winnicott, que fala sobre o amálgama mãe-bebê (ou bebê-ambiente/cuidador).
Se você porventura um dia se atreveu a ler sobre o estádio do espelho, sabe que Lacan não só abriu todas as zilhões de caixinhas e gavetinhas do narcisismo de Freud como ainda achou buracos (que chamou elogiosamente de “texto aberto”), criando assim seus escritos sobre formação do Eu e constituição do sujeito humano. E se isto não é literatura finíssima, eu não sei o que é: “um drama cujo impulso interno precipita-se da insuficiência para a antecipação”, ou então “a armadura enfim assumida de uma identidade alienante”.
Afinal, para que livros densos (desonram até a mitologia grega, os poetas, Ovídio, Tirésias, ninfas, Eco e rios com águas límpidas margeadas por flores) se podemos dar aquela zapeada maníaca e, bovinamente, nos entreter com um teste sobre narcisismo? São rapidinhos, dançantes e trazem quase sempre um idiota apontando para o ar, onde surgem perguntas digitalizadas: “Sua mãe faz chantagem emocional? Faz você sentir que é responsável pela felicidade dela?”.
Meus amigos, minha mãe é descendente de italianos. Chorou por 15 anos quando eu saí de casa “criança”, aos 26 anos. Ela diz que ali, naquele dia, começou a morrer e nunca mais parou. Mas esse personagem sensacional é dramático o suficiente para estar em todos os meus delírios de grandeza artística, em meus livros e crônicas e jamais caberá num teste de psicologia marqueteira.
Quem ainda aguenta estas chamadas? “Descubra se você é uma mãe narcisista, se a sua mãe é narcisista, se você é um filho de mãe narcisista, se a sua mãe é narcisista como a mãe de Larissa Manoela, se a mãe de Larissa Manoela é narcisista e se a sua mãe ou você enquanto mãe é tão ou mais narcisista que a mãe de Larissa Manoela.”
A febre desses questionários simplificados e criminosos é fácil de explicar: eu, minha família inteira, você e sua família temos, segundo eles, transtornos e síndromes. Quer ver outro jogo da modinha, bem gostosinho, para estragar sua vida? Não conheço uma amiga cujo filho não tenha pontuado pelo menos 80% na provinha do transtorno opositor desafiador. A analista da minha filha disse que “esse TOD” consegue fazer mais mal do que aquela bebida de nome parecido, cheia de açúcar, que um parente (não direi qual) insiste em dar para a pequena.
E pensar que um dia, fazendo coro com os Titãs, tivemos medo de que fosse a televisão a nos deixar burros demais.
A quinta-feira em Brasília esteve sob o impacto do depoimento do hacker Walter Delgatti à CPI dos atos golpistas de 8 de janeiro.
O “hacker da Vaza Jato” afirmou que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) teria lhe prometido um indulto para que ele tentasse fraudar as urnas eletrônicas, criando uma situação para colocar em xeque os resultados da eleição presidencial de 2022. Bolsonaro disse que Delgatti “está fantasiando”.
Juliana Dal Piva informa que, após a fala de Delgatti, a PF requisitou novo depoimento dele, pois considera que houve contradições em relação ao que ele havia dito antes à polícia. Isso deve ocorrer nesta sexta-feira.
Para Leonardo Sakamoto, as declarações do “hacker de Araraquara” são graves e, se houver provas do que ele disse, crescem as chances de Bolsonaro ser preso -e levando generais junto.
Wálter Maierovitch fez um paralelo entre Delgatti e o italiano Tommaso Buscetta, que delatou a máfia siciliana Cosa Nostra nos anos 1980.
O depoimento de Delgatti foi marcado pela intervenção do senador Sergio Moro (União Brasil-PR), que confrontou o hacker e ouviu réplica. A colunista Carolina Brígido avalia que a postura de Moro foi uma tentativa de ele, alvo dos vazamentos da Vaza Jato, tentar “salvar a própria pele”, pois as revelações de Delgatti poderiam, além de atingir Bolsonaro, respingar nele, que foi ministro da Justiça do ex-presidente
Hoje, sexta, 18 de agosto. Diz que é o Dia do Estagiário. Então viva a Júlia aqui no Plural!
Aula de cidadania
A gente sabe que greve de professora é um perrengue pra quem tem filhos pequenos. Tem que deixar na vó, ou aquela coisa meio arriscada que é levar junto pro trabalho. Aí de repente o guri tá atendendo o telefone da empresa ou subindo nas costas do colega da firma…
Mas é importante. E hoje vai ter de novo. Tudo porque o prefeito é um teimoso e aceita conversar com todo tipo de empresário rico, mas não com as pessoas mais importantes da administração dele. As professoras estão há dias esperando uma brecha para falar com o prefeito Greca, mas nada.
No fundo fica valendo como uma aula de cidadania. E nossos filhos precisam saber mesmo disso. Se você tem um direito, tem que lutar por ele. Ou, outra lição: educação deve ser prioridade num país. E mais outra ainda: sem professora bem paga, a educação só piora.
Então, o esforço de hoje vale a pena. Nem que a filhinha amada comece a fazer bagunça bem na hora daquele telefonema importante…
Eu morava na Maison du Brésil, na Cité Universitaire. O correspondente do JB Luiz Edgar de Andrade me deu a dica na manhã da sexta-feira, 16 de dezembro de 1960: “Às onze horas, missa de corpo presente de Vera Amado Clouzot, na igreja Saint-Pierre-de-Chaillot.” Imediatamente peguei o metrô para a Avenue Marceau, uma daquelas vias monumentais que se irradiam do Arco do Triunfo, na Étoile.
Filha do diplomata Gilberto Amado, Vera, 48 anos, virou atriz por acaso e casou com o famoso cineasta francês Henri-Georges Clouzot. Fez três filmes sob sua direção: O salário do medo (1953), As diabólicas (1955) e Os espiões (1957). Nos dois primeiros ela morre, no terceiro faz o papel de uma muda – a escolha dos papeis não chegava a ser uma declaração de amor do marido. Pouco antes de completar 47 anos, o coração de Vera explodiu. Quando o cardiologista anunciou que tinha os dias contados, Clouzot chegou a propor-lhe um pacto suicida.
A igreja estava cheia de celebridades. Num jornal do dia seguinte, saí na primeira página a poucos metros de Brigitte Bardot e de Françoise Arnoul, minhas musas dos filmes franceses no Cine Marabá, em Curitiba. O semanário ilustrado Noir et Blanc publicou uma página inteira: “AUX OBSÈQUES DE VERA CLOUZOT LES COMÉDIENS NE JOUAINT PLUS.” Numa das seis fotos, eu apareço atrás de Daniel Gelin, o grande ator que, depois do Último Tango, ficaria conhecido como “o pai da Maria Schneider.”
O corpo de Vera ficou no alto de um catafalco perto do altar, coberto por uma montanha de coroas de flores. Naquele ambiente santificado e solene, estou respirando o mesmo metro cúbico de minhas musas… De repente, sou empurrado pela massa e me vejo cara a cara com o monstro sagrado do cinema, Henri-Georges Clouzot, que estapeava seus atores para lhes arrancar a interpretação perfeita – naquele momento um homem em profunda dor pela perda da mulher.
Com os olhos marejados, Clouzot coloca em minha mão um aspersor de água benta, com o qual devo lançar algumas gotas sobre o corpo da defunta, eu repito o que vi fazer Charles Vanel, que veio à minha frente na fila dos cumprimentos. Clouzot agradece minha solidariedade, aperta-me num abraço forte, como se eu fosse seu amigo há décadas.
Olho então bem fundo nos seus olhos e vejo ali uma culpa transcendental. Lembro o enredo de Les diaboliques: o marido trama com a amante um ardil para levar a mulher – cardiopata, como Vera – a sofrer uma pressão que seu coração não irá suportar. O crime perfeito, por causas naturais. Na minha fantasia maldosa, decido que Clouzot foi o culpado da morte de Vera. Coitado dele, se arrastaria por mais 17 anos até morrer aos 69, depois de vários ataques do coração.
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