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O Pasquim – 1989
Quando Leminski mandou pro Pasquim aquele seu romance-tijolo, Catatau, me irritou. Achei pernóstico, pretensioso, provinciano, metido à besta. Os artigos que nos mandou também, botei na gaveta. E ficou por isso mesmo. Isso foi há quase 20 anos. Há uns 2 anos estive em Curitiba, nos encontramos por acaso num bar. Porre de steinhager com cerveja. Me mostrou poemas magníficos. Ficou de mandar colaborações pro jornal. Escreveu um telefone de São Paulo num guardanapo de papel, é claro que perdi. Antes que conseguisse localizá-lo, a cirrose o apanhou.
Depois recebi Nicolau, uma revista paranaense com textos e poemas dele da maior qualidade. Mas no Pasquim, que é bom, não teve Leminski. Culpa minha. Perdão, leitores.
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Com a tag jaguar, o bandido que sabia latim, paulo leminski, toninho vaz
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Trump e Bolsonaro, os idos de janeiro
Há semelhança nas derrotas de Trump e Bolsonaro. Ambos questionaram antecipadamente o processo eleitoral. Trump implicou com o voto impresso; Bolsonaro estigmatizou as urnas eletrônicas. Ambos pressentiam a derrota e armavam o pulo do gato.
Na invasão do Capitólio no 6 de Janeiro, muitos acreditavam que a eleição de Biden fora um roubo. Em Brasília, no 8 de Janeiro, muitos também supunham que haviam sido iludidos pelas urnas eletrônicas.
Percebo agora que a hipótese de uma revolta popular era apenas o lance de um jogo mais complexo. Trump pretendia usar falsos delegados e resultados falsos para ser adotados pelo seu vice, Mike Pence, na sessão do Capitólio. Não funcionou.
A invasão do Congresso, do Palácio do Planalto e do STF também não era para ser um episódio isolado. Esperava-se uma interferência das Forças Armadas, por meio de uma operação de GLO (Garantia da Lei e da Ordem). Também não funcionou.
Trump e Bolsonaro já vinham de uma vitória semelhante. Ambos criticavam o sistema político, se colocavam como pessoas comuns, atacavam a imprensa e a academia. Ambos fingiam defender valores tradicionais, embora suas vidas desmentissem essa adesão.
No caso de Trump, o salto foi evidente. Quando pensou em disputar as eleições com Pat Buchanan, zombava muito dele porque era antinegro e antigay. Apesar de ser um milionário de gosto duvidoso, que construía prédios com encanamento de ouro, Trump vivia entre artistas e milionários e, de uma certa forma, compartilhava valores com eles. Basta ver a sucessão de mulheres, modelos, com quem foi se casando ao longo do tempo.
Assistindo a um documentário sobre a vida de Trump, creio que ele teve uma grande intuição em estudar e tentar imitar a trajetória de Jesse Ventura, que foi governador de Minnesota. Ex-atleta de luta livre, veterano do Vietnã, musculoso e calvo, Ventura representou o papel do homem comum que dizia algumas bobagens, mas era sincero. Além disso, hostilizava a imprensa por colocá-la na mesma prateleira de políticos e intelectuais. Seu governo tentou manter uma velha lei de Minnesota que proibia sexo oral e anal e estigmatizava gays.
Trump mandou assessores e foi pessoalmente estudar o sucesso de Ventura entre os americanos que mais tarde ele arrebataria com críticas à globalização e o programa de tornar a América grande de novo.
Bolsonaro talvez nem conheça a trajetória de Jesse Ventura. Ele, por suas características, não precisava da observação metódica de Trump para representar bem o papel.
Ventura, conhecido também como O Corpo (1m93 e 111kg), foi eleito em 1998. Trump sempre ameaçou entrar no processo eleitoral. Mas afirmou que só entraria quando tivesse certeza da vitória. Foi bastante aplicado, pesquisou corretamente e entrou na disputa na hora certa. Continue lendo
Publicado em Fernando Gabeira - O Globo
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Como xampu de caspa
Os publicitários transformam os deputados em xampu de caspa: todos sabem que não cura, mas a propaganda quase convence que resolve. Deputado bom tem que ser como os da Escandinávia, que vão para o serviço de bicicleta. *Àqueles a quem causam engulho estas linhas, ouso lembrar que nossos deputados enfiaram artigos na constituição de 1989, escondidinhos, no calar da madrugada, coisa boa para outros, não para nós (se me encherem o saco conto a quem e por quê). Sim, eram outros deputados, outra assembleia, a dos diários secretos. Bem diferente; não usava agência de publicidade, tinha o Bibinho para isso.
Publicado em Rogério Distéfano - O Insulto Diário
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Faça propaganda e não reclame
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Vendem-se rins e rebentos
Javier Milei ganhou os holofotes no cenário latino-americano. Um tanto pela façanha de ter surpreendido nas prévias da eleição argentina, outro tanto por seu perfil histriônico, meticulosamente emoldurado num cabelo despenteado. Mas qual é a novidade de um político que se vende anarquista, mas odeia as mulheres? A novidade é que ele se vende como o liberal que abraça todos os direitos individuais. Quase todos.
“Minha primeira propriedade é meu corpo. Por que não posso me livrar do meu corpo?”, questionou Milei ao defender o comércio de órgãos humanos. O mesmo raciocínio foi usado no começo da campanha sobre a venda dos filhos. Sim, dos filhos. Por seu entendimento, crianças são propriedades dos pais, que teriam o direito de fazer uma grana com os rebentos. Foi uma gritaria, o assunto morreu.
O anarquista argentino seria um clichê ambulante para quem já viveu a era Bolsonaro: quer Estado mínimo, é a favor da liberação de armas, é contra programas sociais, não acredita em mudança climática. Ao menos em público não defende a ditadura sanguinária em seu país.
Milei se diferencia de Bolsonaros e Trumps em alguns assuntos, mas seus argumentos passam longe da racionalidade ou da empatia. Ele defende a legalização das drogas (“se quer se suicidar, não vejo problema”) com a mesma premissa que usa ao não se opor a relações homossexuais ou a questões ligadas à identidade de gênero: “Você acha que é uma onça-parda? Faça isso, não importa. Desde que não me faça pagar a conta”.
O mesmo Milei que defende o corpo como “propriedade privada” é contra o aborto. Nenhuma novidade, não é? O “liberal” disse que, eleito, pretende realizar um referendo para tentar reverter a legalização da prática, aprovada em 2020. Comprar armas, usar drogas, vender o rim ou uma criança parida, OK. A mulher decidir se quer levar uma gravidez de até 12 semanas adiante, aí já é demais.
Quando Curitiba viveu uma guerra por causa de um pente
Nem o militar, que oficialmente invocou o seu direito de contribuinte, nem o comerciante. que se recusou a emitir a nota, poderiam imaginar o que aconteceria em seguida. Os dois discutiram. Antonio argumentou que pedir a nota não era apenas uma questão de dinheiro, mas sim de princípios. O comerciante alegou que a legislação dispensava a emissão de nota fiscal de valor irrisório. Estava criada a encrenca.
Seguiu-se uma briga no interior da loja, com socos e pontapés para todos os lados. Foi quando o comerciante decidiu botar o comprador para fora do bazar. Para isso, contou com a ajuda de quatro empregados. Jogado na calçada, o subtenente teve uma perna fraturada. Diz a lenda que, na confusão, o pente quebrou.
Três dezenas de pessoas viram a cena e tomaram o partido do militar. Não deu outra: em poucos minutos o Bazar Centenário foi praticamente destruído e o estoque jogado na calçada. A revolta se espalhou para a praça e ruas próximas. As 30 pessoas rapidamente viraram 200. A Praça Tiradentes tinha virado um palco de guerra – a famosa Guerra do Pente.
Enquanto lojas eram saqueadas, queimadas e destruídas, o comerciante foi conduzido a uma delegacia de polícia; o militar, levado a um hospital.
O número de revoltosos aumentou com a chegada das pessoas que saiam do trabalho. A polícia cercou a praça, mas confusão continuou noite a dentro. Um balanço no início da madrugada do dia 9 contabilizou 30 presos e dez feridos, oito dos quais eram policiais. Ou guarda civis, como se dizia naquele tempo. Não houve trégua.
A guerra continuou no dia 9. O quebra-quebra generalizou-se, contando agora com as pessoas que vinham dos bairros para o centro. O povo não se intimidou. Nem mesmo os tiros disparados para o alto pelo comerciante Salim Mattar, dono da Casa Três Irmãos, foram capazes de assustar os revoltosos. Embora tanques do Exército tivesse ocupado a Praça Tiradentes, os distúrbios continuaram. Os ânimos estavam exaltados. O comércio e os comerciantes, principalmente os de origem estrangeira, eram alvo dos chamados “desordeiros”, segundo a polícia.
Apesar do reforço policial, do Corpo de Bombeiros e das tropas do Exército, no dia 10 de dezembro ainda foram registrados ataques a lojas e bancas de jornais e revistas. O centro de Curitiba foi isolado pelas autoridades e antes mesmo de um possível toque de recolher, marcado para as 20 horas, a revolta parou. Até porque, no fim daquele dia, uma garoinha, típica de Curitiba, encobriu a cidade.
No total, mais de 120 lojas foram depredadas – algumas inteiramente destruídas – em vários pontos do centro. Prédios públicos também foram atacados. Cerca de 30 mil pessoas foram às ruas participar da “guerra”.
Por alguns dias, pelotões de soldados tomaram conta do centro. Os bares foram obrigados a fechar às 20 horas. A Rádio-Patrulha aumentou as rondas pelas ruas e praças centrais.
A revista semanal O Cruzeiro, dona da maior circulação no Brasil naqueles tempos, publicou ampla reportagem sobre a guerra. E o título não poderia ter sido mais sugestivo: “Pente faz Curitiba perder a cabeça”.
Publicado em Sem categoria
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Mural da História – 1984
A vida como ela é
Contwitters de alguém que nem pia
% E se o ser humano for o tal aborto da natureza? % O sexo pode estar lá embaixo. O problema é que, quando sobe, bate na cabeça. % O homem, às vezes, possui a mulher que tem o homem quando bem quer. % Solidão se vê é no casamento — dois juntos fazem a mais completa. % Numa sociedade de cordeirinhos — uive. % Adoro cult movies — principalmente porque não preciso contar o enredo pra ninguém. % Depois do cinema 3D teremos o cinema holográfico e, por fim, os atores virão pessoalmente em nossa casa pra representar.
% Os filmes, hoje, são rigorosamente proibidos pra maiores de 30 anos. % Quem diz que tem uma filosofia de vida — ou não sabe o que é vida ou nunca leu um livro de filosofia. % Um milhão de dólares continua sendo um milhão de dólares — só barateou a qualidade de quem pode ter. % No futuro, adeus, pertences!
*Rui Werneck de Capistrano não é bobo nem nada
Publicado em rui werneck de capistrano
Com a tag rui werneck de capistrano, Rui Werneck de capistrano não é bobo nem nada
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