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Quem é quem
A partir de 2017, começou a escrever o boletim “Não sei você…”, enviado semanalmente por e-mail para uma centena de amigos e conhecidos que passaram a ter a oportunidade de lê-lo no Ultrajano.
A lição dos uruguaios
Passou quase despercebido o gesto do presidente uruguaio, Luis Lacalle Pou, que levou à posse de Lula dois antecessores: Julio María Sanguinetti (1985-1990 e 1995-2000) e José “Pepe” Mujica (2010-2015).
Lacalle Pou é membro do Partido Nacional, de direita; Sanguinetti é Colorado, de centro; e Mujica, ícone da esquerda, elegeu-se por uma coalizão de forças progressistas, a “Frente Amplio”. A presença da trinca em Brasília robusteceu o princípio de que são de Estado para Estado as relações entre Uruguai e Brasil —acima, portanto, das disputas partidárias no país vizinho.
Nesta semana, a propósito, a ida de Lula a Buenos Aires marcou o ressurgimento da diplomacia regional brasileira, destratada pelo governo Bolsonaro. Na segunda-feira (23), o titular do Palácio do Planalto visitou o seu homólogo Alberto Fernández na Casa Rosada, onde assinaram substanciosa declaração conjunta.
No dia seguinte, o brasileiro discursou na reunião da Cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), formada pelos 33 países da região. Na abertura dos trabalhos, Fernández, também presidente da entidade, saudou o retorno do Brasil à organização, da qual estava ausente desde 2020. Disse, nada menos, que sem o país a Celac é “muito mais vazia”. De seu lado, Lula ratificou enfaticamente o regresso do Brasil.
A história da América Latina registra numerosos esforços para construir organizações multilaterais que fomentem a cooperação econômica e a coordenação política para atuar afinados na região e nos foros mundiais.
Todos eles, no final das contas, contribuíram para fortalecer uma tradição de relações pacíficas no continente. Faltou vencer, porém, o desafio da permanência, dada a escassa complementaridade entre as economias vizinhas, sem falar da grande instabilidade política no entorno. Criada no embalo da primeira “onda rosa”, a Unasul (União de Nações Sul-Americanas) é apenas a última vítima a sucumbir ao ir e vir da política em cada nação.
Na América Latina, mais do que em qualquer outra parte do mundo, as eleições e as crises presidenciais têm acarretado alternância no poder entre forças de orientação muito distintas. Construir organismos regionais fortes e duradouros requer delicada engenharia institucional e muita cabeça fria dos dirigentes de cada país em face das disputas eleitorais dos vizinhos.
Na sua volta, o Brasil poderá preencher o vazio que sua ausência escavou e desempenhar papel relevante nessa empreitada. Para tanto, mais do que a experiência do primeiro governo Lula (2003-2006), é fundamental aprender agora com os uruguaios.
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No caso yanomami, desafio da PF é provar dolo de Bolsonaro em genocídio
Nos últimos quatro anos, o governo tomou o partido dos garimpeiros ilegais. Nesta quarta-feira, a Polícia Federal abriu inquérito para investigar a prática de crimes como omissão de socorro, desvios de verbas destinadas à saúde indígena e, para desassossego de Bolsonaro, genocídio.
No Brasil, o genocídio é definido na lei 2.889, de 1956. O artigo 1º anota que genocida é quem teve “a intenção de destruir, no todo ou em parte, grupo nacional, étnico, racial ou religioso”. Na pandemia, o negacionismo de Bolsonaro produziu mortes indiscriminadamente. Os yanomami, porém, se encaixam na definição legal como alvo individualizado.
Portanto, a degradação letal a que foram submetidos os indígenas pode, sim, configurar o crime de genocídio. A culpa pode ser atribuída por ação e também por omissão. Proliferam evidências de que as digitais de Bolsonaro estão impressas no flagelo yanomami. A exemplo do que fez em outros casos, o capitão produziu provas contra si mesmo. Mas será necessário demonstrar que houve dolo, má-fé. Esse é o principal desafio da Polícia Federal.
Faltam aos yanomamis comida, remédio, água limpa e proteção contra criminosos ambientais. Lula deflagrou no final de semana uma operação interministerial para socorrer os indígenas. Bolsonaro classificou a crise humanitária de “mais uma farsa da esquerda”. Disse que, em maio de 2021, numa visita a Roraima, não ouviu dos indígenas senão um pedido por “internet”. Lamentou que esteja empacado no Congresso projeto que abre reservas dos patrícios originários para o agronegócio.
Sempre que Bolsonaro se apropria de uma notícia, os fatos se perdem para sempre. Mas certas realidades, por eloquentes, não deixam de existir apenas porque os ignorantes as ignoram. No momento, pouca coisa é tão palpável quanto o o sofrimento inflingido aos yanomami. A assistência governamental aos indígenas jamais foi um primor. Mas o descaso ganhou sob Bolsonaro a aparência de escândalo. O capitão, como de hábito, diz o que bem quer. É preciso que investigadores e magistrados comecem a lhe dizer o que ele não deseja ouvir.
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Jean-Luc Godard
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Como dantes no quartel de Abrantes
O ex-ajudante de ordens continua comandante enquanto é investigado por operações suspeitas em favor de Jair Bolsonaro. Em português pretoriano significa que o governo teme os militares e não avança nas punições por atos durante o governo Bolsonaro e na Intentona de 8 de janeiro. Como dantes no quartel de Abrantes.
No interregno Bolsonaro, o capitão desatinado fazia de gato e sapato e demitia generais, como seu primeiro ministro da Defesa, e escrachava generais de seu gabinete. Algo diferente do trato usual de presidentes e militares, esta a realidade no governo Bolsonaro – por que este era militar, embora sem história respeitável? Bolsonaro fez diferença entre os militares.
Lula aparenta agir como mais um presidente civil, que governa com um olho no Congresso e outro no Forte Apache (a sede do ministério da Defesa). Lula e seu ministro da Defesa, o meigo José Múcio, adoçam a pílula prometendo aos militares o rearmamento das forças – que Bolsonaro jamais se mexeu para fazer. Porque ele mandava e os generais obedeciam sem reclamar.
Publicado em Rogério Distéfano - O Insulto Diário
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