Multa o chefe

A prefeitura de São Paulo pode ser multada em R$ 50 mil, a pedido do MP, por ter permitido o uso do Theatro Municipal para a entrega da cidadania honorária a Micheque, presente o Bozo II, o segundo maior palhaço do Brasil. Errado, a multa deve cair em Ricardo Nunes, o prefeito, que tem o teatro sob sua supervisão. E porque Nunes dias antes fechou aliança festiva com o PL, presente Bozo II, para sua reeleição.

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Flagrantes da vida real

Cada qual com o seu na mão. © Maringas Maciel

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Mural da História – 2012

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Apparício Torelly

Precisa-se de uma boa datilógrafa. Se for boa mesmo, não precisa ser datilógrafa.

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Resistências à anistia

Conversas sobre uma anistia a Jair Bolsonaro começarão em abril

Não é um assunto tratado publicamente ainda, mas uma possível anistia ao ex-presidente Jair Bolsonaro já é levantada nos bastidores por parlamentares do PL, que querem aproveitar o comando da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara.

Deputados bolsonaristas fizeram consultas informais a colegas do Centrão no colegiado em sobre a possibilidade de avaliar a anistia de condenados pelo 8 de janeiro, com a inclusão do ex-presidente na lista de beneficiados. O roteiro foi sugerido, também informalmente, pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que alertou sobre a resistência que o tema encontraria.

As imagens do ex-presidente na embaixada da Hungria e a discussão sobre a prisão do deputado Chiquinho Brazão adiaram as tratativas para abril. Não há clima, por ora, para pautar algo nesse sentido, segundo parlamentares do Centrão e ligados a Lira.

A tática da bancada do PL é usar o argumento da perseguição judicial a Bolsonaro diante da possibilidade de prisão dele e de aliados – algo parecido com o que petistas fizeram com o presidente Lula na época da operação Lava Jato.

As sinalizações de Lira à bancada do PL é que não é o momento de travar este debate como o objetivo principal da oposição a Lula. Por um lado, o deputado teme a contaminação da eleição para presidente da casa, em fevereiro de 2025; por outro, diz que o assunto só deve ser pautado quando alguma ação contra o ex-presidente for de fato tomada pelo Supremo Tribunal Federal.

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O Piscinão da Mansão dos Hoopers

A janela do quarto onde durmo deita para a piscina da mansão dos Hoopers; deita a janela, também, para a imensa manhã, onde o vento não se ouve, passa pelas folhas das vinhas, talvez nem se perceba o vento e Homero, que não existe mais, talvez sinta essa aragem mais que nós. Sentado à janela, contemplo essa coisa nenhuma que é o quintal com laranjas lá fora.

Quantas vezes julguei ver a luz de Teresa de Ávila lá no beco e, nas ruas de pedra com sobrados altos, o que apenas vislumbro são virgens em flor à sombra de cellos de Brahms e, diante do copo de água, eu passo as horas a cismar. Acordo e pulo a janela do quarto, para observar a prosa serena dessa praia Brava – o céu definitivo sempre esteve aqui, entre as coisas naturais – e ali, no areal, finco o guarda-sol, medito que as cordas dos violoncelos em vibração cumprem o seu dever primitivo: soam! O meu corpo adormece nessa praia, enquanto as folhas da palmeira pairam sombras no mar de gelo.

Afasto-me da essência da sombra e, nessa cama improvisada sob o guarda-sol, penso que o imaterial rege o material e reconstrói o osso de Trakl e o jardim que Wittgenstein cuidou no mosteiro da Basiléia. Rente ao mar e sob o guarda-sol, desconsolado e anônimo, escrevo palavras para salvar o alfabeto das conchas; lavo-me em ar de tumba para tocar um inferno suspenso no pensamento. A chuva não perturba as linhas das marisqueiras que ondulam na praia Brava. Retorno ao quarto que deita para a piscina da mansão dos Hoopers.

O céu enfia-se pelos ouvidos, pelas narinas, pela boca e, estirado de novo aqui na cama do meu quarto absurdo, escuto a idéia de que sou pó e ao pó voltarei. Esvaziado de toda alegria, sou forçado a um contato com a brisa que perpassa a fronte dos que andam à beira-mar. Escuto cismas da serpente corcunda que insiste cravar suas garras em minhas brânquias. Escuto a chuva que lava os telhados, mas agora, deitado na cama, o que é isso que esboça no inciput fervente um cacto difícil de definir? A idéia de uma obrigação qualquer me desconcerta: ir ao banheiro escovar os dentes; tratar junto do açougueiro uma coisa que é pedir a carne para o bife; esperar na estação de trem a essa moça tão depressiva, que maquia defuntos para apaziguar os pensamentos de um dia. Às vezes durmo mal e sonho que bato no prato de lentilhas com o pano cheio d’água.

É desde a mesma véspera do nada que me preocupo com as pedras que ardem, e o caso real de haver um mar pensativo, quando se dá, é insignificante, mas descerra a porta maciça, e a solidão repete-se, e eu desaprendo a sofrer. Os meus hábitos são do silêncio, nunca dos deuses nem de Homero, que escutou que um mar é água sobre água que se move. A janela do quarto onde durmo continua deitada para a piscina aberta da mansão dos Hoopers, e a visibilidade de tudo que passa seca minha retina. E, agora, aqui, estou preso à mansão dos Hoopers, principalmente preso a esta mulher que mergulha sua nudez na piscina e olha pra janela aberta do meu quarto.

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© Jan Saudek

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Um que eu tenho

Revendo o documentário “O Homem Que Engarrafava Nuvens”, vida e obra de Humberto Teixeira, de Denise Dummont, vi que eu não estava errado, quando, na década de 1970, comecei a gostar de reggae, porque sempre achei muito parecido com o baião, maracatu, xaxado, arrasta-pé, o sincopado da coisa. Este CD é um exemplo de tudo isso, assim como o o CD e DVD de Gilberto Gil – Kaya N’gandaya.

Instrumentos como a sanfona, o triângulo,  guitarra e violas se misturam e, como afirma Lirinha (do Cordel do Fogo Encantado) neste documentário — João Claudio Moreno, ator e humorista piauiense, de Piripiri, viu “O Homem Que Engarrafava Nuvens” umas 39 vezes — que alguém descobriu um disco do Luiz Gonzaga, no fim da década de 50, na Jamaica. Precisa mais?  Kymani Marley, Dominguinhos, Bid, U-Roy, Luiz Melodia, Anelis Assumpção, Negresko Sis, Quem Ifrica,  Joel Altruda, Onu Onuora, Karina Buhr, Chico Cesar, Jah Marcus, The Heptones, Nyahbingui Medley, Sizzla, Bi Ribeiro, Gustah, Luciano, Ernest Ranglin, Tony Rebel, Siba, Jesse Roayal, todos juntos. 

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© Helmut Newton

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Se o meu fusca falasse…

© Alberto Melo Viana, o Baiano

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Caso Marielle mostra o apodrecimento do Estado

Os bandidos da trama são doutores ou policiais

Desvendada a trama do assassinato de Marielle Franco, resulta que nela não havia um só bandido desorganizado, daqueles que assaltam, roubam casas ou celulares. Um era chefe da polícia do Rio; outro, conselheiro do Tribunal de Contas; seu irmão, deputado federal; o pistoleiro e seu motorista, ex-PMs. Essa casta não rouba carros, alguns usam veículos oficiais.

Pior: Marielle foi assassinada porque atrapalhava os negócios de grilagem de terras e as milícias dos irmãos Brazão. Novamente, os bandidos que mataram Marielle relacionavam-se com o crime que age nas frestas da ausência do Estado, quer na barafunda fundiária, quer na exploração da falta de segurança pública.

Se existisse um sindicato do crime desorganizado, ele protestaria diante da concorrência desleal praticada pelos doutores e pelos policiais. Esse mesmo sindicato defenderia a classe contra a expansão de suas atividades criminosas.

Se tudo isso fosse pouco, Marielle foi executada três semanas depois da presepada da intervenção militar na segurança do Rio, e o crime foi planejado pelo chefe da Polícia Civil do Rio, nomeado pelos generais que poriam ordem na casa.

Inicialmente pensou-se que o atentado era uma resposta dos criminosos convencionais demarcando o domínio do território. (O signatário caiu nessa.) Ilusão democrática. Não havia bandidos avulsos no lance. Só bandidos articulados no aparelho estatal. Gente que defende seu mercado estimulando a repressão aos PPPP (pretos, pardos e pobres da periferia). Nela, as polícias matam pelo país afora, dizendo que são “suspeitos”.

Faz tempo, o assaltante Lúcio Flávio Vilar Lírio enunciou sua lei: “Polícia é polícia, bandido é bandido”. Ela nunca foi respeitada, mas a morte de Marielle Franco mostrou que o apodrecimento do Estado foi além. Ao longo de seis anos a engrenagem da segurança pública foi sabotada para proteger os criminosos.

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Mural da História

© Alberto Melo Viana

Conheci Wilson Bueno em um tempo que havia um mar de ideias, de pensamentos, catarse coletiva de neurônios. Parecia que tudo fazia sentido. O time era de craques. Observar o que acontecia já era uma experiência e tanto. Bueno tinha uma postura transgressora em uma cidade completamente retrógrada e provinciana. Quantos espantos ele causava. Quantas possibilidades inventava por ser do jeito que era. Bueno não apenas discutia, mas escancarava. Tudo nele era excesso, fase em que a boemia tomou conta. Até no jeito de se vestir, quando aos tropeços conseguia parecer um dândi. Quem mais poderia ser assim?

Foi neste ambiente que observei as frestas do que poderia ser plausível, neste mundo que pulsava. O oposto do que acontecia no plano das ideias carregadas de mofo. Neste respiro descobri algo que nunca mais deixei: meu gosto pelo que é transgressor, pelo subversivo, pelo que ninguém mostra. Foi este universo que construí aos poucos, aos trancos, ao dissabor de dores e medos, mas que era possível. Caminho mais difícil, porém revelador.

Aprendi nesse processo algo que acredito que esteja ligado com uma íntima aliança com o que construímos pela estrada, e outro poeta, Ferreira Gullar, fala muito bem, que é não ser dogmático. Permitir-se mudar de ideia, de partido, de religião. Afiar o senso crítico. O que faz repensar, reinventar, não acomodar. Mais, essa abertura permite não carregar ideologias engessadas, mas opiniões. Que podem mudar a qualquer momento. Como bem escreveu Jorge Luis Borges: “Não te rendas. A masmorra é escura, a firme trama é de incessante ferro, porém em algum canto de teu encerro pode haver um descuido, a rachadura”.

É esse descuido que absolve, ilumina. Seguimos intuitivamente essa fresta, assim como lobos enxergam no escuro. Assim também, sem perceber, trilhamos um caminho, às vezes mais longo, com percalços, outras vezes mais lineares e silenciosos. Porém, seguimos adiante. No plano cerebral, desviamos das tempestades, nos protegemos embaixo das marquises até passar a chuva e abrir de novo o céu. Na margem oposta está o medo, e nada acontece se não atravessarmos a ponte. Atenção ao vento veloz que sopra segundos antes.

Por razões desconhecidas e misteriosas, o porto seguro está muito mais ligado à emoção e ao que realmente somos e fazemos. O medo é o outro lado do rio. Superá-lo ou renegá-lo é de certa maneira não reconhecê-lo, não atravessar a ponte. Os medos são a soma de tudo que somos nós. E Bueno carregava seus medos como quem faz disso seu íntimo, seu estado mais profundo. Medo em estado bruto. Talvez por isso tenha feito uma opção de escrita mais selvagem, transgressora e intensa.

Prefiro assim, a intensidade dos instantes em cada pausa, em cada silêncio, em cada palavra, como poema. O coração selvagem entrega assim sua fúria, com toda a delicadeza da cicatriz. A arte, diz Gullar, é necessária porque a vida não é o suficiente. Bueno sabia disso como ninguém.

Revista Ideias|2020

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Bolsonaro fora das 4 linhas

O fato de ter passado dois dias na embaixada da Hungria em fevereiro, logo depois que a Polícia Federal apreendeu seu passaporte, mostra que Jair Bolsonaro pensa menos em sua defesa e mais em o que fazer se ou quando for condenado e preso.

A revelação da visita e permanência de Bolsonaro na embaixada foi feita pelo jornal The New York Times nesta segunda (25). Imagens de câmeras internas mostram Bolsonaro chegando à embaixada em Brasília no dia 12 de fevereiro e saindo no dia 14.

A Hungria é governada por Viktor Orbán, simpático a Bolsonaro. Orban é um Bolsonaro que, em vez de tentar um golpe, conseguiu corroer a democracia por dentro e hoje é praticamente um ditador.

A conclusão é que, sem possibilidade de fugir do país (como fez pouco antes de deixar o governo), Bolsonaro poderia pedir asilo na embaixada da Hungria – ou de algum outro país simpático a ele. Seria uma forma radical de evitar sua prisão.

Um pedido de asilo lhe daria a chance de fazer um discurso de repercussão internacional de perseguido político, que teria acolhida em alguns países.

Poderia incentivar um movimento em seu favor no Brasil. Bolsonaro sempre joga com a possibilidade de provocar uma agitação social capaz de constranger a Justiça. É totalmente improvável que haja alguma influência, mas pode impulsionar iniciativas em favor de uma anistia, tema levantado por seus filhos.

A atitude sugere certa precipitação de Bolsonaro. Apesar de ser investigado em três casos, ele ainda nem foi indiciado pela Polícia Federal. É muito provável que seja denunciado por golpe de estado, pelo roubo das joias das Presidência e pela falsificação do cartão de vacinação. Quando for, terá de ser denunciado pela Procuradoria Geral da República, julgado pelo STF e eventualmente condenado, para só então ser preso. Tudo isso levará meses.

Sua atitude, portanto, sugere muita precipitação e um grande risco: pode ser interpretada como tentativa de obstrução de justiça e justificar um pedido de prisão preventiva. Seria algo inédito.

Para quem gosta de comparações, em 2018, o então ex-presidente Lula não resistiu à prisão pela operação Lava Jato – não tentou fugir, nem buscar asilo. Bolsonaro mostrou que joga de forma diferente e cruzou uma fronteira arriscada.

Esta postura muda a dinâmica das ações policiais contra o ex-presidente. Bolsonaro certamente será monitorado mais de perto, o que dificultará tomar uma medida radical como esse. A alternativa da fuga para uma embaixada pode ter sido desperdiçada.

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Mural da História – 2010

oinc!-25-11-2010

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