Disha Yudina. © Zishy

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Nelson Mandela

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Jornal Voz do Paraná, sob direção de Aroldo Murá|1978. Bico-de-pena sobre papel|A3

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Tutti-Frtutti

“Eu não poria a mão no fogo por mim”.

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Meninos, eu vi

Alexandra, 23 anos, é uma estudante de inglês em Liubliana, Eslovênia. Parece pouco motivada para estudar e mais disposta a ganhar dinheiro para ter uma vida melhor. Ninguém sabe que Alexandra publica anúncios pessoais sob a alcunha de “A Garota Eslovena” e que a prostituição é a sua fonte secreta de renda. “Slovenka” logo se torna bastante famosa nos tablóides, o que torna ainda mais difícil para Alexandra continuar mentindo para os amigos e especialmente para o pai afetuoso e sincero.

Título Original: Slovenka. Ano de Lançamento: 2009. Direção de Damjan Kozole. País de Produção: Alemanha/Bósnia-Herzegovina/Eslovênia. Idioma: Esloveno/Inglês.Duração: 91 min. O filme foge completamente da narrativa previsível do cinema. A Garota Eslovena é surpreendente.

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Carnaval 1981. Decoração da Rua Marechal Deodoro, tema Etnias, do cartunista que vos digita  e do arquiteto Fernando Popp. © Alberto Melo Viana

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Os FDP de nosso Nixon

All great men need a son of a bitch. I’m Nixon’s son of a bitch” – de H. R. Haldeman, aliado fiel de Richard Nixon e seu chefe de gabinete na Casa Branca. HR, Harry Robbins, foi o mais eficiente SOB, o filho da puta de que Nixon precisava, daí sua decisiva participação no encobrimento do Caso Watergate, a operação coordenada de dentro da Casa Branca para fraudar na reeleição de Richard Nixon. Pelaconspiração, Haldeman foi condenado e cumpriu pena com outros importantes assessores do presidente, all the president’s men, título do livro-reportagem de Carl Bernstein e Bob Woodward, os dois repórteres do Washington Post que desvendaram o escândalo.

Condenado em impeachment, Nixon escapou da cadeia pelo perdão concedido por seu vice Gerald Ford, a quem escolheu quando seu vice Spyro Agnew renunciou em escândalo de corrupção. O perdão pesou decisivo na derrota de Ford à sucessão de Nixon. Ainda que também patife, Bolsonaro não teve a visão e o tino político de Nixon, o presidente dos EUA que tirou a China do ostracismo internacional. Bolsonaro, como Nixon, vivia cercado de filhos da puta, seus sons of bitches, entre eles um gêmeo, twin brother de Haldeman, o coronel Mauro Cid. Haldeman não delatou seu mestre, cumpriu pena e voltou à profissão de origem. Mauro Cid reluta em dedar, fiel aos anéis sauditas.

Dos SOB de Bolsonaro um só está condenado: Daniel Silveira, mais por ofender ministros do STF que por defender o chefe e úmplice. Ainda fica nisso; os demais na imunidade, como a maga patológica senadora, e os deputados, como o general-cúmplice do morticínio da Saúde, o destruidor do Ambiente e o inimigo da Cultura – este, como o procurador nazista que sacava sua Browning à simples menção de Cultura, a sobraçar fuzil após lamber as botas do 03 da estirpe genocida. Os que tentaram fraudar a eleição, que mataram por omissão de socorro e dever funcional na distribuição de vacinas, peculatários da comida dos índios, estão livres, calados fieis na omertà ao capo genocida.

E assim permanecerão, o punir esgotou-se na fantasia utilitária e na ambição cega do juiz e do procurador da República que elegeram Jair Bolsonaro. Juiz e procurador hoje desmancham no ar – resta-lhes a esperança dos da Lava Jato, que derrubaram as portas do sepulcro e acabaram santificados pelo STF. Em dois anos tudo será esquecimento. Os bandidos de Bolsonaro ainda embarcam num titanic de Lula, senhor da conciliação, que uma vez fez campanha para eleger Fernando Collor senador, a quem chamou de injustiçado no impeachment, no utilitário e indigno esquecimento da infâmia daquele que o acusou de ter proposto à namorada o aborto da filha de ambos.

Normal, no Brasil: o líder comunista Luís Carlos Prestes subiu ao palanque para eleger Getúlio Vargas presidente, obediente às ordens de Stálin, que obrigava pelo Comintern os partidos que financiava a apoiar quem afrontasse os EUA na Guerra Fria. Prestes sufocou a lembrança de que a ditadura de Getúlio o havia torturado e mantido preso debaixo de escada – Sobral Pinto, seu advogado, invocou em sua defesa a Lei de Proteção aos Animais. Em favor de Getúlio – que fez de conta não tê-lo visto no palanque (cf. as biografias de J. Lira Neto e Aarão Leis – Prestes sufocou dor pior, a de ver a mulher grávida deportada por Vargas para morrer em campo de concentração nazista.

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Faça propaganda e não reclame!

Rir é o melhor placebo.

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Fortuna

Reginaldo José de Azevedo Fortuna nasceu em São Luís, Maranhão, no dia 21 de agosto de 1931. Considerado um dos maiores cartunistas do Brasil, ainda criança conheceu o semanário A Manhã, sendo uma de suas publicações favoritas.

Mudou-se com sua mãe para o Rio de Janeiro após perder o pai, aos 14 anos. Seus primeiros trabalhos na imprensa foram publicados no final da década de 40 na revista infantil do Sesi, Sesinho, A Cigarra e Revista da Semana.

No final da década de 50 o estilo inconfundível de Fortuna apareceria nas belíssimas páginas da revista Senhor. Em 1964, às vésperas do golpe militar e em parceria com Millôr Fernandes, Ziraldo, Jaguar, Claudius, Sérgio Porto, lançam o quinzenário colorido O Pif-Paf, publicação que sobreviveu até o oitavo número e serviu de base para o mais importante jornal de oposição à ditadura, O Pasquim. Nessa época também foi chargista no jornal carioca Correio da Manhã.

Quando o Correio da Manhã foi extinto no final dos anos 60, eis que surge O Pasquim, produzido por Fortuna, Tarso de Castro, Millôr Fernandes, Ziraldo, Paulo Francis, Luis Carlos Maciel, o novato Henfil e dezenas de outros colaboradores.

No início dos anos 70 Fortuna mudou-se para São Paulo e assumiu o posto de diretor de redação da revista Cláudia, onde passou a dar conselhos às leitoras sob o pseudônimo Ana Maria. Em seguida tornou-se editor de arte e capista da (revista) Veja, onde ficou até 1975. Nesta mesma época em contato Luiz Gê, Paulo e Chico Caruso, Laerte, Cláudio Paiva e Nani, lançam o quadrinho O Bicho e surge com a personagem

Madame e seu bicho muito louco.

Em 77 Fortuna vai para A Folha de São Paulo fundar com Tarso de Castro o suplemento Folhetim, uma espécie de pasquim encartado no próprio jornal. A partir daí inicia uma nova fase como chargista editorial. Fortuna saiu da Folha em 84, logo depois da campanha das Diretas, e ficou um longo tempo fora da grande imprensa, retornando com charges semanais para a Gazeta Mercantil.

Foi considerado um dos 100 melhores cartunistas do mundo em 1977 pela Casa do Humor e Sátira de Gabrovo, da Bulgária. Fortuna morreu aos 63 anos de um fulminante ataque cardíaco, no dia 5 de setembro de 1994, em São Paulo.

***

Grande Fortuna, craque do traço e caráter boníssimo. Em sua arte, experimentava as mais incríveis técnicas. Palito de fósforo, em vez de pena, por exemplo. Traço original, inconfundível. Texto conciso, sem enfeites. Saudade do grande Fortuna. (Dodó Macedo)

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Pikachu grita ‘PICA, PICA, PICA’ sem parar

Já me imaginava rica de tanto vender dobraduras do personagem

Minha filha pediu de presente um boneco Pikachu que fala. O boneco grita “PICA, PICA, PICA” sem parar. É isso mesmo? Segundo a atendente Selma, da Ri Happy, a maldade estava apenas na minha cabeça.

Libertinagens à parte, minha mente também é cheia de culpa e desassossego. Então tive a esdrúxula ideia de trocar o Pikachu da televisão (“chega de telas, vá brincar!”) por vídeos do YouTube que ensinam a fazer dobraduras de Pikachu. Foi quando tudo começou.

Primeiro, é importante que o leitor entenda que eu odeio fazer qualquer coisa na vida que não seja dormir, vilipendiar desafetos em crônicas ou trabalhar no meu livro. Dobradura, na escala Richter das minhas exasperações, tinha tudo para abalar de forma recorde o meu sistema nervoso. Mas, antes de ser aborrecida, sou, sobretudo, obsessiva.

Fiz o primeiro “Pikachu dobradura fácil” e fiquei maravilhada com minha aptidão. Minha filha segurou aquele pequeno papel amarelo todo amassado, acarinhou os olhos esbugalhados feitos com canetinha preta e me escalou com afetos ansiosos como se eu fosse um tobogã de chocolate. “Oto, mamãe, oto!”

Parti para o “Pikachu dobradura” (sem colocar “fácil” no título) e suei mais do que no spinning –que fiz uma única vez há 14 anos e fui parar na enfermaria da academia. Ao final, Rita já estava certa de que eu era o mais genial, habilidoso e apaixonante dos seres. O amor de um filho, esses olhos que te veneram e têm exatamente a mesma cor dos seus olhos e que, por sua vez, são da exata cor dos olhos do seu pai.

Isso aí, minha gente, é um troço doido e forte demais. A íris pura e vibrante de um filho que acabou de descobrir que você é o máximo é a única cura possível, é como se a tal luz no fim do túnel fosse tão real e vigorosa que pudesse iluminar todo o corredor de escuridão de uma ancestralidade pautada por parentes cínicos que passaram a vida dizendo que você não ia dar em nada.

Nem deu tempo de ela pedir e eu já estava digitando “Pikachu dobradura 3-D passo a passo” no Google. Ninguém ia me parar.

Coloquei óculos de leitura, prendi os cabelos, comecei a arrancar pelinhas de lábio com os dentes, enchi um copo com guaraná Wewi e gelo. Eu não estava mais para brincadeira. Rita pedia: “Posso fazer os olhinhos, mamãe?”. Mas a minha voz robótica de insana assertividade, que aparece quando estou megalomaníaca com o sucesso (“será que vou vender dobraduras de Pikachu para o mundo todo e ficar rica?”), lhe respondeu seca e firme que “não”. E disse mais: eu precisava da mesa limpa e de silêncio. Rita, entediadíssima, foi ver televisão.

Ao fim de uma vitória esmagadora trazendo à vida o mais bonito Pikachu de origami 3-D que fica em pé, mexe a cabeça e solta raios, a internet me ofereceu a luta derradeira: o “Pikachu inflável 3-D origami tutorial passo a passo você consegue”.

Eram dez e meia da noite e Rita já tinha dormido na sala. A Netflix já aporrinhava com aquela pergunta invasiva: “Você quer mesmo continuar ou capotou e está babando na almofada?”. Mas espera. Que Rita? Ah, sim, essa criança que mora comigo. Encontrei uma Kalunga aberta, chamei um Uber Flash moto. O livro “A Arte dos Mestres” e cinco pacotes com papéis coloridos de origami especial já estavam subindo pelo elevador. Ninguém ia me parar.

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Árvore centenária no meio da Rua Mathias Furh, em Toledo, PR.

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Vale a pena ver de novo

216 palavras para a imprensa definir com precisão Bolsonaro e seu governo

Todo dia a imprensa e os jornalistas fazem um esforço hercúleo para qualificar o governo do capitão Jair Messias Bolsonaro, permanentemente assediado pelas sandices do que diz e pelos absurdos do que faz na cadeira de presidente da República.

Pelo conjunto da obra, até agora, Bolsonaro pode ser considerado o chefe de Estado mais esdrúxulo entre as 206 nações hoje existentes no planeta, segundo as Nações Unidas, que considera 190 Estados soberanos e outros dezesseis ainda em disputa. No plano brasileiro, desde a proclamação da República, em 1889, Bolsonaro é com certeza o mais controverso, polêmico e contestado ocupante da Presidência. Por tudo isso, em pouco mais de seis meses de mandato, o capitão pode ser qualificado com justiça como o pior dos 38 presidentes da história republicana.

Com seu inesgotável e diário talento vocabular para produzir absurdos, espancar a verdade histórica e aturdir a consciência do país, Bolsonaro faz jus a um, alguns ou vários dos adjetivos abaixo, que a imprensa escava para tentar definir, sob variadas circunstâncias, esse bizarro momento da história brasileira. Conferindo:

Ignorante, burro, idiota, imbecil, retardado, analfabeto, boçal, bronco, estúpido, iletrado, ignaro, ilegível, obscuro, sombrio, onagro, atrasado, inculto, obsoleto, retrógrado, beócio, rude.

Besta, animal, cavalgadura, quadrúpede, tolo, alarve, grosseiro, jalofo, lorpa, desajeitado, peco, tapado, teimoso, chucro, intratável, desalumiado, escuro, asnático, brutal, bruto, bugre.

Desaforado, descortês, duro, estólido, inepto, lambão, obtuso, palerma, sandeu, selvagem, toupeira, cavo, incapaz, insensato, incompetente, imperito, impróprio, inapto, inábil, insuficiente.

Abagualado, bárbaro, labrusco, sáfaro, insciente, inepto, insipiente, imprudente, leigo, alheio, estranho, profano, estulto, fátuo, mentecapto, pateta, toleirão, írrito, vão, oco, chocho.

Frívolo, fútil, vazio, definhado, enfezado, frustrado, abeutalhado, agreste, áspero, chambão, cavalar, desabrido, difícil, escabroso, fragoso, incivil, inclemente, indelicado, inóspito, pesado.

Roto, ríspido, rombudo, severo, silvestre, tacanho, tosco, covarde, poltrão, safado, baldo, infundado, mentido, nugativo, supervacâneo, curto, bordegão, asinário, bordalengo, calino.

Indouto, sinistro, arrogante, desinformado, alvar, atoleimado, estúpido, boçal, bronco, animal, disparatado, rude, azêmola, desajeitado, lanzudo, brutal, asselvajado, bestial, protervo.

Selvagem, truculento, violento, chulo, irracional, javardo, malcriado, desaforado, atrevido, insolente, descortês, inconveniente, indelicado, intratável, confragoso, cru, cruel, despiedado.

Difícil, implacável, penoso, tirano, triste, estólido, estouvado, néscio, abarroado, abrutalhado, achamboado achavascado, bárbaro, chaboqueiro, crasso, desabrido, grosso, labrego.

Maleducado, reles, rugoso, rústico, soez, tarimbeiro, abestalhado, aluado, babão, bobalhão, bobo, bocó, demente, descerebrado, desequilibrado, desmiolado, lerdaço, paspalhão, pastranho.

Sendeiro, toupeira, vão, bestialógico, insociável, mal-humorado, ranzinza, soberbo, panema, embotado, escabroso, inclemente, carniceiro, safado, entupido, obducto, boto, agro, balordo.

Todo santo dia, a língua solta e a cabeça mole do capitão-presidente renovam a necessidade de escavar novos adjetivos para definir sua inqualificável obra de governo.

Só com a ajuda de nossos principais dicionários, Aurélio e Houaiss, é possível dar uma ideia aproximada do que representa, até agora, a desastrada administração federal de Bolsonaro e seus maus exemplos, como a estúpida agressão ao presidente da OAB e sua condenável impostura histórica sobre o desaparecimento de um preso político tragado pela violência da ditadura que o capitão-presidente sempre exalta e rememora com cúmplice nostalgia.

Os 216 adjetivos e vocábulos acima, para uma ou outra circunstância, qualificam (ou desqualificam) com mais precisão o governo Bolsonaro.

Para avaliar os seus três filhos Zero — Flávio, Eduardo e Carlos —, de inegável influência sobre o pensamento (?) e os atos (!) do pai presidente, é necessária outra pesquisa nos dicionários.

*** Luiz Cláudio Cunha, jornalista, foi consultor da Comissão Nacional da Verdade e é autor de Operação Condor: o sequestro dos uruguaios – uma reportagem dos tempos da ditadura (L&PM, 2008).

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Mural da História

3 de setembro|2008

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Vício digital

A Internet tanto ajuda quanto atrapalha um escritor. É como ter na mesa ao lado, no escritório, uma secretária eficientíssima, que faz tudo e sabe tudo, mas insiste em trabalhar usando fio dental. Toda vez que o sujeito faz um ponto/parágrafo, vem a precisão de dar uma olhada. E se chegou a resposta àquele email ansioso que mandei ontem para a editora? E se alguém tiver postado algo interessante no Facebook? E se no Twitter tiver acabado de aparecer um link que vai me dar de bandeja o tema da coluna de amanhã? E se o saite da CNN tiver uma revelação bombástica sobre a campanha presidencial nos EUA? E se alguém tiver postado um comentário interessante no meu Blog? Por falar nisso, quantos acessos o blog teve hoje?

Muitos escritores experimentam isto de 10 em 10 minutos enquanto escrevem. Um artigo no The Telegraph me faz compartilhar o calvário de alguns escritores ingleses contemporâneos, que, pasmem, chegam a instalar no computador programas destinados a atrapalhar seu acesso à Internet enquanto escrevem. Zadie Smith (“White Teeth”) usa dois programas, chamados Freedom (também utilizado por Nick Hornby, Dave Eggers e Naomi Klein) e Self-Control.

Quem melhor explica isso é Ned Beauman (“The Teleportation Accident”), nascido em 1985 e totalmente integrado no redemoinho eletrônico. “Eu uso K9, um aplicativo que bloqueia certas páginas em alguns websaites”, diz ele, “e uso um bloqueador de anúncios para bloquear a seção de comentários nos saites. Quando estou trabalhando uso Nanny, aplicativo do Google Chrome, e uso SelfControl para bloquear alguns outros saites”. Quais? Ele responde: “Virtualmente todos os saites de jornais, revistas, blogs e o Twitter”.

Está cada vez mais fácil baixar um aplicativo para amordaçar o computador do que simplesmente adquirir o autodomínio necessário para trabalhar cinco ou seis horas sem abrir um navegador. Cinco ou seis horas? Estou sendo utópico. Não me lembro a última vez em que trabalhei duas horas seguidas sem dar um pulo nos usuais suspeitos (email, Facebook, Twitter, Wikipedia, Terra, CNN, StereoMood, Mundo Fantasmo).

Que trauma será esse? Falta de vergonha, diria Seu Lunga, e o inglês Will Self, nascido em 1961, afirma: “Internet não tem nada a ver com a escrita de ficção, que é a expressão de verdades que só são obtidas através da observação e introspecção. É um instrumento incrível e seria idiotice não usá-lo, mas é uma coisa que atrapalha a escrita propriamente dita”. Não custa nada fechar todas as janelas, deixar aberto somente o Word, e dizer: “Só conecto de novo daqui a 3 horas, e durante 30 minutos”. Se não conseguir… é falta de vergonha mesmo.

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