Pif-Paf de Millôr, o humor e a crítica

A provocação de Millôr Fernandes na quarta capa da “Pif-Paf” nº 8, de 28 de agosto de 1964, foi a gota d’água para o fechamento da revista. Precursora da imprensa alternativa, revista usou irreverência contra a ditadura.

Lançada poucas semanas depois do golpe militar, a revista “Pif-Paf” abre o ciclo da imprensa alternativa que atuou corajosamente na frente de resistência à ditadura. Editada por Millôr Fernandes, que mantinha coluna com o mesmo título na revista “O Cruzeiro” desde meados dos anos 1940, a nova publicação tinha entre seus colaboradores Jaguar, Claudius, Fortuna, Ziraldo e Sérgio Porto. A irreverência desses mestres do humor político não seria tolerada pelos militares, e a revista fechou no seu oitavo número, depois de ameaças e prisões. Millôr vaticinou o fim da revista numa finíssima peça de humor e provocação: “Se o governo continuar deixando circular essa revista (…) dentro em breve estaremos caindo numa democracia”.

A imprensa alternativa, também chamada de nanica num contraponto à chamada grande imprensa, foi uma marca registrada da luta contra a ditadura militar. Geralmente editados em formato tabloide (29 cm x 38 cm), os jornais alternativos mantiveram acesa a chama da resistência ao arbítrio, denunciando a violência, os abusos e o arrocho salarial. Alguns tiveram vida curta, mas outros bateram recordes de edições e de tiragem, sobrevivendo por vários anos. “O Pasquim” foi o que mais durou, ao lado de “Opinião” e “Movimento”.

Criada por jornalistas, muitas vezes agrupados em cooperativas, a imprensa alternativa desenvolveu uma linguagem informal e criativa. Tinha muita opinião, mas também trazia importantes reportagens sobre temas proibidos. Resistiu com coragem ao cerco da censura e às seguidas ofensivas dos órgãos de segurança. No final dos anos 1970, foi vítima das ações terroristas desencadeadas pelos agentes da repressão. Redações e bancas de jornais foram destruídas em atentados a bomba.

Entre os muitos títulos da imprensa nanica, que iam do humor à política, da contracultura à denúncia dos abusos, da luta pela modernização dos costumes à divulgação dos movimentos sociais, destacaram-se “Versus”, “CooJornal”, “Em Tempo”, “Hora do Povo”, “Repórter”, “Brasil Mulher”, “Lampião” e “Tição”.

Memorial Da Democracia

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© Jan Saudek

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O irritante guru do Méier

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A importância de ser Janja

Xuxa será embaixadora em campanhas de vacinação, convite de Janja, a primeira dama. A gente quer criticar a mulher de Lula, mas de cara faltam argumentos. Podem existir nomes iguais ao de Xuxa  para a campanha; melhor, nenhum.

Nunca é demais comparar: no período negro do Mito não havia campanhas, o ideal seria a morte dos doentes; a primeira dama dizia que a doença era coisa do Diabo, a ser tratada – nos outros – com reza e exorcismo.

Janja faz a diferença. Não exagero ao acrescentar, toda a diferença. Quase esquecia: o sorriso de Janja é como a Aquarela do Brasil, natural e colorido; o da outra tem medicina estética e o negror da cabeça de Damares Alves, sua mentora e pastora.

Publicado em Rogério Distéfano - O Insulto Diário | Deixar um comentário
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À PF, Do Val confirmou que Bolsonaro sabia que um golpe havia sido proposto

No depoimento que deu à Polícia Federal, na noite desta quinta (2), o senador Marcos do Val confirmou que Jair Bolsonaro pediu uma resposta sobre a conspiração golpista que havia sido apresentada a ele em reunião secreta no Palácio do Alvorada no dia 9 de dezembro do ano passado.

“O único momento em que o ex-presidente se manifestou foi quando o depoente disse que precisaria de alguns dias para dar a resposta, quando o ex-presidente respondeu que o aguardaria”, afirma a PF.

Ainda segundo a polícia, Do Val afirmou em seu depoimento que Bolsonaro permaneceu em silêncio durante toda a explanação da conspiração pelo então deputado federal Daniel “Surra de Gato Morto” Silveira, não demonstrando contrariedade ou negando o plano.

Ou seja, pelo relato, Bolsonaro sabia exatamente o que havia sido proposto. O silêncio, mais do que prevaricação, demonstra cumplicidade. O telefone celular do senador foi apreendido e as trocas de mensagens com Silveira vão ser analisadas.

O objetivo, segundo o exposto por Marcos do Val, era “invalidar as eleições, manter o ex-presidente no poder e prender Alexandre de Moraes”, grampeando-o e tentando fazer com que ele dissesse algo que poderia ser usado contra ele. O senador alertou o ministro sobre isso na época, mas se negou a repetir a história em um depoimento formal.

Não há possibilidade de que Moraes seja considerado suspeito para julgar o caso por ter sido alvo de uma tentativa de conspiração. Aliás, o próprio Supremo Tribunal Federal instalou inquéritos como o que analisa os atos antidemocráticos exatamente por conta de ataques a membros da corte.

Contudo, esse plano tipo “teste de fidelidade”, “pegadinha do Ivo Holanda” ou, nas palavras de Moraes, uma “Operação Tabajara”, relembrando o humorístico Casseta e Planeta, por mais tosco que seja, fornece elementos para conectar o ex-presidente ao golpismo pós-eleitoral.

O depoimento de Do Val é o bastante para arrolar o ex-presidente como investigado em crimes contra o Estado democrático de direito, autorizando diligências contra ele, incluindo quebras de sigilo. Aliados do presidente dizem que não veem nada de errado no que aconteceu. Ótimo, deixem então a Polícia Federal investigar.

Se estivesse no Brasil, uma prisão preventiva poderia, inclusive, ser decretada para que ele não atrapalhasse o curso das investigações. Pelo menos, seria assim se o réu fosse mais pobre e menos famoso.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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Não importa a idade de Glória Maria

Quem nunca deu um Google sobre a idade de Glória Maria que jogue a primeira ampola de Botox. Eu tinha curiosidade, sim. Mas não era o corpo firme ou o colágeno saindo pelos poros que me encantavam. Eu queria entender o segredo de tanta vitalidade, a receita para envelhecer com a disposição, a alegria, a sensualidade, o talento profissional, o amor pela vida.

Glória envelheceu, claro. Todos envelhecemos, mas o que Glória desfilava era o vigor de sua existência. Ao se recusar a dizer sua idade nas últimas décadas sabia que a sociedade tenta nos colocar em caixinhas etárias, à medida que nos cobra aposentadoria do trabalho, da vida social, do sexo, cabelo longo, da saia curta.

Glória foi “ageless” (sem idade) muito antes desse termo entrar na moda. Ageless no RG, por escolha dela, e ageless na vida que levava. Foi responsável por derrubar vários estereótipos geracionais que são impostos às mulheres desde que o mundo é mundo. Uma cultura tão impiedosa que foi preciso surgir uma palavrinha para definir uma onda feminina que desafia os conceitos caquéticos do envelhecimento.

Se hoje as mulheres se orgulham em dizer a idade, de gritar seus 50, 60, 70 anos, é porque tivemos Glória Maria, que mostrou a todos o conceito ageless na prática. Uma vida sem as amarras do tempo, na qual há vários caminhos para o envelhecimento e em que nenhum deles o destino é o tédio de uma rotina desinteressante.

Ageless é abraçar os anos, a experiência acumulada com outra atitude. É manter autonomia, exercer a cidadania. É olhar para o presente e para o futuro com otimismo de quem tem muita história para viver.

Glória sabia que aos 50 anos ganhamos um tapinha nas costas, um carimbo de prazo de validade vencido e um bilhete para o maravilhoso mundo das mulheres invisíveis. Um abismo onde não somos mais ouvidas, vistas e não temos mais representatividade. Ao se recusar a dizer a idade, ela desafiou todas as convenções. Mostrou que num RG desbotado cabem muitas novas possibilidades, histórias de amor, desafios profissionais, roupas justas e decotadas, viagens exóticas, filhos.

Não importa a idade de Glória Maria. Importa como ela viveu. E ela viveu como poucos.

Publicado em Mariliz Pereira Jorge - Folha de São Paulo | Deixar um comentário
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#mcKaram

Manoel Carlos Karam, no lançamento do livro Ultralyrics, de Marcos Prado, Travessa dos Editores, em algum lugar do passado. © Vera Solda

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A questão do controle das fake news

Sobre o assunto, muito embora não seja da minha especialidade e não tenha refletido em profundidade, acho que é inevitável que ocorra um controle nas redes sociais, notadamente sobre as fake news, principalmente aquelas que atentam contra o Estado Social e Democrático de Direito.

Uma coisa é publicar ou encaminhar para terceiros, a título de brincadeira, que o Messi vai jogar no Coritiba, o Mbappé no Atlético e o Cristiano Ronaldo no Paraná. Outras, muito diferentes, pregam que houve fraude na apuração eleitoral para eleger o “Novededos” e que o “Xandão” é um corrupto a serviço do PT e do comunismo. Ou convocar as pessoas para invadir os prédios dos Três Poderes em Brasília e derrubar o presidente eleito, para que aquele, cujo nome não deve ser escrito, volte ao poder e continue exterminando os povos originários, como a imprensa vem demonstrando fartamente que foi isso que ocorreu no seu desgoverno maldito e está no seu pensamento desde os tempos em que era deputado e dizia que certa estava a cavalaria norte-americana que exterminou os índios e acabou com o problema lá nos EUA, e continuar cometendo outras séries de insanidades que marcaram a sua satânica gestão.

O grande problema, na minha modesta opinião, reside no fato de quem fará o controle? Corremos o risco de que o mesmo venha a ser de responsabilidade de algum burocrata, na pior acepção do termo, e não no conceito de Max Weber.

Para citar outra alemã porreta, Hannah Arendt, no seu livro “A banalidade do mal”, escrito enquanto cobria o julgamento do genocida nazista Adolf Eichmann, em Israel, depois de ser sequestrado pelo Mossad em Buenos Aires, onde vivia escondido e trabalhava na Volkswagen local, nos conta que ele era uma pessoa aparentemente normal, que amava a esposa e os filhos, brincava com o cachorro e era um homem cordato e gentil.

No regime em que viveu, perdeu a sua humanidade, e organizar os trens que transportavam os judeus, comunistas, ciganos e homossexuais para os campos de extermínio, era algo que ele considerava como seu dever, afinal “obedecia a ordens” dos seus superiores e era um funcionário exemplar.

O grande problema, creio, será o de controlar o controlador. O controle, evidentemente, deve ser exercido pelos Poderes Legais do Estado brasileiro, mas não isoladamente. A sociedade civil deve ser, urgentemente, convocada para participar desta tarefa difícil e árdua, mas fundamental para a democracia.

Sem a sociedade civil, o Estado não possui, na minha opinião, legitimidade para nada. A vitória eleitoral se encerra com a posse dos eleitos. Depois, bom depois, meu velho, o negócio é governar ao lado da sociedade civil e deixar a militar nos quartéis tratando dos seus assuntos, como defender as nossas fronteiras e suas outras atribuições constitucionais. Militar na rua é só para pintar de branco o meio fio das calçadas, e olhe lá!

A professora Karine Borges de Liz, que vive em Florianópolis, onde é servidora qualificada do Tribunal Regional Eleitoral local, possui publicações no Instagram preciosas sobre o tema. Tribunal Regional Eleitoral local

Publicado em Paulo Roberto Ferreira Motta | Deixar um comentário
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Il teatro della vita

© Jan Saudek

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Piauí

Praça D. Pedro II. © Joyce Vieira

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Algumas ideias para peças de teatro

João Maria tenta desesperadamente escrever uma peça de teatro para participar de um concurso. Folheia livros, consulta anotações. A campainha toca, ele vai atender. É Fausto, acompanhado do Diabo. João Maria esperava Godot, mas não diz nada. Fausto, que firmara um pacto com o Diabo, quer que João Maria o ajude a procurar Margarida, expressão de pureza e virtude. João Maria se recusa. Tem que lavar toda a louça e levar as crianças no colégio. Mefistófeles, escondido atrás da cortina, ouve toda a conversa. Misteriosamente, o telefone toca. É Goethe. Começa o bate-boca. A mulher de João Maria reclama do barulho. João Maria vende a alma a Goethe, que lhe promete a juventude eterna, a satisfação dos desejos e dois ingressos para o show da Rita Lee. A empregada, encarnando o conflito humano entre a matéria e o espírito, ignorando a situação, pede aumento. Surge Godot, não se sabe de onde, representando as obras de cunho universal. Alguém tenta servir o cafezinho. As luzes se apagam. Mefistófeles passa a mão na empregada. Tumulto. O inspetor Poirot invade o apartamento. Fica no ar aquele cheiro de carta rasgada.

Bentinho e Capitu estão almoçando. Em outra mesa do restaurante, Tom Jones, o andarilho generoso e irreverente, interrompe o licor e observa a salada dos Irmãos Karamazov. É sábado. Um baiano reclama da feijoada.

Um rei é assassinado. No velório, os presentes refletem sobre as paixões humanas, a harmonia social e a moral da sociedade. Três feiticeiras horrendas mandam um pombo-correio para Riobaldo, General do Exército Real, avisando que ele será o futuro soberano do Nordeste. Sem saber de nada, Riobaldo come o pombo. Chove em todo o sertão. Riobaldo, com disenteria, mata o Rei Duncan, tornando o clima sombrio. Intriga. Medo. Violência. Todos vão ao McDonald’s mais próximo.

João é noivo de Maria. Trocam carícias no velho sofá desbotado. O retrato do pai os observa. Dona Rosinha prepara o jantar. Dalton Trevisan passa pela sala na ponta dos pés, tropeça num lugar comum e cai nos braços do vampiro de Curitiba. Mistério. Tchekov e Maupassant zombam dos leitores. Trevisan, observador atento dos pormenores da realidade, se afoga. Um moço em Curitiba só tem um remédio: afogar-se. Pára a música, fecham-se as cortinas e ninguém mais toca no assunto.

O Grande Vazio da Alma Humana está na sala vendo televisão. A Fantasia Exótica Magistral volta da feira e encontra os Traços Primitivos fazendo algazarra no banheiro. O Grande Vazio pergunta pelo salsão. Não havia salsão na feira. A Fantasia Exótica chama todo mundo e faz uma descrição do mundo tal como ele realmente é. Tolstoi, apavorado, foge de casa. O Compêndio de Gramática explica que o artigo é a parte da palavra que serve para exprimir a extensão em que o Substantivo será tomado. Pânico no palco. A omissão do Artigo Definido acaba incriminando a Formulação do Plural, que foge do país. O Grande Vazio da Alma Humana continua vendo televisão.

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Literatura

“Não mate muriçoca na parede, não cuspa no chão nem limpe o pau na cortina”. Demóstenes Rogério Dândi, Professor de Literatura de Bordel, São Luiz, MA. © Cupertino Durão

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