Mural da História – 2010

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Pulex irritans

Ah, essa irritante pulga a beliscar minha orelha: quem garante que Jair Bolsonaro não roubou os talheres do Alvorada e repassou para o general Mauro Cid pai e ao coronel Mauro Cid filho venderem no brechó?

Publicado em Rogério Distéfano - O Insulto Diário | Deixar um comentário
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Tamanduá

Luiz Roberto Bruel,  Fiat Lux! e Soruda, hoje cartunista obsoleto, nos Campos Gerais, Tamanduá, no mato sem cachorro, mil novecentos e oscar niemeyer. Foto de quem estava lá.

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Mulheres são criadas para serem rivais?

As amigas são o alicerce da vida e o porto seguro na velhice

Nesta semana, a antropóloga Mirian Goldenberg quis me entrevistar para um novo trabalho e eu topei, não porque ache que tenho algo a dizer, mas porque é também minha amiga e conversar com ela durante duas horas sobre assuntos dos quais ela entende melhor do que ninguém é um presente.

Lá pelo final das duas horas de papo, Mirian me fez o seguinte questionamento: Há uma coisa que eu observo que você dá muito valor, mais do que o amor, o casamento, o trabalho. Está em todas as suas postagens. Você valoriza, dá espaço, celebra muito. Eu diria que é uma marca registrada sua. O que é?

“A vida?”, perguntei. Ela disse que não. Pensei, em silêncio, é a bebida, estou sempre com um copo na mão, nas festas, nos restaurantes, na praia. Senti vergonha, talvez tenha que rever, não a relação que tenho com o álcool, que está sob controle, mas a imagem de alcoólatra que estou passando para o mundo.

“As amizades com outras mulheres”, ela disse, interrompendo minha divagação, me salvando de mais alguns anos de terapia, se apontasse qualquer coisa que despertasse em mim a síndrome da estagiária, que me consome toda vez que estou diante de uma tela em branco.

Sim, carrego comigo amizades com outras mulheres tão longas que se confundem com minha própria história. Elas estão lá em todas as melhores e piores lembranças. Agora, ao pensar nelas, as vejo sorrindo, gargalhando, me levando pelas mãos, me recebendo num abraço, me acolhendo com palavras. Há outras com quem completei bodas mais recentes, mas não menos sólidas.

Eu tenho fascínio pelas mulheres, por aquelas que são parecidas e por outras tão diferentes, exatamente por serem diferentes. Porque me completam, porque me mostram o mundo com um olhar que não é meu, sentem dores que não são minhas. Jamais pediria para vir outra coisa que não fosse mulher, se algo como reencarnação de fato exista. Estou presente, estendo a mão, pego um avião, dirijo por horas, não porque sou boazinha, porque preciso delas para me alimentar de vida, de amor, de juízo, de loucura.

Publicado em Mariliz Pereira Jorge - Folha de São Paulo | Deixar um comentário
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Polaco da Barreirinha

é uma merda

senhoras e senhores
a partir deste vocativo
invoco a musa dos fedores
e assim torno imperativo
o tema que agora abordo

senhoras e senhores, é uma merda
o grande cagalhão que como um bólido
nos enfiam pela boca aberta
deixando uma sensação fétida
tanto na calcinha como na cueca

senhoras e senhores,
isso não é uma metáfora
e muito menos uma metonímia
destilando magia de mandrágora
ou um poeta lambuzando a pílula

não, senhoras e senhores,
não é a merda de Salvador Dali
que nos faz rir a gases despregados
e nem mesmo aquela do Leminski daqui
comparando a amada em versos apaixonados

não, senhoras e senhores,
a merda a que me refiro
não é essa merda que dignifica
engrandece o espírito
e sólido o caráter nos edifica

não, senhoras e senhores,
também não é a merda da corrupção,
do tráfico, da violência, da prostituição,
da grana entupindo cu de políticos,
da miséria exposta como ornamento da nação

não, senhoras e senhores,
a merda, a grande merda de que estou falando
é que o povo brasileiro em sua grande maioria
tanto na prática como na teoria,
ao ver merda, merda, merda e mais merda
está cagando e andando, puta merda!

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Sheena. © Ricardo Silva

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O Livro dos Contrários

o azar, depois de muito tempo perdido
entre fichas e baralhos de um cassino
resolveu casar e ganhar um filho
com a sorte, de quem  hoje é legítimo marido

para a sorte foi um casamento magnífico
pois cansara de ser uma principiante
com ela, azar seria um homem muito rico
desde que não possuísse nenhuma amante

mas surgiu na história uma tal de probabilidade
e a sorte logo percebeu os jogos de azar
isso reacendeu a velha rivalidade
e, pela sua regra, ele teria que pagar

“azar, vamos colocar as cartas na mesa”
disse, com a garantia de que iria ganhar
“sorte, pela probabilidade, vou perder, com certeza,
mas é nela que eu vou apostar”

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Blues e Souza

Vida Obscura

Ninguém sentiu o teu espasmo obscuro,
Ó ser humilde entre os humildes seres.
Embriagado, tonto dos prazeres,
O mundo para ti foi negro e duro.

Atravessaste no silêncio escuro
A vida presa a trágicos deveres
E chegaste ao saber de altos saberes
Tornando-se mais simples e mais puro.

Ninguém te viu o sentimento inquieto,
Magoado, oculto e aterrador, secreto,
Que o coração te apunhalou no mundo.

Mas eu, que sempre te segui os passos,
Sei que cruz infernal prendeu-te os braços
E o teu suspiro como foi profundo!

Cruz e Sousa (1861/1898)

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Fraga

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Foto de Alberto Melo Viana, o Baiano.

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Nossa tribo

Marília Giller e Vera Solda, em algum lugar do passado. Foto do cartunista que vos digita

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Ella Knox. © Zishy

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Até para se para o lixo é preciso achar um nicho

O mundo parecia estar parado. O tempo devia ter ido dar uma volta de pedalim no laguinho do parque. O Sol tomava refresco à sombra de uma árvore. Ali, na minha frente, o mecânico eviscerava o carro com mãos calejadas e sujas. No seu rosto, nenhuma denúncia de compaixão ou piedade. Retirava órgãos dilacerados e pingando sangue sem nenhuma demonstração emocional. Porcas, unhas, arruelas e dentes. Apenas o esforço salientava as veias do pescoço e logo saltava fora um amontoado de ferro com terminações nervosas frementes. Não sei o que eu mesmo sentia. Olhei em volta e nada se mexia.

O ar parou de respirar e dois latidos grudaram na parede cheia de fotos sensuais. O barulho da ferramenta que caiu nem repercutiu. Era ferro contra cimento em luta desigual. Era preciso jogar, com urgência, o pensamento para bem longe. Nem um livro aberto daria conta da paradeira desértica. Onde foi que eu li? Era livro propaganda. Era dia de chuva. Era tarde de poucos jobs. O autor foi lá no fundo e disse que uma boa coisa é visitar um ferro-velho, um cemitério de automóveis. Ali estão enferrujando os mais caros sonhos, os mais ardentes desejos de consumo de tempos passados.

Ali, tortos, sujos, com insetos morando no que outrora fora conforto, prazer, velocidade, ilusão de liberdade. E as plantas daninhas, desrespeitando o santuário, brotam fartamente. A lataria tantas vezes lavada e encerada não reflete um raio de Sol sequer. As amadas rodas de liga leve, onde andarão? Em que mundo, em que estrelas brilharão?  Tantos beijos no escuro do drive-in, qual novidade-fantasma bebeu? As músicas, em milhares de decibéis, em qual beco sem eco se perderam? Dei tchau para o mecânico e, sem olhar para trás, saí meio seco. O tanque de combustível emocional já na reserva.

O acelerador da vida prestes a ter o cabo arrebentado pelo pisar fundo. Até a vista!

Publicado em rui werneck de capistrano | Com a tag | Deixar um comentário
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Mural da História – 1980

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