2010

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Era uma vez meu avô…

No meu tempo de Colégio Estadual do Paraná passei pelo que hoje se chama pomposamente de bullying. Era lá por 1964/5. A professora de Português, Elvira Meirelles, era uma fera. Exigia cadernos limpos, encapados, sem rasuras. Disciplinadora rígida, reprovava, mandava pra fora da sala, mandava pra direção. As aulas dela eram muito silenciosas. Todo mundo tinha medo.  Quando ela passava pelo corredor, até as outras turmas silenciavam.

Um dia, não me lembro mais por que, eu disse a ela que era neto de Adolpho Werneck, o poeta simbolista. Foi em plena sala de aula. Pronto. Virei ‘peixinho da Meirelles’. Não só pra minha turma, mas pra todo o colégio! Toda hora, na sala, ela fazia questão de me chamar pra responder, pra comentar, pra explicar. Aí, no recreio, no pátio, na cantina, na escolinha de arte — sempre tinha alguém me pegando no pé. Me apelidaram, também, de ‘poeta’, por reflexo. Alunos que mal me conheciam sempre tinham alguma coisa pra comentar. Acontece que, pela inveja, os comentários eram sempre maldosos. E eu era jovem. E isso foi me enchendo de raiva. Bullying!

Um dia, em plena sala, Dona Meirelles me chamou pra responder uma questão qualquer. Ela disse, mais ou menos, o neto do poeta Adolpho Werneck vai nos dizer… Eu levantei e falei, com raiva, chega de me chamar de neto do poeta! Foi um silêncio que chegou até no Passeio Público, ali do lado. Os bichos silenciaram. Até uma ave gritona que tinha lá parou. Só sei que Dona Meirelles me pôs pra fora da sala e disse que ia conversar comigo em seguida. Depois me perdoou por aquilo e parou de me chamar de neto do poeta Adolpho Werneck. Era uma vez meu avô… Foi um alívio. Não que eu não gostasse do meu avô. Nem o conheci vivo, mas já tinha feito trabalhos escolares com seus poemas e tudo. Porém, os tempos eram outros. O Simbolismo estava morto. E eu tinha pretensões literárias. Fazia tímida pose.

Só pra dar uma ideia, num outro dia, Dona Meirelles entrou na sala — todos tinham que ficar de pé — e me viu com um livro nas mãos. Depois de nos mandar sentar, ela me chamou e pediu pra ver o que eu etava lendo. Logo que viu o título, me expulsou da sala e disse que eu não precisava mais ir pra aula dela. Ela me aprovaria por antecipação, sem fazer exames, mas não me queria mais na sala. E era começo de ano! O livro que eu estava lendo era O vampiro de Curitiba, do Dalton Trevisan. Ela me isse que era pornografia!

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2021

2ª-charge-picler-palestraWilson Picler profere palestra para abduzidos e contatados. Charge para o Didata (jornal do Sinpes).

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Já foi na Academia hoje?

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2011

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Anders Schildt

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Os usos da solidão

Em esclarecedor livro de entrevistas com o Dalai Lama, um sábio em toda extensão da palavra, o escritor francês Jean-Claude Carrière pergunta, entre outras, o que ele acha da solidão. E o líder espiritual do Tibet, no exílio, apesar de solteiro por imposição religiosa, e também por imposição religiosa com larga experiência monástica, obrigado a grandes períodos de isolamento, sorri e conclui, com cortante lucidez: “É uma arrogância sentir solidão num mundo de 6 bilhões de habitantes…”Nós, os precários mortais, sabemos, contudo, que não é bem assim.

O Dalai está sendo treinado desde a infância, através complexos exercícios búdicos, não só a acolher a solidão, como a entender uma série de outros venenos que tornam o homem moderno este fantasma em busca de porto e lenitivo. Nem sempre facilmente encontráveis, convenhamos.Ele mesmo, o iluminado “papa” dos budistas, revela em outro trecho do livro, que suas conquistas espirituais só foram alcançadas “após treino, vigilância e implacáveis esforços”. Não seríamos nós que, muita vez, atrapalhados e confusos, sequer suportamos a perda de nossos gatos e cachorros, que vamos, de uma hora para outra, posar de olímpicos campeões mentais a vencer nossos desassossegos.

A solidão, por exemplo, virou uma praga moderna. Dia desses, um amigo, pai de cinco filhos, casado há quinze anos, a casa invariavelmente cheia, me confessava, numa melancolia de causar dó, que não suportava mais a “solidão em família”… Indiquei-lhe de pronto o psicanalista João Perci Schiavon, como costumo fazer, com freqüência, nesses casos.Entendi, solidário a ele, que das solidões esta possivelmente seja a pior delas. Foi, um tempo, minha pena e meu martírio. Embora a casa materna, os pais, o irmão e a primarada, álacres e constantes, ardia na febre de um desamparo irremediável. Nesse tempo, nem dois tonéis de vodca aplacavam o sentimento odioso. Quantos amigos, cercados de afetos e ruídos, lançaram-se à corda ou ao gás como último alívio? Não faz uma semana, um antigo vizinho, da casa da esquina, deixou esposa, filhos, netos e noras depois de intenso período depressivo. Preferiu o silêncio eterno, que até passarinho evita, a continuar morrendo em vida.

Curiosamente, embora reclamão e insatisfeito sempre, não posso dizer, sem mentir, que me sinto sozinho. Quando alguma coisa doida dentro mexe e a noite se enche do uivo dos cães do subúrbio, embora o ruidoso escândalo, ponho Janis Joplin, em bom volume. E rouca a voz acorda os anjos do céu em Cry, Baby. Ou o enormíssimo cronópio Armstrong em What a Wonderful World. O mundo de novo, vos garanto, se enche de graça. Quem for de experimentar, que experimente.

2009

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Malucos e zumbis

Há não muito tempo, cada cidade tinha seus malucos de estimação, com os quais a população convivia em paz. Eles faziam parte do folclore local.

Ainda criança, conheci um tipo desses em Blumenau. Era um mulato alto, forte, de rosto muito bonito. Carregava um saco de aniagem nas costas e todos o tratavam pelo apelido, Guarapuvu, nome de árvore notável pelo porte e beleza. Falava pouco, mas, quando falava, construía frases bem pensadas e elegantes, além de ter um vocabulário de muito boa qualidade.

No entanto, morava na rua, dormia nas calçadas. Vivia do que lhe davam.

Alguns juravam que tinha formação universitária, tendo sido professor da rede pública, o que na época era coisa da mais alta qualidade.

Ocorre que certo dia ele voltou para casa mais cedo e encontrou a mulher naquilo que Lupicínio Rodrigues descreveu como “nos braços de um outro qualquer”.

Foi quando começaram suas andanças pelo mundo.

Em Curitiba também tivemos malucos folclóricos e admiráveis. O mais genial e extravagante de todos foi Gilda, nome sob o qual residia Rubens Aparecido Rinque. Ele – ou melhor, ela – era divertida, dava gargalhadas e debochava de todo mundo, aprontando correrias ao ameaçar um beijo na boca de algum passante. Pintava os lábios com batom vermelho vivo, com o qual besuntava não apenas os lábios, mas seus arredores, produzindo um bocão exuberante.

Pois Gilda era alegre, muito antes que o termo gay se generalizasse. Era divertida, abusada, debochada, irreverente, desrespeitosa, lambendo os próprios lábios com gulodice, anunciando ser sedenta de sexo e de orgias. Encontrou a morte em 1983, talvez numa briga, numa casa abandonada da Desembargador Motta.

Gilda era amada por muitos, mas despertava a fúria dos machões e colocava em xeque o caráter provinciano da cidade.

Já o Esmaga era um homem pequenino, com cara de sátiro, cheio de malícia e astúcia. Circulava pela Boca Maldita a pedir trocados para tomar café. Conhecia a todos e era reconhecido por todos, entre eles governadores, políticos, intelectuais, artistas. Com sua fala malandra e seu sotaque ingênuo, protagonizou causos que causaram embaraços a poderosos de então, embora ele não fosse contestador do ponto de vista político. Um tipo esperto, que sabia das patifarias humanas naquele centro de fofocas que era a Boca Maldita. Sabia como desmontar poses de pretensos artistas, cineastas, escritores, políticos e picaretas em geral. Esmaga, sem eira nem beira, dizia e fazia coisas do arco da velha.

Hoje não encontramos nada de parecido. Ao invés de personagens que viravam pelo avesso os costumes e crenças urbanas, o que vemos são zumbis, fantasmas de si mesmos. Criaturas doentias, de roupas imundas, sacudindo-se com gestos mecânicos de robô, a circular de um lado para outro produzindo apenas espanto. Não sabem onde estão nem que cidade é essa, corpo e alma corroídos pelas drogas. Os doidos de algumas décadas atrás faziam parte da vida de todos. Essas almas penadas atuais são destroços humanos dos quais não sabemos os nomes e o que representam, já que eles próprios não sabem quem são e o que suas figuras denunciam.

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Bugigangas cruéis

A meu ver, a mais reincidente das crueldades mentais
é a maneira limitada como a maioria das pessoas
usa o próprio cérebro.

A injustiça é uma forma ordinária de crueldade.
Nisso, porém, a justiça, quando mal aplicada,
pode ser extraordinária.

Cada vez que alguém é levado a um gesto extremo
e deixa um bilhete de “adeus, mundo cruel”,
o mundo fica ainda mais cruel.

O casamento só persiste e subsiste se e quando
as crueldades dos cônjuges forem equivalentes.

Nas empresas, as chefias são estratégicos
postos avançados de crueldade, sempre
muito bem distribuídos pelo organograma.

A crueldade, como tática militar, é o exercício
onde os exércitos mais se exercitam.

Claro que dá pra disfarçar as crueldades.
Mas as vítimas continuam indisfarçáveis.

Etc…

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Bianca Jagger.  © Terry O’Neill

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Elas

Rose Fessenden. © Zishy

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Pimenta nos três olhos

Ah, nauumm! O Metrópoles anuncia que Lulinha foi atendido pelo mesmo advogado de um dos PCCistas que planejaram o atentado contra Sérgio Moro. Tem outro lado da moeda. Jair Renan foi defendido pelo advogado que escondeu Fabrício Queiroz. Jacques Vergés, paladino das liberdades públicas e monumento da advocacia criminal francesa, defendeu o terrorista Chacal e Klaus Barbie, o criminoso nazista.

Extrair paralelo entre Lulinha e o PCC é da mesma índole intenção canalhas da fake news, de alimentar imbecis e gente de caráter retorcido. Se o assunto é Moro, que tal esta manchete: “juiz que prendeu Lula é o mesmo que elegeu e foi ministro de Bolsonaro”. A pimenta arde nos três olhos. O cretino do site não sabe que um dia pode precisar do advogado de Lulinha. Advogado não defende bandido, defende a ordem jurídica.

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© Joel Peter Witkin

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Os filmes do Prof. Thimpor

*Cine Hare Rama – Não Judia Dela, Patrão! (komm doch, komm zu mir)

Billy The Kid atravessa um deserto infestado de répteis para levar uma importante mensagem ao Cavaleiro Negro, moribundo e esquálido, porque o Dr. Robledo lhe aplicou uma injeção de naftalina debaixo do braço. No início da projeção ouve-se claramente a voz de Gary Cooper em “Tambores Distantes” tentando convencer um índio a lhe mostrar o caminho para as índias.

Esse é o filme mais importante de Estravos Demóstenes, fanho, vesgo e arrimo de família, realizado logo após o cineasta ter saído de uma clínica psiquiátrica, onde foi tratado como sendo Sam Peckinpah.

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