O fator Lira na reforma

A resistência de Lula em entregar o comando do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) ao PP tem um motivo, segundo uma liderança petista: Arthur Lira (PP-AL).

Isso porque o presidente da Câmara, que deixa o posto em 2025, e vai querer assumir o ministério responsável pelo Bolsa Família no lugar de André Fufuca (PP-MA) – que, se confirmado no comando da pasta, somente guardaria a vaga para o correligionário, segundo interpretação de uma liderança petista.

Com o MDS, uma das pastas de maior orçamento, Lira se cacifaria para disputar o Senado em 2026 contra Renan Calheiros (MDB-AL), aliado do governo e adversário do presidente da Câmara. No pleito, duas vagas ao Senado estarão em disputa.

Mas Lira também turbinaria a campanha do senador Ciro Nogueira, presidente do PP, e adversário do PT no Piauí. É justamente o adversário de Ciro, o ex-governador do estado, Wellington Dias, que comanda o MDS.

Há semanas é aguardada a reforma ministerial para a entrada do PP de Lira e do Republicanos. Os nomes já foram definidos: além de Fufuca, o deputado federal Silvio Costa Filho (Republicanos) também assumirá uma pasta.

Nas conversas com Lira, Lula tenta preservar do MDS e chegou a oferecer Ciência e Tecnologia para o PP, além do comando da Caixa Econômica Federal e algumas vice-presidências. Apesar da resistência, o PP insiste em comandar a pasta.

Para o Republicanos, as possibilidades vão do Ministério dos Esportes a Portos e Aeroportos.

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Solda vê TV

Bico de pena|nanquim|1990

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Se você é mãe de mulher no Brasil

Ser mãe de mulher nesse país é esporte radical: além de dedicação, envolve medo, coragem e adrenalina

Se você é mãe de mulher no Brasil sabe o que se passou pela minha cabeça. Ser mãe de mulher aqui nesta terra é como praticar esporte radical: além de dedicação, envolve medo, coragem e adrenalina.

Os incômodos começam logo cedo, na frente do espelho. Umas se acham gordas demais, outras retas demais, outras redondas de menos. Você irá se esforçar para fortalecê-la, mas não importa o que faça, não importa o quanto blinde aqueles ouvidos, sem mais nem menos, um dia eles serão alvejados por um ou mais desses adjetivos: piranha, puta, vagabunda, rameira, vaca, galinha, piriguete, biscate, vadia.

Se você é mãe de mulher no Brasil, terá que passar pelo constrangimento de explicar a sua menina que talvez ela seja confundida com uma almofada no transporte público. Amassada, apalpada, apertada. E que se cuide na hora de reclamar: pode ser que o apalpador reaja.

Quem sabe um dia você se pegue pesquisando coisas estranhas no Google: spray de pimenta, curso de autodefesa, soco inglês. Talvez ensine a sua filha a gritar alto. A aplicar mata-leão. A chutar ovos a ponto de transformá-los em mexidos.

Ao ver a filha sair, talvez perceba que dizer “leve um casaco” é pouco. Melhor levar um sobretudo. Ou um escafandro. Todos os dias, cerca de 200 filhas de mulheres são estupradas no Brasil. Sendo que mais da metade é menor de 13 anos. Sabe o que isso significa? Que se você é mãe de mulher, não tem sossego nem dentro de casa, já que a maioria desses abusos é cometida por pais, avós e tios.

E então elas crescem. E como é bonito vê-las crescer, vê-las gostando de alguém. Junto com a paixão da filha, nasce a nossa torcida: que seja por um cara bacana, que ela nunca ganhe de presente do namorado uma bifa.

Se a nossa filha gosta de outra mulher, podemos ficar mais tranquilas. Ou quase, já que sempre haverá algum sujeito achando que, para ela gostar de outra mulher, alguém não deve ter feito direito o serviço. E lá vem a tentativa de um ménage ou de um sexo corretivo.

Tira a mão do seio da minha filha, a mãe da deputada Isa Penna deve ter pensado, quando ela foi assediada em plena Assembleia Legislativa. Se você é mãe de mulher no Brasil, vai se desdobrar para que sua filha seja respeitada na mesa de reunião e de cirurgia (lembra-se das pacientes que foram violentadas?), vai esbravejar para que receba o mesmo salário que um homem, vai torcer para que ela seja poderosa, mas não tanto quanto Marielle Franco.

Se você é pai de mulher, vai se preocupar da mesma maneira, mas a partir de uma epiderme que não sentiu as mesmas violências. Ser mãe de mulher no Brasil é, na maior parte do tempo, uma alegria e, às vezes, um sofrimento triplamente qualificado: sentimos pelo que o nosso corpo passou, pelo que o das filhas passa e ainda por ter de cerceá-las, quando tudo o que uma mãe quer é ver um filho, de qualquer gênero, livre e independente.

Publicado em Giovana Madalosso - Folha de São Paulo | Deixar um comentário
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Assim caminha a humanidade

Aquino Rego, vendedor de entulhos em São Paulo, passou a vida a mudar de nome. Aos quinze anos descobriu que se chamava Aquino Rego, nome impróprio, inadequado impronunciável em qualquer lugar do planeta. Mudou então para Inácio Pinto, percebendo meses mais tarde que a mudança lhe trouxera mais problemas, dores de cabeça incontornáveis e fadiga ao registro de nascimento. Desesperado, requereu novo nome, desta vez em cartório exemplar e passou a se chamar Cupertino Durão por seis longos anos.

Temendo represálias populares e insinuações maldosas, se atirou de corpo e alma ao pomposo nome de Jacinto Carvalho. Um ano depois, Aquino Rego, aliás Inácio Pinto, aliás Cupertino Durão, aliás Jacinto Carvalho, se transformava radiante em Chega de Mudar de Nome, como é conhecido até hoje.

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Tratamento adequado é cadeia

Chocado contra o que se diz e se pretende fazer contra Jair Bolsonaro, Arthur Lira, presidente da câmara dos deputados, sugere “tratamento adequado” aos ex-presidentes da República. Para Lira, os ex-presidentes merecem respeito como “instituições”. Típico de Arthur Lira, o pior exemplo que pode existir de uma instituição, a câmara dos deputados. O tratamento que os ex-presidentes recebem é resultado daquilo que fizeram quando presidentes. Os supostos maus tratos aos ex-presidentes representam a reversão cidadã daquilo que fizeram no poder. Há exceções, como se costuma dizer de Lula, cujos maus tratos foram inéditos e exagerados pela conduta do judiciário e militares.

Aponte-se mau tratamento a FHC, Itamar Franco, Dilma ou a outros que o mereceram, como José Sarney e Michel Temer? Ou a qualquer dos ditadores, que com mortes, torturas e infâmias no currículo morreram no conforto do leito, sob os cuidados da família e o respeito do povo iludido? Se Lira fosse honesto, diríamos que pensava em Floriano Peixoto, que deixou o poder e recolheu-se ao esquecimento nas Alagoas – jamais maltratado. Ou no outro conterrâneo, Fernando Collor, para quem todo mau tratamento é merecido, como demonstrou o próprio irmão Pedro, sua vítima predileta. Lira preocupa-se com Jair Bolsonaro, um aliado cujos malfeitos podem respingar no piedoso crítico dos humores brasílicos.

Alguma vez Jair Bolsonaro preocupou-se com os brasileiros? Ele não fez isso sequer para doar milho a preço de custo para seu gado. Lira preocupado com os ex-presidentes? Piada sobre a qual paira a tragédia cívica de ninguém no Brasil extrair a desfaçatez cínica e a impunidade de quem fala – e do porquê fala. Pior que qualquer mau tratamento dado a ex-presidentes é o mau tratamento que Lira dá à coisa pública. Mas nisso tanto os supostos maltratados estão livres, convenientemente livres, porque Jair Bolsonaro funciona hoje como o conhecido boi de piranha, o bode expiatório que os protege da exposição de seus crimes contra o Brasil.

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Teresina – 2005

Josy Brito, Lela Carvalho e Orlando Pedroso, Teresina Rock, Salão Internacional de Humor do Piauí, 2005.  © Vera Solda

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Mural da História – 2010


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Delicadeza

Pelas horas do tempo não linear
persigo seu rosto em todas as palavras, sílabas, frestas
tento adivinhar qual será o presságio
ao ouvir o vento bater à janela

ao acaso
ou à sorte
as linhas da minha mão migraram para a sua
percorreram os hemisférios
dividiram os tempos
carregaram as dores
inventaram um pensamento

entre os silêncios trocados
na abissal tentativa do encontro
o medo não existe
apenas a nau constante

a pele descama e escolhe as matizes
embarco nesta expedição
em busca da delicadeza
onde vejo os naufrágios somente
quando desço às profundezas do oceano

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© Edward Weston|1942

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nossa triboLuis Mello (caigangue), Domingos Pellegrini (pé-vermelho) e Rose Rogoski (waurá), em algum lugar do passado.  © Alberto Melo Viana (baiano)

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Lady d’Arbanville

 

Cat Stevens

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Fraga

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Claudia Veneza. © Zishy

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