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Tô de prova
Briga de família não existe nas sabatinas de candidatos à Suprema Corte dos EUA. Lá, as grandes disputas envolveram assédio sexual de candidatos contra mulheres, embora nenhum tenha sido excluído por isso. A Corte, mesmo com juízas, não tem mostrado empatia pelas mulheres. Lula adiou a briga de família no STF, e o rompimento entre o candidato Zanin e o sogro fica por ora no frizer da intriga política. O primo Savério Marrone comenta que foi proibido de entrar na casa da sogra: “Isso pra mim vale mais que ser ministro do Supremo”. Tô de prova.
Publicado em Rogério Distéfano - O Insulto Diário
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Siritango
(para ser cantarolado
com a melodia do tango Garufa)
fué en La farmácia Minerva
no me atendieron
pedi um Sal de Andrews
o Sonrisal
tomé um Calciogenol
irradiado por la Rádio Belgrano
fenomenal
una Emulsión de Scoth
sin bacalao y un pastel de carne
nel Oriental
comi um cachorro-quiente
mas mucho quiente
pele toda mi boca
quede piantao
sinuca
por quê me puso a jugar
piruca
pelado voy a quedar
de porradas
sé que me quieres cubrir
só porque la otra noche
yo me fué
(aladonde?)
en el Bar Rei do Siri
(tchan-tchan!)
Mercer, Solda, Ernani Buchmann e Chico Branco
Publicado em Geral, Sem categoria
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O seu guarda-sol me lembrou uma foto linda do Picasso, na praia de Málaga, protegendo a Dora Maar
Absorta em si mesma, intacta planta viva n’água, Dora Maar percorre o sonho mau dos mortos e os puxa, com os cabelos, por cima de ondas grossas de sal. Uma deusa Dora Maar? Apaguem seu nome, a pele, a respiração e dela só pode restar um mantra consciente da realidade. Se deseja grafismos de oleandros e sargaços, também deseja a primeira respiração da sereia branca e aguarda embaixo do guarda-sol o sopro do paraíso. Dora Maar duramente verte algumas palavras, para sempre tecendo o corpo com asas acima do areal, e dá rasantes pelas quinas dos terraços suspensos de Málaga. Dora Maar aceita que Picasso a proteja, na praia, com aquele guarda-sol. Com o desconcerto habitual, Dora Maar vê sua cabeça ser arrancada dos ombros pelo vento e passar rente à torre da igreja de San Isidro, por baixo do céu a cabeça de Dora Maar e as nuvens entre as nuvens.
Aqui, na praia de Málaga, em estado de óbvia distração, Picasso contempla puramente os objetos: samambaias, conchas, coqueiros. Os dois entram no casarão plantado rente às águas. Ele passa a língua no salitre perfumado do pequeno bosque dela. Dora Maar abandona-se num dos recantos do hall desta edificação à beira-mar e sabe que, soprada além das vãs águas molhadas, há ondas, ondas, ondas.
Na cozinha ou deitada no quarto, recolhida de uma pronúncia de brisa inacabada, Dora Maar espia pela grande janela a luz que irradia sons de ouro – enquanto jasmineiros fervem no quintal – a luz adormece para sempre no ondular vazio de longas folhas das bananeiras.
No piso de uma das salas do casarão, caído um livro. À página 61, a linha de frase: “Encosto o raio no tímpano e o cântico opressivo se desvanece”.
Na piscina, na noite, ou agora singrando com a barca o rio azul de Sabalquivir, Dora Maar e Picasso já sabem que a pedra é uma fonte de água viva e que a siriringa é água tremente pela passagem dos peixes. A tempestade fincada no ponto de orvalho, não o fere. Nem chifres de rinoceronte machucam este ponto nem o mal fere a chama de Dora Maar sentada à escrivaninha. Preguiçosa e indiferente, ela cobre o rosto com véu de estrelas e, com ele, adoça a língua e o chá.
Publicado em Fernando José Karl
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Tsuneyo Toyonaga
Impávida colosso, entretanto, a mulher mais velha do mundo, comprovado em cartório, continua sendo a muito nossa Silvina Rosa de Jesus. Nascida a 20 de junho de 1888, em Jacaraci, Bahia, vai fazer 120 anos (se fizer, claro…), quando o inverno chegar. E, sabemos, o inverno, logo, logo, há de bater à nossa porta. Em Curitiba, sabemos melhor, sempre antes do que a gente imagina… Pois D. Silvina, quem quiser lhe ver o rosto alegríssimo, escancarado numa gargalhada sem dentadura, sagrado despudor e doce descalabro, é só acessar o blog do poeta Fernando Karl (www.nautikkon.blogspot.com). Lá está D. Silvina, a ditar, alto e bom som (ouviu, Dante Mendonça?) o segredo de sua longevidade: cachaça, namoro e fumo de rolo. Pode?
Próximo ao túmulo do poeta-irmão, Paulo Leminski, no cemitério do Água Verde, morto infante, aos 44 anos, repousam, senhores, os restos mortais de minha avó paterna, Mariana Fonseca Bueno, falecida, pasmem!, aos 105 anos, em 1946. Até os cem, reza a crônica familiar, trançava rendas-de-bilro, os oclinhos de garrafa sobre o nariz aquilino.
Vejo-a aqui, no retrato antigo: severa e moça, o suave buço, ao lado do filho caçula, meu avô Emídio, então um lépido rapaz, mais sério que a mãe na foto de 1923. Ô vida! Ô Tempo que anda e anda, congelando, lá atrás, pássaro e vento, olhos e sorrisos.
O avô só não foi aos cem porque, pedestre renitente, uma kombi na contra-mão o matou aos 74 . Mas acabara de construir, sozinho, no Uberaba, uma casa de doze peças. Vera força da natureza!
Pelo visto, vão ter que me aturar por mais bom tempo, a chamar a atenção para céus e telhados, pinheiros e precipícios. Quase sexagenário, a passear visíveis 37 (hehehe), sem a notória porralouquice que foi a maior marca de meus trint’anos em Curitiba (né mesmo, Almir Feijó?), pode que incomode por mais meio século. Ai das hienas papudas ou dos críticos tortuosos, senhores das histórias e das “desestórias” das desinteligências!
Gosto mesmo é do Oscar Niemeyer, 100, a dizer sonoros palavrões quando algo vai mal no escritório e das pernas da Derci Gonçalves, 103, nas entrevistas ao Jô Soares.
E por falar em cousas lindas, muito mais que findas, cadê o sempre álbum de família de Iara Teixeira, no blog do Solda? Deliciavam-me aquelas gentes, em sépia, à volta do pai do Nireu Teixeira, a agitarem os palcos dos “theatros” curitibanos d’antanho.
Noites de espetáculo que, feéricas, existiram um dia, embora a distância, e a melodia da distância no tempo, feito uma brisa nas dobras da História. Que o digam D. Silvina, 119, suas cachaças, seus namoros, seus fumos-de-rolo.
2008 – O Estado do Paraná
Publicado em Geral
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Basta de velhofobia!
Sabe quando foi a primeira vez que eu tive medo e vergonha de ficar velha? Foi no dia do meu aniversário de 40 anos, quando me dei de presente uma consulta com uma dermatologista.
Nunca, até então, havia usado filtro solar ou hidratante. Sou da geração que se torrava ao sol, sem se preocupar com o envelhecimento da pele. Desde menina até os meus 16 anos, o momento mais gostoso do meu dia era caminhar descalça nas areias das praias de Santos, sentindo o calor do Sol, sem qualquer proteção.
Quando me mudei para o Rio de Janeiro, aos 21 anos, caminhar descalça nas areias continuou sendo o meu maior prazer, apesar do sol fulminante.
Voltando aos meus 40 anos, fui à dermatologista para ela me receitar um filtro solar e um hidratante. Estava na hora de começar a me cuidar para não ficar uma velha decrépita e enrugada, como me aconselhou uma amiga.
Olhando com muita atenção o meu rosto com uma lente de aumento, como um detetive que procura todos os meus defeitos e imperfeições, a dermatologista disse em um tom imperativo:
“Mirian, você tem que fazer correção nas pálpebras, elas estão muito caídas. Precisa colocar botox ao redor dos olhos, você está com muitas rugas de expressão. E preenchimento ao redor dos lábios, você está com bigode chinês. Tem que fazer um peeling no rosto, pois está com muitas manchas de sol. Se você fizer tudo isso, você vai rejuvenescer dez anos”.
Só faltou dizer: “Você não tem vergonha na cara? Você é culpada por estar ficando velha!”.
Paguei a cara consulta que saiu mais cara ainda porque passei a enxergar rugas, bigode chinês e manchas horrorosas que, antes, eram invisíveis para mim. Faço ou não faço correção nas pálpebras, preenchimento no bigode chinês, botox na testa? Se eu fizer tudo isso posso ficar dez anos mais jovem. Eu sou culpada por estar ficando velha.
Para piorar a crise dos 40, em uma das minhas caminhadas na praia, um homem disse: “Nossa, que coroa gostosa! Tá enxuta, ainda dá um bom caldo!”. Como ignorei o “elogio”, ele me xingou aos gritos: “Não tem vergonha de usar biquíni, sua velha mocreia, baranga e pelancuda? Você não se enxerga, sua velha ridícula?”
Uma das mulheres achou um absurdo: “Por que você fica feliz quando dizem que você parece mais jovem? Por que você não fica satisfeita de ser uma mulher bonita e interessante com a idade que tem? Qual é a vantagem de parecer ser o que você não é mais?”
Foi como levar um tapa na cara. Percebi que aquilo que eu considerava um elogio era, na verdade, o medo, a vergonha e o preconceito com o meu próprio envelhecimento.
Ser xingada de “velha ridícula, baranga, mocreia e pelancuda”, aos 40 anos, revela que envelhecer no Brasil é se tornar descartável, desvalorizada e invisível. Daí o meu medo e vergonha de ficar velha em uma sociedade em que a juventude é um verdadeiro capital.
A indignação geral com o vídeo das jovens universitárias debochando da colega de 44 anos foi um estopim para denunciar e combater o preconceito, discriminação, abuso e violência física, verbal e psicológica que moram dentro das nossas casas, famílias, trabalhos, escolas e, também, dentro de nós. Basta de velhofobia!
Não deixei de ir à praia de biquíni nem fiz os procedimentos recomendados, mas passei a pesquisar e escrever incansavelmente sobre o significado de envelhecer em uma sociedade em que uma mulher é humilhada e ofendida por querer estudar depois dos 40 anos.
Como escrevi no livro “Velho é Lindo!”, inspirada em Martin Luther King, eu tenho um sonho. Eu tenho um sonho que um dia os mais velhos serão considerados lindos e que iremos viver em uma nação em que as pessoas não serão julgadas pelas rugas da sua pele e sim pela beleza do seu caráter. Livres, somos livres enfim.
Publicado em Mirian Goldenberg - Folha de São Paulo
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Publicado em El Maestro
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