Uma pena.
Hoje, 19 anos depois, teríamos uma geração com (pelo menos) uma ligeira noção de educação e civilidade, e não veríamos tantas imagens como essa.
Maringas, (que também fez a foto) com vontade de passar por cima…
E nem olho tão longe, senhores.
O fato é que não se fazem mais Curitibas como antigamente. Metrópole, mora conosco a agrura, o caótico trânsito de cada dia, a pressa, a ansiedade e esta anonimidade que nos torna frios números estatísticos. Sejam os que referem a quantidade de veículos nas ruas, sejam os que dizem quantos somos os milhões de almas cá no burgo de
Nossa Senhora da Luz dos Pinhais.Mais de um milhão de veículos! E é entre eles que sigo, no “Cavalinho”, meu Uno vermelho, 95, motorista tardio, ainda hoje alguma vez temeroso e inseguro entre os carrões que passam feito bólides do Terceiro Milênio. Na cidade que foi de meus avós, depois de meus pais, e que hoje é minha e de meus “filhos”, postiços, porém “filhos”, e dos filhos de meus filhos postiços, estes filhos de verdade dos filhos que nunca tive…
Recordo o poeta-irmão, Paulo Leminski, aferrado à idéia de que poeta que é poeta não dirige, esquecido de que a uma poeta, e poeta maior, Alice Ruiz, delegava o volante do velho fusca verde (né mesmo, Soldinha?), íntimo das trilhas do Pilarzinho e de tantas outras trilhas, pelo passado.
Decidi enfrentar a direção de um carro, já cinqüentenário, depois de interpelado pelo escritor Roberto Gomes, ao me ver, caminho do ponto de ônibus, carregado de sacolas: “Só é moderno em literatura?” – me pôs na parede o meu primeiro editor, e autor, entre outros ouros, de Crítica da Razão Tupiniquim. Confesso que corei.
Algum tempo depois, renovei uma carteira caduca de mais de trinta anos e comprei um Chevrolet automático, o “Belo”, e que foi uma das maiores encrencas automotivas que já tive na vida. Ainda hoje sofro as seqüelas daquele carro temerário – seja no sagrado pânico de estacar em plena Visconde de Guarapuava ou de me precipitar no primeiro abismo da estrada das praias.
Razão mesmo tinha um motorista de táxi, o Deonilson, que me serviu durante anos: dirigir é como empalhar passarinho, a gente aprende e empalha mas o passarinho vai parecer sempre vivo.
Ah, os motoristas, os poetas e os filósofos!