Publicado em Sem categoria | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

Bolsonaro fora do jogo, uma decisão histórica

A ligeira queda na intensidade da polarização pode aumentar a esperança de terceiros, que no passado não conseguiram espaço para competir.

Começa nesta semana o julgamento de Bolsonaro no TSE. É apenas um dos muitos processos contra ele. Mas, segundo todas as previsões, não deverá escapar. Bolsonaro se tornará inelegível. Existe apenas uma possibilidade de adiar essa decisão por 90 dias, caso o ministro que ele indicou para o STF, Nunes Marques, peça vista. Mas não seria um pedido inteligente, uma vez que a sorte está lançada, com o parecer do procurador eleitoral. Uma solução rápida pode ser importante.

Bolsonaro e a corrente política que ele representa terão de encontrar uma alternativa, e isso demanda uma discussão longa. Um novo nome precisará também de alguns meses para se fixar. No processo que se julga agora, Bolsonaro é considerado por muitos indefensável. Ele reuniu embaixadores estrangeiros, usando o aparato oficial da Presidência, para criticar o sistema eleitoral brasileiro e defender o voto em papel, algo que já havia sido rejeitado.

Logo no início, seus advogados minimizaram a cerimônia, dizendo que foi apenas uma troca de ideias. Mas na verdade os embaixadores apenas ouviram e não dispõem, pelo menos até onde se sabe, de dons telepáticos. O episódio em si é muito problemático. De forma indireta, também deve pesar na decisão dos ministros a tentativa de golpe de 8 de janeiro. Ela é na verdade fruto da longa pregação de Bolsonaro contra as urnas eletrônicas.

Depois do 8 de Janeiro, surgiram evidências de episódios que confirmam a preparação de um golpe, todo ele justificado pela negação do resultado das eleições. A minuta encontrada na casa do ex-ministro Anderson Torres previa uma intervenção no TSE, neutralização dos ministros, que seriam substituídos principalmente por militares. Depois disso, no episódio da falsificação dos cartões de vacinação, descobriu-se no celular de Mauro Cid, ajudante de ordens de Bolsonaro, uma nova e longa conversa sobre golpe. Com um fato gravíssimo e tantas circunstâncias negativas, Bolsonaro deverá se despedir do processo eleitoral, pelo menos por oito anos.

É difícil prever em detalhes as consequências dessa decisão. Mas certamente alterará a História nos próximos anos. A saída de cena de Bolsonaro não significa que os conservadores no Brasil percam força, muito menos prenuncia que a direita entrincheirada na internet esmorecerá em sua guerra de memes. A ausência de um líder carismático contribui para baixar o tom no processo eleitoral.

O presidente Lula, por sua vez, afirmou que não pretende disputar em 2026. É uma escolha que pode ser revista. De qualquer forma, é possível imaginar um cenário que reproduza o confronto que houve em São Paulo, entre Tarcísio e Haddad. São os mais prováveis nomes alternativos. Tive a oportunidade de acompanhar os debates presidenciais e de assistir aos realizados em São Paulo. Se o cenário realmente acontecer, creio que a cena política terá uma carga emotiva menor e um debate mais detalhado sobre programas.

Não há juízo de valor aí. Apenas uma constatação de que a mudança, potencialmente, poderá reduzir a intensidade da polarização. Toda essa análise na verdade conta com a reprodução em outros termos dos confrontos de 2018 e 2022. Há um fator que não incluí aqui. A ligeira queda na intensidade da polarização pode também aumentar a esperança de terceiros, que no passado não conseguiram espaço para competir à altura das duas grandes forças.

Vamos esperar o desenrolar da semana. Talvez voltemos ao assunto em 90 dias, talvez tenhamos de prosseguir no tema. Há semanas que se estendem por anos. Minha hipótese é que estamos entrando numa delas.

Publicado em Fernando Gabeira - O Globo | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

Olha o que eu achei na rua!

César Marchesini e seu mais novo animal de estimação. © Patrícia Ferraz

Publicado em Sem categoria | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

Só depois dos bolsonaristas

Parlamentares da base do governo Lula admitem convocar o ministro da Justiça, Flávio Dino, para depor na CPMI do 8 de janeiro. Mas só depois de ouvir todos os bolsonaristas envolvidos nos ataques às sedes dos Três Poderes.

A oposição teve, até o momento, seus requerimentos de convites reprovados pela maior parte do colegiado. Também não conseguiu ter acesso às investigações que correm em sigilo no Supremo Tribunal Federal. Por ter maioria, a situação controla a CPMI.

Deputados da base governista dizem estar dispostos a solicitar os documentos ao ministro Alexandre de Moraes, mas exigem que dois membros da comissão que são investigados – o deputado André Fernandes (PL-CE) e o senador Marcos do Val (Podemos-ES) – sejam excluídos da CPMI.

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), já recebeu ofício com pedido de afastamento de Fernandes e aguarda, para esta terça-feira (20), outro com relação a Do Val.

Os parlamentares aprovaram a convocação do ex-chefe do GSI, Gonçalves Dias.

Publicado em O Bastidor, Sem categoria | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

Piauí no Maranhão

Albert Piauhy em Tutóia, Maranhão. © Myskiciewicz

Publicado em Sem categoria | Com a tag | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

Um dia

um dia desses eu vou me misturar
ao povo que está na ruas
e finalmente vou descobrir pra onde
todo mundo vai
para onde vão as velhinhas com
pacotes debaixo do braço?
para onde vão as senhoras gordas
de cabelo encaracolado?
pra quê lado?
vou descobrir para onde vai a menina
com o uniforme colegial
para onde vai o senhor grisalho
com as mãos no bolso
para onde foi o negro elegante
que estava aqui há pouco
para onde foi o menino de boné vermelho
para onde foi o vendedor de bilhetes
que sempre está gritando
vaca galo cabra burro borboleta
um dia desses eu descubro pra onde
vai a gorda que acabou de entrar num táxi
dia desses eu descubro para
onde foi aquele tocador de gaita
de boca e aquela limpadora
de rua e aquela moça do estar
e aquele sorveteiro e aquela loira
com um disco do chet baker e aquele cara
parecido com o rodrigão
e aquele senhor de guarda-chuva e aquela
moça chupando sorvete e aquele
gordo desesperado e aquele médico
que escorregou na calçada e aquele
guarda que estava na esquina
e as três meninas que olhavam
a vitrine da sapataria e a velhinha
de sombrinha verde
que tentava atravessar a rua
dia desses eu descubro
pra onde é que vão todas essas pessoas
que atravessam a rua
sem olhar para os lados
um dia desses eu vou me misturar
ao povo que está na ruas
e finalmente vou descobrir pra onde
todo mundo vai
para onde vão as velhinhas com
pacotes debaixo do braço?
para onde vão as senhoras gordas
de cabelo encaracolado?
pra quê lado?
vou descobrir para onde vai a menina
com o uniforme colegial
para onde vai o senhor grisalho
com as mãos no bolso
para onde foi o negro elegante
que estava aqui há pouco
para onde foi o menino de boné vermelho
para onde foi o vendedor de bilhetes
que sempre está gritando
vaca galo cabra burro borboleta
um dia desses eu descubro pra onde
vai a gorda que acabou de entrar num táxi
dia desses eu descubro para
onde foi aquele tocador de gaita
de boca e aquela limpadora
de rua e aquela moça do estar
e aquele sorveteiro e aquela loira
com um disco do chet baker e aquele cara
parecido com o rodrigão
e aquele senhor de guarda-chuva e aquela
moça chupando sorvete e aquele
gordo desesperado e aquele médico
que escorregou na calçada e aquele
guarda que estava na esquina
e as três meninas que olhavam
a vitrine da sapataria e a velhinha
de sombrinha verde
que tentava atravessar a rua
dia desses eu descubro
pra onde é que vão todas essas pessoas
que atravessam a rua
sem olhar para os lados

Publicado em Todo dia é dia | Com a tag | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

Publicado em Todo dia é dia | Com a tag , | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

Publicado em Todo dia é dia | Com a tag | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

Haikai

O haikai (“haiku”, em inglês), antiga forma popular-erudita de poesia japonesa, tem despertado, em todo o mundo, ao longo do século XX, amplo interesse. Estudando-a e tentando adaptá-la ao nosso idioma desde 1933, temos que não se trata, a rigor, de um gênero intransplantável. Examinando-so com desempenho, chegamos a admitir que esse interesse de alguma forma possa contribuir para maior e mútuo entendimento dos povos brasileiro e japonês, já tão aproximados pelo sentido complementar das configurações geo-econômicas em que se encontram

Desconhecendo o idioma japonês, e utilizando bibliografia ocidental, não nos foi possível, de logo, adaptar a grafia dos nomes nipônicos à prosódia brasileira. Ainda: os haikais japoneses, não os transladamos ipisis literis dos textos estrangeiros, procurando recriá-los, quiçá desvalorizando-os. Aos divulgadores não japoneses preocupados com o compromisso da documentação e temerosos ante os perigos de uma tradução, não lhes ocorreria adicionar. Aos poemas exemplificantes, qualquer toque poético mais fino. A isto, porém, aventurosamente nos dispusemos, sem esquecer, todavia, a obrigação da penitência.

Oldegar Franco Vieira — O Hai Kai  —  Editora Cátedra

Publicado em Sem categoria | Com a tag , | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

Soy loco por Teresina!

Mais de trocentos e oitenta e oito cartunistas, em algum lugar do passado. Salão de Humor do Piauí, Teresina. © Albert Piauhy

Publicado em piauí | Com a tag , , , , | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

João Lyn

Lorena Calábria. Brainpix

Publicado em Sem categoria | Com a tag , | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

Ferreirinha do bem

A tragédia na escola de Cambé fez nascer um Ferreirinha do bem. O governador Ratinho Júnior declarou que a pessoa que deteve o assassino é professor que passou por treinamento de segurança ministrado pelo Estado. A pessoa em questão não é professor e nem passou por treinamento. Era trabalhador autônomo de comércio vizinho, um popular com iniciativa e coragem. Décadas depois de Roberto Requião um governador cria seu personagem de ficção. A propósito, dizer que foi um falso segurança que reteve o autor das mortes ameniza a tragédia, enaltece o governo? Quem mete uma coisa dessas na cabeça do governador dá tiro no pé do chefe.

Publicado em Rogério Distéfano - O Insulto Diário | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

Mural da História – 2020

Publicado em Bozonarismo | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

Titãs mostram em casa por que são protagonistas de uma época

Com suprassumo do repertório, banda expõe sua maturidade e a permanência de sua intervenção

Os Titãs levaram 150 mil pessoas em três noites de shows no Allianz Parque, em São Paulo, depois de terem lotado outras plateias no Brasil. Um fenômeno. Numa performance madura, potente, que nada deixou a dever a ninguém, a banda, em sua cidade, enfileirou hits da fase de sua formação histórica —infelizmente sem a presença física de Marcelo Fromer, que era parte significativa da alma do grupo, não apenas na música, mas na ecologia de sua identidade coletiva.

Os Titãs têm muitas particularidades entre os protagonistas da cena do rock brasileiro que explodiu na década de 1980. Já de início, a formação com 8 rapazes foge ao padrão –os Paralamas, outra referência, nasceu como power trio, sob a liderança, digamos assim, bem definida de Herbert Vianna.

Nos Titãs, a profusão de talentos e personalidades parecia uma receita improvável para o sucesso. No entanto, conseguiram equacionar as diferenças de interesses pessoais com inteligência, adotando um sistema decisório interno cujos resultados às vezes não agradavam a todos, mas dentro das circunstâncias funcionava.

Além das escolhas nem sempre pacíficas quanto ao repertório e das compreensíveis disputas de egos, se aprofundaram a partir de certo ponto algumas divergências sobre os caminhos que a banda deveria seguir.

Alguns pareciam inclinados a assumir um perfil mais nítido e hardcore de rock. Outros preferiam manter a ideia de banda de rock, porém com margem maior para relativo ecletismo –contemplando o reggae, a canção, o pop etc. Essa multiplicidade sempre fez parte da trajetória e da identidade da banda, mas também acabou por levar a projetos paralelos e, por fim, a separações.

O núcleo do repertório que está sendo apresentado nessa turnê é o suprassumo. Um festival de hits, com duas sequências de rock, entremeadas por um momento acústico.

Há rocks e rocks. O dos Titãs tem uma peculiaridade de certa forma paulista daquele momento, mais propensa, entre outras características, à influência do pós-punk. Sim, os baianos do Camisa de Vênus faziam um rock pesado, o Rio teve seus metaleiros e barões, e a paulistaníssima roqueira tropicalista Rita Lee tinha sua pegada geracional. Na sequência, o rock pesado dos mineiros do Sepultura alcançou êxito internacional.

Mas na primeira metade dos anos 1980, São Paulo teve um lance próprio bastante influente. Não por acaso, um dos lugares alternativos mais concorridos do Rio chamava-se Crepúsculo de Cubatão.

Os rapazes dos Titãs tinham idade para saber o que havia sido e ainda era a ditadura militar, mas também eram jovens que estavam olhando para a frente, ou talvez ainda mais para o presente, o tudo ao mesmo tempo agora —e já!.

Eram anos de crise de crenças e ideologias (“eu quero uma pra viver”, cantou Cazuza do Rio) em que se configurava o corte da pós-utopia, como sublinhou o concretista barroco Haroldo de Campos num famoso ensaio sobre o “poema pós-utópico,” publicado no suplemento Folhetim, desta Folha. Haroldo que, diga-se, certa vez foi de ônibus com os Titãs para um show no interior paulista.

Ainda estava quente a clivagem, na esteira do tropicalismo e da contracultura, que confrontava comunistas caretas e rebeldes anárquicos; dogmatismos militantes e diversão descompromissada; esquerda cultural “universitária” MPB e a turma internacionalista que usava drogas e se jogava nas festas ao som de rock e outros gêneros “alienados”.

Para fazer uma distinção esquemática clássica, lembrando Octavio Paz, duas bolhas se confrontavam (e também se comunicavam): a dos revolucionários à espera do futuro redentor, que encerraria a história da luta de classes, e a dos rebeldes do desejo, do comportamento e do aqui e agora.

Continue lendo

Publicado em Sem categoria | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

O irritante guru do Méier

Publicado em O irritante guru do Méier | Com a tag | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter