Fui internado ontem no leprosário de Santa Água. Sofro, aqui, o perverso gozo da derrota inteira, misturado a cabaças com restolhos de sopa e a esta cabeça de bagre – o Diretor-geral do leprosárioo senhor Kault – que se julga gênio, quando o único que pode ser é cabeça de bagre –, e só a tempestade o curaria. O Diretor-geral do leprosário nunca ousa vencer as palavras ou quebrar a gramática, por isso crê na gramática e crê em Deus.

Para continuar inteiro em meio ao vento que espalha os incensos, apago as velas, afundo os navios ao largo, finjo, esquivo-me, como se eu fosse barata com caspa na sobrancelha e fedesse à carniça.

Neste inferno onde respiro, dia-a-dia, nacos de mim caem no quarto, no banheiro, no pátio do leprosário de Santa Água. Aprendo, com certa dificuldade, que apenas o silêncio permite desvelar a parte interna de cada coisa contemplada. Depois que sair do leprosário, recordarei com saudade do preto velho Oriki, da monotonia de seu cotidiano. Ele será, para mim, a recordação dos amores que tive ou das ondas que nunca foram de ninguém.

O preto velho Oriki – os olhos carcomidos, a língua sucumbida – aprecia lundus e batuques do Congo –, dança o próprio vazio, traz uns olhos a pensar para dentro coisas de fora, e a minha alma se aclara com essa dança da chuva que o preto velho Oriki espalha pelos corredores gelados do leprosário.

Não tenho próximo de mim a figura da ninfa nua no cavalo de água. Será, talvez, por isso, que eu fique horas a observar o preto velho Oriki dançar? Se o motivo for a falta da ninfa nua, não mereço piedade nem nada. Este preto velho, leproso, nem sabíamos que pudesse guardar na alma a ninfa nua. Agora ele é, por fora, o que sempre foi no íntimo: fonte de água mineral.

No escritório do leprosário de Santa Água, o senhor Kault coça uma chaga na clavícula. Já sabe que contraiu a lepra, que mora numa Casa de vidro, com escorpiões vivos que podemos ver daqui. Os telhados da Casa de vidro fedem a urina. Sim, a lepra nada sabe da sombra da oliveira ao meio-dia. Sabe de jardins escorraçados, de câmaras de gás, de corpos tocados pela cinza das horas. Por causa disso, neste leprosário de Santa Água, não sou capaz, ainda, de um sentimento que dure como duram as pedras. Tudo em mim é outra coisa: uma impaciência de tigre atrás da neblina, um desassossego crescente e sempre igual, que me faz vociferar que tudo me interessa e nada me prende. Leio um poema:

Um livro
Um livro tem
Um livro tem de ser
Um livro tem de ser um
Um livro tem de ser um machado
Um livro tem de ser um machado para
Um livro tem de ser um machado para o
Um livro tem de ser um machado para o mar
Um livro tem de ser um machado para o


mar gelado

dentro
de
nós

A respiração sufocada do preto velho Oriki; não a escuto, estou pensando em outra coisa, estou pensando, por exemplo, que nada deveria escurecer o desejo, e que nada nunca destroça as águas do oceano.

Hoje é domingo, não recebi visita. Aqui, neste leprosário de Santa Água, se narro obscuramente a minha vida sem história, é porque nela só houve esta casa de vidro e, aos escorpiões que vejo nada digo, nada tenho que dizer.

Fernando José Karl

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Desenho de Walter Vasconcelos.
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Álbum

Foto sem crédito.

1978 – Yara SarmentoCuritiba (PR)Auditório Salvador de FerranteTeatro Guaíra. Peça: “Cinderela do Petróleo”. Produção e Direção: Roberto Menghini. Foto: Gilda Elisa, Yara Sarmento e Marilyn Miranda.

www.yarasarmento.blogspot.com

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Tomy – Cuba.
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Uma foto que ninguém nunca viu: cabeça de bacalhau. Palito, de Portugal.
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A tragédia da velhice não está em ser velho, mas sim ter sido jovem. (Oscar Wilde)
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Ouiés!

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Uebas!

Foto sem crédito.
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Solda – O Estado do Paraná.
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Coluna do Ibrahim Suelda

Foto de Andrea Paccini.

Mais de 40 artistas fizeram parte da 4ª edição do ACT Bazar, que foi realizado nos dias 7, 8 e 9 de dezembro, em Curitiba. A iniciativa do ACT – Ateliê de Criação Teatral – tem a curadoria do ator Luis Melo. O ACT Bazar é considerado um dos maiores encontros de artistas da cidade, para mostrar suas obras e processos criativos. O evento explora a arte como um todo, incluindo design, moda, artes plásticas, gastronomia, HQs, jóias, acessórios e outras tantas formas de expressão.
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Solda – O Estado do Paraná.
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Dragostinov – Bulgária.
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Camille Paglia, 60, historiadora americana e politicamente incorretíssima, se assume como ultra, big , hetero, trans, ou bissexual. Tanto faz! É também atéia, mas defende o ensino religioso, pois segundo ela, sem a religiosidade não seria possível compreender o mundo, já que a religião é um dos centros da cultura e da humanidade. Saramago, mais para correto do que para incorreto, também é ateu, mas admite que querendo ou não, se declara “culturalmente cristão”. Dois brilhantes ateus que admitem a importância da religião. Outro tema não menos controvertido, em que os intelectuais apresentam a obrigação acadêmica de ter que ser coerente com a teoria, é o caso do “preconceito”.

Coisa, que como a religião, todo mundo condena, mas não sobreviveria sem elas. Isto é, poucos sobrevivem sem preconceito e sem religião. Hannah Arendt diz que o preconceito faz parte da sociedade, mas os evolucionistas sociais do século XIX continuam fazendo onda com a História, imaginado uma “Cidade de Deus”. Tenho um amigo que sempre me diz: “sou ateu! Graças a Deus”. Já os meus amigos marxistas, têm apenas a obrigação ideológica de dizerem que são ateus. Um dia se darão conta de que a cultura e a pulsão são mais fortes que as ideologias. Uma coisa é o mundo pensado, outra coisa é o mundo vivido.

Graças a Deus, existem aqueles que conseguem deixar de racionalizar o nosso “irreflexivo cotidiano”. Porém, os acadêmicos não conseguem sequer bater um escanteio, como dizia Nelson Rodrigues. Deve ser difícil carregar o fardo ideológico da obrigação acadêmica, só para não trair a razão. Psicólogos, educadores e psiquiatras, sentem vergonha quando são surpreendidos roendo unha ou perdendo a calma. Eu compreenderia facilmente se visse um dia um marxista saindo de uma igreja, ou uma pedagoga soltando a franga. Como dizia Dominguinhos, “viver e não ter a vergonha de ser feliz”. ( A Voz do Bugio)

www.obugio.blogspot.com

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Teresina, Piauí.

O cartunista Fernandes foi acusado de espancar caranguejos em um restaurante da cidade. Foto de Solda.
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Ele apavora!

Benett – Gazeta do Povo.
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