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Tempo

Marília Giller cortando o bolo de aniversário, em algum lugar do passado. © Vera Solda

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Helga Amor. © Zishy

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Nem todo elogio

Há quem venda a alma e alugue o corpo por um elogio, mas um elogio pode nos trazer mais desgostos do que satisfação. Nem vou falar no elogio que ilude ainda mais um iludido: “Fulaninha, seu disco é ótimo, acho que tem tudo a ver você copiar a voz, o cabelo e os arranjos de Amy Winehouse!”  Fulaninha embarca na conversa e dá com os burros nágua. Não, estou me referindo a outras ramificações dessa arte tão escorregadia, a arte de falar bem, tão complexa quanto a de falar mal.

Existe o elogio equivocado, aquele que em que o crítico ou o amigo não entendeu absolutamente o que você fez, e o elogiou por imaginar algo diferente.  Ocorre muito quando a gente usa a ironia.  Um texto é lido por pessoas de diferentes visões estéticas, políticas, etc. Às vezes a gente publica uma coisa sarcástica, e surge alguém que leva o texto ao pé da letra e acha aquilo maravilhoso.

Um tipo que me incomoda é o elogio que aproveita para falar mal de terceiros, ainda mais se são meus amigos. “O livro de BT é infinitamente melhor do que as medíocres tentativas de A, B ou C…”  É o que basta para o alfabeto inteiro ficar com raiva do meu livro. E muitas críticos só sabem criticar assim, por exclusão – algo só é bom ao ser comparado a outra coisa que o crítico acha ruim (e que ele às vezes não percebe ser bem melhor que a obra que elogiou).

Nem deveria falar do elogio sem substância, o elogio que nada diz a não enfileirar adjetivos, mas esta é uma praga que parece residir no tipo de tinta usado na imprensa, então cumpre combatê-la.  Publico um conto, o crítico X diz apenas que é “instigante, envolvente”. Já o crítico Y diz que é “uma mistura, que não deu certo, da temática de Henry James com a prosa de Machado de Assis”. Este último, mesmo não gostando, talvez tenha me mostrado algo que eu não tinha percebido.

Existe um certo tipo de elogio interesseiro que todos nós praticamos, conscientemente ou não.  Consiste em louvar a brasa alheia trazendo-a para perto da nossa sardinha.  Faço um mea-culpa, por exemplo, no que diz respeito à literatura fantástica e à FC. Muitas vezes nós, militantes destas duas excentricidades, acabamos elogiando uma obra que nem é tão boa assim, mas que nos parece boa porque vemos nela o mesmo tipo de “persuasão” que cultivamos. O elogio é interesseiro porque não nos interessa tanto o valor daquela ovelha desgarrada, o que queremos na verdade é engrossar nosso rebanho.

O bom elogio é o que não usa adjetivo algum (desconfie de termos como “magistral”, “genial”, etc.). O bom elogio limita-se a descrever com clareza as qualidades da obra.  Se são de fato qualidades, o bom leitor saberá reconhecê-las.

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© Jan Saudek|1985

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Búlgara

Anjela Nedyalkova, atriz búlgara. Ela interpretou no filme T2 Trainspotting (2017) o papel da prostituta Veronica. © Reuters

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O homem-bomba de Bolsonaro

Aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro temem não só o caso das joias, mas o que mais o ex-ajudante de ordens, Mauro Cid, pode dizer à Polícia Federal.

A notícia da revista Veja de que o advogado Cezar Bittencour afirmara que Mauro Cid confessaria que vendeu as joias a mando de Bolsonaro e entregou a ele o dinheiro, fez o ex-presidente explodir e preocupou seus aliados.

Segundo relato de um aliado próximo, Bolsonaro gritou, chamando o pai de Cid, general Lorena Cid de “ingrato”, atribuindo a ele a movimentação do advogado (entenda o por que, para Bolsonaro, o general é ingrato).

Segundo uma fonte com acesso a Bolsonaro, ele já andava irritado com as ameaças de seu “amigo” – Lorena Cid e o ex-presidente foram colegas – de que o filho não iria “segurar nada sozinho” (aqui e aqui). Mesmo assim, Bolsonaro dizia acreditar que seu ex-assistente não o comprometeria.

A preocupação de aliados de Bolsonaro com a disposição de Mauro Cid falar está no fato de que o ex-ajudante de ordens estar sempre presente no dia a dia do ex-presidente.

Cid pode encrencar Jair Bolsonaro não apenas na investigação das joias, mas em outras frentes, como eventuais tentativas de grampos de Alexandre de Moraes, a minuta do golpe para a permanência de Bolsonaro na Presidência da República ou em outros casos. Afinal, foram quatro anos de convivência diária e intensa.

Lembra o aliado que Mauro Cid não apenas participava de reuniões, era um operacional, o faz-tudo de Bolsonaro. Significa que, se o ex-ajudante de ordens decidir ir além da confissão e colaborar com à justiça, poderá indicar os meios para se obter provas contra o ex-presidente.

Segundo relatos de fontes com acesso a Cid, ele demonstra insatisfação principalmente porque sua família ficou exposta. Seu pai foi alvo de operação da Polícia Federal no inquérito das joias na semana passada.

Esta semana, Bolsonaro teve outro baque. Seu amigo e advogado, Frederick Wassef teve quatro celulares apreendidos pela PF.

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O Bandido Que Sabia Latim

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Mais sério que delegado em porta de baile.

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Todo mundo lá!

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Meus arquivos da Ditadura – 1970

Revista Atenção, Grafipar, Gráfica e Editora, década 1970

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Honra de mafioso

Jair Bolsonaro acusa de ‘kamikaze‘ a estratégia de defesa do advogado de seu ajudante de ordens no caso da venda das joias sauditas: que o coronel Mauro Cid apenas cumpria ordens. Como o coronel só tinha um superior hierárquico, as ordens vieram do presidente da República. Os kamikases eram os pilotos japoneses da II Guerra Mundial, que morriam jogando seus aviões sobre os navios inimigos. E como Bolsonaro não é a faca mais afiada no faqueiro, sugere que o inimigo do piloto Mauro Cid era ele, Bolsonaro, o navio inimigo.

Imagem sugestiva, que revela o alcance da inteligência de Jair Bolsonaro, que compara a bravura e a honra dos japoneses com a covardia do coronel que se safa acusando o capitão que fazia um general, um coronel e um almirante agirem como contrabandistas e receptadores. Mauro Cid não tem a honra nem a bravura dos kamikazes. Só Getúlio Vargas teve a honra e a bravura que faltam a Jair Bolsonaro e a Mauro Cid, a de lavá-la com o próprio sangue. Mas falta aqui o pressuposto da honra, essa virtude escassa nos políticos.

Publicado em Rogério Distéfano - O Insulto Diário | Deixar um comentário
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Mural da História – 2009

No frio de Teresíndia. A economista e turismóloga Creuza Martins (descendente do Visconde da Parnaíba, o cara que governou o Piauí por 26 anos e mais alguma coisa) espia o que vê sem poder acreditar! Por volta das três da tarde, sol a pino, de cozinhar miolo de pote em Teresíndia, em frente ao hotel Metro onde estavam hospedados, ao lado do Theatro 4 de Setembro, os curitibanos Solda e Vera Solda, quando se dirigiam para o Aeroporto Petrônio Portella, para pegar o International Gate Number One do ex- Santos Dummont, e voltar para o lar doce lar deles, deram uma de ter um frio danado de ranger os dentes, o que os obrigou – o casal já com quase cidadania piauiense – a tirar do fundo da mala aquele casaco londrino que eles usam quando descem as serras azuis e verdes da terra natal.

Poeticamente, Solda deu essa explicação: – “É o frio da saudade, já, de todos vocês”. Talvez sob influência do nosso Da Costa e Silva – “Saudade – Asa de Dor do Pensamento”. Não se preocupem, esperamos nos encontrar, de novo e novamente, no próximo Salão de Humor do Piauí, ano que vem (ou que o traremos de qualquer jeito), com ou sem a permissão do alcaide Silvio Mendes. Não é verdade, Albert Piauí? A foto é (do outro tão abismado São Tomé).

Kenard Kruel – 14|7|2009 

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Você é narcisista? Faça o teste!

A criminosa febre dos testes rápidos de psicologia barata

Para o estudante de psicanálise, o capítulo sobre o narcisismo, um dos mais geniais, complexos e revolucionários escritos por Freud, rende pelo menos umas cinco aulas tão exaustivas quanto fascinantes. Depois de alguns meses ou anos, ao retornar ao texto, a sensação de que ainda falta extrair muito daquelas linhas continuará lá. Talvez você sinta que precisa recomeçar a formação (ou nascer de novo?), pois deixou escapar zilhões de caixinhas e gavetinhas que não foram abertas. E é por isso, por me causar tanto incômodo (e por me fazer voltar todos os dias para a sensação da primeira leitura), que Freud sempre será minha pessoa favorita no mundo.

Mas, com a febre dos testes rápidos de psicologia barata (travestidos de joguinhos de autoconhecimento) no TikTok e no Instagram, ignoram-se completamente estágios do desenvolvimento psicossexual, as fases autoerótica e fálica e os conceitos de ego, objetos de amor, alteridade e pulsão de autoconservação.

Também são escanteadas as teorias brilhantes e radicais de Melanie Klein (em contraposição ao narcisismo freudiano), como ego precoce, projeção e introjeção, investimento libidinal, instinto destrutivo e seio persecutório. O mesmo para Winnicott, que fala sobre o amálgama mãe-bebê (ou bebê-ambiente/cuidador).

Se você porventura um dia se atreveu a ler sobre o estádio do espelho, sabe que Lacan não só abriu todas as zilhões de caixinhas e gavetinhas do narcisismo de Freud como ainda achou buracos (que chamou elogiosamente de “texto aberto”), criando assim seus escritos sobre formação do Eu e constituição do sujeito humano. E se isto não é literatura finíssima, eu não sei o que é: “um drama cujo impulso interno precipita-se da insuficiência para a antecipação”, ou então “a armadura enfim assumida de uma identidade alienante”.

Afinal, para que livros densos (desonram até a mitologia grega, os poetas, Ovídio, Tirésias, ninfas, Eco e rios com águas límpidas margeadas por flores) se podemos dar aquela zapeada maníaca e, bovinamente, nos entreter com um teste sobre narcisismo? São rapidinhos, dançantes e trazem quase sempre um idiota apontando para o ar, onde surgem perguntas digitalizadas: “Sua mãe faz chantagem emocional? Faz você sentir que é responsável pela felicidade dela?”.

Meus amigos, minha mãe é descendente de italianos. Chorou por 15 anos quando eu saí de casa “criança”, aos 26 anos. Ela diz que ali, naquele dia, começou a morrer e nunca mais parou. Mas esse personagem sensacional é dramático o suficiente para estar em todos os meus delírios de grandeza artística, em meus livros e crônicas e jamais caberá num teste de psicologia marqueteira.

Quem ainda aguenta estas chamadas? “Descubra se você é uma mãe narcisista, se a sua mãe é narcisista, se você é um filho de mãe narcisista, se a sua mãe é narcisista como a mãe de Larissa Manoela, se a mãe de Larissa Manoela é narcisista e se a sua mãe ou você enquanto mãe é tão ou mais narcisista que a mãe de Larissa Manoela.”

A febre desses questionários simplificados e criminosos é fácil de explicar: eu, minha família inteira, você e sua família temos, segundo eles, transtornos e síndromes. Quer ver outro jogo da modinha, bem gostosinho, para estragar sua vida? Não conheço uma amiga cujo filho não tenha pontuado pelo menos 80% na provinha do transtorno opositor desafiador. A analista da minha filha disse que “esse TOD” consegue fazer mais mal do que aquela bebida de nome parecido, cheia de açúcar, que um parente (não direi qual) insiste em dar para a pequena.

E pensar que um dia, fazendo coro com os Titãs, tivemos medo de que fosse a televisão a nos deixar burros demais.

Publicado em Tati Bernardi - Folha de São Paulo | Deixar um comentário
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