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Seca no Piauí
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Duas lendas celtas
Os sacerdotes druidas costumavam dar um esclarecedor exemplo deste, digamos, vacilo dos deuses – eles próprios, os deuses, quando animaram-se a inventar o ciúme, já estavam absolutamente possuídos por ele. E não fizeram mais que o destrutivo jogo do sentimento obsedante: traíram-se a si próprios, e ao seu povo, em trágicos desvarios de amor.
Até os deuses extrapolaram, esclarece a lenda. Mas, em proporções aceitáveis, o ciúme ainda conserva sua função primeira – a de preservar o amor e os amantes. E a de manifestar ao ser amado um singelo interesse…
Nem tudo, pois, está perdido. Nem entre os homens nem entre os deuses.
Já a segunda história de hoje flagra o velho sábio druida que, fervoroso, benzia à sua passagem gatos e pedras. Meditava na praia, à sombra de um penedo, quando uma moça, escandalosamente feliz, o interpelou: “Venerável mestre, desejo ser sua discípula!”. “Por quê?” – replicou o mestre.
A jovem só encontrara a felicidade depois de haver provado das árduas águas do espírito. Ainda assim, sobrara nela um grave defeito: tudo tinha que ser tão alto quanto o céu… Diante daquele incisivo “por quê?” do mestre, não fez por menos, e pronunciou uma frase altissonante, retórica:
“É que eu quero encontrar o Excelso Senhor das Alturas Paradisíacas!”. O mestre druida, sem vacilar, e sem sair de onde estava, agarrou a discípula pela gola do manto, arrastou-a pelas pedras e pelas urzes até a beira do vasto Oceano e afundou-lhe a cabeça na água. Ali foi forçada a permanecer por quase meio minuto, com o mestre impedindo-a que respirasse.Por fim o velho mestre a libertou das águas e a arrastou até um pequeno templo dedicado ao Sol. Ela cuspia sangue, engasgava com a água salgada, se debatendo, ainda, para reaver a respiração.
Quando a discípula se recuperou totalmente, o velho druida quis saber: “O que você sentiu, minha jovem, enquanto se afogava?”. “Absoluta falta de ar, mestre” – respondeu a moça. “Isso é muito precioso”, confirmou o velho druida. E aconselhou:
“Vá agora para casa e, quando souber esperar pelo Excelso Senhor das Alturas Paradisíacas tanto quanto ansiaste por ar enquanto se afogava, retorne a esta praia”. E instruiu, conclusivo: “Sabe o que acontecerá, então? Riremos juntos de quem pensa que o ar, por ser invisível, não existe. Assim como o Excelso Senhor das Alturas Paradisíacas, este nome tolo que você inventou para Deus”.Wilson Bueno [09/12/2007] O Estado do Paraná.
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Eu e Mané, Mané e eu
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Um beijo grande, Anna Toledo
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Vingança
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Lições de um ignorante
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“Truco, caboco véio!”
Ernani Buchmann
é o autor dessa enciclopédia do farsante. Mas no bom sentido. Diz no dicionário que “trucco”, do italiano, significa disfarce, máscara, maquiagem, truque, artimanha, expediente, fraude, engano. Palavras apropriadas para esse ardiloso jogo de cartas que causa tantos entreveros quanto a sua verdadeira origem.Quem conhece Ernani Buchmann apenas de seus livros afirma que essa jogatina nasceu de sua fértil imaginação. Outros apostam que o
truco já era conhecido dos antigos etruscos, que jogavam com as cartas entalhadas na madeira. Só não pergunte da origem para os gaúchos. Por supuesto, eles vão dizer que o truco nasceu em Passo Fundo. Erraram por pouco, tchê! A origem mais documentada está em língua espanhola, e até o escritor argentino Jorge Luiz Borges já carteou sobre o assunto: “Quarenta cartas querem deslocar a vida. Nas mãos range o maço novo ou se trava o velho: miscelâneas de papelão que se animarão, um ás de espadas que será tão onipotente como Dom Juan Manuel, valetes pançudos dos quais Velásquez copiou o seu”.***
No jogo de truco e no Livro do truco – até letra de música não falta. Como o causo desta “Última trucada”:
Tava numa mesa de bar / Eu e mais três companheiros / Se quisesse eu bem sabia / Eram eles maçaroqueiros
Nós ia puxando tento / Tava valendo dinheiro / A sorte tava comigo / Comigo e com meu parceiro
Três de paus, sete de copas / Fui dando pro companheiro / Pra mim caiu espadilha / E o cabra ficou por conta
Ele puxou do seu revólver / Eu puxei do meu primeiro / Dei três tiros no malvado / Fui dez anos prisioneiro
Agora sou assassino / E me chamam de desordeiro / Foi minha última trucada / juro por meu padroeiro
***
Quando Ernani Buchman abre suas cartas na mesa, não tenha dúvida: vêm boas risadas. Conta ele, por exemplo, a história do falecido Gulhobel Camargo, que não era homem de dúvidas:
Carlinhos tinha razão, perderam a partida. Sem ação na mesa, ambos sentados, Guilhobel atacou o parceiro:
— A culpa é sua. Se tivesse insistido mais um pouco eu teria desistido.
Ele puxou do seu revólver / Eu puxei do meu primeiro / Dei três tiros no malvado / Fui dez anos prisioneiro
Agora sou assassino / E me chamam de desordeiro / Foi minha última trucada / juro por meu padroeiro
***
Quando Ernani Buchman abre suas cartas na mesa, não tenha dúvida: vêm boas risadas. Conta ele, por exemplo, a história do falecido Gulhobel Camargo, que não era homem de dúvidas:
Em certo torneio arrebanhou Carlinhos Anaconda como parceiro. Chegaram aos 11 pontos na negra. Refugaram algumas vezes, por conta das deficiências das cartas, quando Guilhobel considerou a possibilidade de mandar o jogo. Carlinhos não tinha a mesma certeza:
— Acho melhor não, seu Guilhobel.
— É bom jogo. Vamos mandar.
— Seu Guilhobel, é pouca carta.
— Pouca nada. Corre o jogo.Carlinhos tinha razão, perderam a partida. Sem ação na mesa, ambos sentados, Guilhobel atacou o parceiro:
— A culpa é sua. Se tivesse insistido mais um pouco eu teria desistido.
***
Em Curitiba truco é cultura, ou não teria academia (Atruc) e até hino com esses versos:
E não me venhas de facão / Que eu grito seis, caboco véio / E não dê sinal de gato / Não apele, não embuche / Que este jogo é sério… O jogo é tão sério que O livro do truco será lançado na noite desta segunda-feira, no Restaurante Beto Batata do Alto da Rua XV (Rua Professor Brandão, 678), a partir das 19 horas. Custa R$ 15,00 o exemplar e pode ser adquirido também pelo e-mail luannali@hotmail.com. Dante Mendonça [09/12/2007]O Estado do Paraná.
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25º Salão de Humor do Piauí
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