Com Bad Roads (Plokhiye dorogi), a roteirista e diretora ucraniana Natalya Vorozhbit adapta sua própria peça documental que foi encenada no Royal Court Theatre em Londres em 2017. As linhas de frente exploradas por Vorozhbit são mais psicológicas do que literais. Colocando cidadãos comuns que de repente se encontram em circunstâncias extraordinárias sob um microscópio, ela mostra como as mulheres suportam o peso da brutalidade da guerra, mesmo que nominalmente apenas os homens estejam lutando. Seu filme foi apresentado na Bienal de Veneza de 2020 como parte da programação da Semana da Crítica e representará a Ucrânia no derby do Oscar de Melhor Longa-Metragem Internacional.
O filme consiste em vinhetas que falam sobre mulheres em tempos de guerra de uma forma ou de outra, embora no primeiro segmento Vorozhbit aborde seu assunto de maneira lateral e apresente apenas homens na tela. Um diretor de escola (Igor Koltovskyy), ou pelo menos o que ele afirma ser, chega a um posto de controle ucraniano onde os soldados pedem seu passaporte. Acontece que ele trouxe o passaporte de sua esposa, então uma verificação geral segue onde os soldados encontram uma arma na parte de trás de seu carro. Ele afirma que é um manequim usado em sua escola. Até mesmo o capitão do exército (Andrey Lelyukh) admite que as armas falsas são feitas com partes de armas reais, então talvez ele consiga se safar? Mas então há uma grande reviravolta quando descobrimos qual é o verdadeiro objetivo do homem, que envolve uma jovem.
Mesmo que as mulheres ainda não estejam na tela, seu tratamento durante a guerra é estabelecido desde o início como um dos temas principais do filme. E o fato de Vorozhbit mantê-los resolutamente fora da tela é um truque de direção que é muito revelador. A segurança e o destino das mulheres são negociados pelos homens na tela como se eles não estivessem lá, não tivessem vontade ou opinião própria e pudessem ser invisíveis.
As histórias que se seguem apresentam protagonistas femininas, com várias adolescentes conversando em um ponto de ônibus sobre suas chocantes relações transacionais com os soldados. Mais tarde, uma avó (Yuliya Matrosova) tenta ter uma conversa séria com uma das meninas, que acaba sendo sua neta. As diferentes abordagens que as duas mulheres têm da vida e dos homens não seriam um grande problema no mundo normal – adolescentes se rebelando contra as gerações mais velhas não é um clichê à toa – mas como eles vivem em uma zona de guerra, essas coisas comuns são transformado em algo mais complexo e perigoso.
Na mais longa e angustiante das histórias, uma jornalista (Maryna Klimova, recentemente vista no título de Veneza 107 Mothers ) é mantida em cativeiro por um separatista sádico (Yuri Kulinich). Ela tenta estabelecer uma conexão com ele, usando palavras como escudo contra futuros abusos. É ao mesmo tempo repugnante e fascinante ver como memórias sobre animais mortos são desenterradas de ambos os lados enquanto ela tenta se livrar de ser abusada novamente ou, pior ainda, brutalmente morta ou deixada para morrer. À medida que a conversa continua, fica claro para o espectador que as palavras são frequentemente a única coisa que as mulheres têm para se defender da maldade dos homens.