Os vampiros de Curitiba

No feriadão, a capital paranaense quedou-se silenciosa e vazia. No meio da noite podia-se ouvir a apito do trem na Serra do Mar e as ruas lembravam a Curitiba de 1940, quando o ronco do interventor Manoel Ribas não deixava ninguém dormir direito.

Naqueles idos, existia em Curitiba um grupo de moços denominado Patrulha da Madrugada. “O que faziam eles então?” – pergunta e responde o professor e crítico Temístocles Linhares, no livro Relíquias de uma polêmica entre amigos, editado e prefaciado, em 1985, pelo então secretário da Cultura René Dotti.

“A altas horas, depois de visitar a redação dos jornais, onde alguns escreviam, rabiscando crônicas ou notícias, saíam em busca de melhores ares, a percorrer ruas e praças vazias, para conversar ou mesmo discutir os grandes problemas sem solução. Diga-se desde logo que, a despeito da inocência dessas conversas fiadas, às vezes em voz mais alta do que de costume, a patrulha era o terror das pacatas famílias curitibanas, não passando os patrulheiros de perigosos desordeiros, perturbadores da ordem e do sono dos que sonhavam com anjos e não concebiam poder apanhar o sereno da noite sem a maior ameaça para a saúde. No entanto, não havia nada mais ofensivo, seja em matéria de bem-estar do organismo, seja em benefício da ordem pública”.

E continua a apresentação do literato Temístocles:
“Hoje, seria disparatado pensar assim. A cidade cresceu e mudou, para tornar-se a metrópole que é agora, cheia de carros e de gente, a qualquer hora do dia e da noite. Cheia de barulho, sobretudo. Mas, naquela época, a tranqüilidade e modorra da pequena burguesia nela predominante eram realmente proverbiais. É certo que a nova geração já se opunha às vezes contra aquela pacatez provinciana”.

A Patrulha da Madrugada que tirava o sono da pacata pequena burguesia tinha dezenas de nomes ilustres. Só para citar alguns, naquele sodalício noturno tinha o pintor Guido Viaro, “teatral e gesticulante, sobretudo quando se referia a Nero como incendiário de Roma”; Leo Cobe, grande matemático; Pretextato Taborda Ribas, banqueiro e proprietário de grande parte dos imóveis do centro da cidade; mais os quatro amigos que deram origem ao livro: Milton Carneiro, médico formado no Rio de Janeiro, professor de Biologia na Universidade e “o mais notívago dos patrulheiros, que só voltava para casa quando o dia amanhecia”; Bento Munhoz da Rocha Netto, futuro governador eleito do Paraná; Caio Machado, filho de Vicente Machado que se formara em Ciências Sociais na Suíça; o próprio Temístocles Linhares, que morou alguns anos em Buenos Aires e chegou a manter amizade com
Jorge Luis Borges.

A polêmica entre os quatro amigos da Patrulha da Madrugada travou-se pela imprensa, em 1943. Começou em torno da Rússia, do que ela representava para os aliados na Segunda Guerra Mundial, e terminou – “Falar no comunismo da Rússia constituía verdadeiro tabu”-quando o delegado de Getúlio Vargas, da Ordem Política e Social, mandou suspender a discussão escrita entre os quatro amigos.

***

Neste feriadão, Curitiba quedou-se silenciosa e vazia. Pacata, como se estivéssemos nos idos de 1940. No meio da noite, podia-se ouvir o apito do trem na Serra do Mar, o ronco de Maneco Facão, e o alarido da Patrulha da Madrugada. Os pioneiros vampiros de Curitiba.

Dante Mendonça [14/10/2007]O Estado do Paraná

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Clarín – Buenos Aires.
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Esquina Brasil

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Café Literário

Derrubamos dois governos (este e o próximo), brindamos às boas idéias e marcamos encontro num futuro remoto – apenas para tomar um chope ou uisque – que é a preferência do Luis Pimentel. O Antonio Torres está parado (manutenção) muito mais em função do cigarro do que da birita: ele não consegue beber sem fumar. Eu fico ali, vocês sabem, naquele meio campo, concordando em gênero, número e grau com o Guti Guarabira que falou ao telefone: “Meu caro, no chopinho eu sou eterno”. (Foto Toninho Vaz)
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Figuras de Curitiba

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Esquina Brasil

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Clarín – Buenos Aires.
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Alguém sabe onde isso acontece?

Todos perderam o fio da meada. Ou de Ariadne, fio condutor, que auxilia a sair de local, de situação problemática ou a dominar um raciocínio, um sistema de idéias etc. Bah! Foto sem crédito.
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Para a Turma da Mônica

Foto de J.R. Duran. Uebas!
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Tempos de chumbo

Desenho publicado na revista Atenção, da extinta Grafipar, final da década de 70. Porra!

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Café Literário

Derrubamos dois governos (este e o próximo), brindamos às boas idéias e marcamos encontro num futuro remoto – apenas para tomar um chope ou uisque – que é a preferência do Luis Pimentel. O Antonio Torres está parado (manutenção) muito mais em função do cigarro do que da birita: ele não consegue beber sem fumar. Eu fico ali, vocês sabem, naquele meio campo, concordando em gênero, número e grau com o Guti Guarabira que falou ao telefone: “Meu caro, no chopinho eu sou eterno”. (Foto Toninho Vaz)
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Cruelritiba, apagando no marco zero

Foto de Lina Faria.
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Ainda dá tempo

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Ilustração de Iara Teixeira.

Na sala, o baile, onde se tocavam os sambas de partido entre os mais velhos, e mesmo música instrumental quando apareciam músicos profissionais, muitos da primeira geração dos filhos dos baianos, que frequentavam a casa. No terreiro, o samba raiado e às vezes, as rodas de batuque entre os mais moços. (….) As grandes figuras do mundo musical carioca, Pixinguinha, Donga, João da Baiana, Heitor dos Prazeres, surgem ainda crianças naquelas rodas onde aprendem as tradições musicais baianas a que depois dariam uma forma nova, carioca.(…)

Trecho do livro “Tia Ciata e a pequena África no Rio de Janeiro”, do professor e cineasta Roberto Moura.

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Figuras de Curitiba

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