“Vem buscar minha arma, seu merda”, disse Sargento Fahur (PSD-PR) em evento na Câmara; PSB, partido do ministro, promete acionar Conselho de Ética.
O deputado bolsonarista Sargento Fahur, do PSD do Paraná, xingou o ministro da Justiça, Flávio Dino, durante um evento com a indústria da defesa na Câmara dos Deputados nesta quinta-feira (9).
Fahur comentava a suposta intenção do governo Lula (PT) de retirar o porte de arma de PMs, fake news que circulou pelo WhatsApp e pelas redes sociais do bolsonarismo.
“Trabalhei 35 anos na Polícia Militar dando coronhada e tiro na cabeça de vagabundo e continuei combatendo vagabundo, agora no Parlamento. E vou andar desarmado? Flávio Dino, vem buscar minha arma aqui, seu merda”, disse o deputado.
Fahur também chamou o presidente de “desgraçado” e os decretos legislativos que restringem a distribuição de armas no Brasil de “malignos”.
Em resposta, o líder do partido de Dino na Câmara, Felipe Carreras (PSB-PE), disse que a bancada pessebista vai acionar o Conselho de Ética da Casa contra o deputado. Nota do PSB na Câmara acusou Fahur de fazer “uso de um evento nas dependências da Câmara dos Deputados para ameaçar o ministro da Justiça”.
Gosto muito de um autor inglês, Gilbert Keith Chesterton, que, sendo também um exímio humorista, era não apenas um grande escritor como um escritor grande. De físico volumoso e avantajado, se movia com a agilidade de um jovem potro, sobretudo quando se tratava de esgrimir com ideias.
Não é sem motivo que Chesterton tenha passado despercebido pelos quatro ou cinco leitores que restam no Brasil. Ocorre que, além de gordo, ele era confessadamente um conservador, um pensador católico – se autodenominava um católico ortodoxo – fiel às concepções filosóficas de Santo Thomas de Aquino, seu santo de devoção, que, aliás, era também um tipo muito gordo, de barriga imensa, tanto que em sua mesa de trabalho foi recortada uma meia lua na qual ele se inseria pacientemente para poder ler e escrever – caso contrário não alcançaria nem os seus livros nem seus lápis. É o que consta a respeito desse pensador em cuja obra Chesterton busca se ancorar.
Cabe aqui um parêntesis.
Certa vez estava eu escolhendo livros numa livraria (claro, me refiro a um tempo em que havia livrarias, ou seja, um lugar onde era possível pesquisar assuntos, livros e autores) quando chegou um amigo, professor de filosofia, que de imediato veio bisbilhotar um dos livros escolhidos por mim.
– Ah, lendo autores da direita!
Não digo o nome do professor porque é um grande amigo, embora vítima de um equívoco político que já vicejava robusto no Brasil de todos os equívocos. Militantes acham que devem ler só livros com os quais concordam – a esquerda com seus prediletos e a direita idem. Pois eu acho o contrário, com o que já entro no motivo pelo qual comecei citando Chesterton. Ao amigo, respondi assim:
– Como no futebol, é preciso saber o que pensam os adversários.
Pois Chesterton está entre os meus adversários que mais admiro. É um homem culto, inteligente, intelectualmente honesto – e que tem todo o direito de discordar de mim, pobre mortal. Por isso fico estarrecido quando vejo políticos e militantes esbravejando xingamentos uns contra os outros, muitas vezes sem ter a menor ideia do que o outro está dizendo. Bastam os chavões, as palavras de ordem, os berros histéricos. Nesse circo dos horrores, as divisões são claras: de um lado está a verdade, do outro não há verdade alguma.
Tento me explicar melhor. Um dos jornalistas que eu mais admirei foi Paulo Francis, o feroz polemista. Seu texto era um ringue, sobravam diretos de direita e de esquerda. No entanto, eu discordava de 80% do que o Francis escrevia. Mas ele era brilhante e isso me bastava. Era com o que eu arejava minhas próprias ideias.
Agora vamos ao Chesterton. Grande criador de frases fulminantes que não eram jogos gratuitos de palavras, mas estocadas que sintetizavam longas reflexões, com o que ele combatia os medíocres lugares comuns que circulam nos debates políticos e filosóficos.
Um desses lugares comuns reza que o louco é alguém que perdeu a razão. Diante da obviedade, Chesterton tragava prazerosamente seu inseparável charuto e fulminava:
– Não. O louco é alguém que perdeu tudo, exceto a razão.
Como não se pensou nisso antes? O louco sempre tem razão. O louco sempre tem na ponta da língua a solução para todos os problemas do mundo. Seja para acusar os judeus de todas as desgraças que nos abatem, como para apontar os negros como raça inferior. O louco, com duas pequenas ideias coletadas em alguma apostila ou manual, acusa genericamente a todos que não pensam como ele. É simples. Ele está certo e o resto do mundo está errado. Axioma primeiro da cloroquina.
Aliás, é curioso. O socialismo, tal como idealizado no século XIX, fracassou, a não ser que achemos que China, Rússia, Venezuela, Cuba, sejam modelos de países socialistas. Portanto, a direita no Brasil combate um mero fantasma, que tem como utilidade criar a paranoia coletiva do medo do comunismo. Da mesma forma, a esquerda, viciada em suas razões, perdeu o rumo e está perplexa. Desde que uma de suas estrelas sapateou num palco declarando que odiava a classe média, ela calou-se e, pelo que parece, não reflete mais.
Direita e esquerda, que estupidificam o debate de ideias no Brasil, são nossos loucos preferenciais. Estão cheias de razão, tudo sabem e tudo explicam.
Diante do que Chesterton soltaria uma baforada irônica de seu charuto e diria:
– Estão vendo? Perderam tudo exceto a razão. Estão cobertos de razão.
Portanto, o louco não perdeu a razão. Ele perdeu a solidariedade, o convívio fraterno, o humor, o respeito ao outro, a generosidade, a empatia, o reconhecimento e a aceitação do outro, com suas igualdades e diferenças.
A britânica Letraset foi a primeira empresa a explorar a cromolitografia, registrando o processo como adesivos para download na década de 1960. Em meados dos anos de 1960 foi criada uma divisão desta empresa que desenvolveu o produto denominado, comercialmente, de Action Transfers, voltado para um público infanto-juvenil. Os Action Transfers, num primeiro momento, foram comercializados com imagens monocromáticas e pouco tempo depois, houve uma evolução na qualidade do produto com a produção de imagens coloridas.
Na década de 1970 a Letraset autorizou o seu parceiro italiano, a Sodecor, a explorar o produto sob a marca “Trasferelli” e com a popularização deste “passatempo” no mercado europeu, a Letraset vendeu a licença para outras empresas, como a Waddingtons, Patterson Blick e Gillette.
Em Portugal, o Kalkitos era comercialização pela Gillette Portuguesa Ltd. e no Brasil, o produto era explorado pela The Gillette Company, como Kalkitos da Paper Mate, sendo impresso em Curitiba, na empresa Impressora Paranaense SA. No final da década de 1980 o passatempo caiu em popularidade sendo descontinuada sua produção, tanto no Brasil como em Portugal.
No Brasil, o concorrente maior da Kalkitos foi o “Transfer”, comercializado pela Editora Abril.
Passei a vida tentando explicar meu trabalho para pessoas bem mais velhas do que eu. Fui adolescente em uma época cheia de tios Armandos e tias Carminhas que só consideravam dignos os cursos de medicina, direito e engenharia. Letras ou arquitetura, por exemplo, já eram opções transgressoras de drogados ou comunistas.
No meu caso, quando enfim entenderam o que era ser redatora, eu já havia me tornado roteirista (e hoje me pego explicando o que é ser videocaster).
Mas eis que me percebo, agora, uma tiazola reaça sofrendo com as novas “profissões” do mercado. Nem todas se encontram relacionadas para inscrições no vestibular (é questão de dias), porém são vistas pelas redes sociais como escolhas incrivelmente rentáveis.
O primeiro que notei, um tanto perdida, é o “profissional pequena mazela pessoal”. É a pessoinha que pega um infortúnio desinteressante qualquer e vai se promovendo, de estagiária a CEO, conforme o agravamento da moléstia. Uma jovem que sofre com uma mancha marrom entre a boca e o nariz, por exemplo, um dia percebe que aquela alma de dono de padaria não se instalou em seu rosto apenas para acabar com seus dias. Tudo tem um sentido, nada é por acaso, que venha a evolução.
Ela precisava abraçar a mancha, aceitar a mancha, ser a mancha para deixar de ser a mancha. Ela precisava escrever sobre a sua dor. Conectar-se com quem sofre como ela. Engajar-se em todo um universo de bigodeiras cibernéticas. Cria então o perfil “Meu buço, minhas regras”. Ou o “Me ama, melasma”. Trabalha incansavelmente destruindo toda sorte de rapazes que a chamaram de Joaquim nos últimos anos. Chora em lives, enquanto tira a maquiagem. Recebe o like de uma ex-BBB que conta, em um impulso de humanidade: “Tenho melasma no ânus”.
No quinto dia de fama, quando três dermatologistas e cinco marcas de skincare já patrocinam seu canal, ela descobre que poucas sessões de laser poderiam resolver seu problema. Mas o que as suas seguidoras, as “bucers”, as “melasmers”, as “manchers” ou “bigoders” farão da vida sem essa rainha da sinceridade? Sem essa grande representante da “mulher real”? E o que ela faria sem o seu ganha-pão existencial?
É nesse dia que nossa influencer batalhadora mete suco de limão no rosto inteiro e vai torrar no sol do meio-dia. Ela precisa cagar o rosto todo para continuar tendo o que um dia sua avó materna feminista chamou de “a liberdade de ser uma mulher que não depende de ninguém”.
A segunda profissão mais assustadora das redes é o “bonzinho true crime”. É o ser que passa o dia tentando te convencer de que, só porque você achou que tinha cartilagem de joelho de elefante no rosto da Madonna, você é uma pessoa medonha. Você nem disse isso, apenas guardou para si. Mas o “bonzinho true crime” vai pescar esse androcentrismo escondido nos porões do seu cerebelo. Tudo é misoginia, falta de sororidade, idadismo, ginecofobia, antifeminismo.
Se você comer grão-de-bico com repolho e água com gás no restaurante, o “bonzinho true crime” vai sentir seu pum antes mesmo de você soltá-lo e vai dizer que foi uma tentativa velada de destruir toda a história de senhoras desconhecidas que estavam no mesmo elevador. Se você espirrar sem dar tempo de enfiar a cara dentro da camisa, será filmado e exposto como um ser tóxico que claramente estava tentando derrubar a imunidade de colegas mulheres.
À noite, o “bonzinho true crime” se refestela em imagens de damas sendo esquartejadas, seus pedaços dados a animais. A cada paulada na cabeça, um gozinho. Com uma coleção de moças sem vida, nosso tuiteiro ou tuiteira militante pelos direitos das mulheres já pode dormir em paz.
O ex-ministro da Destruição do Meio Ambiente, Ricardo Salles, entrou com um pedido para que Michelle Bolsonaro e Jair recebam a Ordem do Congresso Nacional, na ordem Grã-Matador, pelos serviços prestados contra o meio ambiente durante sua gestão.
Duas emas do Alvorada morreram de obesidade após serem alimentadas com comida humana e as carpas foram mortas para a retirada das moedas do espelho d’água.
Michelle ficou com as moedas, mas, como eram muitas, preferiu receber um cheque.
A honraria vai coroar o trabalho dos Bolsonaro na eliminação de seres vivos. “Ele não parou apenas no ser humano durante a pandemia, não só me deixou liberar queimadas que mataram animais silvestres, ele trabalhou até no quintal de casa”, disse um emocionado Salles.
“A fome de um único homem/no mundo/é a minha fome.” Os versos do a cada dia mais esquecido poeta e dramaturgo alemão Bertolt Brecht, me vêm à lembrança, ao saber, na semana, da uma estatística estarrecedora. Segundo a ONU, 1 bilhão é o número – aproximado – , de famintos a habitar a Terra, até o final deste 2009.
Como diz Anna Karina, em “Pierrot, le fou”, de Godard, (né mesmo, Almir Feijó?), ao ouvir no rádio do velho Peugeot, o número de vietcongs mortos na guerra do Vietnam: “Um absurdo que isso seja uma estatística!”. E ficam sendo, leitor, só isso: abstrações, frios números que nada falam da tragédia, individualizada, de uma pessoa.
Acho que os humanos de boa vontade não suportaríamos sequer imaginar o que há por trás de cada um dos anunciados 1 bilhão de seres; muitos, neste momento, a comerem as próprias fezes.
Ou como naquela foto histórica, acho que da Etiópia faminta, em que os urubus rondam a criança que agoniza, esquálida, num chão de lama. Sinto vergonha de mim, sinto vergonha de nós, frente àquele registro que é mais do que um soco na cara!
Não precisa ir longe: numa de minhas viagens ao Mato Grosso do Sul, num roteiro de conferências, vi, à margem de muitas estradas, índios guaranis a estenderem os braços esquálidos e as mãos enrugadas, pedindo em sua língua engrolada, um pedaço de pão. Ou um gole cachaça – para anestesiar a fome, a angústia, a desgraça. Maltrapilhos e alcoólatras, molambos, os guaranis.
Antes de nós, sabemos, imponentes guerreiros, caçadores de estirpe…
No Nordeste brasileiro dizem que a coisa é pior, com ou sem Bolsa Família. E isso, repito, leitor, mais do que indignação, a mim me provoca vergonha, a suja vergonha de atirar ao lixo pão amanhecido ou os restos do jantar de ontem. Não, não é a consciência culposa de um burguês enfastiado. Migrante do norte pioneiro, filho de lavradores, por pouco, ao menos o escriba que vos fala, não chegou a engrossar essas ou outras hórridas estatísticas.
Talvez um golpe de sorte tenha livrado a mim e à minha família de não formar junto à legião de famintos aqui mesmo no País insolúvel. E daí que o escândalo, da recém-divulgada estatística da ONU, me envergonhe, além, claro, da natural indignação que provoca mesmo no mais insensível dos mortais.
Há um outro poema que talvez explique tudo, melhor do que Brecht ou as estatísticas.
É de um poeta salvado da fome, o nigeriano Uzodinma Iweala, 27 anos, autor de um romance notável – Feras de Lugar Nenhum. Eu o conheci na Flip-2006. Anotei num velho caderno, o que me ditou, e traduzo livremente do inglês: “Ao surdo ronco do estômago/ a minha fome/ mais do que de alimento/é fome de amor”.
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