Mural da História – 2010

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Quem é quem

Fanático torcedor do América/RJ, escritor, jornalista e produtor musical, José Trajano inciou sua carreira em 1963 no Jornal do Brasil. Durante a Ditadura editou importante jornal da chamada “imprensa nanica ‘O Ex’. Com passagens pela Folha de São Paulo, Globo, Tv Cultura, entre outros, em 1994 José Trajano foi fundador da ESPN Brasil. Após 21 anos no comando dos canais ESPN desligou-se da emissora e parte agora, mais uma vez, para criar uma nova plataforma que una tecnologia, qualidade de transmissão e jornalismo de verdade, plural, investigativo e opinativo.

Como escritor lançou dois romances “Procurando Monica” e “Tijucamérica”. Em Fevereiro de 2018 lançou “Os Beneditinos”. Agora em 2020, publica mais um romance: “Aqueles olhos verdes”.

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Curiosidades da Academia Paranaense de Letras

Dezenas de autores, todos já falecidos, não demonstraram interesse em participar da Academia Paranaense de Letras, por diversos motivos: porque achavam que a entidade não os representava (por motivos estéticos, ideológicos ou por diferenças pessoais com acadêmicos), por proibição estatutária (caso da presença feminina), por viver longe do Paraná, por timidez do escritor ou por desinteresse da própria Academia em estimular possíveis candidaturas. Sem esquecer que o limite de 40 membros sempre se mostrou um permanente limitador. Entre esses, selecionamos dezenas de nomes que fizeram parte da vida científica e cultural do Paraná, sem passar pela nossa instituição. Exceto Júlia Wanderley, autora de artigos e textos diversos, mas sem obra em volume, os demais tiveram livros publicados.

Carlos Alberto Pessoa (Nego Pessoa) (1942-2017) – De Irati, onde nasceu, tornou-se um personagem de Curitiba. Foi cronista de jornais, revistas, rádios e TVs. Apaixonado por futebol, deixou diversas obras sobre o tema: era um apaixonado torcedor do Fluminense. Publicou também Modos & Modas e Travessas & Travessias, este último em parceria, sobre as ruas em que circulava a pé todos os dias.

Lindolpho Gomes Gaya (1921-1985) – Nascido em Itararé (SP), casado com a cantora curitibana Stelinha Egg, foi compositor e arranjador requisitado, decidindo já na maturidade radicar-se em Curitiba com a mulher. Na cidade, trabalhou com jingles e vinhetas para publicidade, além de produtor de discos. O casal doou seu acervo musical para o Museu da Imagem e do Som.

Marcos Prado (1961-1996) – Curitibano, aos 15 anos já acontecia na cena psychobilly local, ao fundir poesia com música, artes plásticas, teatro e cinema. Em 1996 saiu O Livro de Poemas de Marcos Prado, reunião de seus trabalhos (FFC/Iluminuras). Teve diversos poemas traduzidos para o inglês. Dez anos depois de sua morte, a Travessa dos Editores publicou Ultralyrics, com organização de Felipe Hirch, em 2006.

Nireu Teixeira (1929-2008) – Curitibano, jornalista e advogado, Nireu José Teixeira foi secretário de redação do Correio do Paraná, na época áurea dos jornais diários. Procurador municipal, exerceu os cargos de chefe de gabinete e secretário de governo de Jaime Lerner. Conhecido por sua habilidade musical com a caixinha de fósforos, deixou dois livros de crônicas: Espeto Corrido e Espeto Corrido II.

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 Amor, solta os velames
Ao furor do vento, Amor.
Vagos meneios, o uivo da tempestade.
Surdo o baque dos corpos n’água,
D’aqua a argêntea lacrima.
És a douda, a cabeça eriçada
De pêlos, os cabelos de alga e sal.
A urdida nos precipícios, Amor,
A egressa dos hospícios de Deus.
Em pleno mar antíquo, mar marinheiro
De onde emerjo, do fundo em pane, Amor,
Náufragos, eu e você, Amor,
A rasgar de nós o que restou :
Puídos vestidos, brins, anáguas,
Nossos rotos panos desolados.

Do livro  “35″. Poemas de Amor

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Playboy|1980

1989|Monique Noel. Playboy Centerfold

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Academia Onírica

Eu
fantoche do absurdo
cabeça vazia e peito cheio
sempre
em desacordo com o tempo
quase
ao alcance das constelações

No caminho não procuro
tabacaria alguma
tampouco finjo o que não pretendo

Palavras ecoam
e a melhor expressão
é a do silêncio
que mesmo verbo
não versa em nada

Não há flores neste asfalto
e a poesia em mim se cala.

Laís Romero|Revista AO|Academia Onírica

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A solução Freixo

A mais de um ano para as eleições municipais, o PT já vive internamente pequenas guerras entre membros pelo direito de indicar candidatos a prefeito em algumas das principais cidades do país.

Em São Paulo há um acordo para o partido não lançar um nome próprio e apoiar Guilherme Boulos (PSOL). No Rio de Janeiro, o PT quer indicar o vice na chapa de Eduardo Paes (PSD), que tentará a reeleição.

O partido sugere o nome de Marcelo Freixo, presidente da Embratur, que na última eleição tentou se eleger governador, mas foi derrotado ainda no primeiro turno por Cláudio Castro (PL).

Freixo, no entanto, enfrenta resistências – não só do diretório do PT no Rio, como também de Paes, que prefere um vice com mais diálogo com o centro e com a direita.

O nome do atual presidente da Embratur surgiu como solução para evitar a disputa quase fratricida que se desenha entre os grupos do deputado federal Washington Quaquá e do atual secretário de Assuntos Federativos do governo federal, André Ceciliano.

Quaquá quer o seu filho, Diego Zeidan, como vice de Paes, enquanto Ceciliano faz campanha para ele próprio ser indicado para a posição. Outros nomes correm por fora.

Dirigentes petistas favoráveis a Freixo defendem que uma chapa com Paes tem capacidade de isolar a esquerda ligada ao PSOL e a direita bolsonarista, além de abrir caminho para uma aliança em 2026 na disputa pelo governo do estado.

A entrada de Freixo em uma pré-campanha em 2024 abriria também o tão sonhado espaço para o Centrão na Embratur, que hoje é comandada pelo ex-deputado.

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© Jan Saudek

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Mural da História – 2003

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Tapa

Um tapa não é apenas um tapa: – é, na verdade, o mais transcendente, o mais importante de todos os atos humanos.

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O novo messias

O ministro Alexandre de Moraes nem assumiu o governo e já baixa a medida provisória, melhor, definitiva, de proibir repressão aos moradores de rua em todo o Brasil. Nem um Bolsonaro, um general da ditadura ou uma Janja ao ouvido de Lula ousariam tanto. Depois disso, os brasileiros que esperam o messias e os órfãos de Sérgio Moro votariam nele, convictos, convencidos, olhos fechados. Não pelo conteúdo e alcance da decisão, mas pela firmeza de quem a toma.

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Do fundo do baú

A chuva imóvel. Cafarnaum foi uma aldeia de Pescadores, na Galiléia, junto ao lago de Genesare. Ali, há alguns anos, um jovem comecou a pregar e a fazer milagres. Era de Nazaré, mas Nazaré não quis saber dêle. A frase: “ninguem é profeta em sua terra” nasceu por causa disso. Em Cafarnaum, o profeta era profeta. Em Nazaré, terra de seus pais, o profeta era apenas um rapaz que não queria trabalhar. O rapaz voltou para Cafarnaum e o resto da história todos nós a sabemos.

Atoms at work — aparentemente — não tem nada a ver com Cafarnaum. Foi (ou é em algum canto) uma exposicão ambulante que os nutridos irmãos  do norte ergueram no atêrro da Glória, usando de um monstro plástico, disforme e repugnante, inflado de ar, como um elefante sem pernas e sem cabeça, surgido inesperadamente no solo estanque.

Tanto Cafarnaum quanto os átomos para o trabalho estão unidos na fatura episódica do novo romance de Campos de Carvalho, A chuva imóvel. A presenca do romancista em nossa literatura já é um atestado de que temos literatura. Pois não é  qualquer literatura, não é  qualquer povo que pode produzir uma obra como a de Campos de Carvalho. Não vem ao caso discutir decadência e ascensção de classes ou regimes sociais, de estratificação ou de fermentacão de culturas. Vem ao caso o caso Campos de Carvalho em nossas letras.

Não me compete apresentar o autor: seus livros anteriores já o marcaram. Há quem goste, hd quem deteste, mas não há indiferentes. Em recente declaração, o autor assim definiu sua obra definindo-se tambem: “A mim não me interessa distrair o leitor e sim atingí-lo na sua came, no seu cerne — como comecei por atingir a mim mesmo sem nenhuma contemplação”. Campos de Carvalho ataca, escorado em sua posição fundamental de homem humano. “Meu raciocínio lhes pertence mas não a minha consciência, podem me fazer girar como um pião mas é em tôrno de mim que eu giro, não em tôrno deles, êste o meu sistema solar e desafio-os a arrancar-me o sol como podem fazer com o seu, eles que te julgam os donos de tudo e são os donos de nada, e se apavoram com o Nada de que vieram e a  que estão sempre voltando.”

Muitos críticos citam, a propósito de Campos de Carvalho, o exemplo de Henry Miller. É uma aproximação bastante pertinente, embora lateral. Em Campos de Carvalho há veios subterrâneos que escapam às influências de um romancista. Pessoalmente, gostaria de aproximá-lo a Swift. Mas êste é um assunto crítico. Swift ou Miller, ou Swift e Miller, Campos de Carvalho adquiriu autonomia e substância para ser êle mesmo, com o seu inclemente testemunho.

As aproximações podiam ser estendidas aos profetas bíblicos. Deixo aos leitores algumas indicações, das muitas que poderia fazer: Isaías, 22-7; Ezequiel, 1-7; Ezequiel, 11, 16, todo o capítulo 23.  Aqueles que se espantarem com a crueza de suas imagens ou palavras, podem dividir a vergonha entre a Bíblia e o próprio Campos de Carvalho. A beleza às vezes é vergonha também.

A chuva imóvel marca o melhor momento da obra de seu autor. E mais: é um livro que honra toda a literatura brasileira. O protesto de Campos de Carvalho contra as bombas nucleares, as partículas de estrondo, o esfacelamento de placentas gêmeas, a morte, os cheiros, os miasmas — tudo a compor, pesada sobre cabeças ôcas, a chuva imóvel do nosso tempo — é muito mais que um simples testemunho: é uma confissão. “Esta chuva imóvel serei eu que estarei cuspindo.” Essa não é apenas a última frase de seu romance. É o primeiro grito de revolta de todo um tempo, de todo um homem. E esse homem não é apenas Campos de Carvalho.  Somos todos nós.

 Carlos Heitor Cony

Conheci Campos de Carvalho via O Pasquim, o romancista de vanguarda que nunca perdeu a dimensão do humano. A Chuva Imóvel, A Lua Vem da Ásia, O Púcaro Búlgaro e A Vaca de Nariz Sutil são livros que não podem faltar na estante de nenhum de nós. Tudo isso está junto em Campos de Carvalho, Obra Reunida (1ª edição, 1997, José Olympio Editora). O nome do livro é também o título de uma das histórias incluídas na coletânea. Todas seguem a linha satírica do autor, com nomes engraçados como A Lua vem da Ásia; Púcaro Búlgaro; Chuva Imóvel entre outras. Em cada uma delas ele procura atingir o leitor na sua carne, em sua cerne, através do ridículo e com uma ironia refinada. Campos de Carvalho questiona com muito humor os comportamentos dos homens em seu dia-a-dia. Reunindo várias de suas histórias, a leitura deste livro é um passeio pelo imaginário de um homem que não se conforma com a passividade diante das regras preestabelecidas da sociedade.

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Flagrantes da vida real

Edson Bueno, em rápidas pinceladas. © Maringas Maciel.

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Comer o pão que o Bolsonaro amassou.

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