Ex-ministro da Justiça do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, Anderson Torres foi exonerado do cargo de secretário de Segurança Pública do Distrito Federal. A informação foi confirmada pelo governador Ibaneis Rocha ao repórter Túlio Amâncio, da TV Band.
Elogio
O que seria da raça dos homens se a insanidade não os impulsionasse na direção do casamento? Seria suportável a vida, com suas desilusões e desventuras, se a Loucura não suprisse as pessoas de urn ímpeto vital irracional e incoerente?
Não é mérito da Loucura haver no mundo laços de amizade que nos liguem a seres perfeitamente imperfeitos e defeituosos? Nas entrelinhas de Elogio da Loucura, o humanista Erasmo critica todos os racionalistas e escolásticos ortodoxos que punham o homem ao serviço da razão (e nao o contrário) e estende um véu de compaixão por sobre a natureza humana.
Pois a Loucura esta por toda parte, e todos se identificarão com algum dos tipos de loucos contemplados pelo autor. Afinal, como ele proprio diz, “Está descrito no primeiro capítulo do Eclesiastes: 0 ntimerói dos loucos é infinito. Ora, esse número infinito com-preende todos os homens, com exceçãode uns poucos, e du-vido que alguma vez se tenha visto esses poucos”.
Portanto, amigo, se você está rasgando merda ou comendo dinheiro (e vice-versa), fique tranquilo. Nem tudo está perdido. Coleção L&PM Pocket, Volume 278, 2007, tradução de Paulo Neves. Quem procurar, acha.
Tempo
BolsoNero
A vidente se concentra, fecha os olhos e fala:
–Vejo o senhor passando em uma avenida, em carro aberto, e uma multidão acenando.
Bolsonaro sorri e pergunta:
– Essa multidão está feliz?
– Sim, feliz como nunca!
– E eles estão correndo atrás do carro?
– Sim, por toda a volta do carro. Os batedores estão tendo dificuldades em abrir caminho.
– Eles carregam bandeiras?
– Sim, bandeiras do Brasil, e faixas com palavras de esperança e de um futuro em breve melhor.
– Eles gritam, cantam?
– Gritam frases de esperança: “Agora sim! Agora vai melhorar!”
– E eu, como estou reagindo?
– Não dá pra ver.
– E por que não?
– Porque o caixão está lacrado.
Já!
Intervenção psiquiátrica – ampla, geral e irrestrita.
Ex-ministro de Bolsonaro, Anderson Torres é exonerado da Segurança do DF
Torres foi acusado por governistas de empregar efetivo insuficiente para reprimir atentados contra a democracia no DF durante protestos de extremistas previstas para este domingo e que terminaram na invasão do Congresso Nacional, do Palácio do Planalto e do Supremo Tribunal Federal.
Por volta das 16h, o senador Randolfe Rodrigues (REDE-AP), líder do governo no Congresso Nacional disse que protocolou no STF pedido de prorrogação do inquérito dos atos antidemocráticos, para incluir responsáveis pelo vandalismo deste domingo em Brasília.
“Prorrogação do inquérito dos atos antidemocráticos a partir dos acontecimentos de hoje. 2 – Impedimento de posse e, em caso de posse, afastamento do Sr Anderson Torres, da Secretaria de Justiça do DF”, escreveu.
Golpistas invadem Planalto, Congresso e STF; PM reage com bombas
A ação de apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) ocorre uma semana após a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), antecedida por atos antidemocráticos insuflados pela retórica golpista do ex-presidente no período eleitoral.
Neste domingo, a Polícia Militar lançou bombas de efeito moral contra um grupo de centenas de manifestantes. Eles vieram do acampamento diante do Quartel-General do Exército, chegaram à Esplanada e se concentraram inicialmente em frente ao Ministério da Justiça.
Depois, uma parte invadiu a parte superior e a área interna do Congresso. Os manifestantes avançaram para a Praça dos Três Poderes, onde houve confronto. Em seguida, se dirigiram ao Palácio do Planalto, onde entraram em uma parte do complexo e perduraram bandeira do Brasil em uma janela.
Os apoiadores se dirigiram ainda ao STF, onde alcançaram uma área restrita de segurança.
No STF, os vândalos chegaram a pichar nas janelas a frase “perdeu, mané”.
A frase faz alusão a uma resposta dada pelo ministro do tribunal Luís Roberto Barroso a um bolsonarista após sofrer hostilidades dos militantes durante viagem a Nova York.
As imagens dos atos mostram os manifestantes circulando livremente pelo interior dos prédios públicos em diferentes andares, inclusive pela rampa interna do Palácio do Planalto –usada pelo presidente da República na posse e na recepção de autoridades estrangeiras.
Os vândalos também foram vistos próximos ao gabinete da Presidência da República, mesmo após terem quebrado janelas e outros itens; jogarem cadeiras para fora e usarem mangueiras de incêndio para inundar os locais.
Policiais militares do Distrito Federal foram vistos à distância do local sem reagirem diretamente, apenas tirando fotos dos acontecimentos com seus celulares.
Em Brasília, em reação às bombas, manifestantes soltaram fogos de artifício. No confronto, atiraram grades de ferro e outros objetos contra os policiais, que tiveram carros quebrados.
Integrantes do governo Lula, da Polícia Federal e do STF creditam ao governo do Distrito Federal, em especial à Secretaria de Segurança local, comandada pelo ex-ministro da Justiça Anderson Torres, a responsabilidade pela invasão e pela depredação dos golpistas.
Torres foi ministro da Justiça de Bolsonaro e está de férias neste domingo nos Estados Unidos.
Outro responsabilizado tem sido o atual ministro da Defesa, José Múcio. O titular da pasta defendeu durante a transição e na primeira semana de governo uma estratégia gradual de desmobilização dos acampamentos antidemocráticos em frente a quartéis, se opondo ao emprego de medidas coercitivas.
Os manifestantes bolsonaristas com pedidos golpistas estavam no Quartel-General do Exército, na capital federal, e conseguiram invadir os prédios na Praça dos Três Poderes. O acampamento existe desde a vitória eleitoral de Lula e é ocupado por bolsonaristas inconformados com a derrota do ex-presidente e defensores de um golpe militar contra o petista.
O presidente Lula não está em Brasília neste final de semana —viajou para São Paulo e visitava Araraquara, no interior paulista, para acompanhar vítimas das chuvas.
O governo Lula prometia desmobilizar os acampamentos montados por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro em frente ao quartel-general do Exército, em Brasília.
Na última quarta-feira (4), o ministro da Justiça, Flávio Dino, havia afirmado que “até sexta-feira”, 6 de janeiro, as mobilizações antidemocráticas seriam resolvidas.
“A condução que eu tenho com o [José] Múcio [ministro da Defesa] é de que estará resolvido até sexta”, disse.
No entanto, o que se viu foi o oposto. Além de não ter conseguido expulsar os manifestantes, o governo teve que acionar a Força Nacional para reforçar a segurança da Esplanada dos Ministérios.
A escalada da violência nos atos antidemocráticos liderados por bolsonaristas fez desmoronar o discurso público de Bolsonaro e de seus aliados, que destacavam as manifestações como ordeiras e pacíficas e buscavam associar protestos violentos a grupos de esquerda.
Com casos de violência que incluem agressões, sabotagem, saques, sequestro e tentativa de homicídio, as manifestações atingiram seu ponto crítico.
Os responsáveis poderão ser punidos na Justiça com base na Lei Antiterrorismo, legislação que os próprios bolsonaristas tentaram endurecer visando punir manifestantes de esquerda.
Venda de fumaça
Como ouvi no salão Isaac Westwood: na cadeira ao lado a cabeleireira dizia à cliente que fazia dread “hoje em dia é negócio ser neguinha”. Lula vende fumaça no sistema de cotas raciais.
Todo dia é dia
Mas não se encontra lugar.
Corro atrás do prejuízo
E sou sempre o último a chegar.
solda
Assim caminha a Humanidade
Mudou então para Inácio Pinto, percebendo meses mais tarde que a mudança lhe trouxera mais problemas, dores de cabeça incontornáveis e fadiga ao registro de nascimento. Desesperado, requereu novo nome, desta vez em cartório exemplar e passou a se chamar Cupertino Durão por seis longos anos.
Temendo represálias populares e insinuações maldosas, se atirou de corpo e alma ao pomposo nome de Jacinto Carvalho. Um ano depois, Aquino Rego, aliás Inácio Pinto, aliás Cupertino Durão, aliás Jacinto Carvalho, se transformava radiante em Chega de Mudar de Nome, como é conhecido até hoje.
As aventuras de Enola Holmes
É uma espécie de fanfic de garotas, e em se tratando de Holmes o termo “fanfic” é curiosamente apropriado. Diz-se que as primeiras “fan fictions” escritas a sério surgiram justamente na época de Doyle. Quando ele “matou” o detetive no conto “O Problema Final” (dezembro de 1893), os leitores ficaram indignados. Doyle passou a se dedicar a romances históricos e de ficção científica, que ele considerava mais sérios (e que em geral são excelentes). Recusou-se a prosseguir com as aventuras do detetive. O que fizeram os fãs? Começaram a escrever novas aventuras, por conta própria, usando os elementos inventados por Doyle.
Enola Holmes se beneficia de algumas restrições: é uma história para jovens, é uma comédia, é uma “fan fiction”. Digo que se beneficia porque em filmes desse tipo o realismo vai para o espaço antes mesmo do espectador comprar a entrada na bilheteria. Há uma série de “obrigações” das quais a autora já se livra por antecipação.
Numa comédia, acreditamos (sem discutir) em situações inverossímeis, coincidências de arrancar os cabelos, soluções improvisadas para resolver perrengues da história… desde que o resultado seja engraçado, provoque risadas, divirta. A história não tem intenção de ser levada a sério nestes aspectos. Claro que não se pode abusar – e em geral o limite entre o sucesso e o fracasso é a intuição do diretor, de saber quando pode forçar um pouco, e quando não deve.
Enola Holmes está cheia daquelas “lutas mortais” que sabemos inofensivas, porque os simpáticos personagens não podem morrer. Força um pouco a barra nas coincidências-resolvedoras-de-problemas: a toda hora alguém perde um papelzinho no chão na hora em que a detetive está passando. Força na solução miraculosa de criptogramas, de que nem o Sherlock local (Henry Cavill) escapa. Não importa. Não é na verossimilhança dedutiva que o sentido do filme repousa, e sim no fluxo ininterrupto e divertido de peripécias e surpresas.
Isto projeta Enola Holmes num patamar um tanto mais leve e menos realista do que outro filme holmesiano igualmente simpático, O Enigma da Pirâmide (“Young Sherlock Holmes”, 1985, Barry Levinson), dirigido a um público semelhante, mas com um tipo de desfecho trágico que a série Enola Holmes dificilmente vai arriscar.
A série usa um truque narrativo arriscado, que é o da “quebra da quarta parede”, quando um ator olha para a câmera e diz algo dirigido à platéia. No presente caso, acho que funciona bem. O cinema de vanguarda do século passado usou isso para desassossegar as platéias bovinas e obedientes dos anos 1960. Jean-Luc Godard fez desse recurso uma de suas “assinaturas” típicas. Era uma provocação, uma alfinetada.
Não é o caso, aqui. Enola comenta o tempo todo as peripécias, dirigindo-se ao público: “Calma, vou explicar…”, “Ih, as coisas não saíram como eu pensava…” etc. Ela o faz na velha tradição teatral das farsas e dos vaudevilles, onde se consolidou o divertido recurso do “à parte”:
O Marquês de Chantilly e a Duquesa de Petigateau estão paquerando no caramanchão.
MARQUÊS
Ah, Mademoiselle, um dia ainda vos confessarei as cenas que me vêm à mente quando estou na vossa companhia!…
DUQUESA
Oh… caro Marquês… mal posso esperar por esse momento! (à parte:) A esta altura eu já estou achando as minhas cenas mais interessantes do que as dele.
O traço essencial do “à parte” é que a frase, mesmo pronunciada em voz alta, não é escutada pelo personagem que está a centímetros de distância. Há um pequeno rasgão no real: naquele instante, a atriz reconhece brechtianamente a existência de uma platéia que está vendo tudo – e dirige-se a ela, numa voz que não é escutada pelo ator que continua apenas “personagem”.
O “à parte” de Enola não é o mesmo “à parte” de Anna Karina nos filmes de Godard. É uma licença narrativa que figura nos estatutos universais da comédia, onde, por definição, o realismo só vai até um certo ponto. Pode virar um cacoete, quando dá muito certo, e artistas como Dercy Gonçalves, Renato Aragão, Jorge Dória e outros ficaram famosos por comentários dirigidos ao público.