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La Petit Mélancolie
Publicado em La Petit Mélancolie
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Carcereiros da arte
Politização de histórias de fantasia nos impede de escapar da prisão da realidade
É antigo o preconceito que obras de fantasia enfrentam no meio literário. No ensaio “Sobre Histórias de Fadas”, de 1939, o escritor J.R.R. Tolkien apontou o equívoco de uma das críticas, aquela que acusa o gênero de escapismo: a ideia de que feiticeiras, elfos, deuses e heróis com poderes mágicos servem apenas para desviar a atenção da realidade.
Em resposta, Tolkien não apenas não recusa a suposta pecha, como a exalta, a partir de sofisticada argumentação. “Por que deveria ser um homem desprezado se, ao descobrir-se numa prisão, ele tenta escapar?”. Um prisioneiro não precisa escrever apenas sobre celas e correntes. Na verdade, quem demonstra mais hostilidade à ideia do escapismo são, por óbvio, os carcereiros.
A fantasia estimula a imaginação. Escritores do gênero precisam ter a habilidade de levar o leitor a experimentar um outro mundo. Para quem lê, é uma oportunidade para rever perspectivas e sentimentos a partir do contato com um novo universo.
Mas atualmente há um movimento para tornar a fantasia cada vez mais real. O filme “A Branca de Neve”, produzido pela Disney, mudou aspectos do conto original para adaptá-lo a questões sociais da atualidade.
Em entrevista, a atriz Rachel Zegler, que interpreta a personagem título, disse que o conto é antiquado por não representar mulheres em papéis de poder, e conclui: “Ela não será salva pelo príncipe. Ela não vai sonhar com o amor verdadeiro, mas sonhar em ser uma líder”.
Agora, as meninas precisam lutar contra o machismo e lembrarem que são fortes e independentes não apenas no dia a dia, mas também no mundo da imaginação. Não há saída da realidade. Ninguém escapa. Estamos presos na cela política.
Como se ver um filme no qual a princesa é salva pelo amor fosse fragilizar as mulheres, ou como se apreciar histórias do gênero fosse uma espécie de traição à causa. Como disse Tolkien, “estão confundido a Escapada do Prisioneiro com a Fuga do Desertor”, e acabando com a imaginação pelo caminho.
Publicado em Lygia Maria - Folha de Sao Paulo
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Desaforismos
Manoel Carlos Karam
Pasticche
Cheiro de café acha sorvete de pistache a melhor coisa do mundo
Isso porque eu já tinha avisado antes sobre as distâncias que existem entre algumas coisas específicas e sorvete de pistache
Uma coisa específica por exemplo um poeta
por exemplo o mesmo que tenta advertir cheiro de café sobre as distâncias específicas entre sorvete de pistache e algumas coisas que existem
Avisei: uma coisa é sorvete de pistache (segundo cheiro de café, a melhor coisa do mundo)
outra coisa as distâncias
por exemplo, o que está escrito
por exemplo, cheiro de café
por exemplo, sorvete de pistache
Isso porque eu já tinha avisado antes.
Publicado em Geral
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Hospital Bom Retiro
toda família curitibana tem
um louquinho trancado no porão (dalton trevisan)
diazepan insensatez rivotril haldol
neozine esquizofrenia serzone vertigem
aropax neurose melleril noradrenalina stelazine
vigabatrin depressão risperdal demência vozes
fantasmas propanolol medos
prozak alucinações socian cerebrastenia
letargia alienação mental psicopatia anafranil
raciocínio absurdo efexor cefaléia cansaço pavor
zoloft desconfiança ziprexa hostilidade remeron
akineton afeto diminuído depakene
palmelor hiperprexia tegretol
ansitec rigidez muscular daforin
leponex evidência de instabilidade autonômica anatensol
parnate alterações de pensamento dogmatil
stelapar delírios convulsão sonolência orap
discurso indistinto midríase visão borrada
hipotensão tontura carbolitium acatisia
edema periférico boca seca constipação
os pacientes alterados devem ser mantidos
fora do alcance das crianças
(Sim, eu estive lá, prontuário nº 35264)
Teatro Margem, 50 anos
Publicado em teatro margem
Com a tag Beto Bruel, luiz antônio solda, Luiz Rettamozo, manoel carlos karam
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In vino
No vinho há verdade
No vinho há amor
No vinho há saudade
No vinho há sabor
No vinho não há rancor
No vinho há o odor
Dos teus lábios com frescor
Os anos melhoram com os vinhos
E os beijos com os vinhos de qualquer cor
In vino veritas
In vino est amor
In vino desiderium
Sapor in vino est
In vino non est invidia
In vino odor
Tua labra novitate
Anni amplio cum vinis
Et oscula vinis ex aliquo colore
Paulo Motta – 1960|2023
Publicado em Paulo Roberto Ferreira Motta
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Filho-Mãe
Son-Mother|Ano de Lançamento: 2019|Direção: Mahnaz Mohammadi/País de Produção: Irã, República Checa|Idioma: Persa|Duração: 102 min.
Publicado em Cinema
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Anotações na margem de livros de arte
“Arte é intriga.” (Millôr Fernandes)
Diante de esculturas de Auguste Rodin:
O Pensador não me leva à introspecção. O que impressiona é a convicção dele: não renova seus pensamentos desde 1880! Já O Beijo arrebata: a impressão é que o mármore ganhou mucosas. E na mão pousada na anca há mais leveza que num gesto humano.
Diante da pintura de Edward Hopper e de Norman Rockwell:
Vistas lado a lado, as cenas e os personagens induzem a um hipotético intercâmbio: os otimistas e eufóricos de um animariam os ambientes do outro? E os melancólicos e isolacionistas daquele, contaminariam os cenários deste?
Diante de Nu Descendo a Escada de Marcel Duchamp:
No cubismo, a fragmentação do ponto de vista é tudo. Como composição, o quadro deleita a percepção. Irresistível é não pensar num tombo.
Diante dos móbiles de Alexander Calder:
Fazer flutuar o mais pesado que o ar envolve as leis da física, ponto. Mas a imaterialização do aço vai além, dois pontos. O que o escultor equacionou foi a brisa, ponto de exclamação.
Diante dos retratos de Amedeo Modigliani:
Demasiado esguias dos ombros para cima, as figuras tendem a confundir os anais da endocrinologia. Nunca as disfunções das glândulas tireóide e hipófise influíram tanto na arte.
Diante dos girassóis de Vincent Van Gogh:
Se a natureza não dá graça a certas flores, o talento compensa. Para quem avalia quadros pelo valor de mercado, pigmentos amarelos podem chegar a 36 milhões de dólares. O que ainda não se viu foi hectares de canola em flor inspirar pintor nenhum. Nem leilão de quadro de natureza morta com soja.
Noções aos pares de arte ímpar
Amedeo Modigliani & Giuseppe Arcimboldo tinham pontos temáticos em comum: um preferia composições ambíguas com legumes e hortaliças, o outro era obcecado por arranjos com abóboras de pescoço.
Juan Miró & Jackson Pollock jamais emitiam conceitos sobre estilos alheios. Temiam respingar um no outro.
Andy Warhol & Jean Basquiat compartilharam a glória juntos. Mas o primeiro teve tanta que só sobraram 15 minutos de fama pro segundo.
Rembrandt Harmenszoon van Rijn & Johannes Vermeer pintaram suas obras com certa urgência. Sabiam que cedo ou tarde a eletricidade viria.
Fernando Botero & Cândido Portinari tinham tudo para fazer uma exposição coletiva. A Fome e a Vontade de Comer.
Fluindo
Publicado em Sem categoria
Com a tag fotas, palmeira dos índios, zé do fole, zé rico
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