Política literária

Um post muito divertido no blog “O palco e o mundo” de Pádua Fernandes, intitulado “Não é literatura”, questionou de maneira bem-humorada e mordaz muitas práticas habituais do meio literário, explicando aos desavisados, com sarcasmo e comiseração, que nada daquilo é literatura.

Excertos: “Discutir quem ficou de fora da foto de lançamento de revista literária não é literatura. A lista de mais vendidos não é um gênero literário. Reclamar de não inclusão em antologia, quando até o primeiro cachorro que passou na rua o foi, não é literatura. Perguntar se a poeta é bonita não é literatura; decidir que ela não o é porque não iria para a cama com você, muito menos. Confundir crítica a seu livro com ataque a sua pessoa não o torna escritor. O livro já não o tornava.”

E assim por diante. O que Pádua Fernandes está alfinetando, coberto da razão, são os maus hábitos da política literária em nosso meio (isso vale para qualquer cidade brasileira, pelo menos para as que eu conheço). Comparada a outras atividades profissionais, a literatura é um projeto de suicídio a longo prazo e de baixo orçamento. O fato de circular pouco dinheiro no mundo da prosa e da poesia não impede seus praticantes de darem mais chiliques do que prima-dona de ópera ou de serem mais mafiosos do que traficantes de metanfetamina. A moeda corrente no mundo literário não é o dinheiro, é a vaidade, e para satisfazê-la há coleguinhas que não recuam diante de nenhuma armação, nenhum conchavo, nenhuma maledicência, nenhuma intimidação.

São minoria, felizmente; a maioria dos escritores que conheço, se tem algum defeito, é o de não entenderem muito bem como funciona o mundo da política, e digo política no sentido mais amplo de “luta pelo poder”. Se o sujeito não sabe fazer política literária, o melhor destino que pode ter é o de Kafka, que morreu anônimo e só depois dele morto sua obra virou best-seller – porque apareceram pessoas (Max Brod primeiro, outros depois) que se dispunham a fazer política literária em favor da obra dele. Essa política envolve contatos, convivência, troca de idéias, divulgação, envolvimento com causas coletivas, quando é o caso.

Quanto mais o escritor atua, mais chances tem de que seu nome se torne conhecido, e, por tabela, sua obra seja lida. A literatura mesmo só entra em cena no momento em que a obra é lida. Quando a literatura é boa, as pessoas que gostam de literatura trabalham até pela obra de alguém com quem não simpatizam. Corolário: se alguém simpatizar comigo mas não gostar dos meus livros, favor tratar-me bem e ignorar os livros. E vice-versa. O escritor não é a obra.

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Uma grande vitória da Democracia

A luta pela anistia (1975 – 1979)

A campanha pela anistia ampla, geral e irrestrita, que teve seus momentos mais intensos em 1978 e 1979, foi um dos momentos mais significativos da luta pela democracia e contra a ditadura, fruto de uma frente política e social que mobilizou o conjunto dos movimentos sociais e dos setores da oposição. Por seu caráter humanitário e político, sensibilizou amplamente a população e teve repercussão internacional. Mesmo sem ter alcançado totalmente seus objetivos, a votação da Lei da Anistia, em agosto de 1979, representou uma grande vitória das forças democráticas sobre o regime.

A luta pelo perdão começou tão logo os militares anunciaram as primeiras perseguições aos adversários do golpe – uma lista com uma centena de cidadãos que tinham os direitos políticos cassados por 10 anos, a partir de 9 de abril de 1964. Outras listas de cassações se seguiriam, além de prisões, com ou sem processo, e demissões arbitrárias de servidores civis e militares. Poucos meses depois do golpe, os jornalistas Alceu de Amoroso Lima e Carlos Heitor Cony escreveriam artigos a favor da anistia, uma tradição política que vinha dos tempos do Brasil colonial.

Em 1967, a Frente Ampla – movimento criado pelos ex-presidentes João Goulart e Juscelino Kubitscheck e pelo ex-governador Carlos Lacerda, todos cassados –  defendeu uma “anistia geral” como passo necessário à redemocratização do país. Também os familiares de presos políticos levantaram desde cedo essa bandeira. Em 1968 foi criada a União Brasileira de Mães, posta na ilegalidade em 1969. Em junho de 1971, o grupo dos autênticos do MDB – parlamentares mais combativos na luta contra a ditadura – havia incluído a defesa da anistia aos perseguidos políticos na “Carta de Recife”, aprovada pelo partido.

Num período em que os jornais estavam sob censura (quando não colaboravam ativamente com o regime e a repressão), as denúncias de violação dos direitos humanos pela ditadura tinham mais repercussão no exterior do que dentro do país. Para isso contribuiu a articulação de grupos de exilados, que publicavam boletins e jornais em outros países, e ação corajosa de líderes da igreja católica, dentre os quais se destacou o arcebispo de Olinda e Recife, dom Helder Câmara. Em maio de 1970, ele denunciou a prática de torturas no Brasil para uma plateia de 10 mil pessoas.

A ditadura tratava essas denúncias como “campanha para denegrir a imagem do Brasil no exterior”. A simples menção ao nome de dom Helder foi proibida nos jornais brasileiros. Mas a causa da anistia e da investigação do “desaparecimento” de presos políticos avançava, na medida em que  tortura e assassinato se tornavam instrumentos oficiais da repressão política.

Em setembro de 1973, no famoso discurso de lançamento como anticandidato à Presidência da República, o líder oposicionista Ulysses Guimarães defendeu o “resgate da enorme injustiça que vitimou, sem defesa, tantos brasileiros paladinos do bem público e da causa democrática”. “Essa Justiça”, afirmou o presidente do MDB, “é pacto de honra de nosso partido e seu nome é anistia”. No Natal de 1974, dom Paulo Evaristo Arns reuniu militantes de diferentes linhas políticas e sugeriu a organização de uma campanha em defesa da anistia.

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© Helmut Newton

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1978

Grafipar – Gráfica e Editora

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Nobel da Paz Ales Bialiatski é condenado a dez anos de prisão por Justiça da Belarus

Ativista dividiu prêmio com ONG russa Memorial e organização ucraniana Centro para as Liberdades Civis em 2022

A Justiça da Belarus condenou nesta sexta-feira (3) o ativista Ales Bialiatski a dez anos de prisão, em um processo que grupos de direitos humanos afirmam ter claras motivações políticas.

Bialiatski foi um dos ganhadores do Nobel da Paz de 2022, dividindo a láurea com uma ONG russa e outra ucraniana —as escolhas foram vistas como uma resposta do comitê norueguês à Guerra da Ucrânia e ao avanço do autoritarismo na órbita de Vladimir Putin, de quem a ditadura belarussa é forte aliada.

Um dos mais renomados defensores de direitos humanos em seu país, o ativista fundou em 1996 o Centro de Direitos Humanos Viasna (primavera) para fazer frente à repressão liderada por Aleksandr Lukachenko, que havia chegado ao poder dois anos antes. Sua organização presta apoio a pessoas que participam de manifestações contra o regime belarusso e a familiares de presos políticos.

Bialiatski está detido desde julho de 2021, depois da onda de protestos que sucedeu a reeleição de Lukachenko em 2020, amplamente questionada devido a indícios de fraude. Ele integrava uma espécie de conselho de transição que almejava promover a transferência de poder e foi acusado de contrabando de dinheiro e de financiar “atividades que violam gravemente a ordem pública.

Além dele, outros dois ativistas do Viasna, Valentin Stefanovitch e Vladimir Labkovitch, também foram condenados nesta sexta-feira, com penas de nove e sete anos de cadeia, respectivamente. Já Zmitser Salauyou, atualmente exilado, foi condenado a oito anos em uma colônia penal. As decisões foram confirmadas pela agência de notícias estatal Belta. Ainda cabe recurso.

Svetlana Tikhanovskaia, que concorreu contra Lukachenko nas eleições de 2020 e se exilou na vizinha Lituânia após o pleito, condenou o veredicto em post no Twitter. “As vergonhosas sentenças contra Ales, Valentin e Vladimir são uma vingança do regime pela perseverança deles. Vingança por terem sido solidários. Vingança por ajudarem os outros”, escreveu. “[Uma condenação de] dez anos a um vencedor do Nobel mostra claramente o que é o regime de Lukachenko. Não vamos parar de lutar por nossos heróis.”

Também no Twitter, a ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, descreveu o julgamento como uma farsa. “O regime de Minsk está lutando contra a sociedade civil com violência e prisões”, afirmou ela, citando os 1.458 presos políticos detidos pela ditadura, de acordo com a Viasna.

“Isso é tão vergonhoso quanto o apoio de Lukachenko à guerra de Putin”, prosseguiu. O ditador abriu seu território para o Exército russo operar contra a Ucrânia, mas não participa diretamente da guerra.

Na véspera do anúncio das sentenças, 21 organizações de direitos humanos —incluindo a Anistia Internacional e a Human Rights Watch— publicaram um abaixo-assinado denunciando uma série de violações de direitos no processo judicial a que os ativistas foram submetidos.

O documento afirma, por exemplo, que os três acusados participaram do julgamento algemados e mantidos em uma cela; que o idioma usado nas audiências e documentos da corte era o russo —a língua materna dos ativistas é o belarusso; e que o tribunal não deixou nenhum observador externo ou veículo de mídia independente acompanhar o processo.

Bialiatski foi perseguido judicialmente diversas vezes pelo regime belarusso e já havia sido preso anteriormente, em novembro de 2011, quando foi condenado a quatro anos e meio de prisão em regime fechado por acusações de evasão fiscal. Foi libertado depois de três anos.

À época, a Justiça do país, alinhada à ditadura, alegou que o ativista mantinha dinheiro em contas na Lituânia. O montante, porém, era fornecido por ONGs internacionais para que fosse usado pela Viasna em apoio a perseguidos. Bialiatski guardava a verba fora do país por medo de que ela fosse confiscada.

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Mural da História

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2017

Sindicato dos Professores de Ensino Superior –  3º Grau Privado de Curitiba e Região Metropolitana. Didata 40. Informativo Sinpes.

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2005

Cristóbal Reinoso, Crist, no Solar do Barão, (Exposição de Quino & Solda), segura um pássaro de Rogério Dias. © Vera Solda

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Tempo

Fraga autografa o livro “Punidos Venceremos” para Mario Quintana, em algum lugar do passado.  © Daniel Andrade

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Filhos? Melhor não tê-los!

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O irritante guru do Méier

O homem é um animal que adora tanto as novidades que se o rádio fosse inventado depois da televisão haveria uma correria a esse maravilhoso aparelho completamente sem imagem.

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Hasselbrutt

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Que país foi esse?

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Teatro Margem

Manoel Carlos Karam, como veio ao mundo, no cartaz da peça Hombres y Mujeres, década de 1970. Teatro Margem – 1973|2023 – 50 anos.

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