Um gênio feminino

Passei os feriados de carnaval, distinto leitor, a viajar as quase 500 páginas do terceiro volume com que a pensadora e psicanalista búlgara, de expressão francesa, Julia Kristeva, conclui a sua monumental trilogia O Gênio Feminino. A Vida, a Loucura, as Palavras (Editora Rocco, 2007). Para encerrar, nada menos do que complexa reflexão em torno da escritora Colette (1873-1954 ).As outras mulheres anteriormente enfocadas por Kristeva, em catataus de igual desempenho, são duas outras culminânicas do século 20: a filósofa Hannah Arendt (1906-1975), a busca da vida em meio à guerra, e a psicóloga Melanie Klein (1882-1960), primeira mulher a pensar a loucura em nossa insensata contemporaneidade.

A francesa Colette, sensualista antes de qualquer “erotismo”; bissexual assumida antes de todo e qualquer modismo GLS; e feminista antes de todo e qualquer feminismo, reinou, alguma vez tirânica e equívoca, sobre a cena intelectual da primeira metade do século passado. A introduzir nos “tempos modernos” que se insinuavam, uma avalanche de escândalos.

Nascida no interior da França, conquistou logo a cosmopolita Paris não só com sua arrogância, inusual em “emigrados”, como sobretudo por seu talento – múltiplo, “midiático”, surpreendente. Escritora, atriz, repórter, ensaísta, foi a primeira crítica de cinema da história, com sua célebre coluna na revista Film.

Ao ganhar o Nobel em 1952, François Mauriac se desculpou com ela ao telefone, considerando-se, face ao brilho da “divine” Colette, não merecedor da honraria. Idolatrada e odiada, era escritora prolífica, embora confessasse que não gostava de escrever. “Eu não gosto de escrever. Não só não gosto de escrever, como gosto principalmente de não escrever” – fazia blague.

Nascida Claudine, Colette já começa causando espécie ao adotar para si o sobrenome feminino por excelência, do pai. E sob o signo de tal patronímico, se torna universalmente conhecida como escritora. Está visto que não é pretensão destas linhas resenhar aqui o irresenhável. O livro de Kristeva é um monumento ao saber. Complexo é o mergulho na personalidade de uma escritora que ousou, mais do que reinventar a literatura de seu tempo, afrontar, pela via do “prazer sensual” em amplo sentido, o belicismo de um século que, a par do progresso científico, se revela canhestro e selvagem.

Não pouca coisa para uma interiorana que se autodefinia a homenagear a inenarrável mãe Sidonie (a também célebre Sidô) com todas as letras: “Eu sou filha de uma mulher que em uma regiãozinha obscura abriu sua casa de vilarejo aos gatos errantes, aos vagabundos e às criadas grávidas”.

Deu no que deu. Com seus exotismos pessoais, a mordacidade não pequena e o invariável brilho, Colette chegou a escandalizar o então provinciano Hemingway que, no clássico Paris é uma festa, traça dela perfil antológico.

Colette e seus gatos, inúmeros, a escrever deitada, a viver deitada, a sacudir o mundo recostada em seus travesseiros de penas de ganso no concorrido endereço parisiense de Beaujolois. De Gide a Sartre não houve quem a ela não se curvasse, no mais notório beija-mão da história recente de nossa cultura.

Tem razão Julia Kristeva: Colette inventou um alfabeto e este alfabeto se chama mulher.

25|02|2007| O Estado do Paraná

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Tão perto, de mim distante

Depois de amargar dolorosa abstinência Bolsonaro irá rever Donald Trump. In flesh and fat, em carne e banha, porque o velho carne e osso não cabe para os dois, acima do peso. Embora hoje próximos no espaço, a menos de uma hora de viagem, o encontro será em Washington, durante evento da extrema direita, o Mito em companhia de seu tradutor preferencial, o filho Eduardo, que fala inglês de imigrante ilegal. Será o encontro dos losers, perdedores, como os próprios Republicanos dizem de seu líder e ex-presidente.

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Flagrantes da vida real

Todo mundo na folia!  © Maringas Maciel

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 Suzanne and her children, 1992.  © Jan Saudek,

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Sessão da meia-noite no Bacacheri

Império da Luz é uma história de amor ambientada em um belo cinema antigo na costa sul da Inglaterra na década de 1980. Um filme sobre a conexão humana e a magia do cinema. Seguimos Hilary (Olivia Colman), uma gerente de cinema deprimida, que trabalha no cinema Império (Empire) enquanto no plano de fundo há a recessão britânica de 1981, causando desemprego e racismo gratuito ao longo do país. Apesar de tudo, ela tem um emprego simples, vender ingressos, checar os ingressos, limpar as salas e etc.

Ao seu lado, outros empregados: um gerente mal-humorado e pomposo, Sr. Ellis (Colin Firth), o dedicado projecionista Norman (Toby Jones) e os assistentes Neil (Tom Brooke) e Janine (Hannah Onslow). Mas Hilary cada vez mais entra em um profundo estado de solidão e tristeza, mesmo em tratamento. Mas então o Império contrata um novo vendedor de ingressos, Stephen (Micheal Ward), um jovem negro que tem uma conexão instantânea com Hilary. Esta, é a história deles.

Embora este seja o nono filme de Sam Mendes como diretor, Império da Luz marca a primeira vez que ele dirige a partir de um roteiro que escreveu sozinho. Todos os seus outros filmes, incluindo seu primeiro crédito de roteiro 1917 (2019), foram dirigidos a partir de roteiros de outros roteiristas.

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Mural da História – 2009

terceiro-mandato

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O poderoso chefinho

Montagem de Ricardo Silva (Palmeira dos Índios)

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Magritte

René Magritte|La fidélité des images. Le rendez-vous, Georgette Magritte, Bruxelles, 1938. La Petit Mélancolie

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© Guto Lacaz

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Aparício Fernando de Brinkerhoff Torelly

A conversa prejudica o trabalho. Deixe, portanto, de trabalhar sempre que quiser conversar.

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Edição de colecionador

De Ponta Grossa para o mundo.  © Benett

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Elas

meu-tipo-inesquecível-isabelle-huppertIsabelle Huppert, por todos os filmes em que atuou, principalmente La Pianiste, a Professora de Piano,  de Michael Hanneke, 2001.  ©  Grosby Group

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Tempo – Agosto|2015

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