É acusado de estar arregimentando pessoas para impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Serere Xavante nasceu em Poxoréu, pequena cidade de garimpeiros de diamantes a 87 quilômetros de Rondonópolis, importante município agroindustrial de Mato Grosso (MT). Em 2020, ele foi candidato derrotado pelo Patriota a prefeito no município de Campinápolis, de 16 mil habitantes, a 352 quilômetros a nordeste de Poxoréu.
A tentativa de invasão virou um quebra-quebra que se espalhou pelas ruas e avenidas da cidade – há matéria na internet. Serere Xavante é considerado um bolsonarista raiz. Eu o defino como uma pessoa perigosa. Não pelo seu currículo policial. Já foi preso duas vezes por tráfico de drogas e também é dono de um bordel, o que não é crime desde que a casa funcione dentro da lei. Considero-o perigoso porque conheço a história da região e dos seus moradores. Nos anos 70, toda aquela área era conhecida como fronteira agrícola, para onde foram levados pelo governo militar da época e por empresas particulares de colonização milhares de agricultores do Sul do Brasil, a maioria gaúchos e seus descendentes. A última vez que estive por lá foi em 2019, fazendo reportagens. Na região, nos dias atuais, existem lavouras do agronegócio, garimpos clandestinos, arrendamento ilegal de terras indígenas para agricultores e grileiros de glebas. E também existem os oportunistas, personagens que se autodenominam pastores e caciques indígenas e tomam posse, de maneira ilegal, do que encontram pela frente. Quando são descobertos, mandam pistoleiros resolverem o problema. Cacique Serere Xavante é um desses personagens, que viu no surgimento do bolsonarismo uma oportunidade de ganhar prestígio e dinheiro. As arruaças de Brasília são uma oportunidade para ele ganhar notoriedade e, quem sabe, com um pouco de sorte, se eleger parlamentar nas próximas eleições.
Outro amigo perigoso do presidente é o ex-policial militar do Rio de Janeiro Daniel de Andrade. A história é a seguinte. Na noite de 14 de março de 2016, a então vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes foram executados a tiros. Marielle tinha sido eleita em 2016 pela coligação Mudar é Possível, formada pelo PSOL e pelo Partido Comunista do Brasil (PCdoB). O caso tornou-se notícia internacional e logicamente foi usado pelos bolsonaristas na campanha de 2018 para atacar a esquerda. Daniel de Andrade, acompanhado pelo advogado Rodrigo Amorim, quebrou uma placa de homenagem a Marielle – há matérias sobre o caso na internet. Andrade se elegeu deputado federal e durante o seu mandato publicou um vídeo ameaçando os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Foi preso, condenado e teve a pena perdoada por um decreto de graças de Bolsonaro – que está previsto na Constituição. Concorreu a senador pelo Rio de Janeiro em 2022 e perdeu. No fim do ano, quando terminar o seu mandato, fica sem emprego e busca uma oportunidade de trabalho, que pode surgir caso se avolume o movimento dos bolsonaristas nas portas dos quartéis, defendendo o golpe militar. Durante todos os mais de 30 anos de vida parlamentar, o presidente da República flertou com pessoas perigosas, como foi o caso do ex-capitão Adriano Magalhães Nóbrega, do Batalhão de Operações Especiais (Bope), aquele do filme Tropa de Elite. Ele foi expulso do Bope por se envolver com a máfia do jogo do bicho do Rio de Janeiro. Tornou-se miliciano e fundou o Escritório do Crime, uma organização criminosa que agenciava matadores de aluguel. Há inúmeras matérias nos jornais, documentos oficiais e investigações policiais mostrando as ligações de Adriano com Bolsonaro e os seus três filhos parlamentares: Carlos, vereador do Rio , Flávio, senador do Rio de Janeiro, e Eduardo, deputado federal por São Paulo. Em fevereiro de 2020, Adriano foi morto em um confronto dos policiais militares em Esplanada, interior da Bahia.