Todos os homens perigosos do presidente Bolsonaro

O presidente Jair Bolsonaro (PL) tem gente muito perigosa entre os seus amigos e apoiadores. Lembrei-me disso na noite de segunda-feira (12/12), quando houve uma tentativa de invasão do prédio da Polícia Federal (PF) em Brasília (DF) pelos bolsonaristas acampados na frente do quartel-general do Exército. Tentavam resgatar o pastor evangélico e cacique José Acácio Serere Xavante, 42 anos, que cumpre prisão temporária decretada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR).

É acusado de estar arregimentando pessoas para impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Serere Xavante nasceu em Poxoréu, pequena cidade de garimpeiros de diamantes a 87 quilômetros de Rondonópolis, importante município agroindustrial de Mato Grosso (MT). Em 2020, ele foi candidato derrotado pelo Patriota a prefeito no município de Campinápolis, de 16 mil habitantes, a 352 quilômetros a nordeste de Poxoréu.

A tentativa de invasão virou um quebra-quebra que se espalhou pelas ruas e avenidas da cidade – há matéria na internet. Serere Xavante é considerado um bolsonarista raiz. Eu o defino como uma pessoa perigosa. Não pelo seu currículo policial. Já foi preso duas vezes por tráfico de drogas e também é dono de um bordel, o que não é crime desde que a casa funcione dentro da lei. Considero-o perigoso porque conheço a história da região e dos seus moradores. Nos anos 70, toda aquela área era conhecida como fronteira agrícola, para onde foram levados pelo governo militar da época e por empresas particulares de colonização milhares de agricultores do Sul do Brasil, a maioria gaúchos e seus descendentes. A última vez que estive por lá foi em 2019, fazendo reportagens. Na região, nos dias atuais, existem lavouras do agronegócio, garimpos clandestinos, arrendamento ilegal de terras indígenas para agricultores e grileiros de glebas. E também existem os oportunistas, personagens que se autodenominam pastores e caciques indígenas e tomam posse, de maneira ilegal, do que encontram pela frente. Quando são descobertos, mandam pistoleiros resolverem o problema. Cacique Serere Xavante é um desses personagens, que viu no surgimento do bolsonarismo uma oportunidade de ganhar prestígio e dinheiro. As arruaças de Brasília são uma oportunidade para ele ganhar notoriedade e, quem sabe, com um pouco de sorte, se eleger parlamentar nas próximas eleições.

Outro amigo perigoso do presidente é o ex-policial militar do Rio de Janeiro Daniel de Andrade. A história é a seguinte. Na noite de 14 de março de 2016, a então vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes foram executados a tiros. Marielle tinha sido eleita em 2016 pela coligação Mudar é Possível, formada pelo PSOL e pelo Partido Comunista do Brasil (PCdoB). O caso tornou-se notícia internacional e logicamente foi usado pelos bolsonaristas na campanha de 2018 para atacar a esquerda. Daniel de Andrade, acompanhado pelo advogado Rodrigo Amorim, quebrou uma placa de homenagem a Marielle – há matérias sobre o caso na internet. Andrade se elegeu deputado federal e durante o seu mandato publicou um vídeo ameaçando os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Foi preso, condenado e teve a pena perdoada por um decreto de graças de Bolsonaro – que está previsto na Constituição. Concorreu a senador pelo Rio de Janeiro em 2022 e perdeu. No fim do ano, quando terminar o seu mandato, fica sem emprego e busca uma oportunidade de trabalho, que pode surgir caso se avolume o movimento dos bolsonaristas nas portas dos quartéis, defendendo o golpe militar. Durante todos os mais de 30 anos de vida parlamentar, o presidente da República flertou com pessoas perigosas, como foi o caso do ex-capitão Adriano Magalhães Nóbrega, do Batalhão de Operações Especiais (Bope), aquele do filme Tropa de Elite. Ele foi expulso do Bope por se envolver com a máfia do jogo do bicho do Rio de Janeiro. Tornou-se miliciano e fundou o Escritório do Crime, uma organização criminosa que agenciava matadores de aluguel. Há inúmeras matérias nos jornais, documentos oficiais e investigações policiais mostrando as ligações de Adriano com Bolsonaro e os seus três filhos parlamentares: Carlos, vereador do Rio , Flávio, senador do Rio de Janeiro, e Eduardo, deputado federal por São Paulo. Em fevereiro de 2020, Adriano foi morto em um confronto dos policiais militares em Esplanada, interior da Bahia.

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© Jan Saudek

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Angela Yvonne Davis (Birmingham, 26 de janeiro de 1944) professora e filósofa socialista americana que alcançou notoriedade mundial na década de 1970 como integrante do Partido Comunista dos Estados Unidos, dos Panteras Negras, por sua militância pelos direitos das mulheres e contra a discriminação social e racial nos Estados Unidos e por ser personagem de um dos mais polêmicos e famosos julgamentos criminais da recente história dos Estados Unidos. © Reuters

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Calha à fiveleta

O Supremo Tribunal Federal decidiu, semana passada, que se ele mudar de entendimento sobre questões tributárias, a decisão vale mesmo para processos já transitados em julgado, como se a “coisa julgada” não fosse uma cláusula imutável da Constituição da República.

Então, o negócio é o seguinte: Acaso você tenha brigado no Judiciário com a Receita por dez ou quinze anos, e, um dia qualquer, o Supremo decidiu que você tinha razão, o processo foi encerrado e você obteve uma declaração judicial transitada em julgado dizendo que não deve o tributo. Doravante, caso o Supremo mude o entendimento, o que o Supremo decidiu antes, e transitou em julgado, agora não vale mais e você terá que pagar o tributo com juros e correção monetária.

Calha à fiveleta, como escreviam os jurisconsultos de antanho, a frase do Roberto Campos avô (Bob Fields, segundo os desafetos, que eram muitos): “No Brasil até o passado é imprevisível”.

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Quaxquáx!

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Minha área de trabalho

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Entre a perplexidade e o espanto, talvez seja o portador de alguma coisa que nem eu mesmo sei o que seja

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Flagrantes da vida real

marília-gillerMarília Giller, na luta.  © Maringas Maciel

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A meta e as expectativas de inflação

Existem algumas relações econômicas que não são imunes à mudança da política pública. Isso significa que é falacioso inferir as consequências de uma mudança de política baseando-se em padrões históricos ou intuitivos, como quando se argumenta que uma meta de inflação mais alta irá permitir que os juros caiam.

Em outras áreas de conhecimento isso não acontece. Tome o caso da construção de uma ponte. Neste caso, os engenheiros levam em consideração a gravidade, a resistência de materiais, as condições do solo e do entorno e sabem, com exatidão, que tipo de veículo pode circular na ponte e o que devem fazer para operá-la com segurança. A construção da ponte em nada altera a atuação da gravidade. Mas, em economia, a construção da ponte (isto é, a mudança da meta) é capaz de alterar a lei da gravidade (a relação entre juros e inflação). Como pode, em economia, as coisas serem tão diferentes?

Em grandes intervenções de política econômica, como no caso do aumento da meta de inflação, é razoável esperar que elas afetem a maneira como as pessoas tomam as suas decisões no dia a dia. São essas mudanças de comportamento e alterações na formação das expectativas que fazem com que a relação entre as variáveis econômicas não sejam invariantes a uma nova política. Desconsiderar que as pessoas assimilam as implicações de uma mudança de política nas suas decisões, de acordo com o que é melhor para elas, é uma grande ingenuidade. Ou então revela desconhecimento de um resultado que foi incorporado ao arcabouço macroeconômico há mais de 50 anos.

No entanto, apesar de esse resultado ser largamente conhecido, a Crítica de Lucas parece estar sendo ignorada na discussão que agora se apresenta sobre um possível aumento da meta de inflação. O aumento da meta, que foi introduzida no debate público pela classe política (e não por critérios técnicos) e que vem sendo refletida pelos meios de comunicação em análises pouco aprofundadas, é um caso clássico no qual a crítica de Lucas se aplica.

É até intuitivo esperar que um aumento da meta de inflação abra espaço para uma redução de juros: se tolerarmos uma inflação mais elevada, a política monetária pode ceder e impor menos custos à atividade. Considerando que as novas expectativas de inflação se estabeleçam na nova meta —o melhor cenário que se pode esperar—, é possível haver algum espaço para a redução de juros.

Entretanto existe também a chance de que as expectativas sobre a inflação futura se alterem de forma diferente. O precedente de mudar a meta agora torna crível que ela seja revisada novamente no futuro. Mais do que isso, a modificação de metas por considerações políticas, ou em momentos de inflação alta, nos quais as expectativas já estão acima da meta, ou quando decisões técnicas da autoridade monetária passam a ser questionadas, revelam pouca disposição da sociedade e da classe política com a árdua tarefa de controle da inflação.

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Elas

Isabelle Huppert, Hotel Carlton, Cannes, 1976.  © Helmut Newton

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Bolsonaro pagou no cartão de crédito a proibição de sua candidatura em 2026

Jair Bolsonaro torrou grana do contribuinte em lanches para a sua equipe usando o cartão de crédito corporativo da Presidência da República durante a campanha eleitoral no ano passado. O caso alimenta as ações que tramitam no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pedindo a sua condenação, o que abriria caminho para ele estar inelegível nas próximas eleições presidenciais. Em uma agenda eleitoral em Vitória da Conquista (BA), em agosto, ele gastou R$ 50 mil só em lanches, fora a hospedagem de 50 pessoas em um hotel. Em outubro, foram R$ 63 mil em hospedagem, lanches e um cercadinho para proteção em Teófilo Otoni (MG).

No mesmo mês, em Aparecida (SP), mais R$ 64 mil de grana pública gasta em sua tentativa de reeleição, dos quais R$ 18 mil em hotel e R$ 16 mil em lanchinhos…

E para tranquilizar quem acha que está gastando muito em aplicativo de entrega de comida, a campanha de Bolsonaro torrou R$ 8.650 em um delivery do iFood em Belo Horizonte, em 24 de agosto, usando o cartão corporativo. Com exceção de transporte (que precisa ser restituído), a lei proíbe o uso de dinheiro público em gastos de campanha. Aliás, o PL, seu partido, devolveu parte dos recursos gastos em transportes em 48 eventos eleitorais. Mas Jair participou de, ao menos, 80 agendas no período. Os números estão em reportagem do UOL, desta segunda (13), que traz dados solicitados ao governo federal pela agência Fiquem Sabendo.

Que Bolsonaro confunde o público com o privado, isso já era largamente conhecido. O “Patriarca das Rachadinhas”, que ficava com parte dos salários de funcionários fantasmas de seu gabinete quando deputado federal, não deixaria por menos quando ocupasse a Presidência da República. A questão é o nível do descaramento com o cartão corporativo em algo tão visível quanto o financiamento de campanha eleitoral.

O que mostra que Jair tinha certeza que seria reeleito e essas informações se manteriam em sigilo, sei lá, por 100 anos. Ele, que se vendia como um homem simples que economizava o dinheiro do povo, torrou R$ 1,46 milhão em um único hotel e R$ 362 mil em uma padaria com o cartão corporativo. Jair ganhava salário de R$ 30,9 mil mensais, mas fez o contribuinte lhe bancar R$ 8,6 mil em sorveterias, R$ 5,5 mil na Pizza Hut e R$ 3,39 mil em compras no McDonald’s.

O caso de Bolsonaro mostra o desvio de finalidade de um instituto que deveria servir para garantir eficácia da administração, e ser utilizado com objetivos muito específicos, que acabou bancando os luxos do presidente, seus familiares e aliados. Quando esse instituto é usado para bancar uma campanha presidencial, temos dois crimes concorrendo simultaneamente. Dessa forma, a urna eletrônica pode dar o troco em Jair, que tanto a espancou, e expurgar seu nome em 2024 ou 2026.

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Vynessa Lucero. © Zishy

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O Vampiro de Curitiba

– Casei com uma puta do Passeio Público. Tinha tanto piolho que, uma noite dormia de porre, botei um pó no cabelo dela. Dia seguinte, lavou a cabeça e ficou meio cega.

Dalton Trevisan em sua campanha particular
pelo Passeio Público.

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Sessão da meia-noite no Bacacheri

Baseado em fatos reais, Argentina, 1985 se inspira na história de Julio Strassera, Luís Moreno Ocampo e sua equipe processam militares da ditadura argentina, mais conhecida como Julgamento das Juntas. O processo começou pouco tempo antes do começo do julgamento, quando dois promotores começam a pesquisar e julgar as cabeças da Ditadura Militar Argentina.

Strassera e Ocampo enfrentam-se à influência das pressões políticas e militares e reúnem a uma equipa legal de advogados para levar a cabo o julgamento das juntas. O Julgamento das Juntas foi o primeiro julgamento no mundo por um tribunal civil contra comandantes militares que tinham estado no poder. Começando em 22 de abril de 1985, o julgamento durou muito tempo, cerca de 530 horas de audiência e 850 testemunhas que viram o chamado “causa 13”. No final, 709 casos foram julgados e sentenciados pelos juízes León Arslanian, Ricardo Gil Lavedra, Jorge Torlasco, Andrés D’Alessio, Guillermo Ledesma e Jorge Valerga Aráoz.

O longa foi filmado nas locações históricas reais, sob a direção de Santiago Mitre, que também assinou o roteiro ao lado de Mariano Llinás.

Ricardo Darín e Peter Lanzani protagonizam o filme, nos papéis dos promotores Julio Strassera e Luis Moreno Ocampo, respectivamente. Além da dupla, o longa tem nomes em seu elenco como os de Alejandra Flechner, Carlos Portaluppi, Norman Briski, Héctor Díaz, Alejo García Pintos, Claudio Da Passano, Gina Mastronicola, Walter Jakob e Laura Paredes.

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O Turco

© Daniel Snege

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