Tática de denuncismo nas redes sociais contra supostos abusos estimula vitimização
Há algo de podre no reino do feminismo. Na última década, o movimento vem promovendo vitimização, em vez de estimular força e autonomia. São cada vez mais comuns casos de mulheres que expõem abusos nas redes sociais. A onda de denúncias começou com o movimento Me Too, que escancarou práticas nefastas de assédio e agressão sexual na indústria do cinema americano.
Mas tal estratégia, então legítima, perdeu foco e função pelo caminho.
Desentendimentos comuns na vida de qualquer casal ganham status de relacionamento tóxico; paquera vira assédio; a traição do marido é violência emocional; e sexo ruim pode ser até estupro.
Além do problema legal óbvio de se acusar inocentes (muitas já tiveram que responder por isso na Justiça), o estímulo ao denuncismo está fragilizando as mulheres.
Em “The Coddling of the American Mind”, o jornalista Greg Lukianoff e o psicólogo Jonathan Haidt mostram três pressupostos falaciosos do movimento identitário: todas as pessoas são frágeis; a crença exagerada no aspecto emocional (o sentimento acima da razão); e a batalha de um “nós” contra “eles” (na verdade, do bem contra o mal).
O resultado é uma visão de mundo vitimista, paranoica e catastrofista que, em vez de ser criticada, é valorizada. Há uma espécie de masoquismo moral recompensado por curtidas nas redes sociais.
Estamos ensinando jovens mulheres a procurar agressão onde nem sempre há, a se sentirem virtuosas por sofrerem e a acharem que a exposição é uma boa estratégia de combate ao machismo —ademais, acaba-se menosprezando a dor daquelas que de fato foram violentadas.
Não devemos aceitar táticas perniciosas e contrárias a evidências científicas em nome de uma causa.
Como disse Camille Paglia: “Primeiro, sou uma intelectual, e depois feminista”. O compromisso com a busca da verdade é não só um imperativo ético, mas exemplo de força e autonomia —que o feminismo atual tem feito questão de solapar.
Rio – Quando comecei no jornalismo, no extinto “Luta Democrática”, queria ser igual ao Tarso de Castro. Todo jovem jornalista, idealista e sonhador, da minha época, queria ser igual ao Tarso.
Tarso não era só um jornalista, era um excelente repórter, um entrevistador excepcional, um cronista muito engraçado e, acima de tudo, um editor sensível e audacioso. Um ídolo.
Nascido em Porto Alegre, começou a carreira aos 11 anos no jornal do pai, “O Nacional”, de Passo Fundo. Trabalhou, também, na “Ùltima Hora” de Samuel Wainer, em Porto Alegre.
Em 1962, ainda bem jovem, Tarso veio morar no Rio de Janeiro e, em pouco tempo tornou-se um típico carioca, apaixonado pela cidade. Tarso foi decisivo no processo cultural do país nos anos 70 e 80.
Começou no Rio como repórter do “Ùltima Hora” e em pouco tempo fez amizade com Fausto Wolf, Hugo Carvana, Carlinhos de Oliveira, Jaguar, Sérgio Cabral, Roniquito, Hugo Bidet.
Na época, Tarso já se valia do seu charme para seduzir mulheres como Leila Diniz, Danuza Leão, Nara Leão, Sonia Braga, Betty Faria, Marisa Urban, Maysa, Norma Bengell, Neuza Brizola, Zezé Motta e, a mais emblemática, a atriz americana Candice Bergen.
Aqui, fez amigos e inimigos aos montes. Com os amigos, fundou jornais que se tornariam parte da história do país e da luta pela democracia e contra a ditadura militar. Entre eles, “O Pasquim”, “O Panfleto”, “JA” (jornal de amenidades),”Enfim”, “Careta”, “O Nacional” e outros.
“O Pasquim”, o mais criativo, ferino e debochado deles, surgiu na redação da “Ùltima Hora”. Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, era o maior colunista do jornal de Samuel Wainer e editor do jornal “A Carapuça”.
Com a morte dele, em 30 de setembro de 1968, Murilo Reis e Altair Ramos, donos do semanário, procuraram Tarso para substituir Sérgio Porto. Tarso não aceitou. Admirava o humorista e achava que não havia substituto para Sérgio Porto.
– Vamos mudar tudo. Vamos fazer um jornal marginal, propôs.
Tarso reuniu o cartunista Jaguar, o jornalista Sérgio Cabral, o publicitário Carlos Prósperi e o cartunista Claúdio Ceccon, o Claudius e criou “O Pasquim”, um tablóide ao estílo “Panfleto”, porém mais ousado, irreverente e com uma boa dose de humor.
“O Pasquim” revolucionou a imprensa brasileira. Criou moda, lançou tendências e revelou grandes nomes da imprensa brasileira.
“O Pasquim” não teria sido o que foi, sem Jaguar, Sérgio Cabral, Fortuna, Luiz Carlos Maciel, Henfil, Ziraldo, Millôr, e outros. Mas, não teria existido, se não fosse Tarso de Castro.
Em 1971, o “Pasquim” estava endividado, Millôr foi encarregado de sanear as finanças e para isso, Tarso, seu desafeto, foi afastado e Sérgio Cabral assumiu a direção da empresa.
Com o afastamento do “Pasquim”, Tarso se mudou para São Paulo. A convite do Octávio Frias de Oliveira, dono da “Folha de São Paulo”, começou a trabalhar no jornal paulista.
Logo se tornaria um dos mais influentes e lidos colunistas da Folha. Com o apoio do velho Frias, que o considerava um dos cinco maiores jornalistas da história do jornal, criou o caderno mais lido da história do jornalismo cultural pós-Pasquim: o “Folhetim”.
No “Folhetim”, Tarso publicou uma nova geração de talentosos cartunistas e ilustradores como Angeli, Laerte, Luiz Gê, Glauco e Jota.
O “Folhetim” continua até hoje na Folha, mas Tarso, por ciúmes, foi demitido pelo Otavinho Frias Filho, quando este assumiu a direção do jornal. Tarso era assim: despertava ciúmes até nos homens.
Era um personagem: mulherengo e irreverente, seu modo de vida elétrico, rodeado de amigos, bebidas, drogas e mulheres, fez dele um ícone do jornalismo e da sociedade carioca.
Viveu e morreu como quis.
Uma vez, Tarso disse ao amigo Luiz Carlos Maciel: “Não quero viver muitos anos. Já notei que o cara quando fica velho, a vida dele fica sem graça. Quero viver muito, intensamente, agora. Depois que fizer quarenta anos, acabou.
E Tarso se foi, aos quarenta e nove anos, como queria.
Chelovek, kotoryy udivil vsekh. Egor é um guarda-florestal destemido da taiga siberiana e um maravilhoso pai de família, respeitado por seus conterrâneos. Mas um dia ele descobre que tem uma doença fatal e que nenhum medicamento tradicional nem a magia xamânica podem salvá-lo. Egor decide lutar contra a doença de uma forma incomum, tentando se tornar uma outra pessoa para enganar a morte. Para isso, sua família e seus conhecidos devem se acostumar com sua nova personalidade.
O Homem Que Surpreendeu Todo Mundo. Rússia, 2018, 1h 44min, Direçãode Natalya Merkulova e Aleksey Chupov. Com Evgeniy Tsyganov, Natalya Kudryashova e Yuriy Kuznetsov.
A repetição está na raiz de qualquer literatura. Tudo que dizemos provavelmente já foi dito por alguém, em algum momento. Não importa se eu já vi esta frase ou não; ela já foi dita. O fato de eu ter ou não consciência disto cria uma diferença. Se eu desconhecia a frase, estou repetindo; se eu a conhecia, estou imitando, mas posso também estar produzindo uma variante deliberada. A Literatura vive, também, da criação contínua de variantes do que já existe.
São as variantes de uma idéia que, injetando nela algo de novo, garantem a sua sobrevivência e a chance de que venham a ser novamente imitadas no futuro. É assim que se criam os gêneros literários: imitando algo que já foi feito, e introduzindo pequenas surpresas e viradas-de-esquina. Repetindo o que já se tornou patrimônio coletivo, e inserindo nele uma contribuição individual.
Mark Twain, um grande fazedor de frases, disse certa vez num discurso: “Fiquei triste ao ver meu nome mencionado como um dos grandes autores da Literatura, porque eles têm o triste costume de acabar morrendo. Chaucer já morreu, Spencer morreu, o mesmo aconteceu com Milton, com Shakespeare… e eu mesmo não me sinto muito bem”.
É uma enumeração grave e sisuda que resvala, aos poucos, para um final meio gozador. O que na retórica chama-se de bathos, uma forma de anticlímax que geralmente produz o riso quando a usamos de forma mais caricatural: “Entre as minhas influências literárias estão Shakespeare, Goethe, Dostoiévski e Didi Mocó.”
Mark Twain foi o primeiro a fazer esse tipo de enumeração irônica? Pode ter sido, ou pode ser que não; não importa. Quando uma forma de dizer as coisas se revela eficaz, ela provavelmente será imitada por alguém. Em seguida, a existência desses dois exemplos aumenta as chances de que haja um terceiro. E depois um quarto, e depois um quinto… e eu mesmo já estou derrapando no mesmo caminho.
Coube a Woody Allen, um discípulo de Mark Twain (todos os humoristas norte-americanos o são), dar sua versão desta figura retórica quando disse:
Deus está morto, Marx está morto, e eu mesmo não estou me sentindo muito bem.
Num poema do livro Sentimento do Mundo (“Ode ao Cinquentenário do Poeta Brasileiro”) Carlos Drummond de Andrade fez uma bela homenagem a Manuel Bandeira, e a certa altura comparou o destino discreto de Bandeira, de poetar quase em segredo, com o destino de outros colegas seus:
Efetivamente o poeta Rimbaud fartou-se de escrever, o poeta Maiakóvski suicidou-se, o poeta Schmidt abastece de água o Distrito Federal…
Macacos me mordam se não há uma ironia mordaz nessa comparação, em que ele justapõe dois poetas (Rimbaud e Maiakóvski) que viveram trágica e radicalmente a poesia e Augusto Frederico Schmidt, um poeta-empresário, sócio de variadas indústrias, dono de supermercados.
Jean-Luc Godard é um autor que usa a ironia e o sarcasmo como outros usam o sal e a pimenta. Além do mais, é um citador inveterado, e já afirmou que o cinema deveria consistir apenas em pessoas diante de uma câmera lendo trechos de seus livros preferidos.
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