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Tempo
Paulo Marins e Carlos Zanello de Aguiar – Macaxera – em algum lugar do passado. © Alberto Melo Viana
Tempo
Cada louco é um exército: Durvalino Couto Filho escreveu o prefácio do livro Torquato Neto ou a Carne Seca é Servida, de Kenard Kruel.
Músico, poeta, compositor, jornalista, ator, diretor, produtor cultural e publicitário. Tem músicas gravadas com Geraldo Brito e Edvaldo Nascimento. Foto de Vera Solda, show dos Dinos, no Salão de Internacional de Humor do Piauí, Teresina, 27|3/2009
Tiros no pé (ou no casco)
Sem as ferraduras presidenciais, Bolsonaro está com a lei nos calcanhares: todos os quatro
Bolsonaro dá um tiro no pé. Bolsonaro dá outro tiro no pé. Os cinco maiores tiros de Bolsonaro no pé. Os dez maiores tiros de Bolsonaro no pé. Os maiores tiros de Bolsonaro no pé antes, durante ou depois das eleições. Etc. É o que o Google nos dá às palavras “Bolsonaro” e “tiro no pé”. Referem-se às inúmeras vezes em que, desde a sua posse, Bolsonaro tentou fulminar as instituições e acabou fuzilando o próprio pé.
O tiro no pé é a consequência de uma aposta. Resulta de um lance alto, que pode dar certo ou não. O sensato seria primeiro calcular as probabilidades. Mas o verdadeiro apostador não faz isto. Ele joga às cegas, certo de que vai ganhar. O 7 de Setembro de 2021, por exemplo, foi um tiro no pé: Bolsonaro tentou o golpe, não encontrou respaldo e, brochíssimo, teve de se humilhar diante do STF.
Sua convocação dos embaixadores, em julho de 2022, para denunciar sem provas a “fraude” nas eleições foi outro. Já suas ofensas à jornalista Vera Magalhães e à candidata Simone Tebet no primeiro debate valeram por um tiro com espingarda de dois canos. Às vésperas do pleito, foram seus pistoleiros Roberto Jefferson e Carla Zambelli que miraram em outros e o acertaram no casco. Por fim, derrotado, Bolsonaro obrigou seu partido a pedir a impugnação dos votos e o levou a uma multa de R$ 22 milhões pelo TSE.
Com Lula diplomado, vieram os ataques terroristas que Bolsonaro sempre insuflou. A invasão dos três Poderes a 8 de janeiro foi como submeter seu pé a um pelotão de fuzilamento mundial. Para completar, houve o post em que, de novo, ele contestou a lisura eleitoral e, com a nobreza de um tiro com bala de prata, a minuta do golpe entre os papéis de seu ex-ministro.
Durante todo o mandato, Bolsonaro metralhou seu pé e sobreviveu. Mas, agora, sem as ferraduras presidenciais, veremos como se vira com a Justiça nos calcanhares —todos os quatro.
A obstrução real
Desde Miami, Bolsonaro replica post golpista de procurador do Estado de Mato Grosso acusando fraude na votação que elegeu Lula. Em seguida apagou o texto. Dirão os filhos, amigos, seguidores, golpistas e terroristas, que isso não significa apoio ao terrorismo de domingo em Brasília, nem estímulo a que o golpe seja concluído de vez. Mentira, mais uma, na novilíngua manipuladora do nazifascismo brasileiro.
Quer dizer que o bolsonarismo segue acreditando na possibilidade do golpe; o bolsonarismo, os investidores e financiadores do caos mais os inocentes úteis, tanto os inconsequentes que embarcam nos protestos quanto os que criticam as decisões enérgicas e oportunas do ministro Alexandre de Moraes.
Sem a continuidade das medidas repressivas – amparadas na legalidade -, o retorno anunciado de Bolsonaro não será para retomar o tratamento da obstrução intestinal. Será para reativar a obstrução à democracia, vítima de atentados a faca dos terroristas de Bolsonaro e com o alento recebido dos que não aceitam a legitimidade das eleições.
Publicado em O Insulto Diário - Rogério Distéfano
Com a tag Alexandre de Moraes
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“Evangélicos invasores acham que estão salvando o Brasil em missão divina”
Três perguntas para Vinicius do Valle Doutor em Ciência Política pela USP e diretor do Observatório Evangélico, ele diz que pastores evangélicos e cantores gospel participaram das invasões do dia 8 de janeiro às sedes dos três Poderes e compõem uma célula extremista que considera estar “salvando o Brasil”.
1. O que os evangélicos tiveram a ver com a invasão em Brasília? “A aliança entre setores evangélicos e o bolsonarismo é antiga. Recentemente, eles se tornaram um público muito notável nas manifestações antidemocráticas que bloquearam rodovias, produziram acampamentos em frente a quartéis e, agora, invadiram os três Poderes. Mas os evangélicos não estão sozinhos nessa. Nos acampamentos em frente a quartéis do Exército, circulam muitas mensagens de gente dizendo que recebeu psicografias de personagens como Olavo de Carvalho, Dom Pedro II e Tancredo Neves pedindo o apoio da sociedade a Bolsonaro. Isso mostra que tem um setor do espiritismo envolvido nesse meio. E é comum também vermos cenas de acampados portando imagens de Nossa Senhora. Existe essa performance católica de extrema-direita e um misticismo difuso entre esses radicais.”
2. Quem são os evangélicos-terroristas? “São simples fiéis ou líderes de instituições pequenas. Alguns são também influenciadores digitais com muitos seguidores, como o pastor Sandro Rocha, que “profetizou” que os manifestantes iriam livrar o país do comunismo e que disse ter tido revelações mostrando que o Exército iria para as ruas junto do povo. Pessoas como ele encorajaram os atos de 8 de janeiro.”
3. Como se sabe que havia tantos evangélicos entre os invasores? “Pelos vídeos é possível ver muita gente conhecida. Estavam ‘in loco’, por exemplo, os pastores Thiago Bezerra, Mari Santos, Ricardo Martins e César Moisés. Dá para ver nas imagens também cantores gospel como Salomão Vieira, Michele Nascimento, Fernanda Oliver e Wesley Ros.
Eles estão lá, invadindo e orando, falando em línguas e transmitindo tudo ao vivo. Isso pode parecer uma grande burrice — cometer um crime e mostrar o rosto—, mas mostra o quão convictos eles estavam de que o que faziam era correto. Consideram estar salvando o Brasil numa missão divina e se veem enquanto heróis. Isso é uma característica dos movimentos extremistas. Os talibãs, no Afeganistão, também cometem atrocidades em nome do bem. E não se veem como extremistas.”.
Publicado em Thaís Oyama - UOL
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Tempo
Robert Doisneau
Robert Doisneau (14 de abril de 1912 – 1º de abril de 1994) famoso fotógrafo nascido na cidade de Gentilly, Val-de-Marne, na França.
Era um apaixonado por fotografias de rua, registrando a vida social das pessoas que viviam em Paris e em seus arredores, mas também trabalhou em fotografias para publicações em revistas, assim como a famosa fotografia “O Beijo do Hotel de Ville” (Paris, 1950).
O gozo dos ratos imundos
A melhor vacina contra os fascistas fanáticos é a vitória da democracia
No domingo de manhã, horas antes de assistir às cenas de barbárie dos ratos imundos que infestam o Brasil, escutei a gravação da minha conferência no dia mais importante da minha trajetória como antropóloga: 8 de maio de 2015, quando me tornei professora titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Na conferência, contei que, aos 16 anos, quando prestei vestibular, meu desejo era ser professora e cursar faculdade de ciências sociais ou de história. Meu pai me impediu de realizar o meu desejo. Minha imaturidade e, principalmente, meu medo da personalidade violenta e autoritária do meu pai explicam o meu primeiro descaminho.
Convencida por uma prima, prestei vestibular para fonoaudiologia e passei em terceiro lugar na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Um ano depois, pressionada pelo meu pai, que era advogado em Santos e queria que eu me tornasse juíza, prestei vestibular para direito na mesma universidade. Cursei apenas seis meses de direito e voltei para a fonoaudiologia.
Nos quatro anos da faculdade eu me tornei uma ativa militante contra a ditadura militar. Cabe lembrar que entrei na faculdade em 1974 e experimentei um clima de violenta repressão política que culminou com a invasão da PUC de São Paulo, em 1977, pelo coronel Erasmo Dias, com a prisão, tortura e espancamento de muitos dos meus companheiros de militância estudantil.
Com 20 anos estava formada e com a certeza de que jamais seria fonoaudióloga, apesar de ter amado o estágio com crianças com deficiência auditiva.
Poucos meses antes de me casar, meu primeiro namorado me perguntou: “Você quer morar em São Paulo ou no Rio de Janeiro?”. “No Rio”, respondi sem titubear, apesar de não conhecer ninguém na cidade.
Com 21 anos, ingressei no mestrado de educação da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e, dois anos depois, fui a primeira aluna da turma a defender dissertação com uma pesquisa sobre a satisfação profissional de pessoas com deficiência auditiva. Minha militância como diretora da Associação de Pós-Graduação da PUC-Rio foi bastante intensa no período do meu mestrado.
Logo depois, fui convidada para coordenar uma organização não governamental e, durante seis anos, organizei debates, seminários e reuniões com entidades da sociedade civil do Rio de Janeiro, de São Paulo e de Brasília, que lutaram corajosamente pela democracia brasileira. Participei ativamente, nos anos 1980, das Diretas Já! e do Movimento Nacional Pró-Constituinte.
Em 1987, ingressei no doutorado do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro e fui representante dos alunos de mestrado e doutorado. Em 1994, defendi a tese “Toda mulher é meio Leila Diniz”. Poucos meses depois, tornei-me professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Meu sonho de criança, apesar dos obstáculos familiares, acabou se realizando.
A minha militância intensa e apaixonada pela democracia brasileira, desde os meus 16 anos, me tornou uma antropóloga obcecada em tentar compreender por que tantos “cidadãos do bem” apoiam e se identificam com psicopatas genocidas, com criminosos odientos e covardes cujo único gozo é destruir, torturar e matar.
No dia 30 de outubro de 2022, com o resultado das eleições, gritei dando pulos de alegria: “Somos livres, enfim! Estamos livres, enfim!”.
No primeiro dia de 2023, chorei copiosamente com a emocionante subida da rampa e com o impactante discurso no parlatório.
Após alguns dias de alívio e de esperança, os ratos imundos saíram novamente do esgoto fétido para infernizar as nossas vidas. Reli, então, o parágrafo final da minha coluna de 11 de agosto de 2021.
“Fascistas não passarão! Os psicopatas genocidas nos transformaram em um país de impotentes, ansiosos e deprimidos.”
“Está muito difícil enxergar o fim dessa tragédia, mas tenho certeza de que os brasileiros que defendem a democracia, a paz e a justiça social são muito mais numerosos e corajosos do que os golpistas covardes que vomitam ódio e violência. Sei que posso estar sendo meio Pollyanna, mas acredito que a vacina contra o fascismo está na nossa união, força e coragem. Unidos venceremos. O povo unido jamais será vencido. Fascistas não passarão! Tamo juntos?”
O livro pós-eletrônico
O elevador era silencioso, macio, quase sem inércia. Estirei o corpo na chaise-longue até chegar ao 235o. andar do edifício-sede da Star Tech, onde Benedict Willhauser, vice-diretor de divulgação, me recebeu em tapetes de vison sintético. Tínhamos estudado juntos em Yale e ele me concedeu o privilégio de uma entrevista pessoal.
“O livro mudou de natureza sem perder seu fascínio”, falou, quando nos sentamos em poltronas invisíveis, campos de força eletromagnéticos que resistem e se amoldam ao peso do corpo humano. “Poucas pessoas de fora da empresa manusearam este protótipo. Queremos sua opinião. Se quiser bancar o advogado do diabo, fique à vontade. Nós aqui estamos tão entusiasmados com o produto que algum defeito dele talvez nos escape. Seu feedback é essencial”. Sentamos diante de um cubo de metal, num canto da enorme sala. Ele digitou comandos.
O livro era uma pequena nuvem acinzentada de coruscantes grãos em preto-e-branco, vagamente esférica, flutuando a meio metro de altura. Enfiei nas mãos as luvas (que tinham formatos e consistências diferentes), e mergulhei as mãos ali dentro. Foi um choque elétrico de um milhão de volts no cérebro, mas sem dor, sem incômodo, apenas um surto quase insuportável de luz, de lucidez.
E me veio a lembrança nítida, vívida, de tudo que havia ali dentro. Digo lembrança pela sensação de familiaridade com cada frase, cada ilustração, cada abertura de capítulo ou nota no índice remissivo; como um livro lido e relido ao longo da vida inteira, debulhado com gosto e conhecido quase de cor, que folheamos depois de algum tempo enquanto sentimos nosso espírito se deleitar com aquele reencontro. Um livro com um milhão de páginas que eu enxergava simultaneamente e era capaz de comparar uma a uma, ou de cem em cem. E vi (sim, vi!) cada espiral de DNA do meu corpo se retorcendo e recompondo, recebendo uma quinta letra.
Fiquei mergulhado ali, lendo, lembrando, passeando pelo passado e pelo futuro… Quando retirei as mãos da nuvem, Willhauser estava de pé junto à janela, onde o sol estava terminando de se por. “Não deveriam ter criado isto”, falei. “Sim”, disse ele, “isto destruirá todos os tablets, iPads, todo o conceito do livro-pixel, da leitura visual, do texto pousado sobre uma superfície. Texto e mente agora serão uma coisa só”. Esfreguei os olhos; minha mente ainda ardia numa adrenalina selvagem de frases e imagens 3D. “É o fim do livro eletrônico?”, perguntei. “Ou o começo do livro biológico”, disse ele, voltando-se para mim e tirando os óculos escuros. Por entre as pálpebras, seus olhos eram duas réplicas da nuvem, e entendi naquele instante que de agora em diante os meus também.
Retrato de Alcy que integra ensaio com os principais cartunistas brasileiros
Nasci em Nogueira, perto de Bauru, e aprendi a andar e a desenhar aqui em São Paulo. Minha atuação como cartunista, tanto na grande imprensa como na alternativa, se estendeu de 1970, quando publiquei meus primeiros cartuns no Pasquim, até o final dos anos 90. A partir daí, passei a me dedicar só aos livros infantis, como ilustrador, autor e editor de arte.
Colaborei, com charges, cartuns, quadrinhos e ilustrações, nas seguintes publicações: Pasquim, Edição de Esportes (do Estadão, era vendida em separado às segundas), Movimento, Versus, Veja, Exame, Folha de S. Paulo, Jornal do Brasil, Isto É, Jornal da República, Caderno2 (do Estadão), Circo (revista de HQ e humor, da Circo Editorial), Diário Popular, Lance.
Em 2005, saiu pela Devir meu livro de cartuns, Vida de Artista, editado pelo saudoso Toninho Mendes. Fora isso, sempre na linha de humor, foram publicados alguns livros para crianças de minha autoria ou em parceria com Bel Linares ou com José Santos.
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