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Libertarismo ray ban
Jornais do primeiro mundo criticam a extensão dos poderes de Alexandre Moraes, presidente do TSE, nas eleições. O primeiro mundo vê o primeiro mundo com lentes contra o sol. Seguem o credo libertário que construíram em séculos de lutas contra a tirania. O Brasil tenta começar sua luta contra a tirania.
A Grã Bretanha, de onde partem as críticas mais pesadas contra Moraes, teve revoltas, revoluções e decapitações para construir seu modelo de democracia e liberdade. O Brasil nem identificou todos os cadáveres da última tirania. Ervas daninhas como Jair Bolsonaro têm de ser extirpadas.
Os EUA, com Donald Trump, modelo e inspiração de Jair Bolsonaro, revelam a vocação suicida do libertarismo e as deformações do fanatismo. Com os recursos que tem, Alexandre Moraes trabalha heroicamente para impedir que o Mito da falsidade chegue ao extremo do mimetismo nazista que insistimos em não perceber.
Publicado em Rogério Distéfano - O Insulto Diário
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Portugal
Curriculum Vitae
Profissional experiente, onívoro, fluente no dialeto dos porões
Formado por academia militar. Revela ser ex-adepto de sexo com animais, pois “naquele tempo não tinha mulher como tem hoje em dia”. Mostra interesse em consumir carne humana, pois “comeria um índio sem problema nenhum”. Num episódio com “menininhas de 14 anos, bonitas, arrumadinhas” conta que “pintou um clima”. Costuma dizer “minha frase foi deturpada”, “brincadeira”, “narrativa”. É seu reflexo verbal.
Tentou abortar seu quarto filho, mas garante lutar contra a prática. Discreto, prefere sigilo para assuntos familiares. Já planejou atentado a bomba. Já esteve preso.
Conhecedor da micro-corrupção, “sonego o que for possível”: sabe expropriar salário de funcionário e superfaturar gasto de gasolina. Ensina a família. Conhecedor da macro-corrupção, compra centrão com dinheiro público não rastreável e fecha instituições de combate à corrupção. Manda desmatar. Não reajusta merenda escolar, corta em farmácia popular. Corta em futuro.
Proprietário residencial, usa auxílio-moradia para “comer gente” (comer, veja bem, no sentido figurado, não canibalístico). Comprou 51 imóveis com dinheiro vivo.
Tem ojeriza a pobres: “não sabe fazer nada, o pobre só tem uma utilidade nesse país: votar com diploma de burro no bolso”. “Irresponsáveis e aproveitadores.” Tentou dificultar transporte de pessoas pobres na eleição.
Tem ojeriza a negros: “O afrodescendente mais leve pesava sete arrobas. Não fazem nada.” “Não seria operado por médico cotista”. Curioso em história, leu que “eram os negros que entregavam os escravos”.
Dotado de certo ódio a nordestinos, os “pau de arara”: “Só tá faltando crescer um pouquinho a cabeça.” “Dentre os governadores da ‘paraíba’, o pior é o do Maranhão.” Atribui derrota eleitoral na região a nordestinos incultos e analfabetos.
Amedrontado pelo feminino: “mulher deve ganhar salário menor porque engravida”. Mente invulgar, vincula estupro a mérito: “não te estupro porque não merece”. O Brasil, para ele, é “uma virgem que todo tarado de fora quer”. Mas “quem quiser vir fazer sexo com mulher, fique à vontade”.
De sexualidade incerta, afirma sua potência sexual amiúde. Num “país de maricas”, é fascinado pelo homossexual: “começa a ficar meio gayzinho, dá coro que ele melhora”; “seria incapaz de amar filho homossexual”; “prefiro morto”. Em sua cosmovisão, “minorias se adequam ou desaparecem”. Direitos devem ser “rasgados e jogados na latrina”.
Desejou extermínio indígena: “A cavalaria brasileira foi incompetente. Competente, sim, foi a cavalaria norte-americana, que dizimou seus índios.” Guia-se pelo ultraje a rigor.
Não acredita nos fatos do racismo, homofobia, fome e morte de criança por Covid. Na pandemia, lutou por aglomeração sem máscara e atrasou compra de vacina. Mortes com assinatura. “Dei uma aloprada.”
Entre seus talentos expressivos, imita gente morrendo sem ar (ar que sonegou em Manaus). Empurra remédio ineficaz produzido pelas Forças Armadas. Não visitou hospitais, incitou invasão a UTIs. Dá boas-vindas a vírus. “Minha especialidade é matar”. Não é coveiro.
Tem força de vontade para tirar férias e passear de jet ski no pico da pandemia. Tem determinação para trabalhar pouco. Tem propósito de terceirizar responsabilidades. “A culpa não é minha.” Tem foco na liberdade de desobedecer a lei. “E daí?”
Apreciador da fraseologia nazista, dali tira slogans para o país: “Brasil acima de tudo” (“Deutschland über alles”); “Uma nação, um povo, um líder” (“Ein Volk, ein Reich, ein Führer”); “Trabalho liberta” (“Arbeit macht frei”, de Auschwitz). Toma leite em aparições públicas, na tradição do supremacismo branco. “Vocês são razão da existência de meu mandato”, escreveu a neonazistas.
Frequentador de loja maçônica, garantiu que vai lá só pedir voto. Fez do funeral da Rainha da Inglaterra ato de campanha. E da Assembleia Geral da ONU. E do Círio de Nazaré (seu “sírio”). E no Santuário de Aparecida, agrediu bispo e católicos em geral. Cristão peculiar.
Cartas de recomendação podem ser solicitadas ao ex-ator Guilherme de Pádua, ao ex-goleiro Bruno, ao ex-assessor Queiroz e ao ex-amigo Adriano (in memoriam).
Fluente nos dialetos dos porões, regozija-se com o verbo “fuzilar” e a expressão “ponta da praia”, lugar onde fardados desovavam corpos. Seu passado místico.
Seu livro de cabeceira foi escrito por torturador de mães nuas e desfiguradas na frente dos filhos. O torturador asseverou: “Agi com consciência tranquila. Nunca ocultei cadáver.” Segundo se diz, a frase que o define foi proferida por pensador francês: “Seus filhos e seus bons amigos constituem para ele a totalidade da espécie humana” (Tocqueville, 1835).
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Com a tag biscoito fino, José Guaraci Fraga, porto alegre
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Dia do Poeta
Escreve, poeta! Com tua letra torta,
escreve, exorciza e enxota
o fantasma de Leminski do umbral.
Teu verso é fraco, e rimas mal,
mas não importa, agora Szymborska é morta!
Bo©zon, 20.X.2021
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E, além de tudo, ele ainda é poeta!
Na Secretaria do Tribunal de Justiça do Estado, tive vários colegas que honraram a atividade pública, desempenhando-a com dignidade, dedicação, competência e inteligência. Com alguns deles mantenho, até hoje, laços de amizade e certa convivência. E aí devo citar Civan Lopes, Romeu Felipe Bacellar Filho, Eurico de Paiva Vidal Jr., Edson Dallagassa, Norberto Elíseo Pavelec, Alcebíades de Almeida Faria Neto e Mário Montanha Teixeira Filho.
Hoje, porém desejo destacar um em especial, com a permissão dos demais: exatamente o último acima citado, o meu querido Da Montanha.
Embora bem mais moço do que eu, Mário foi e é um companheiro de lutas e de ideais. Temos várias afinidades e, mesmo quando discordamos, mantemos intacto o respeito mútuo. Na verdade, sonhamos os mesmos sonhos. E ele sabe, como eu, que ninguém nem nenhum patife de plantão será capaz de impedir que continuemos sonhando. Diante da maldição que ora nos domina, os sonhos apenas dormem. Mas logo acordarão.
Até então, a grande virtude do Da Montanha era a dedicação ao próximo, às causas populares. É um líder sindical nato, especialmente dos servidores públicos. Já dirigiu o Sindicado dos Servidores do Poder Judiciário e agora está na diretoria da Associação dos Consultores Jurídicos do Poder Judiciário. Poderia ter ido bem mais longe no caminho político não fosse a excessiva modéstia, a falta de ambição pessoal e um defeito congênito: é decente. Mais: não compactua com os poderosos de plantão e não participa de conchavos, sejam eles quais forem.
Pois agora, de repente, descobri outra virtude do Mário Montanha Teixeira Filho: o meu estimado Da Montanha é também poeta. Tinha guardado na gaveta dois cadernos com alguns poemas escritos nos idos de 1978 a 1987 – “pensamentos antigos, pequenas histórias sobre o cotidiano do homem comum, as desigualdades sociais, os enquadramentos impostos pela lei e pelos donos do mundo, os desejos de liberdade e a perspectiva de mudanças” – e decidiu reuni-los em um pequeno volume, “Versos Velhos”, editado pelo selo Inside, da Casa Editorial.
Nele, como destaca o editor, “com o recurso a imagens diretas e frases cortantes”, Mário “descreve uma realidade urbana de permanente vazio existencial, ambientada em cenários de opressão, medo e silêncio”, “dramas individuais e coletivos que alimentam, a seu modo, uma dose contida de otimismo – ou de esperança”.
Querem uma amostra? Aí vai:
“Da janela
“Olho de uma janela / que não é minha / a marcha de alguns soldados. / Eles passam / com seus fuzis, e os homens nas ruas / seguem os caminhos de sempre.
“Eu não sei do meu caminho, / apenas olho / o que não me parece justo / e calo, / porque a janela / em que me debruço / pertence a homens / que não querem / as ruas sem fuzis.”
Outra:
“Depois de nós
“Eu não sei o que será / do outro dia, / se existirá / ou será cinza. / Nem por isso / minhas pernas deixam / de caminhar, / e eu vou passando / discretamente pela vida.”
Mais uma, premonitória e mais atual do que nunca:
“Para que exista outro dia
“Passo por você / a minha cabeça está baixa, não vê / o seu olhar que se desvia, à procura / de um pedaço de céu. / Não sou nobre, e nem carreguei / armas e ódio para que vivêssemos / um dia melhor. / Não sou pobre, pois meu prato / carrega o que me basta / para não cair na rua, / abandonado pela multidão desatenta.
“Por algum tempo, passarei / por você, e meu olhar sedento / e sem coragem procurará descanso / na mansidão do céu. / Meu coração, porém, me dirá / que não bastam armas e ódio / para que exista outro dia.”
E, por fim:
“Homens da lei
“Eles, os justos, / os cidadãos beneméritos / e defensores da pátria, / passam os dias / distantes das ruas, / dos campos e das favelas, / pensando nas leis que amanhã / acrescentarão um pouco / mais de ouro / a seus patrimônios. / Eles, os justos / que vivem do trabalho alheio, / trancam-se em seus palácios / para a troca / de banquetes e condecorações.
“Eles, os justos / que se odeiam, / enriquecem com suas próprias / leis / e com as mãos de outros homens.”
Não sei se “Versos Velhos” está presente nas quase inexistentes livrarias, mas os interessados poderão valer-se do e-mail contato@editorialcasa.com.br.
Publicado em Célio Heitor Guimarães
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