© Jan Saudek

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Muita briga por nada

Enquanto o PT briga internamente para entrar na chapa de Eduardo Paes no ano que vem – e até já pensa numa solução para a briga -, o prefeito do Rio de Janeiro nem sequer definiu se dará espaço ao partido. Paes prefere que seu candidato a vice seja Pedro Paulo (PSD-RJ).

Paes e Pedro Paulo são aliados de longa data. Estão sempre juntos. Eleito, Eduardo Paes sempre leva o aliado para o governo e o coloca em postos-chave. Só não o faz quando há outras estratégias políticas.

Apesar da tentativa de ajudar o amigo e da sua boa avaliação, Paes não teve sucesso em 2016, depois que as denúncias de agressão de Pedro Paulo contra a ex-mulher se tornaram públicas.

Paes insiste em Pedro Paulo porque avalia deixar a prefeitura em 2026 para disputar o governo do estado. Prefere o conforto de ter um amigo no cargo durante a campanha – e Pedro Paulo poderia ter mais facilidade para disputar a reeleição em 2028.

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Abraão, o Desaparecido

Abraão e Rubem, dois amigos, ambos viúvos e há muito tempo na terceira idade, mantinham o hábito do encontro diário no parque.

As conversas não variavam muito; a política nacional, a situação em Israel, as lembranças da juventude, o clima, o valor das ações na bolsa, os achaques da velhice, as reclamações sobre os valores das aposentadorias, essas coisas.

De repente Abraão não apareceu e mesmo passados vários dias não deu notícias, deixando Rubem muito preocupado.

Os dias foram passando e depois de um mês, lá estava Abraão, sentado no lugar de hábito.

Rubem ficou muito feliz, especialmente porque o amigo estava com bom aspecto, sorridente como sempre, e ele logo perguntou:
– “Onde você andou? Porque desapareceu?”

E Abraão respondeu:
– “Eu estava na cadeia”.

O amigo, espantado, voltou a indagar:
– “Cadeia? Que maluquice é essa? Qual foi o motivo?”

Abraão disse:
– “Você conhece a Vanessa, aquela moça loira e linda que mora no meu prédio e que de vez em quando me convida para tomar chá no apartamento dela?”

Rubem confirmou:
– “Sim, eu lembro dela. E daí?”

E Abraão explicou:
– “Bom, ela foi à Polícia e me denunciou por estupro. E eu, com meus 89 anos de idade, fui todo feliz para a Corte e me declarei culpado. Quando me viu, o desgraçado do Juiz condenou a Vanessa por acusação falsa e me sentenciou a 30 dias por mentir em juízo!”

Publicado em Gerson Guelmann | Deixar um comentário
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Terapia do frizer

Cientistas alemães revivem vermes congelados há 46 mil anos na Sibéria. No Brasil os vermes revivem, ainda que congelados por algum tempo, como os políticos. Nem precisa de cientistas; o calor humano é suficiente. Um pequeno período no frizer e voltam revigorados, limpos, puros.

Publicado em Rogério Distéfano - O Insulto Diário | Deixar um comentário
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Resistência cultural

Filho de José Oiticica Filho, um premiado fotógrafo, Hélio Oiticica [1937|1980] teve contato com as artes ainda na infância. Sua trajetória foi delineada por proposições de vanguarda. Entre suas principais criações estão os parangolés, fruto de sua convivência com moradores do morro carioca da Mangueira, e a instalação “Tropicália”.

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Fraga

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O sujeito chega no bar do japonês e pergunta: —Você tem Caracu?
E o japonês responde: — Karaokê?

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Carta à herdeira que bloqueou a entrada de um aeroporto

Abigail Disney, sobrinha-neta de Walt Disney, protestou contra emissões de CO2 dos jatos particulares de super-ricos

Esta carta é para você, Abigail Disney, que no dia 14 de julho deste mês, sentou-se na via de entrada do aeroporto de East Hampton, no estado de Nova York, ao lado de outros ativistas, bloqueando a passagem de milionários que pretendiam decolar com seus jatos particulares. Eu vi a sua foto sentada no chão de cimento, os braços conectados aos dos seus colegas, criando uma barreira física.

Muitas pessoas lhe perguntaram: “por que fazer isso?” Logo você, que poderia estar sentada em um desses jatos tomando champagne, afinal, como o seu sobrenome aponta, você também é uma milionária, herdeira da família Disney. “Estou apavorada com o futuro”, foi a resposta que você deu para a imprensa.

Eu também estou, Abigail. E sei muito bem por que vocês escolheram protestar contra os jatos particulares. O meio de transporte aéreo é um dos maiores emissores de CO2, um dos grandes responsáveis pelo aquecimento. Uma minúscula elite mundial, conhecida como os “super-ricos“, emite trinta vezes mais carbono do que seria aceitável para manter a temperatura global, justamente por se deslocarem muito e em transportes particulares. Um voo de quatro horas de jatinho emite a quantidade de carbono que um cidadão normal emite em um ano inteiro. E você sabe disso, tanto que deixou de ser passageira.

Este 3 de julho foi o dia mais quente já registrado no planeta. Parte do oceano chegou a atingir a temperatura de uma banheira de hidromassagem, e isso não é nada relaxante. Incêndios, secas e desastres causados pela chuva serão cada vez mais intensos e frequentes, com consequências como queda na produção de alimentos, ondas migratórias e encolhimento do PIB.

Imagino que ao sentar-se na entrada do aeroporto, você também pensou nos seus filhos. Nessa geração que já vem sofrendo de um quadro clínico chamado “angústia climática”, derivado do infortúnio de receber um planeta com essas perspectivas.

Você não está sozinha, Abigail. No dia 5 deste mês, um avô interrompeu uma partida de tênis em Wimbledon, jogando confetes e peças de quebra-cabeça em campo para chamar a atenção para essa mesma crise. Sabe o que estava escrito na camiseta dele? O nome dos netos. Alguns dias depois, três jovens ativistas jogaram tinta amarela e preta em um jatinho em Ibiza.

Desde 1988, os cientistas vêm tentando, de diversas formas, alertar a sociedade sobre a mudança climática. E, desde então, alguns setores, como o dos combustíveis fósseis, interessado em extrair até a última gota de lucro deste planeta, vem tentando confundir a opinião pública. Primeiro tentando negar que a mudança climática existia e, agora que os termômetros já não permitem mais essa fake, tentando falsear que nada é tão grave quanto parece.

Tenho certeza que, em vez de estar tumultuando uma partida de tênis, o vovô de Wimbledon preferiria estar em casa, montando o quebra-cabeça com os netos. Tenho certeza que, em vez de estar pintando jatos, aqueles jovens prefeririam estar pintando os cabelos. Tenho certeza que, em vez de ser arrastada para fora do aeroporto, você preferiria estar pegando uma praia ou assistindo a um filme da Disney.

Obrigada pelo esforço, Abigail. Obrigada por tentar esfregar os nossos olhos: até quando vamos deixar que poucos comprometam o futuro de muitos? E por tentar esfregar os olhos dos super-ricos: será que custa tanto largar o jatinho e voar na primeira classe de um avião normal? Ou mesmo deixar de voar, como muitos sabiamente estão fazendo?

Não custa lembrar: a maioria das pessoas nunca tirou os pés desta Terra. E tudo o que eles querem é apenas seguir caminhando em frente.

Publicado em Giovana Madalosso - Folha de São Paulo | Deixar um comentário
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Dita Vetone. © Zishy

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os lenços às polacas
há horas que me faltas
e peço que, ainda ao pé da cama,
à gravura de Jesus-Maria-José
desfies teu terço,
e que a vela das almas que acendes
a sombra da tua fé
desenhe nos sarrafos das paredes

sentado no caixote de lenha
olhando as cinzas que brasas
também foram madeira,
sozinho e calado sorvo
o café que há tão pouco
passaste do pano ao bule
à caneca de folha esmaltada com flores
e, em azul, “saudade”

na folhinha com dias dos santos
é sábado, 20 de julho
há sete anos

procuro teu lenço,
mas faltam lenços às polacas
que, com as saias sobre as calças,
reclamavam: “zimno, mésmo”!
e iam a pé, na estrada-velha,
rezar na Capela da Matka Boska Bolesna,
na Colônia Thomaz Coelho

broa banha e sal já tenho,
pierogui na feira, dança no teatro,
casa de tronco, artesanato
– essas coisas de polonês –
mas do pouco polaco que penso,
falta sempre nas cabeças polacas
um lenço

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Forno & Fogão

Minha mãe, que era uma cozinheira de quatrocentos talheres, insuperável na igualmente insuperável culinária cabocla, costumava decretar, definitiva, que jamais honraria a cozinha quem não soubesse fazer, com talento, um arroz branco.

Desnecessário acrescentar o sublime arroz de D. Cida — clássico, sem ademane, a nua simplicidade de um haicai. De se comer puro, só ele, feito fosse o prato principal.

Arroz incrementado, segundo ela, era tudo, menos arroz. Ou então, ironizava, abobado risoto colorido com vergonha de ser arroz… Xiita, a minha saudosa velha, nas coisas e loisas da cozinha. Frango, só o caipira; milho-verde, só o colhido no quintal, ou vindo da roça.

Minha governanta, a germana Jesse Brek, que, face ao tema, se não aparecer aqui, é capaz de entrar em greve, anda a concorrer com Matisse na disposição da mesa cá no Palacete do Tico-Tico. A cada refeição, um arranjo floral. Esses tempos, creiam, conseguiu montar um sol modernista, com pétalas de cebola e compridas tiras de cenoura. No centro, o redondo recorte de uma fatia de berinjela.

Se minha mãe era xiita no conteúdo, Frau Brek é uma fundamentalista do visual culinário. Como os japoneses, acha que a gente come primeiro, e antes de tudo, com os olhos. Boca, paladar, e até dentes, são importantes, mas vêm depois, se é que interessam vir. O que importa é a beleza inútil da poesia.

Por falar nisso, dizem, por aí, que nosso Dante Mendonça é um menestrel do forno e do fogão. Ainda não me foi dado provar suas iguarias. Mas sei que há um frango que é dele a melhor estrofe. Se é que não trouxe da Itália, onde passou as férias, e nos deixou em enorme vacância, inédito pitéu, prestes a ser anunciado…

Eu, de meu lado, quando budista, com o propósito de seguir o preceito de que todo homem deve entrar, ao menos uma vez por semana, na cozinha, tentei alguns pratos. Sou bom de frango-xadrez e não me saio de todo mal em algumas carnes ao shoyo. Aprendi que está no tempo exato de cozimento o segredo da comida chinesa, que tem de passar pelo estômago com a leveza de uma garça de Kobaiashi Issa.

Perdi o budismo e a paciência, mas não perdi o gosto por esta culinária que, embora os preços abusivos, ainda a freqüento, com a parcimônia que me permitem a disponibilidade e o bolso; mais o bolso que a disponibilidade. E ando com saudade do porco agridoce do adorável Kazuo Hidecki.

Em matéria de comida, saudade tenho sempre, e de muita gente — do Jaime Lechinski e seus macarrões à bolonhesa; dos enfeitiçados rosbifes do saudoso Gilhobel de Camargo, mestre dos mestres; das irrepetíveis sopas-de-cebola do Jamil Snege, que chegou a ganhar as páginas da revista Claudia; das peixadas do Mazzinha; do gulache do Gilberto Rosenmann; do steak au poivre da Gleuza Salomon.

Agora, saudade, mas saudade imperecível, leitor, esta é do arroz de minha mãe.

Crônica de Wilson Bueno para O Estado do Paraná — 6 de abril de 2008.

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Costa x Wagner

A tentativa de tirar Rui Costa da Casa Civil para disputar a prefeitura de Salvador ajudaria o governo, que poderia realocar ministros e abriria caminho para incluir PP e Republicanos, mas não só. Resolveria outro problema, a disputa do ministro com o seu ex-tutor e padrinho, o senador Jaques Wagner (BA).

Costa considera até ofensiva a pressão para que dispute a prefeitura no ano que vem. Por ser ministro e ex-governador, acha que cabe a ele definir quem será o candidato do partido ao posto. É onde se choca com Jaques Wagner.

Visto como criador de Costa governador, o senador não abre mão da prerrogativa de dar a última palavra sobre o candidato do PT à prefeitura de Salvador em 2024. s eleições no ano que vem. Wagner tem a vantagem de ser mais querido pelos aliados de outros partidos na Bahia.

Segundo interlocutores dos petistas, Rui Costa tentou introduzir uma conversa a respeito com Lula. Nem chegou a terminar. O presidente o cortou e disse que não irá se meter, porque tem outras preocupações. “Resolvam que eu vou lá pedir voto”, disse.

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Na Lapa, o de maior bilheteria

Solange Stecz, coordenadora das oficinas.

O filme brasileiro de maior bilheteria Desapega!, com 150 mil espectadores até junho, abriu na quinta-feira o 14° Festival de Cinema da Lapa, com a presença do diretor Hsu Chein e dos atores Polly Marinho e Wagner Santisteban. No elenco também estão Glória Pires e Maísa Silva.

No festival, que termina domingo (30), Hsu Chein elogiou os curtas-metragens realizados por alunos de escolas públicas da região da Lapa e patrocinados pelo Festival.”Quem dera eu pudesse ter tido essa experiência aos 10 anos, eu que só fui fazer filmes depois dos 30 anos”, lembrando que o festival fomenta mão-de-obra e apontou o caso concreto do assessor de comunicação e documentarista Bruno Santos.

Bruno começou a desenvolver seu trabalho nas oficinas da Unespar, na Escola Dr.Manoel Pedro, em 2012. A atual coordenadora das oficinas Solange Stecz desenvolve o curso de cinema nas escolas gratuitamente desde 2015 propondo que as crianças se apropriem da linguagem do audiovisual para entender seu próprio mundo e para desenvolver uma visão crítica das obras que assistir.

Ontem, o filme Nada é Por Acaso, do diretor Márcio Trigo, com Rafael Cardoso, foi muito aplaudido pelo publico. Os dois concorrem ao Troféu Topeiro, ao lado do paranaense Franco no Trem do Medo, dirigido por Salete Sirino; e Perlimps, animação de Alê Abreu, o mesmo diretor de O menino e o Mundo, que concorreu ao Oscar em 2016.

O Festival da Lapa também premia curtas-metragens paranaenses e infanto-juvenis.

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