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Flagrantes da vida real
Com a boca no trombone
Nove anos sem Rubem
É sempre bom e proveitoso lembrarmos os ensinamentos de Rubem, um mestre que morreu contrariado porque tinha um caso de amor com a vida.
Por exemplo, como educador, ele tinha a educação acima de tudo. Dizia que a educação era a paixão que queimava dentro dele. No entanto, olhava as escolas com desconfiança. Aliás, achava que as escolas, de um modo geral, não gostam dos alunos. Ou, por outra, são “burras”: “Computadores, satélites, parabólicas e televisões não substituem o cérebro. Panelas novas não transformam um cozinheiro ruim em cozinheiros bom”.
Achava, também, ser um equívoco pensar que (só) com mais verbas a educação ficará melhor, que os alunos aprenderão mais e os professores ficarão mais felizes: “Educação não se faz com dinheiro. Educação se faz com inteligência”. Até porque, no seu entender, “ser educado não significa ter diploma superior. Significa ter a capacidade de pensar”.
De um modo geral, o pensamento avançado de Rubem Alves desafiava o senso comum. Contava ele que uma vez sugeriu, em uma reunião de docentes da Unicamp, que cada estudante cursando um curso universitário ‘nobre’, “deveria, ao mesmo tempo, aprender um ofício que seria oferecido pela própria universidade: marceneiro, jardineiro, serralheiro, mecânico, pedreiro, pintor…” Acharam que era gozação dele. Não era.
Não por acaso, encontramos hoje engenheiros, advogados e professores, entre outros diplomados em cursos superiores, dirigindo úberes ou vendendo cachorro quente.
Rubem ficaria feliz se tivesse conhecido meu avô materno, Guilherme Lorenzen. Quando ele saiu de Berlim, na Alemanha, com menos de oito anos de idade, além de fazer o curso primário, já aprendia o ofício de marceneiro e a tocar harmônica de boca. Lá era obrigatório o ensino de um ofício e de um instrumento musical.
Mudando o foco da questão, o que diria hoje Rubem Alves da destruição da Amazônia e da Mata Atlântica? O que já disse um dia. Para ele, a Natureza sonha: “Montanhas, florestas, mares, ares, lagos, nuvens, cacheiras, animais, flores – todos sonham um mesmo sonho. Sonham que chegará um dia em que os seres humanos desaparecerão da face da terra. Quando isso acontecer, será a felicidade. A Natureza estará, finalmente, livre dos demônios que a destroem. A Natureza, então, tranquilamente, sem pressa, se curará das feridas que nós lhe causamos”.
Sabia Rubem que, em tempos passados, o cenário era outro: “Os campos eram matas verdes, onde corriam riachos de águas frescas, cheias de samambaias, avencas, orquídeas, bichos e aves de todo o tipo.” Justificava: “Onde há matas, há água. Onde há água, há vida. As matas foram cortadas por homens empreendedores, progressistas, amantes dos lucros e curtos de visão. Uma árvore em pé não vale nada. Uma árvore no chão vale dinheiro”.
Ah, quanta falta você nos faz, saudoso Rubem! Sobretudo neste mundo confuso e sem rumo em que vivemos.
Publicado em Célio Heitor Guimarães
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Reescrever os clássicos
Gosto de ver adaptações de obras literárias para o cinema, o teatro, a ópera, as histórias em quadrinhos, os videogames e assim por diante. Geralmente acho que o resultado das adaptações é ruim, mas isso não cancela a importância da tentativa. Temos inclusive livros com adaptações destinadas aos jovens, feitas por Paulo Mendes Campos, Orígenes Lessa, Monteiro Lobato, muita gente boa. Mas nessas edições sempre se fez uma ressalva, enfatizando termos com “adaptar”, “recontar”, “nas palavras de”, etc. Sempre que peguei um desses livros, sabia que não era o original. O perigo, creio, está em começar a publicar as obras de Machado de Assis sem a prosa de Machado de Assis, e atribuir o resultado a ele.
Machado é as-palavras-de-Machado, assim como Van Gogh é as-pinceladas-de-Van-Gogh. A arte de um escritor é feita de suas escolhas verbais, sua opção por palavras comuns ou extraordinárias, seu modo de organizar as frases, os termos específicos e bem pensados que ele emprega, sempre com intenção estética. Todas as pessoas que leem e entendem Machado de Assis viram algum dia essas palavras pela primeira vez, não entenderam, tentaram deduzir pelo contexto, e foram em frente. Ninguém entende uma palavra nova na primeira vez que a encontra. É preciso a repetição, em outros contextos. Se tirarem isso do leitor, que chance de aprender lhe restará?
Mexer nisso pode ter intenções didáticas, mas deve-se deixar claro ao leitor que aquilo é a adaptação de uma obra de Machado, não é o livro que Machado escreveu. Vai dar certo? Sei lá. Talvez estejam, com a melhor das intenções, formando uma geração de pessoas incapazes de ler Machado de Assis. Ler Machado é acessar o vocabulário de Machado, as figuras de linguagem de Machado, o tornear das frases que ele fazia como ninguém. E que é preciso tempo para assimilar, entender, ser capaz de saborear. Eu não gostaria de ver Capitu, a “cigana oblíqua e dissimulada”, ser transformada por um redator qualquer em “cigana indireta e fingida”. Porque quando uma coisa começa desse jeito, é desse jeito que acaba.
O Bandido Que Sabia Latim
Olá, Solda, tudo bem? Fiz uma ilustração para uma coluna aqui do jornal Alfarrábios e lembrei de você. Abraço, Fernandes.
Publicado em O Bandido Que Sabia Latim
Com a tag o bandido que sabia latim, paulo leminski
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Tempo real
Em tempo real significa aquela noite inesquecível em que o U-2 fez um show demolidor num estádio na Califórnia, e eu assisti o show em meu PCzinho no Rio de Janeiro, sentado na minha cadeira giratória, indo buscar cerveja na geladeira. Alguém pode argumentar que se o show tivesse ocorrido na véspera e eu o estivesse vendo 24 horas depois (ou 240 horas depois, etc.) minha impressão de ineditismo seria a mesma, e não discuto. Aí é que entram as sutilezas do Espírito do Tempo. O prodigioso não é que a gente esteja vendo aquilo em tempo real, mas que SAIBA que está vendo em tempo real. O prodigioso não é a simples transmissão da informação, mas o pequeno triunfo psicológico que ela nos proporciona, aquela sensação de momentânea onipotência, a sensação de estarmos (a Humanidade inteira, ou pelo menos uma parte importante dela) envoltos num casulo telepático em que tudo nos acontece ao mesmo tempo aqui e agora. Isto é precioso.
Talvez tenhamos sentido algo assim quando nos deparamos pela primeira vez com o telégrafo; com o rádio; com o telefone; com a televisão; mas isto nunca ocorreu com tanta intensidade. Quando estou num chat, tipo frase-vai, frase-vem, com algum amigo que está na Europa ou na Ásia penso: “Ora, isto não é mais extraordinário do que um telefonema”. Mas telefonemas são uma comunicação um-a-um, e a Internet nos proporciona isto multiplicado por multidões incalculáveis. E reparem bem na poesia do nome.
Todo tempo é real, não é mesmo? Quando leio uma peça de Ésquilo, foi real o momento em que foi escrita, é real o momento da leitura, bem como é real o intervalo de 2.500 anos que nos separa. Hoje, porém, temos um real simultâneo, e não um real esgarçado no tempo. Como se o fato de outros seres humanos estarem pensando na mesma coisa no mesmo instante tornasse essa coisa mais espessa, mais socialmente verdadeira, mais humanamente real. E, em última análise, é isso mesmo que acontece.
Publicado em Sem categoria
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Gente mais lenta
Publicado em Rogério Distéfano - O Insulto Diário
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Mural da História
Horóscopo – Prof. Thimpor
Vênus rege o ano de 2022, por ser o planeta mais próximo da Terra, ou seja, um vizinho que está a mais ou menos 42 milhões de quilômetros de distância, eliminando definitivamente o empréstimo do cortador de grama. Dos cinco planetas visíveis à olho nu, o mais luminoso é Vênus, dando a impressão de uma Las Vegas, sem texanos, porém com muito mais discos voadores estacionados.
Publicado em prof. thimpor
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Paulo Jacinto (Alagoas)
PF prende hacker da Vaza Jato e faz buscas em endereços de Zambelli
A Polícia Federal prendeu o hacker da Vaza Jato, Walter Delgatti Neto (foto), e realizou busca e apreensão em endereços da deputada Carla Zambelli (PL-SP; foto) na manhã desta quarta-feira (2), no âmbito de investigação sobre tentativa fracassada de fraude nas eleições de 2022.
Ao todo, a polícia divulgou um mandado de prisão preventiva, o contra o hacker, e cinco mandados de busca e apreensão, três em Brasília e dois em São Paulo.
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou a operação com base em evidências de pagamentos feitos pelo gabinete de Zambelli ao próprio Delgatti. A PF ainda não divulgou o valor dos repasses.
A deputada pediu ao hacker que tentasse fraudar as urnas e invadir o email de Moraes, segundo depoimento à PF. O pedido teria ocorrido em setembro de 2022, durante encontro na Rodovia dos Bandeirantes, em São Paulo.
O hacker não conseguiu cumprir nenhuma das missões. Ele apenas falsificou um mandado de prisão contra Moraes no sistema do Conselho Nacional de Justiça.
Zambelli nega a versão dada por Delgatti, mas ela reconhece que o levou a reuniões em Brasília. Segundo a deputada, o objetivo seria montar uma equipe para fiscalizar as urnas.
O hacker chegou a se encontrar com Jair Bolsonaro no Palácio do Alvorada e com o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, na sede do partido.
“Em prosseguimento às ações em defesa da Constituição e da ordem jurídica, a Polícia Federal está cumprindo mandados judiciais relativos a invasões ou tentativas de invasões de sistemas informatizados do Poder Judiciário da União, no contexto dos ataques às instituições”, tuitou o ministro da Justiça, Flávio Dino, nesta quarta.
O esquema de Zambelli e Delgatti compõe o inquérito dos atos antidemocráticos e da insurreição de 8 de janeiro.
Delgatti já havia sido preso em julho de 2019, durante a Operação Spoofing, no contexto da Vaza Jato, por invadir perfis no Telegram e vazar mensagens de procuradores da Lava Jato. Ele também foi preso há menos de dois meses, em junho de 2023, por descumprimento de medidas judiciais.