As novelhas, ontem

A Farsa – 19h50 – Demóstenes recusa a pizza e é mal interpretado por Olívia, que se retira do velório. Olegário chega em casa e não encontra ninguém. Mora sozinho. O mistério aumenta quando descobre um bilhete em cima da cômoda. Não há cômoda na casa. As prostitutas que haviam sequestrado Libório devolvem o corpo, mas sem a parte de baixo, atrapalhando as investigações.

Jô Soares se desvencilha de um regime e é visto engordando numa churrascaria do Alto da Glória. Dias Gomes e Glória Magadan passeiam pelo Parque Barigui. Dalton Trevisan os observa. Ronnie Cord é abatido a sorvetadas pelo fã-clube de Orlando Alvarado. A policia é obrigada a intervir. Veruska entrega o ouro para os bandidos. É ouro falso. Os bandidos são falsos. Veruska é falsa. A farsa prossegue. Costinha assiste a tudo, de longe.

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saudek-amigosdo-peito© Jan Saudek

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Flagrantes da vida real

Requiescat in pace. Maringas Maciel, em silêncio.  © Giselle Hishida

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O que resta do Tatuapé?

Meu sonho é encher um ônibus com meus amigos e parentes e invadir o Fasano Boa Vista

O Garoto (é assim que ele assina o e-mail) me escreve porque quer saber “o que resta do Tatuapé” na minha “rotina e costumes” de “jovem senhora morando em bairro nobre”.

Me lembrei de quando um escritor de meia-idade, que também é jornalista, veio até minha casa fazer meu perfil para uma revista masculina. Eu tinha acabado de lançar um livro que, além de ter ficado entre os cinco mais vendidos do país, estava em disputa por duas grandes produtoras para ser adaptado para o cinema. Eu também já era colunista deste jornal, e minhas crônicas já naquela época ficavam entre as mais lidas e compartilhadas. Somados, os roteiros de comédias que eu havia escrito tinham levado mais de 5 milhões de pessoas às salas de cinema.

Mas por que falar sobre o sucesso de uma mulher, não é mesmo? Ainda mais uma mulher que tinha a mesma profissão daquele escritor jornalista de meia-idade, que era uns quinze anos mais velho do que eu e nunca havia conseguido chamar muita atenção para o seu trabalho.

Fosse a década de 90, ou mesmo os anos 2000, talvez o perfil começasse com a descrição dos meus seios e quadris. Mas estávamos em 2015, e o jornalista/escritor/agitador cultural de sarau de desaplaudidos sabia que não poderia cometer esse “autoaniquilamento” de carreira. Então começou a matéria dizendo que eu tinha passado a entrevista inteira disfarçando um “atraente sotaque de periferia” e “querendo forçar alguma elegância”. O machismo sempre dá seus jeitos de perpetuar a espécie.

Meu amigo (e aqui me refiro ao Garoto, e não ao jornalista/escritor/performer de alcoólatra que me entrevistou), se tem algo de que não faço questão nesta vida é falar, andar, comer e fitar o pôr do sol imitando a aristocracia decadente que sobrou na zona oeste depois de três gerações torrando a fortuna do bisavô escravagista. Vejam: eu adoro pousada, hotel, restaurante e loja de rico, porém não suporto nenhum rico dentro desses lugares. Meu sonho é encher um ônibus com meus amigos e parentes e invadir o Fasano Boa Vista. Não suporto o sotaque dos ricos, a malemolência daquela língua afrescalhada com cifrões nos perdigotos, a faca na mão direita para cortar um fake prime rib −sempre a favor das fibras−, a postura eretíssima da coluna, porque se curvar, mesmo com cinco hérnias, é coisa de pobre. Não suporto, não quero parecer, não quero imitar e, sobretudo, jamais quero votar como a maioria deles. Mas tenho muita inveja de herança. Muita. Da minha família eu só herdei dor crônica e doença autoimune.

Por exemplo, esse repórter/escritor/jornalista/DJ de meia-idade. Ele se considerava de elite. Só que, na época, alugava um imóvel que pertencia a um casal de amigos meus, e eles me contaram que o senhor não só não pagava o aluguel havia mais de um ano como sempre que os encontrava dizia “não pago mesmo, sou artista maldito”. Se tem uma coisa que eu não suporto, bicho, é artista maldito. Não é tão difícil largar uma cadeira de boteco por uma cadeira de escritório. Mas, se para você for impossível, daí é sua obrigação escrever um “Pornopopeia”. Se você for tão brilhante quanto o Reinaldo Moraes, eu até pago o seu aluguel. Em qualquer outro caso, apenas odeio os artistas malditos de meia-idade cagando regras e poesias ruins em mesinhas brancas de plástico.

Talvez essa raiva também seja algo que me “resta do Tatuapé”. Desde que me mudei para Higienópolis, percebo que a raiva saiu de moda. Em Perdizes ainda tinha muita bile escorrendo nos papinhos de elevador, mas aqui todo mundo parece ter saído de uma longa sessão de ioga. Finérrimos. Dei uma festa na qual se ouvia Anitta a quinze quadras da minha janela (odeio barulho, nunca faço, só que quando faço é pra valer) e ninguém (NINGUÉM!!!) do meu prédio reclamou ou brigou ou me olhou feio. Apenas fui obrigada a pagar uma multa de quase 3 mil reais no dia seguinte. Finérrimos. Elegantes. Nunca senti tanta saudade de uma boa senhora italiana me esculhambando com braços gordos e molengos às quatro da manhã. É muito melhor ser ofendida por alguém que passa nervoso, passa mal, passa do ponto e pede desculpa (pessoas reais) do que aturar sorrisos equilibrados e ter de pagar três paus. Rico não se desgasta. Eles têm advogados e funcionários para isso. Continue lendo

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Minha casa, minha vida

© Caetano Solda

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Entra por um ouvido e não sai pelo outro.

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Já foi na Academia hoje?

Roque Sponholz –  © Fernandes

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Bozonazismo!

 

© Cau Gomez

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Associação Esportiva Ócio

Num país longínquo havia um costume secular. Todos os habitantes, ao nascer, tinham tênis afixados aos pés. Com o passar dos anos, eram obrigados, por lei, a mantê-los sob pena de detenção.

O povo também deveria fazer exercícios: pelo menos, 12 horas por dia. Metade do PIB era usado na fiscalização da prática desportiva e em publicidade de conscientização sobre os benefícios do atletismo.

Um dia, um jovem aluno da Faculdade de Educação Física recebeu uma bolsa e foi estudar num país vizinho. Chegando lá estranhou muitas coisas. Primeiro, ali os habitantes não usavam tênis colados aos pés. Depois, não havia nenhuma obrigatoriedade em relação a fazer ginástica. O rapaz também notou que o povo era um pouco mais gordo e lento que seus conterrâneos. Mas não percebeu nenhum sinal da melancolia, ou mesmo de doenças horríveis que os extinguissem, conforme as autoridades de seu país afirmavam acometer os que não se entregavam à pratica esportiva. Ao contrário, toda gente lia e ouvia músicas nas praças. Ou simplesmente entregava-se à contemplação.

Ao voltar à sua nação, procurou o reitor da universidade. Relatou sua passagem pelo estrangeiro e comentou aquilo que mais chamara sua atenção:

– Mestre, os habitantes de lá não fazem esporte algum e nem andam com tênis afixados aos pés. E, por incrível que pareça, são felizes e saudáveis. Por que aqui somos forçado a andar com essas próteses em nossas extremidadades, do nascimento até a morte?

O reitor franziu o cenho e disse:

– É uma ilusão, meu rapaz. Se passasse mais tempo entre eles veria a doença, a devassidão, a decadência. Não julgue nada na vida por uma observação tão efêmera.

O conselho do reitor não demoveu o moço de buscar uma solução para seus fraternos. Pessoas que ele via, a todo instante, alienadamente correndo, saltando, chutando até a mais completa exaustão. Depois comendo uma ração diária, sensaborona, controlada pelo Estado.

Uma tarde, saindo da academia de esgrima, ele decidiu arrancar os tênis usando um sabre. Em seguida, deitou-se descalço no banco da praça principal e ficou ali, apenas olhando os passantes se exercitando febrilmente. Não demorou para que estacionasse a seu lado uma blitz da Polícia do Desporto. Foram logo alertando-o pelo alto-falante:

– Marchando, correndo, saltando!

O rapaz continuou na mesma posição. Os policiais desceram da viatura e passaram a lhe aplicar choques com uma vareta de tocar gado. Inesperadamente, a atitude violenta chamou a atenção dos esportistas em volta. Um deles apanhou o sabre do chão e arrancou o tênis.

Outro, e muitos mais, repetiram o gesto. Em seguida, sem nada nos pés, partiram para cima dos meganhas e os afugentaram com golpes de luta greco-romana.

Em poucas horas, a cidade inteira aderia ao protesto e não havia mais ninguém calçando tênis ou praticando esportes. Dias depois, o país inteiro faria o mesmo: inércia coletiva.

Agora, passadas algumas décadas, o longínquo rincão é um dos mais desenvolvidos do continente. Tudo graças à exportação em larga escala de bacon, molho rosé, marshmallow e cintas abdominais.

Sua bandeira, toda branca, tremula exibindo uma divisa em dourado: ”Liberdade, igualdade, inatividade”.

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Lygia

Vez em vez, e sempre aos domingos, converso longamente ao telefone com, a quem o saudoso Caio Fernando Abreu chamava de “fada-madrinha”. Ela é, sem erro, a primeira-dama da literatura brasileira, o equivalente, para nossas Letras, a Fernanda Montenegro.

Uma quanto a outra, diga-se logo, exemplares em sua simplicidade. Não foi de outro modo domingo passado, com a diferença de que colho os seus 86 anos (!) numa azáfama invejável: Lygia às voltas com a revisão de sua obra que está sendo reeditada pela Cia.das Letras. Aliás um dos grandes acontecimentos editoriais deste ano no Brasil. De Ciranda de Pedra, o romance com que estreou em 1954, ao Conspiração de Nuvens lançado recentemente. Em nossa conversa não poderia deixar de vir à tona a tragédia que a abalou profundamente: a precoce morte do único filho, o cineasta Goffredo Neto.

E o que me causou maior pasmo: Lygia Fagundes Telles, creiam, ainda sofre a morte da mãe, ocorrida há mais de quatro décadas! Lembramos Drummond: “(…)Mãe não morre nunca/ e o filho velho embora/ ao lado dela/para sempre/ pequenino feito um grão de milho.”

A partida, sem aviso, de Goffredo, diz a escritora que só não a enlouqueceu porque salvou-se, ainda outra vez, pela via da literatura. Escreveu o belo Conspiração de Nuvens, uma (doce) miscelânea que vai de relatos de viagem a inventivos contos que só a mão – e o coração – de Lygia Fagundes Telles alcançam escrever.

Uma pergunta cai como uma gargalhada (minha) pelo telégrafo sem fio da tarde de domingo: “Ainda não estou com voz de velha?” Claro que não, respondo de pronto. E como estaria se, aos 86 anos, em seu apartamento da Consolação, em São Paulo, com fôlego de menina, revê vírgulas e travessões, adjetivos e verbos, aspas e reticências? É que, ao longo do tempo, me explica, os revisores, no afã de arrumar o “inarrumável”, descaracterizaram trechos inteiros de seus livros…

Mas surpresa mesmo foi no meio da semana quando recebi, pelo Correio, alegria de passarinho!, o romance As Meninas, um dos pontos altos da bibliografia da escritora, na que ela considera a versão definitiva. E junto, nova alegria de passarinho, o DVD com o documentário Narrarte, sobre sua vida e obra, assinado por Goffredo Neto e Paloma Rocha, filha de Glauber e uma das “noras” eternas de Lygia.

Ainda no portão, viro e reviro o pequeno embrulho, a letra redonda de Lygia. Canta num galho o sabiá de inverno. Chove uma chuva fininha a umedecer a tarde e o tempo dentro dela. Lembro, lá longe,os olhos verdes de Lygia Fagundes Telles, então casada com Paulo Emílio Salles Gomes. Me chamava de cigano. Eu só tinha 20 anos e ela aí uns 46…

24|setembro|2009

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demoradas-dois

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Agora e na hora de nossa má sorte, amém!

Hesíodo não hesitou e disse na sua Teogonia: O caos foi o primeiro a existir. Mas acredito que o caos não era caos antes de ser nomeado pelo homem. E agora se pode dizer que tudo é caos. Pois, uma vez nomeado caos como o desencontro de todas as coisas da natureza, ele permanece. Ele, o desencontro, permanece. Estamos ainda confusos diante dos poderes da Natureza (com êne maiúsculo).

Até aonde vai a razão? Já deixamos de nos guiar pelos instintos animais? A natureza está acima do bem e do mal, disse o filósofo. Mas o homem é a natureza e não está acima do bem e do mal. Apenas os animais irracionais e os demais componentes sem vida o estão. O bem e o mal são essencialmente humanos. Embora apliquemos a todas as ações dos irracionais esses apelos. Chamamos o lobo de mau quando mata um simples cordeirinho. Um lobo simboliza o mal. Um cordeirinho simboliza o bem. O que tenta ordenar o caos é a linguagem do homem. Tentamos ordenar as plantas em famílias, os peixes em espécies, as pedras em componentes químicos, os astros em galáxias. Tudo para que o caos desapareça, mas é em vão. Para que o caos desaparecesse, teríamos todos que aprender tudo.

Todas as famílias de plantas, espécies de peixes, componentes químicos das pedras, todos os componentes do universo. A ignorância é a mãe do caos. A burrice é mãe da ignorância. Na placa da sortista, ela diz que lê a sorte nas cartas, nos búzios e na borra de café. Na placa ao lado, o psicólogo se anuncia. Na outra esquina, um luminoso diz que a mega sena está acumulada em dezenas de milhões. 

Spinoza, do alto do seu saber, pondera que ninguém despreza qualquer coisa que julgue ser boa, exceto na esperança de obter um bem maior. E vamos de cambulhada formando filas imensas nas lotéricas, logo depois de consultar a sortista que lê o futuro na micose dos pés. E, se nada der certo, vamos ao terapeuta que nos auxilia, segundo o jargão, a nos enxergar melhor na nossa confusão. Chaos chiaro-oscuro. 

*Rui Werneck de Capistrano é técnico em caos e regiões limítrofes.

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Nadia Serbinenko. © Zishy

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Cavalinho rachadinho

A PF fez perícia no cavalinho que Bolsonaro recebeu da Arábia Saudita, um daqueles itens contrabandeados pelo coronel Mauro Cid, o pau mandado de uniforme.

Era ouro de tolo, como o destinatário do mimo: 3% do metal nobre e o resto, cobre, o metal plebeu, não os cobres do pacote de R$ 16,5 milhões, que Mito/Micheque poderiam apurar no mercado paralelo para comprar mais uma mansão. O cavalinho vale R$ 24,8 mil na cotação real; um marreteiro de rua, desses que compram dente de ouro e anel roubados, pagaria no máximo R$ 50.

O cavalinho chegou à PF com três pernas arrancadas, a imagem do Mito nas eleições. O primo da cavalgadura ou aplicou-lhe os coices que costumava dispensar a jornalistas ou foi vítima de rachadinha pelo cúmplice. Em tal estado o presente de estado perdeu valor para o patrimônio público. Contrabandeado e avariado, agrava o peculato do Mito. Bobagem; na política roubar é humano.

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