Quando vem a taciturna e quebra os canos, a casa fica sem água; a taciturna destroça rosais, canteiros de gérberas e a Casa do esquecimento, onde a taciturna vive, exala um olor verde-mofo.
Para ele a taciturna verte a lágrima no escorpião; a taciturna sopra na pele; para ele ela enche os copos de sol; para ele ela murmura as sombras do amor.
Ele, da varanda da Casa do esquecimento, atira flechas em qualquer um: quem passa à frente da farmácia, flecha no ombro; quem sai da igreja dos Beneditinos, flecha na testa; quem entra no cartório, flecha nas costas; quem sai da lotérica, flecha no pé.
Ele ela: olho no olho, no frio, presos nas profundezas, somem de si para sempre.
Ele: – Escuto, o machado floresceu.
Ela: – Escuto, o local não é nomeável.
Ele: – Escuto, a chuva que a tudo observa cura o enforcado.
Natalia nasceu na Argentina mas mudou-se para o Brasil em 1992. Colaborou para muitas revistas e órgãos de imprensa e comunicação, entre elas a revista Carícia, Veja SP, Terra, Isto É Minas, Caros Amigos, Playboy. Em jornais ela colaborou com o Le Monde Diplomatique, Gazeta Mercantil. Também ilustrou a coluna de Gregório Duvivier no jornal Folha de São Paulo, entre os anos de 2013 e 2015.
Natalia tem a marca da solidariedade em todos os seus desenhos e ilustrações. Ela é militante do movimento árabe e palestino, tendo sido ativa participante do Comitê pelo Estado da Palestina entre 2011 e 2014. Participou de muitas mesas de debates sobre charges e cartuns políticos, em especial no Fórum Social Mundial Palestina Livre realizado na cidade de Porto Alegre no ano de 2012, em novembro, no mesmo período em que a ONU aceitou admitir a Palestina como seu Estado observador.
Em 2014, Natalia organizou a exposição MULHERES PALESTINAS, RESISTÊNCIA POR TRÁS DOS MUROS, em comemoração ao Dia da Mulher e ao Ano da Solidariedade com o Povo Palestino. . As obras selecionadas foram expostas no Salão de Honra do Legislativo da Cidade de Buenos Aires e no Museu de Humor Gráfico Diógenes Taborda, com patrocínio da Fundação Cultural Volpe Stessens.
Também em 2014, os cartunistas Rice Araujo, Natalia Forcat, Eugênio Neves, Márcio Baraldi e Bira Dantas criaram uma página no Facebook de apoio aos palestinos de Gaza. A página chamada CARTUNISTAS COM GAZA recebeu e publicou cartuns de vários artistas e se transformou numa exposição realizada no SESDUEM, Memorial Kimura e MUDI-UEM.
Lula vai passar uma semana dormindo na casa das emas, castigo de Janja, greve de sexo sob pretexto de dor nos quadris. Descartou “candidatas mulheres” (do noticiário ginasiano) em favor de candidatos homens ao TSE (a ortodoxia gramatical do gênero no discurso foi para as cucuies). As mulheres são amigas do PT, e os homens, amigos do presidente do TSE, ministro Alexandre de Moraes. A aura de feminista do presidente sofre um arranhão. Já seus ministros, incluso o hierarca petista baiano da Casa Civil, e ex-governadores-agora ministros, são feministas sanguíneos: “convencem” deputados estaduais a nomearem suas primeiras damas aos TCE de suas satrapias. A melhor sinecura entra no patrimonialismo das elites. Encaminhadas as mulheres, eles os maridos “funcionarão normalmente”.
Desafio quem me acuse de machista; a mulher de meu ex-primo, ex-prefeito de São João do Triunfo, com a competência de secretária de Serviços Sociais, seria nomeada ao tribunal de contas? Aquilo do Mateus, primeiro os teus, com as mulheres dos políticos virou Matias, primeiro as tias. Ninguém tasca nas aptas viragos conjas. Semana passada uma juíza cassou a nomeação da mulher do ex-governador-ora ministro Helder Barbalho para o TCE do Pará. Numa penada o desembargador superior anulou. A juíza, que brincou de poderosa, não será promovida por merecimento, se for, será desembargadora como juíza antiga. Falta-lhe do conseguinte de não ser casada com governador, nem com ministro de Lula. Lula faz a revolução de Lampedusa: é preciso que tudo mude para que tudo fique como sempre foi.
Nosso insopitável Dante Mendonça revelou aqui, já não sei mais em qual estação, que prescinde de calendário para saber se é inverno ou verão em Curitiba. Basta ver como este vosso escriba está paramentado – se de bermuda e tênis, é o estio; se de gorro e cachecol, eis que chegou o frio e, com ele, por suposto, o inverno.
Concordo integralmente com nosso cronista. Mas apenas porque o saudoso E.G.C. (Ernane Gomes Correia) não existe mais, pois, para mim, ao tempo em que as temperaturas curitibanas batiam em severos graus negativos, quem me fazia dispensar calendários era ele. Prorrompia em plena Boca Maldita, o pescoço protegido por um cachecol tão comprido, mas tão comprido, leitor, que, mais um pouco, lhe pisavam a franja os sapatões lustrosos. Tonitruava, a voz de um grave profundo:
“Tempo de pinhão, Bueninho!!! Tempo de vinho e pinhão!!!” O cachecol, claro, descia sobre a invariável capa de gabardine, esta também usada, creiam, nos ardentes janeiros. As unhas de Jamil Snege, enormes sempre, de pantera, roçavam o rosto do E.G.C. Jamais esquecerei as mãos de Snege, roxas de frio. Ainda assim nosso genial escritor não perdia a deixa, e inquietava o pobre Ernane, a se auto-proclamar a Turca Louca da Antártida. A voz de E.G.C. trincava os espelhos do Café Avenida: “Ah, esse Turco! Esse Turco tem cada uma!…”
O volumoso exemplar do Estadão debaixo do braço, desguiava, o cachecol bordô a dançar sob a neblina fria. E enfiava-se no primeiro cinema.
Amo os invernos de Curitiba, assim como a memória do seu frio. Os fogões à lenha, nas casas polacas, recendiam a um perfume que, proustianamente me revisita, aqui e agora, neste insensato início de novo milênio.
À parte o cheiro bom da bracatinga queimando, lembro os “pães-bundas” tostados com banha de porco nas chapas. Ou a broa caseira assada nos fornos construídos a tijolo no fundo dos quintais. Polacos não há mais, a não ser alguns fiéis descendentes, como nosso Thadeu Wojciechowski, poeta de estirpe e que segue levando acesa a chama. Mas se estamos faltos de polacos originais, o inverno é quase o mesmo. Digo “quase” porque os frios da Curitiba de minha infância não se repetirão jamais.
Como reaver, face ao tempo voraz, as “ômamas” que era como a gente chamava as avós eslavas, com seus aventais de florinhas, encardidos na beira das pias e dos fogões? Como reconquistar, senão pela via da memória, essa deusa ambígua, as casinhas de madeira da Saldanha Marinho, esquina com Visconde de Nácar, com suas chaminés a elevarem ao céu cinza, o cinza ainda mais cinza da fumaça dos fogões?
O que há é o novo inverno e este vosso escriba, velho Dante, a vestir o mesmo terno. O que é uma rima mas não é uma solução.
Vemos o avanço de ditaduras plebiscitárias, como Rússia e Hungria, e o crescimento irresistível do modelo chinês.
Quando Bolsonaro foi eleito, surgiu por aqui uma fornada de livros sobre a decadência da democracia e a ascensão do autoritarismo em várias partes do mundo. “Como as democracias morrem”, “O povo contra a democracia”, os novos títulos se sucediam, e havia neles alguns pontos convergentes. A globalização deixou muita gente para trás, criando ressentimentos. A confiança nas elites políticas se esvaiu diante de líderes preocupados com seu próprio interesse, de costas para a sociedade.
Neste momento, no Brasil, a democracia está próxima de receber um ataque que a enfraquecerá ainda mais. Trata-se de um projeto que anistia as transgressões dos partidos não só quanto ao respeito às cotas minoritárias, mas também quanto à prestação de contas de milhões de reais gastos: compra de avião, toneladas de carne e outras despesas extravagantes.
Os partidos criam regras e as transgridem. O TSE decide puni-los, e eles criam mais uma lei de anistia para suas próprias transgressões. Eles se dotam, simultaneamente, do poder de regular e de perdoar, incluindo no perdão gastos com o fundo eleitoral. Só com as eleições, os partidos em 2022 consumiram R$ 4,9 bilhões. O fundo partidário distribuiu um pouco mais de R$ 1 bilhão.
Interessante observar que a manobra da anistia envolve quase todos os partidos, deixando de fora apenas a coligação Rede–PSOL e o Partido Novo. A mais importante consequência de uma medida como essa é o abismo que se forma entre política e opinião pública, deixando o caminho aberto para oportunistas que eventualmente queiram inventar uma nova política.
O caminho econômico, além de difícil, não é o único. Não há sinais de que as elites políticas brasileiras tenham entendido a mensagem de 2018 e ignorem que soluções autoritárias continuam sendo atraentes à medida que se aprofunda a desilusão com a democracia.
Bolsonaro fez isso em 2018. A “nova política” se desmoralizou com a introdução do orçamento secreto. Os bolsonaristas agrupados no PL apoiam a anistia, logo não teriam condições de se diferenciar num futuro próximo. Mas a existência do abismo é um convite à aventura, e ela não tem de ser vivida necessariamente pelos mesmos personagens.
Num livro recente chamado “A crise do capitalismo democrático”, o jornalista Martin Wolf analisa não somente a globalização e suas lacunas, mas, apesar de sua ênfase na economia, destaca também a questão política. Assim como todos os outros autores, Wolf está longe do otimismo com o futuro da democracia, ressaltado num célebre ensaio de Francis Fukuyama, “O fim da História”.
Ninguém mais acredita que a democracia é para sempre, e muitos duvidam de sua capacidade de encarar as reformas necessárias para sobreviver. O que vemos no mundo é o avanço de ditaduras plebiscitárias, como na Rússia ou na Hungria, e o crescimento irresistível do modelo autoritário chinês.
Como jornalista econômico, Wolf ressalta que está na própria economia a explicação para a fragilidade democrática. Mas não deixa de avançar noutros pontos essenciais:
— Nem a política nem a economia funcionarão sem um substancial nível de honestidade, confiança, autocontenção e lealdade às instituições. Na ausência desses fatores, um ciclo de descrédito corroerá as relações políticas, sociais e econômicas.
Concordo com a ideia de que nenhum sistema político consegue sobreviver sem a prevalência de normas fundamentais de comportamento. Essa ideia, aplicada ao Brasil, mostra que a luta pela democracia está perdida em alguns fundamentos. Melhorar a economia é essencial. Wolf reconhece que as pessoas querem estabilidade e prosperidade para si e para os filhos. Na ausência disso, tornam-se ressentidas.
Há poucos sinais de que as elites políticas tenham aprendido as lições de 2018, não aparece nelas um simples núcleo destinado a salvá-las de suas próprias tendências à autodestruição. Digo autodestruição num contexto democrático; os piores vão sempre se adaptar aos regimes autoritários. Por enquanto, estamos apenas esperando o ataque que virá na forma de anistia.
Serviço controla a vida de cidadãos brasileiros dentro e fora do país
Concebido pelo general Golbery do Couto e Silva, o Serviço Nacional de Informações (SNI) é criado pela Lei nº 4.341 com a finalidade de assessorar o presidente da República e o Conselho de Segurança Nacional. O SNI se tornou o principal órgão de espionagem da ditadura e peça-chave do Sistema Nacional de Informações (Sisni).
O SNI articulava-se com os ministérios militares, que tinham seus próprios serviços de informação – o Cenimar (Marinha) e, mais tarde, o CIE (Exército) e o Cisa (Aeronáutica) –, a Polícia Federal, os Dops estaduais e os serviços secretos das polícias militares, ocupando o centro da malha da chamada “comunidade de informações”. Nos ministérios civis, em empresas públicas e estatais, foram instaladas as Assessorias de Segurança e Informação (ASIs), que eram braços do sistema responsáveis pela vigilância política de funcionários e mesmo de ministros.
O SNI monitorou atividades dos cidadãos dentro e fora do Brasil. Os agentes do “Serviço”, como o SNI era chamado, operavam nas embaixadas do país por meio do Centro de Informações do Exterior (CIEx), criado em 1966 dentro do Itamaraty. Em pouco tempo, o SNI tornou-se uma vasta teia de espionagem, intrigas políticas e negócios ilegais, a ponto de se atribuir ao general Golbery a frase “Criamos um monstro”, quando o regime militar estava nos seus estertores.
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