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Uma questão de dinheiro

Todo mundo quer o cargo da ministra da Saúde, Nísia Trindade, e não por critérios técnicos.

Casos como o da ministra da Saúde, Nísia Trindade, precisam ser lidos por meio de metáforas. Desde que assumiu o cargo, com a posse do presidente Lula, Nísia é acossada pelo Centrão, que quer sua cadeira. Na reunião ministerial de segunda-feira, ela foi levemente criticada e demonstrou publicamente o peso da pressão que sofre.

As metáforas são bem entendidas em Brasília. Desde o início, parlamentares do Centrão e o presidente da Câmara, Arthur Lira, dizem que falta à ministra capacidade de diálogo. Afirmam que por ser “técnica” e não entender de política, ela não sabe lidar com o Congresso. Reclamam ainda que o ministério demora a liberar recursos para emendas.

A deficiente vacinação contra a dengue pode ser usada contra a gestão de Nísia Trindade, mas é apenas a justificativa desculpa pública para

O eufemismo “falta de articulação política” significa “está faltando aquele dinheiro da minha emenda”. Os parlamentares – em especial do Centrão, mas não só eles – querem que o ministério com um dos maiores orçamentos – R$ 218 bilhões este ano – solte dinheiro rapidamente. Por que a pressa? Porque a eleição municipal está aí.

Patrono das emendas, Arthur Lira já disse em discursos que o orçamento é de todos e que os parlamentares conhecem melhor as necessidades do país que o governo. No caso da Saúde, o conflito se dá porque há critérios técnicos sobre onde aplicar o dinheiro. Parlamentares pedem recursos para as cidades onde têm votos, mas a cidade vizinha pode precisar mais, de acordo com dados do Ministério.

A mais recente ameaça a Nísia é a iniciativa de centralizar as compras dos hospitais federais no Rio no Ministério. Funcionava assim até o governo Bolsonaro, quando passou a vigorar o cada um por si. O resultado é que os equipamentos saem mais caros, pois são comprados em menor escala.

A centralização, que parece lógica do ponto de vista administrativo e financeiro, provocou a ira de integrantes do PT interessados e que patrocinam cargos nestes hospitais. A portaria que colocaria a medida em prática teve de ser adiada para 8 de abril, diante da gritaria. Não é apenas o Centrão que quer derrubar a ministra da Saúde.

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Todo dia é dia

Procurei em meu bolso a bala de prata para marcar
minha passagem.
Tudo o que encontrei foi essa bala de banana prata
preta e melada como a madrugada.

Paulo Vítola

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Perdão foi feito pra gente pedir

LULA veta o perdão que o governo pediria neste 31 de março, aniversário do golpe de 1964, pelos crimes da ditadura militar. Por trás do veto está a gratidão de Lula aos militares de 2023, que não instalaram a ditadura de Jair Bolsonaro. Se o clima é do perdão reverso, de a vítima defender o culpado, Lula deve perdoar Sérgio Moro e o ministro Dias Toffoli, um que o prendeu, outro que não permitiu que saísse da prisão para o enterro do neto. No entanto, Lula, a metamorfose autodefinida, muda de pensamento, forma e figura conforme determinam seu interesse e sua conveniência.

E esperar que tenha a decência e a grandeza de explicar por que vetou o pedido de perdão, é inconcebível na moralidade dos políticos que vivem de chafurdar na lama da hipocrisia. Também exigiria, coragem, aquela que acusou faltar em Jair Bolsonaro para o autogolpe. Como Lula é mais Raul Seixas que Ataulfo Alves, preferiu não atirar a primeira pedra.

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Extra, extra! Piñata vem aí! O primeiro lançamento de 2024 chega às prateleiras, com evento de lançamento na Livraria Arte & Letra

No próximo sábado, 23 de março, acontece na Livraria Arte & Letra o lançamento de Piñata, de André Volpato. O evento inicia às 10h30, com bate-papo com autor e Julie Fank, professora, diretora e criadora da Esc. Escola de Escrita.

Num mundo banal (ou nem tanto) como o nosso (e como os outros), nasce uma criança-bomba. As diferentes versões de Piñata nos apresentam duas das vidas possíveis de Esteves, ambas inevitavelmente permeadas pela iminência de sua explosão. Com personagens marcantes e através de caminhos improváveis, André Volpato retrata em precisas linhas experimentais uma sociedade fantástica que é profundamente real em suas relações afetivas, suas paranoias e insanidades. Dos porões do Hackangaço ao laboratório da Dra. Frankenstein, dos grupos de mentalização contra catástrofes à rave do fim do mundo, Piñata cativa e acende uma questão absolutamente artificial e outra agudamente humana: quem diabos é a criança-bomba? o que diabos é uma criança-bomba?

Não vai poder vir no lançamento? Faça seu pedido até sexta-feira através do site da Arte & Letra e receba seu exemplar com um autografo nominal. Caso seja um presente, basta adicionar o nome de quem vai receber o livro nas observações da sua compra. Qualquer dúvida, entre em contato conosco  pelo Instagram.

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A última nuvem para as estrelas

Havia todas. E havia a Avi. Adorava ouvir jazz no Original. Ficávamos horas bebendo Jack Daniels, jogando conversa fora madrugadas à dentro e, às vezes, quando a Anna aparecia, ouvindo a Anna Toledo cantar. Eu, Avi e o pessoal que ela trazia do Rio. A Mariella Gould, Danny & Marcia Assayag, o Pimba Godoy. Avi e sua galeria de anjos proscritos.

Certa vez, ali mesmo no Original, chorou compulsivamente durante um show da Badi Assad. Ninguém que a conhecesse um pouco estranhava aquilo. Ela tinha esse lance de chorar de emoção. Assim do nada, deixava escorrer lágrimas diante de quadros e esculturas, casas bem projetadas, logotipos, automóveis antigos.

Aqui em casa, mesmo sem ter visto o filme, chorou diante de um pôster de ‘Rastros de ódio’ só porque viu nele um autógrafo original de John Wayne que eu colara tempos antes. Coloquei o DVD na caixa e ela abriu um berreiro.

Chorava de amor. Vivia emoção em estado puro.

O fato é que, de repente, Avi começou a sumir. Delicadamente. Docemente, como era seu jeito. Foi desaparecendo de exposições, das festas, dos bares. De Curitiba. Do mundo.

Um dia, sumiu e demorou a voltar. Cruzar com ela foi se tornando raro. Fui reencontrá-la, diagnosticada portadora de um câncer no sistema linfático em estágio terminal, no New York Hospital, a poucos dias do Natal.

– Almir, olhe para fora. Escolha a menor nuvem que houver.
– Ok, Avi. Escolhi.
– É a minha nuvem. Ela é que irá me levar.

Quatro dias depois, a 25 de dezembro, pegou a última nuvem para as estrelas e, chorando diante de tanta beleza que se anunciava, virou uma luz no firmamento.

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Nicole Tran Ba Vang

Collection Printemps/Eté 2000, Sans titre 01, Photographie couleur, 114cmx96cm.

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Na minha passagem por Parnaíba, durante o 30º Salão Internacional de Humor do Piauí, tive a oportunidade de conhecer Benjamim Santos, parnaibano, que morou muitos anos no Rio de Janeiro, no Solar da Fossa, com Wilson Bueno (está no livro do Toninho Vaz) e nos encontramos algumas vezes. A última quando fui entrevistado por ele sobre o Salão de Humor, para o jornal O Bembém, do qual é editor e colaborador.

Depois de muito bate-papo e diversos cafezinhos, ele me passou o livro Hemingway e Paris – Um Caso de Amor; Editora Griphus, 1999, com a seguinte dedicatória: “Para Solda e Vera, com o prazer de nos conhecermos e por nossas lembranças do Wilson Bueno. Benjamim Santos, Parnaíba, 2013”.

Na orelha do livro: A Editora Griphus, associada às comemoração do centenário de nascimento do prêmio Nobel de literatura Ernest Hemingway (1899|1999), lança a obra Hemingway e Paris – um caso de amor, de Benjamim Santos. É o próprio autor que conta a história deste livro delicioso, que vai prender sua atenção até a última linha: “Mesmo sem saber que estava sendo escrito, comecei a escrever este livro quando estive em Paris pela primeira vez, há dez anos. Para percorrer a cidade, tracei alguns roteiros não convencionais que me levaram a lugares que o turista apressado ignora. Um dos roteiros mais queridos foi mergulhar nos caminhos de Hemingway pela cidade.

Com agenda e caneta nas mãos, procurava, olhava, fazia anotações. Era como eu me sentisse o próprio Hemingway quando era pobre, subindo a montagne Saint Geneviève para chegar em casa no alto da colina, ou atravessando o Sena, depois de rico, quando passou a hospedar-se no Ritz. Escrevi para melhor entender Hemingway. Além das anotações de minhas viagens a Paris, debrucei-me sobre toda a obra dele. O resultado é que sigo seus passos por Paris desde dezembro de 1921, até 1959, quando esteve lá pela última vez”.

Nascido em Parnaíba, Piauí, Benjamim Santos estudou em Recife e Olinda, onde fez curso de Filosofia. Escrevendo para teatro infantil, recebeu duas vezes o Troféu Mambembe como melhor autor do ano, no Rio de Janeiro, onde dirige shows de música popular brasileira e escreve textos que são montados em praça pública pela Prefeitura e Arquidiocese. 

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Marilyn

© Sebastian Krüger

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Fraga

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Um cabelo não é um homem

Ao fundo do corredor, à porta do quarto de cama, a armadura medieval apruma-se na sua cascata de prata, a simbolizar o repouso noturno dos guerreiros. Recém-chegado de viagem mais longa, o ciumento Otelo encontra-se à mesa, erguendo no ar o motivo da sua sanha, como quem sugere que em qualquer coisa está, indefectívelmente, podre no Reino da Dinamarca.

Ofélia, sua bela e jovem esposa, reflete nos olhos uma líquida indiferença shakesperiana, semi-voltaica,mastigando lentamente, com a parcimônia comedida das donas que querem economizar e emagrecer. Ou apenas render o peixe.

– Um cabelo de homem no camarão! – grita o marido, colérico.

O relógio de caixa alta dá alguma horas fatídicas.

– Tu bem sabes – diz ela, pacientemente – que não entram homens lá em casa.

– Nem camarões – clama o iracundo Otelo -. E no entanto eu estou a comer um pastel de camarão – faz uma pausa. Examina o rosto angélico e tranquilo de Ofélia. Tem uma idéia. levanta-se, vai ao salão, à escrivaninha e extrai de uma das gavetas a lupa providencial de descobrir traições ao pé. Regressa à sala de jantar, senta-se pesadamente no caldeirão, mira a esposa de soslaio, pega no pastel aproximando a lupa.

– Cabelo grosseiro – afaste-se com nojo -. Curto, luzidio – observa-o de novo -. Oleoso, preto, banalíssimo.Cabelo de plebeu. Cabelo de homem, completa.

Impávida, a bela mulher vai comendo ao retardados.

– Um cabelo dentro de um pastel. Eis ao que chegou o muido dos comentários, dos pecaminosos. Mundo cão, mundo burro, mundo boi, universos de cornos! – dá um murro na mesa.

– Se não gosta dos pastéis – murmura Ofélia, com todos os seus encantos a saltitarem do lado de lá da mesa – far-te-ei um omelete!

– Tudo o que possas fazer terá por força um homem lá dentro.

– A folha  de uma árvore não é uma floresta. Uma gota de água não é um oceano – aflorou aos lábios o copo de vinho -. Um cabelo de homem não é um homem – limpa os cantos dos lábios ao guardanapo e sorri com todo o seu poder de persuasão feminina, para finalizar: – Abre todos os pastéis que quiseres. Não encontrarás ninguém.

Furioso, Otelo retira outro pastel da travessa.

– Um pastel – uiva ele, raivoso – esconde muita gente! – Leva-o à boca e prega-lhe uma dentada tremenda!

Um grito de dor, um grito metálico, parte lá de dentro, dos fundos da casa, do interior da armadura.

*Santos Fernando, do livro Absurdíssimo – Humor para humoristas – Editorial Nórdica Ltda, Rio de Janeiro/GB, 1972.

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Lula viu a mula

LULA bateu na ministra Nísia Trindade, da Saúde, ontem na reunião do ministério. A ministra fez bico de choro, engoliu em seco e demitiu o diretor da área de hospitais de seu ministério: Lula descobriu (!) que a dengue está matando e que a qualidade dos serviços, inclusive equipamentos dos hospitais só não está como nos de Gaza porque não é invadida pelos soldados de Israel nem pelos soldados das milícias cariocas. A comunicação de Lula vai mal, em desvio de finalidade, pois divulga o bolodório confuso e narcisista de Lula e o protagonismo cafona da primeira dama. Mais isso não conta porque o contribuinte não nota.

O PRESIDENTE metamorfose aérea descobriu que sua queda em popularidade – o efetivo e real motivo da reunião de ministros – deve-se às falhas de comunicação do governo. Nenhum ministro, sejam os aliados intestinos, sejam os aliados intestinais, recebeu críticas por não divulgarem suas ações. Nem precisa, a imprensa faz isso: como a sociologia cabeluda de Arielle Franco, da área de não se sabe o porquê, tão inútil que gasta mais em festa em casa que em ações institucionais; como a comunicação equina do ministro Juscelino Filho, que cuida de si mesmo, da prefeitura da irmã e da estrada para sua coudelaria.

OS MINISTROS têm que viajar mais, diz Lula, para divulgar suas ficções de governar, o que lhes irá exigir tratos à bola, como se dizia nos quadrinhos do Mickey. Ministro viajando exigirá a ampliação da frota de jatinhos, ora úteis em suas viagens para casa. Comunicação? Nem precisa, o presidente faz isso, como despejar a maior fatia de dinheiro para propaganda na rede Ratinho, sob a justifica de que ela atinge as classes C, D e E. Sim, atinge, melhor que Globo, SBT, Record e outras, que não fazem discursos homofóbicos, classistas, grosseiros, machistas e de mau gosto. É a concepção lulista da função educativa da publicidade governamental.

DEVE SER porque, como Lula gosta de lembrar, em outros tempos ele e Ratinho, grandes comunicadores, dividiram “uma cachacinha”. O povo, que pagamos os desatinos do governo, só queremos saber se Lula ainda está sob o efeito da cachacinha. Porque Ratinho, esse nunca esteve tão lúcido e sóbrio, tanto que está com tudo com as classes que elegiam Lula e depois, com apoio de Ratinho, bandearam-se para Bolsonaro e a ele continuam tementes e fieis. Está certo, o governo deve governar para todos os brasileiros. Governar, bem entendido, não mistificar com o palavrório gasto e vencido de Lula.

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Trajetórias em territórios afetivos

Abertura da exposição, dia 19 de março, às 17h. Centro Cultural da PUC. Rua Imaculada Conceição, 1155. Todo mundo lá!

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Nós que nos amávamos tanto

Quase todos meus relacionamentos amorosos acabam primeiro nos sonhos. Picasso desmontava suas mulheres em cubos. Eu as vejo vagando no plano onírico, já distantes de mim, de malinha na mão, como quem está partindo e não vai voltar mais. Elas não estão nem feias nem bonitas, apenas mais reais, menos metafísicas. A verdade é que fico sabendo tão logo as enquadro: terminou. Algumas estão alegres, a maioria exibe um sorriso triste – um sabor agridoce perpassa o quadro. Tenho certeza de que se trata de um adeus. E sem volta. Mas no fundo já não importa. Aí está a parte dolorosa: não importa mais.

Eu me apaixonei por aquela mulher, ela dormiu nos meus braços, escrevi poesias para ela, prometi que plantaria um jardim de rosas em sua homenagem. Para algumas jurei que as levaria a um lugar a que só eu, um iniciado, tenho acesso: uma fenda do tempo, o Portal de Ender, onde nascem os unicórnios. Agora vejo que elas me olham lá de longe, já de saída, como quem diz, Até mais, valeu, a gente se vê. Não há dúvida: é um adeus. E não importa mais.

Esta madrugada fui dormir tarde, os galos já cantando, estrelas se apagando no céu. Quando peguei no sono, Charlie Parker veio me visitar. Não foi a primeira vez, fico encantado sempre que ocorre. Todas as vezes peço que dê uma canja e toque minha favorita, “Sly Mongoose”, em seu sax alto. Bird reconhece numa pilha de discos de vinil seu grande disco “Diz’n’Bird at Carnegie Hall”, um álbum histórico, lindo, gravado ao vivo em setembro de 1947. O co-star é o pai do Bebop, o trompetista de alta euforia criativa Dizzie Gillespie.

Foi presente da minha amiga Avital Rachel Glassberg poucos meses antes de ela morrer em Nova Iorque, bem no dia do seu aniversário, 25 de dezembro de 2002. O LP tem o autógrafo original de Bird. E uma dedicatória de Avi: “Para meu passarinho”. No sonho, o próprio Parker põe o disco na radiola. “Groovin High” começa a rodar. Eis que surge na sala uma namorada de três décadas atrás. Ela congelou no tempo, conserva o mesmo cabelo louro jogado nas costas, não há ali uma ruga, parece que o relógio parou. Começamos a dançar. O disco muda e entra em fundo, quase como trilha sonora, uma das minhas canções favoritas, na voz da minha intérprete favorita. “Someone To Watch Over Me”, com lady Sarah Vaughan.

Imagino que o sonho, de novo, anunciará uma despedida, mais um fim de caso no currículo de um namorador. Mas olho-a nos olhos e não reconheço aquela falta de brilho, aquele fim de festa, das outras despedidas. Há doçura neles. Ela cola seu rosto no meu e nossos corações disparam. Percebo então que o sonho, pela primeira vez, anuncia uma paixão que não acabou. Nunca antes nos olhamos daquela maneira. Jamais trocamos beijo tão suave. “I’m a little lamb who’s lost in the woods” – diz a canção.

Acordo e, amarrado no tempo irreversível, descubro que sublimei a existência daquela mulher por 30 anos da minha vida.

1950-2021

Publicado em Almir Feijó | Deixar um comentário
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