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Dicionário princesino

Pela proximidade, podemos dizer que Ponta Grossa é um vestíbulo de Curitiba. Ou seja, aqui na capital os ponta-grossenses fazem o vestibular obrigatório para ingressar no mundo. Depois disso, eles ganham variadas cascas – poetas, músicos, desenhistas, médicos, engenheiros, advogados – e torna-se difícil identificá-los a olho nu. Neste estágio, os nascidos nos Campos Gerais passam a fazer graça de suas origens, o que é uma saudável característica.
Contam, a propósito, que certa feita seqüestraram o filho de um poderoso empresário de Curitiba e, depois de alguns dias de suspense, os seqüestradores entraram em contato com a família para negociar o preço do resgate:
— Queremos um milhão de dólares! Nada mais, nada menos! É isso, ou…
— Vocês vão matar o menino!
— Absolutamente, matar não vamos! Mas vamos largar o piá em Ponta Grossa para o resto da vida. Lá ele vai estudar, casar e criar os filhos.
****
O princesino, ao contrário de quem nasceu em Londrina, não acha que Ponta Grossa é o umbigo do mundo. Sóbrios e modestos, os reconhecemos pela linguagem. O glossário abaixo me foi passado por um cidadão de Tibagi, nascido em Ponta Grossa por falta de outra maternidade no segundo planalto. Portanto, ciúmes à parte, o vocabulário é veraz: quando alguém falar com habitualidade pelo menos três das frases seguintes, não tenha dúvida: é um legítimo ponta-grossense:
“Fulano é uma guaramputa!” – essa expressão equivale ao “lazarento”, é mais original que a própria cerveja. “Você veio de carro?” Responde o guaramputa: “Não, vim andandinho, passeandinho, olhandinho umas vitrines. “Se alguém conta alguma coisa e você desconfia, logo solta um: “Ade… capaiz!?”. Em Ponta Grossa, não se corta caminho, se “atora”!
“Tudo esgualepado! Fiz uma gambiarra, um xunxo, que xaxo, lá vai borduada!” Ponta-grossense nato que se preza, já disse: “Teu cú, burro!”, já pronunciou “capaiz home!”, ou a variação “capaiz loco veio!”. “Ah, mãezinha do fiinho!” – é um elogio erótico, seguida das exclamações: “Gente do céu!”; “Tira o zóio!”.
Orna ou não orna? Responde o pedreiro: “Isso aqui não tá ornando muito não, dona!”. Palavrões clássicos: caipora; animár veio; animár de teta; jacu; rabudo!
“Crêênndios pai!”; “Má que diabo esse tróço?”. “Que que tá se abrindo?”, é aquele que está dando risada à toa.
“Dar com a mão” é fazer sinal para o ônibus, quando vai “pra diante” de tal lugar. Ponta-grossense nunca fica na posição de cócoras, fica de cróque. Falar “puiz óia, eu…”, quando quer acrescentar um alguma coisa na conversa. “Piorrr que é memo!”, é o ato de confirmar algo, ruim ou bom.
“Fulano te qué!”, significava que alguém está chamando. “Mas que tar isso?”. “Páre de atiçá, porque depois você carpe o trecho!” Carpir o trecho é sair fora.
“Lá longe!”, para explicar que determinado local não fica perto. “Vô pa cidade pagá umas conta!”, referindo-se ao centro comercial. “Que bom cecesse!”, ou que bom que fosse. “Ala nego veio, passe meio di fianco que cabe!” “Mais é uma disgranhenta! Essa menina fica se fresquiando pro namorado dos otro!”
“Quanto custa? Dois pila?” e “Quedêle?”, é onde está? “Voltimeia eu v! lá.” “Eta, piá veio!” “Puta la merda!”, por fim tem uma expressão que só o princesino traduz: “FIRME CO ZUK?”
Dante Mendonça (24/10/2007) O Estado do Paraná.
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Cruelritiba, sala de estar

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Mural da História

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Uebas!
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Crist
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Ele apavora!
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Iara vê DVD

Mas tem muitos bambas neste DVD. O Conjunto Época de Ouro, com o já saudoso César Faria, o Maestro Radamés Gnattali, a Velha Guarda da Portela, Manacéa, Casquinha, Copinha, seu Argemiro, ufa, como diz a letra do samba: “Se for falar da Portela, hoje eu não vou terminar”. Crianças, só posso dizer que não me arrependi, o dvd todo é bom dimai da conta. A palhinha do Canhoto da Paraíba e do Maestro Copinha, são de assistir ajoelhado. Tem uma parte maravilhosa em que Paulinho e alguns componentes da Velha Guarda da Portela dançam o miudinho, ao som do próprio, que é genial.
Destaco também a participação da Zezé Mota, estonteant eno seu belo vestido “tomara que esta alça caia”. Gente, quando ela, do alto do seu salto dez, começa a cantar ” Senhora Liberdade” é de arrepiar, pensei cá com “mis botones”: será que a Senhora Liberdade não é uma linda mulata assanhada? Trocando em miudinhos, eu recomendo!
Iara Teixeira
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Tina Modotti
Arte de Trimano, especial para este blog.
Com a mesma facilidade com que espinafra um caudilho, Luiz Trimano enaltece as virtudes revolucionárias de quem as tem. É o caso da fotógrafa Tina Modotti, italiana que viveu nos anos 20 e 30, nos EUA e no México. Foi ativista do Partido Comunista e se engajou no trabalho folclórico de comunidades do interior, onde retratava arte religiosa indígena e desigualdades sociais. Nunca pregou prego sem estopa. Foi casada com o também fotógrafo Edward Weston, um clássico da cultura moderna americana, e, depois, com um líder revolucionário latinoamericano. Tina, inquieta como sempre, morreu em 1939, no México, aparentemente de causa natural. Aqui ela vive na pena de Trimano.
Toninho Vaz, de Santa Teresa
Toninho Vaz, de Santa Teresa
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Ziraldo – Caratinga 24/10/1932

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Deu no jornal

Fábio Campana (24/10/2007) O Estado do Paraná.
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De Dalton Trevisan à banda polaca

Nesta falha geológica estão nomes como Alfredo Bosi, com História Concisa da Literatura Brasileira, e Antonio Candido, com Formação da Literatura Brasileira: momentos decisivos. As duas ficam parecendo obras que estudaram a pré-história de nossas letras. Especialmente a deste último que, ao deixar os séculos XVI e XVII de fora, simplesmente ignorou nada menos do que o Barroco.
Mas há boas alternativas, entre as quais História da Literatura Brasileira, de Luciana Stegagno Picchio, das mais completas a abordar o fenômeno literário brasileiro; a História da Literatura Brasileira: seus fundamentos econômicos, de Nélson Werneck Sodré; os livros de Flávio Loureiro Chaves, Massaud Moisés e Domício Proença Filho, todas exemplares no que propõem e nos períodos que cobrem.
Já imaginaram uma história da literatura brasileira sem o Padre Vieira? Pois ela existe, é de autoria de um de nossos mais turiferados críticos e ainda tem o subtítulo de “momentos decisivos”. Como se o Barroco não tivesse sido um “momento decisivo”, não apenas em nossas letras, mas na cultura brasileira! Não se quer dizer que referidas obras não sejam consistentes no que abordam, mas seus cortes são injustificáveis, seja qual o método escolhido.
Este pano de fundo explica o ar de surpresa que mais uma vez se manifestou semana passada, quando Dalton Trevisan, um dos maiores contistas vivos, não apenas do Brasil, mas do mundo, foi agraciado no Prêmio Portugal Telecom deste ano outra vez – ele já tinha arrebatado o troféu numa edição anterior deste prestigioso galardão, que honra as literaturas de língua portuguesa.
O Paraná não lembrou apenas agora que detém o passe de um craque da seleção brasileira de nossas letras. Pois, além de Trevisan, nas últimas décadas se fez presente com nomes como os poetas Paulo Leminski, Helena Kolody e Alice Ruiz; narradores como Domingos Pellegrini, Manoel Carlos Karam, Noel Nascimento e Wilson Bueno, sem contar o grande historiador da inteligência brasileira e crítico literário Wilson Martins, sempre atualizado com a literatura brasileira, semana após semana, há várias décadas, tendo pontificado nos grandes jornais, depois de décadas de docência na Universidade de Nova York.
Coleção de causos
E, por coincidência, na mesma semana em que tão pouco os leitores encontraram sobre a reiterada presença do Paraná no Prêmio Portugal Telecom, o jornalista e cartunista Dante Mendonça lançava A Banda Polaca (Novo Século, 148 páginas, R$ 33).
Ilustrado por Márcia Széliga, o livro é uma primorosa coletânea de causos marcados com um tipo de humor quase privativo deste imigrante europeu do Brasil meridional. O sociólogo Octávio Ianni resumiu em triste síntese a vida sofrida que os polacos levaram por muito tempo, quase escravizados por imigrantes já estabelecidos, como os alemães e os italianos. A frase cunhada por Ianni é de uma clarividência rara na sociologia tropical: “o polaco é o negro do Paraná”.
Também o cineasta Sylvio Back dedicou ao tema um belo documentário: Vida e Sangue de Polaco.
O livro levanta, entre tantas questões, uma pequenina e muito curiosa. Por que dizemos “polonês” e não “polaco”? Eis algumas pistas simples de duas línguas neolatinas, como o português: em espanhol é “polaco”, em italiano é “polacco”. “Polaco” chegou antes à língua portuguesa. O primeiro registro escrito é de 1562. “Polonês” chegou quase um século depois, em 1656. Provavelmente foi a carga pejorativa sobre “polaco”, especialmente sobre “polaca”, que fez com que o português trocasse “polaco” por “polonês”.
Com efeito, “polaca” não denominou com preconceito étnico evidente apenas as prostitutas de várias nacionalidades, mas também a Constituição do Brasil promulgada no dia 10 de novembro de 1937.
Como se vê, são detalhes que revelam, por vias sutis e transversas, que há mistérios medonhos em tantas ocultações, sejam de vivos, sejam de cadáveres de autores de quem crítica e historiografia literária exigiram como condição sine qua non para os reconhecerem nada menos do que o atestado de óbito!
Deonísio da Silva/Observatório da Imprensa.
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