Sem provas suficientes para acusar nem para libertar

Indus e Chineses: Tanto se fala da cultura e da sabedoria milenar desses povos que já tiveram Gandhi, Krishnamurti, Confúcio e outros. Mas fico aqui duvidando de tudo. Como é que — se lêem tanto, estudam tanto, meditam tanto — ainda sobra tempo para terem, juntos, mais de três bilhões de habitantes?

Livro: Quando você abre um livro qualquer na página certa, o mundo dá uma risada. Mas, quando abre um na página errada, o mundo dá uma gargalhada. Leia no escuro.

Cavalo de Corrida: Chegando bem perto de um cavalo de corrida você pode ouvir um charmoso e pomposo locutor de rádio FM. De longe, vai ouvir apenas um sinal de código Morse, um pouco deturpado pela presença de jóqueis e treinadores.

Cevada: Até pouco tempo atrás, acreditava-se que a cevada era o principal ingrediente para fabricação de morros e colinas. A receita foi desvendada, finalmente, por um montanhista holandês que não bebia e experimentou a montanha sem gelo. Ela era toda de legítimo malte escocês.

Debêntures: Certa vez, um caçador francês avistou uma debênture nas pradarias da Austrália. Toda em listras pretas e brancas, ela fugiu a tempo camuflando-se no meio de uma manada de bisões. Nunca mais foi vista, nem em enciclopédias.

Arara Bêbada: Ela não sabe nadar. Isso ficou provado durante as últimas Olimpíadas, em Atenas. Foi inscrita nas competições de saltos ornamentais, mas morreu no primeiro salto. Ganhou nota máxima, porém não retornou à superfície.

Sanduiches: São maus vizinhos de cima. No meio da noite arrastam chinelos e armários. E batem portas de geladeiras. Um dia alguém disse para o pai de um deles: “Hoje nós vamos comer sanduichinhos no parque”. O bronco pai deu-lhe três tiros à queima-roupa e saiu bem devagar assobiando hambúrguer, ervilhas e alface.

Clichê: Mastigar clichês não é de bom-tom. Alguns são até bem indigestos se engolidos em happy-hour de grandes empresas de pescados. Um funcionário subalterno até se prontificou a retirar do cardápio, mas o chefe geral do almoxarifado fez pé-firme e os clichês passaram a entrar até na composição dos arquivos mortos.

Iniciados: Geralmente são pessoas de bem. Elas apenas iniciam tudo. E tomam iniciativa, principalmente, de não ir até o fim de nada. Matriculam-se em aulas de balé e de judô ao mesmo tempo, no mesmo horário, mas, no primeiro dia de aula, não comparecem – estão longe dali começando o curso de pós-iniciação em gestão de capacidade de não fazer nada até o fim.

Talento: É um pássaro de plumagem exuberante que devia — mas não consegue — viver do que canta. Habita matas ciliares dos olhos atentos e se banha no rio da esperança todos os dias. Um camponês que o ouve cantando na hora do banho sempre se surpreende: “Como tem talento esse talento!” E se retira para semear e colher os frutos que o sustentam.

Músculo: Atrofia-se por falta de exercícios. E fica altamente reforçado e bem disposto com dosagem certa de alteres, massagens e elogios. Nas mulheres, bíceps bem torneados e com cinqüenta centímetros de diâmetro, nos mostram o grau a que chegou a evolução das hortaliças.

Dólares: Geralmente associados com mulheres bonitas e iates velozes, dão a sensação de que o mundo não é redondo e sim apenas um vasto oceano que ocupa o quintalzinho da mansão. Dólares se reproduzem em cativeiro e vivem até cem anos em condições normais de temperatura e pressão. Falam todas as línguas, mas só entendem inglês.

Enigmas: São proposições de ordem cultural feitas a uma girafa no período de gestação. As girafas que não respondem corretamente são obrigadas a conviver com hipopótamos e rinocerontes numa loja de cristais da dinastia Ming. Exemplo de enigma: “O que é que a imaginação pesca e o peixe imagina?”

Xadrez: Foi uma dama, seguindo a trilha do norte, que descobriu este jogo. Desde a mais tenra idade, ela criava códigos para se comunicar com as galinhas a fim de tirá-las da letargia mental pós-botagem. Num belo dia, quando arrumar o ninho caiu em desuso, as galinhas precisavam outras atividades. E a dama deu xeque-mate no rei em dois lances e fugiu com o bispo.

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Luares

Estamos em plena lua cheia, ao menos até esta segunda, 6. Lua dos poetas, dos duendes e dos amantes; também dos lobisomens e dos vampiros a caçar gente nas madrugadas frias… Luar de agosto, num céu às vezes despejado de estrelas – se a imaginação da noite prevê, para a manhã seguinte, as brancas geadas, das noites brancas dos invernos de Curitiba.

Inscrita no grego antigo, é a lua em que se converteu uma deusa evadida – para sempre -, do Olimpo. Redonda e amarela, a lua cheia constitui, igualmente, do sempre rico imaginário celta, o olho de Ehlíate e o seio cortado ao meio de sua irmã gêmea Alceste.

Lua que vi, senhores, pairar na fronteira paraguaio-matogrossense, feito um gigantesco sol iluminando o rumoroso Aquidabán-Nigui e a solitária tumba de Lopes em meio ao silêncio do espesso arvoredo. E a rolar pelas alvas areias do Abaeté, nos anos hippies e loucos, lisérgica e desatinada. Lua de contos de fada, esta uma lua que ademais de bailarina, cantava Lucy in the Sky with Diamonds…

Em sânscrito, a língua primeira, a palavra “plenilúnio” que, sabemos, é o sinônimo mais que poético de “lua cheia”, significa D’jeus, de onde, aliás, diga-se logo, procede a palavra Deus. Um jeito ainda mais elevado de denominar esta lua que Borges, em ode célebre, dedicou à mãe Leonor de Acevedo, poucos dias depois de sua morte. “Esta luna de enfrente desvela su calmoso rostro/la face perfecta de su inolvidable ancienedad”.

Depois da cheia, outro gozoso mistério, senhores, transcorre no céu: a lua minguante, também conhecida como “lua serena”, sobretudo na superstição antiga de muitos séculos. Não é mesmo Fernando Karl?

Nenhum mercador ou mesmo o mais audacioso dos navegadores de Hérida, por exemplo, fazia os seus negócios ou lançava-se em nova aventura ao Mar Ignoto, não brilhasse no firmamento a minguante, mansa em seu quieto mistério. Lua de santos e de profetas; a lua com que Francisco de Assis alimentava, com nacos de sua luminiscência, os pássaros noturnos, em suas conversas com Deus por vales e montanhas.

E tanto míngua a velha lua, a partir daí, que desaparece de todo. E é então como se nunca tivesse havido lua alguma sobre a melancólica Terra dos homens. A chamada “lua nova” é só a projeção de nossa aguerrida crença em luares e artefatos celestes. Onde mora a lua nova que o navegador assírio tanto procurou no mar? E o fez com tamanho empenho que nunca mais voltou para dizer a seus pares o que de moedas de ouro se guarda ali onde a lua nova nasce num redemoinho de água e espuma…

E por fim, mas não menos importante, dá-se a glória da lua crescente. Lua recurva, lua anciã capaz de transtornar a já em si nunca apaziguada inquietação humana. Lua do uivo e do estertor e também lua dos amantes desesperados. Lua afiada no céu. Dela disse o poeta persa, em rara síntese: “Se acontece de ferir o céu com sua agulha/a Crescente devolve aos homens/o ouro em lâmina de sua adaga/”.

2007

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Retrato de Orlando Pedroso

Orlando Pedroso é artista gráfico, ilustrador e cartunista. Colaborou com o jornal Folha de S. Paulo de 1985 a 2011 além de ter publicado em inúmeros títulos da grande imprensa e livros infanto-juvenis. É co-autor do livro “Não quero dormir” – finalista do prêmio Jabuti de 2007 nas categorias “ilustração” e “melhor livro”. Foi vencedor do Prêmio HQ Mix de melhor ilustrador nos anos de 2001, 2005 e 2006, e Artista Homenageado no FIQ – Festival Internacional de Quadrinhos de Belo Horizonte de 2007.

Produziu mostras individuais, como “Como o Diabo Gosta” (1997) , “Olha o Passarinho!”(2001),“Uns Desenhos” e “Ôtros Desenhos” (2007). Em 2008, fez uma exposição retrospectiva de 30 anos de trabalho como artista convidado do 35º Salão de Humor de Piracicaba. É autor dos livros independentes “Moças Finas (2006) e “Árvres” e dos infantis “Vida Simples” e “Uêba!”. Em 2014 lançou “Filosofias baratas me são as mais caras” também finalista do prêmio Jabuti e “Gordinhas”, em 2017, pela Editora Fantasma. É membro do conselho diretor da SIB – Sociedade dos Ilustradores do Brasil.

© Paulo Vitale

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Planeta Água

queda-d'água© Ricardo Silva – 1961|2022

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Flagrantes da vida real

Enéas Lour, Edson Bueno e Áldice Lopes, no Café do Teatro. © Maringas Maciel.

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Sozinho e brigão

A vida familiar de Jonas não era nada tranquila. Primeiro, porque ele não tinha mais família. Era só no mundo. Segundo, porque, se tivesse família, teria inventado muitos motivos para se desentender com cada membro dela. Por temperamento e formação, Jonas era bem brigão.

Sendo assim sozinho e brigão, ele se tornou mal visto por todos os vizinhos. Isso logo se tornou insustentável e ele teve seguidos entreveros com eles — por qualquer coisa tinha briga. Como esses vizinhos também tinham outros vizinhos, a notícia das brigas logo se espalhou e eles foram tirar satisfações com Jonas. Dessa maneira, as porfias foram se estendendo por todo o quarteirão, depois pelo bairro, por outros bairros e, por fim, pela cidade inteira.

Jonas conseguiu dar larga vazão ao seu temperamento desequilibrado e ficar ainda mais só.

Com a cidade contra, Jonas resolveu se mudar para a cidade vizinha e, uma vez lá, sentiu logo que sua fama o precedera. Foi encarado por diversas pessoas e isso se transformou em séria rixa. As discussões acaloradas chamaram a atenção de outros e mais outros moradores. Todos se envolveram nas pendengas e exigiram o afastamento de Jonas. Ele fazia pé-firme e enfrentava todos.

Assim, Jonas foi indo de cidade em cidade e depois para outros estados — sem deixar de percorrer todas as cidades de cada um — provocando a ira dos moradores e ficando cada vez mais só.

Por fim, contabilizou cento e oitenta milhões de inimigos no país. Sem outra saída, tentou tirar passaporte para deixar o país. Por costume arrumou encrenca devido às exigências para fazer o documento. Sem poder sair do país, ele voltou para sua cidade natal — para a mesma casa no mesmo bairro. O bairro havia crescido e abrigava muitos novos moradores. Logo que chegou, ele se desentendeu com o síndico de um prédio novo por causa das crianças que brincavam e faziam algazarra no parquinho.

*Rui Werneck de Capistrano começou tudo de novo.

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Elas

© Ella Durst

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Mural da História

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Charge publicada no jornal O Estado do Paraná, em algum lugar do passado, no tempo do guaraná com rolha.

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Fraga

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1980

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Woman in a blue hat New York 1985. © Joel Peter Witkin

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Mural da História

Em 1983, Chico Marcolino mostra calango, único “alimento” que ele e sua família teriam naquele dia.  © Delfim Vieira/CPDoc JB

A fome foi, durante séculos, considerada parte da paisagem do país. Fenômeno natural e inevitável. Algo escondido pelos governos mas sentido na carne por milhões de brasileiros. Foi assim no Brasil Colônia, foi assim durante séculos. Em 2003, a extrema pobreza e a insegurança alimentar faziam parte do cotidiano de 44 milhões de brasileiros. Mas, a partir daí, a história começou a mudar.

Com políticas públicas eficientes direcionadas à população mais pobre, o país tornou-se referência mundial no combate à fome. Até que, em 2014, pela primeira vez em toda a sua história, o Brasil saiu do Mapa da Fome da ONU.

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2011

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Itararé

canário-da-terraJoão-de-barro. Foto de Paulo de Tarso Guimarães (1955|2018), O “Palito”, no Sítio do Vicente, Itararé, SP.

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