Ykenga foi um dos primeiros amigos que fiz no desenho de humor.
No final dos anos 80, quando lancei um jornalzinho de humor chamado ‘Cartoon’, ele foi o primeiro cartunista que escolhi para entrevistar e convidar para participar do tablóide.
Ele trabalhava no jornal ‘O Povo’, na Lapa. A entrevista rolou no “Carlitos”, um boteco que ficava em frente ao Capela, na Mem de Sá, 96, onde Jaguar jantava com Madame Satã, tarde da noite.
A entrevista começou à tarde e entrou pela noite. Enchi três fitas K7. Falamos de tudo e bebemos todas. Ykenga era bom de papo e de copo. Depois da entrevista, ele me deu dois originais enormes, que tinha feito para a edição de ‘O Povo’, do dia seguinte.
Quando os garçons já estavam empilhando as cadeiras sobre as mesas, ele me pediu: “Me dá uma carona? Corajoso. Eu já não tinha condições sequer de dirigir pra mim, muito menos para os outros. Por sorte, na época, não havia Lei Seca. E lá fomos nós para o outro lado da poça. Só então o negão (época boa, podíamos chamar um amigo de negão, sem problemas) me disse que não morava “bem” em Niteroi, morava em São Gonçalo, longe pra cacete!
Levei Ykenga em casa, mas, na volta, não sei como, perdi as fitas com a entrevista e os desenhos que ganhei de presente. A entrevista nunca foi publicada. Não foi a primeira vez. Uma vez, depois de receber uma “Moção” da Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro e uma medalha do vereador Pedro Porfírio, esqueci os dois em um táxi.
Participei com Ikenga de diversos salões e exposições de humor e fiz várias viagens com ele. Só para o “Salão Internacional de Humor Ecológico”, no Abraão, na Ilha Grande, foram 10 anos.
Carioca, Ykenga nasceu Bonifacio Rodrigues de Mattos, no dia 14 de maio de 1952. Estudou no Colégio Santo Inácio e é, por formação, desenhista técnico e sociólogo. Como cartunista Ykenga iniciou a carreira na década de 1970, no jornal alternativo “Favelão”, impresso e distribuído nas comunidades cariocas.
Iniciou profissionalmente a carreira de cartunista em 1970, no “Pasquim”, levado pelo Henfil, a quem foi apresentado pelo irmão Betinho, com quem Ykenga trabalhou no Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (IBASE).
Passou pelas redações de: ‘O Dia’, ‘O Povo’, ‘Cartoon’, ‘Perú Molhado’, ‘Prensa de Babel’, ‘Última Hora’, ‘O Fluminense’, ‘Jornal dos Sports’, ‘Tribuna da Bahia’, ‘O Povo’, de Fortaleza, ‘Libèracion’, da Suécia, ‘La Juventud’, do Uruguai e ‘Stachel’, da Bulgária, entre outros.
Ilustrou livros com textos de Martinho da Vila, Novos Talentos da ABL e o Catálogo do ‘Salão Internacional de Caricatura de Montreal’ (Canadá).
Em 2015, lançou o livro Casa Grande & Sem Sala, uma sátira ao clássico Casa-Grande & Senzala, de Gilberto Freyre, em que contesta, com o uso do humor, o mito da democracia racial. O nome do livro, prefaciado por Chico Caruso, faz alusão à série de charges Casa Grande & Sem Sala, do próprio Ykenga, que foi publicada em jornais da década de 80 e que aborda a realidade das favelas cariocas.
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