A primeira história de hoje nos fala de uma antiga lenda celta segundo a qual o ciúme amoroso – e não há outro ciúme senão o amoroso -, foi inventado pelos deuses como forma de preservar os amantes. Acontece que, ao extrapolar o seu sentido e a sua intenção, o ciúme se transformou, ainda conforme a lenda, num pecado capital – só comparável à ira ou à luxúria.
Os sacerdotes druidas costumavam dar um esclarecedor exemplo deste, digamos, vacilo dos deuses – eles próprios, os deuses, quando animaram-se a inventar o ciúme, já estavam absolutamente possuídos por ele. E não fizeram mais que o destrutivo jogo do sentimento obsedante: traíram-se a si próprios, e ao seu povo, em trágicos desvarios de amor.
Até os deuses extrapolaram, esclarece a lenda. Mas, em proporções aceitáveis, o ciúme ainda conserva sua função primeira – a de preservar o amor e os amantes. E a de manifestar ao ser amado um singelo interesse…
Nem tudo, pois, está perdido. Nem entre os homens nem entre os deuses.
Já a segunda história de hoje flagra o velho sábio druida que, fervoroso, benzia à sua passagem gatos e pedras. Meditava na praia, à sombra de um penedo, quando uma moça, escandalosamente feliz, o interpelou: “Venerável mestre, desejo ser sua discípula!”. “Por quê?” – replicou o mestre.
A jovem só encontrara a felicidade depois de haver provado das árduas águas do espírito. Ainda assim, sobrara nela um grave defeito: tudo tinha que ser tão alto quanto o céu… Diante daquele incisivo “por quê?” do mestre, não fez por menos, e pronunciou uma frase altissonante, retórica:
“É que eu quero encontrar o Excelso Senhor das Alturas Paradisíacas!”.
O mestre druida, sem vacilar, e sem sair de onde estava, agarrou a discípula pela gola do manto, arrastou-a pelas pedras e pelas urzes até a beira do vasto Oceano e afundou-lhe a cabeça na água. Ali foi forçada a permanecer por quase meio minuto, com o mestre impedindo-a que respirasse.
Por fim o velho mestre a libertou das águas e a arrastou até um pequeno templo dedicado ao Sol. Ela cuspia sangue, engasgava com a água salgada, se debatendo, ainda, para reaver a respiração.
Quando a discípula se recuperou totalmente, o velho druida quis saber: “O que você sentiu, minha jovem, enquanto se afogava?”. “Absoluta falta de ar, mestre” – respondeu a moça. “Isso é muito precioso”, confirmou o velho druida. E aconselhou: