Sempre Millôr

“Millôr Fernandes nasceu. Todo o seu aprendizado, desde a mais remota infância. Só aos 13 anos de idade, partindo de onde estava. E também mais tarde, já homem formado. No jornalismo e nas artes gráficas, especialmente. Sempre, porém, recusou-se, ou como se diz por aí. Contudo, no campo teatral, tanto então quanto agora. Sem a menor sombra de dúvida. Em todos seus livros publicados vê-se a mesma tendência. Nunca, porém diante de reprimidos. De 78 a 89, janeiro a fevereiro. De frente ou de perfil, como percebeu assim que terminou seu curso secundário.

Quando o conheceu em Lisboa, o ditador Salazar, o que não significa absolutamente nada. Um dia, depois de um longo programa de televisão, foi exatamente o contrário. Amigos e mesmo pessoas remotamente interessadas – sem temor nenhum. Onde e como, mas talvez, talvez — Millôr, porém, nunca. Isso para não falar em termos públicos. Mas, ao ser premiado, disse logo bem alto – e realmente não falou em vão. Entre todos os tradutores brasileiros. Como ninguém ignora. De resto, sempre, até o Dia a Dia”.

“Currículo” publicado por Millôr quando de sua estréia no jornal “O Dia”, Rio (RJ).

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Tutti-Frutti

“Nenhum político se atreverá a comparecer ao meu velório, uma vez que nunca compareci ao palanque de nenhum deles e me levantaria do caixão para vaiá-los”

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Ciúme de você

Mais do que a oposição, no PT há quem esteja preocupado —e com ciúme, principalmente— com o protagonismo do ministro da Justiça, Flávio Dino, nas convocações feitas pelas comissões da Câmara. Tanto que a oposição vai dar um tempo de convocá-lo, e alguns petistas agradecem.

Já houve aliado chamando atenção de Lula para as diferenças de Dino e seu antigo ministro da Justiça, Marcio Thomaz Bastos. Um era discreto; outro é expansivo. Um, dado ao bastidor; outro, ao embate. O presidente, porém, não entendeu a intriga, ou fez-se de desentendido: elogiou a conexão de Dino com os novos tempos, referindo-se às redes sociais. Mas o que o intrigueiro queria mesmo era que Lula reclamasse.

A preocupação de petistas é que Dino se torne mais pop que gente da legenda e, em 2026, seja o nome mais popular do campo à esquerda para a disputa presidencial.

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Fraga

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Como tornar-se invisível em Curitiba

Você pode começar treinando numa dessas manhãs de muita neblina, à margem de um lago ou num bairro bem afastado do centro da cidade. Pode optar por uma rua deserta, no começo da noite ou numa véspera de feriado. Pode vestir um uniforme camuflado ou levar o seu “personal trainer” a tiracolo, pouco importa.  Esteja você com a síndrome do pânico ou com o coração amargurado, existe um método muito mais eficiente para tornar-se invisível em Curitiba do que essas deambulações (sic) pelos ermos da cidade. Embora não esteja ao alcance de todos, convém conhecê-lo, já que é absolutamente infalível e seus resultados surpreendentes.

Primeira condição: você precisa ter talento genuíno. Estudar bastante também ajuda, mas não substitui aquele toque de gênio inconfundível que marca e distingue certas pessoas desde o berço. Pois bem. De posse desse talento que Deus lhe deu – e contra a falta de estímulo da família, do meio e particularmente da própria cidade – você deve se atirar de corpo e alma na consecução de seu destino. Guiado unicamente pelo seu daimon, pelo seu anjo tutelar, você dará início à construção de sua lenda pessoal e dos projetos que dela advirão. Você estará, finalmente, a caminho de tornar-se invisível.

Cada conquista, cada livro publicado, cada poema, escultura ou canção, cada tela, espetáculo, disco, filme ou fotografia, cada intervenção bem sucedida no esporte, no direito ou na medicina, cada vez que alguém, lá fora, reconhecer com isenção de ânimo que você está produzindo obra ou feito significativo – o seu grau de invisibilidade aumenta em Curitiba. E é muito fácil perceber isso. Primeiro, não faltarão pessoas tentando dissuadi-lo de seu próprio talento. Tudo farão para reconduzi-lo de volta à mediania, ou melhor, à mediocracia, que é o sistema vigente nesse estrato a que denominamos cultura. Se você resistir, tentarão cooptá-lo com promessas de nomeações ou ofertas de emprego em atividades sucedâneas. Se você é um belo projeto de escritor, alguém tentará convencê-lo de que é melhor, mais lucrativo, ser um redator de propaganda.

Se você é jovem e promissor cirurgião plástico, com projetos de especialização no exterior, não faltará quem o convide para sócio de uma dessas empresinhas de medicina privada lá onde o diabo perdeu as botas. Se mesmo assim você se mantiver fiel ao seu daimon, à sua lenda pessoal e não arredar pé de seu destino, a invisibilidade torna-se então um processo irreversível.

Os amigos mais chegados são os primeiros a acusar falhas em seus sistemas de radar quando o objeto a ser captado é você ou algo que lhe diz respeito. Os convites tornam-se mais escassos, o telefone já não toca como antigamente; e mencionar seu nome ou seus feitos, nas reuniões para as quais você não foi convidado, passará (sic) a ser tomado como um gesto de imperdoável traição ao grupo. Desse momento em diante, só os inimigos falarão de você. Falarão mal, obviamente.

E o mais curioso: à maioria desses “inimigos”, a noventa por cento deles, você jamais falou, jamais sequer foi apresentado. Os amigos a gente escolhe, os inimigos escolhem-se a si próprios. Esta talvez seja a parte mais cruel (ou mais irônica) da história. A sua visibilidade, enquanto pessoa, transfere-se para a imagem que os outros fazem de você. Pois é ela, a sua imagem, que circula e passa a frequentar os lugares para os quais você já não é solicitado. Não é mais você em pessoa – carne, sistema nervoso, personalidade, alma –, que se oferece à percepção do outro, mas uma espécie de correlato simbólico impregnado de tudo o que os outros lhe atribuem.

Para encurtar: vale a pena manter-se fiel ao seu daimon e cumprir com resignação cada etapa de sua lenda pessoal? Acho que sim. Curitiba está cheia de pessoas invisíveis.

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Bolsa-palavra

Entre a terra de Utopia e a ilha da Fantasia, se encontra a península de Ironia. Ela avança sobre o mar de Ignorância, onde ondas de sandices vêm bater nos rochedos debochados. Esse choque produz uma maresia carregada de não se sabe quais nutrientes, que se depositam sabe-se lá como nas planícies irônicas. O resultado dessa luta do rochedo contra o mar não é um samba-enredo mas uma verdejante horta nas regiões irrigadas pelas gotículas desinstruídas do Oceano Analfabético.

O resultado é que em Ironia não falta comida. Ao contrário, a fartura é tanta, as safras descomunais, que as autoridades priorizam o abastecimento, em detrimento da educação. O resultado é que, em vez de escolas, Ironia tem redes oficiais de restaurantes e lancherias. E o povo é obrigado a freqüentá-las.

Assim, o ano-letivo se passa não por entre classes e sim em meio a mesas e fogões. O corpo docente é formado por cozinheiras e mestres-cucas, e o reitor da universidade é um gourmet – todos, vai se ver, autodidatas. E o currículo é feito de noções culinárias e nutricionais. O que se ensina em Ironia é como se saciar, como engordar. O que se aprende é como dar conta da produção hortifrutigranjeira. Tão ocupados ficam nisso que não há tempo nem pro abc. O resultado é que, nessa terra em que até sem plantar tudo dá, o povo é fofinho e corado mas padece de anemia vocabular e há surtos constantes de discordância verbal.

Por isso o irônico governo instituiu o programa Bolsa-Palavra, para atender aos desassistidos intelectualmente. Isto é, todos. O Bolsa-Palavra contempla a população em idade escolar, desde que as famílias comprovem que não faltam às refeições diárias. O que é controlado em pesagens nos postos de distribuição. É que quanto mais nutridos, mais palavras recebem. Daí as tentativas de fraude: é comum alunos com nabos e pepinos nos bolsos diante da balança. Gramas por fonemas, pretende o golpe da criançada ávida  por polissílabos.

Cada Bolsa-Palavra vem com porções básicas de vocabulário, que devem prover os índices mínimos requeridos pela OMS, a Organização Mundial de Sílabas. Mas como em Ironia é escassa a boa expressão, o programa apresenta falhas: palavras com grafia errada, pronúncia incorreta, falta de acentuação. Também se aponta desvio de verbos, que vão, justamente, para a alta cúpula dos comensais administrativos. O resultado é que o Bolsa-Palavra continua ironizado.

(*Texto originalmente publicado no jornal Extra Classe)

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Curitibantiga

hilárioArmazém Hilário, esquina da Rua Mateus Leme com Xavier da Silva, Curitiba, década de 1970.

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jan-saudek

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O bom e o mau ladrão

Deltan Dallagnol e Sérgio Moro participaram da Marcha para Jesus.

As últimas palavras de Jesus na cruz foram: “Perdoai-os, Pai, que eles não sabem o que fazem”. Moro e Dallagnol fazem demagogia e pecam na marcha e com Jesus assumindo-se, um como crucificado atual e outro como crucificado futuro. Moro e Dallagnol fingem não saber que nas cruzes vizinhas à do Salvador estavam são Dimas e Gestas, o bom ladrão e o mau ladrão.

Quem eram Dimas e Gestas na marcha? O velho Moro diria ser o Pai e  Dallagnol o filho crucificado, nada de Dimas, nada de Gestas. Mas Jesus não mentia, não denunciava como Judas nem condenava como fariseu da Lava Jato. Em prisão preventiva perpétua, Moro confessaria ser o bom e Dallagnol o mau ladrão. De novo injusto, agora com o Pai, o Filho, Dallagnol e os ladrões.

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Freud explica

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Para sempre

Fernanda Young – 1970|2019

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Robert Crumb

Janis Joplin|Cheap Thrills-Big Brother and The Holding Company. Columbia, 1968. Desenho de Robert Crumb. Ele afirma no documentário “Robert Crumb” que cobrou 300 dólares pelo desenho, e depois, foi vendido por uma fortuna.

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Mural da História

discurso-lula2 de março|2010

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