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O “Monstro do Maracanã” e o “Pantera Negra” – VI parte

Exatamente às dezoito horas, os presidentes do Benfica e do Sporting entraram na sala de audiências de Salazar. O ditador mandou-os sentar, um em cada lado da mesa e tomou assento na cabeceira. “Senhores presidentes, como disse vou ouvir as duas partes. Pelas informações que tenho, entendo que o senhor presidente do Sporting deva falar antes e o senhor presidente do Benfica depois. Não interrompam um ao outro, pois do contrário encerro a audiência. Réplicas e tréplicas não serão admitidas. Aqui é o Palácio de São Bento, onde as decisões mais importantes de Portugal são tomadas e não a beira do Tejo, onde as lavadeiras e os rufiões se ofendem e se agridem fisicamente. Mantenham a compostura que é esperada de dois cidadãos que gozam do mais alto prestígio e consideração por parte deste que vos fala. Cada um terá trinta minutos, vou contar no relógio, para exporem as suas versões”. Uma hora depois, ouvidos os argumentos de ambos os lados, Salazar respondeu: “Todos os pontos expostos pelas duas partes são altamente relevantes. A questão é muito difícil. Amanhã vou passar o dia em Setúbal fiscalizando obras. No domingo, logo após o Cardeal sair do Palácio, depois da Santa Missa, vou refletir profundamente sobre a questão. Ordenei que marcassem na agenda um horário para os senhores presidentes virem ouvir a minha decisão final e irrevogável ainda no domingo, às onze horas da manhã”. Os presidentes levantaram, fizeram as deferências de praxe e foram embora.

“Senhor presidente do Sporting Clube de Portugal, senhor presidente do Sport Lisboa e Benfica: Conforme prometi e nunca quebrei uma promessa na vida, refleti profundamente sobre a questão posta. Não se assustem, mas todos os assuntos que chegam ao Palácio de São Bento para que eu os resolva, são sempre por dinheiro. Os senhores querem o ‘negro’, que segundo todos me dizem, é um fenômeno com o esférico nos pés e na cabeça. Pensam em lotar o estádio José Alvalade ou o da Luz e faturar milhões de escudos com os bilhetes. É sempre o dinheiro. Pois bem, Portugal enriqueceu com os seus navegadores que singraram os mares do mundo. Enriqueceu ainda mais com os negros que buscou na África e com os que mandou ao Brasil. Contudo, sempre pagamos pelos negros e negras que arrancamos da África. É sempre o dinheiro. O ‘facto’ concreto é que o Benfica pagou à ‘negra’ que pariu o ‘negro’. O ‘negro’ há de jogar no Benfica. Ainda hoje, vou ‘ordenar’ ao senhor presidente da Federação Portuguesa de Futebol que registre o ‘africano’ como jogador do Benfica. Tenho dito. A audiência está encerrada. Bom almoço aos senhores presidentes”. Salazar levantou e saiu da sala.

O presidente do Benfica teve uma excelente refeição. Devorou uma bacalhoada e derrubou uma garrafa do mais caro vinho Dão. O do Sporting, sem apetite, foi para a casa e ordenou aos criados, todos negros, que não lhe passassem nenhum telefonema e não deixassem ninguém, nem mesmo a esposa, entrar no quarto.

No domingo seguinte, conforme previra Salazar, o Benfica vendeu milhões de escudos em bilhetes e lotou o Estádio da Luz. Todos queriam saudar os campeões da Europa e ver o moçambicano de quem a imprensa falava maravilhas. Goleada do Benfica, com vários gols e assistências de Eusébio. Na verdade, os africanos já faziam sucesso jogando futebol em Portugal. Até então, o maior craque da seleção portuguesa era Matateu (Sebastião da Fonseca Lucas), d`O Belenenses. No Benfica, brilhavam Mário Coluna e José Águas. Matateu e Coluna, mulatos, eram nascidos em Moçambique, o branco Águas em Angola. Mas Eusébio era o melhor de todos, disseram todos os portugueses que o viram jogar. Na segunda-feira, as bancas de jornais de todo Portugal amanheceram com a edição do esportivo “A Bola”. O editor tinha escolhido uma foto de Eusébio sorridente depois de um gol e a capa era toda tomada pelo seu rosto. Abaixo a legenda: “O Pantera Negra”. Doravante, e até hoje, os adeptos do Benfica levam aos estádios enormes bandeiras vermelhas com a figura de uma pantera negra.

Com a realização da primeira Copa Libertadores da América, vencida pelo Peñarol, um empresário esperto resolveu instituir uma competição entre o ganhador da Libertadores e da Copa de Campeões da Europa. A FIFA, que não levava um tostão da empreitada, que deixava milhões nas mãos do espertalhão e dos clubes, nunca reconheceu a competição como “mundial de clubes”, reconhecendo apenas como campeões do mundo os clubes vencedores do seu mundial, iniciado no Brasil em 2000 e retomado em 2005 no Japão. Assim sendo, no Brasil, apenas são campeões mundiais com o selo FIFA o Corinthians (2000 e 2012), São Paulo (2005) e o Internacional (2006).

Ocorre, entretanto, que o primeiro mundial “Mandrake” foi realizado em 1960 entre o Real Madrid e o Peñarol. No primeiro jogo (Estádio Centenário), empate em zero a zero. No segundo (Estádio Santiago Bernabéu), vitória arrasadora do Real Madrid. No ano seguinte, disputaram o torneio, denominado pelo empresário espertalhão de Copa Intercontinental (já que a FIFA havia proibido a utilização de denominação de Campeonato Mundial), o Peñarol (que havia bisado a Libertadores) e o Benfica, o segundo campeão europeu, depois de cinco conquistas consecutivas do Real Madrid.

No primeiro jogo, em Lisboa, desfalcado de Eusébio, machucado, vitória do Benfica por 1×0, com gol do também moçambicano Coluna. No jogo de volta, ainda sem Eusébio, e com uma atuação irreconhecível, o Benfica foi goleado por 5×0 no Estádio Centenário. As noitadas no Rio de Janeiro, onde o Benfica havia feito escala, antes de chegar ao Uruguai, cobraram o seu preço. Como o regulamento não previa desempate por saldo de gols, um terceiro jogo foi marcado e disputado no mesmo Centenário. O Peñarol de Maidana (que depois jogaria no Palmeiras), com Martínez e Cano; González, Gonçalves e Aguirre; Cubilla, Ledesma, Sasía, Spencer e Joya, treinado por Roberto Scarone, venceu, por 2×1; o Benfica de Costa Pereira, com Ângelo, Humberto; Neto, Cruz e Simões; José Augusto, Eusébio, Águas, Coluna e Cavém, tendo como técnico Béla Guttmann. Sasía abriu o placar, Eusébio empatou e Sasía fez seu segundo gol na partida.

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Ex-ministro do Turismo é nomeado à presidência da Embratur

Apesar do tempo de mandato previsto de 4 anos à frente da agência, Gilson Machado pode ser demitido pelo presidente eleito Lula

O presidente Jair Bolsonaro (PL) nomeou nesta sexta-feira (18), o ex-ministro do Turismo Gilson Machado para a presidente da Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (Embratur).  A nomeação prevê um mandato de quatro anos à frente do órgão.

Apesar da nomeação e da previsão do tempo de mandato, a lei que rege a Embratur permite que o presidente da República pode demitir o indicado a qualquer tempo. Portanto, Machado por ser dispensado após a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Machado deixou o cargo de ministro para concorrer ao Senador pelo estado de Pernambuco e acabou derrotado pela senadora eleita Teresa Leitão (PT-PE).

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Dibujo

© Orlando Pedroso

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Epitáfio

© Gilson Camargo

é preciso que se morra
mas que se morra aos poucos
devagar
dentro do horário
com cautela
sem onerar o erário
é preciso morrer
na disciplina protocolar
parar de respirar
sem nenhum comentário
morrer
é muito particular

Poema: Solda; música: Octávio Camargo; bedelho: Bárbara Kirchner

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Guido Viaro autografa o seu vigésimo romance neste sábado (19) em Curitiba

O escritor Guido Viaro autografa o seu mais recente romance, A Gueixa sem Século (Insight, 2022) neste sábado, 19 de novembro, das 14h às 19h, no Museu Guido Viaro (Rua XV de Novembro, 1.348), no centro de Curitiba. Com 256 páginas, o livro custa R$ 50. A entrada é gratuita.

Há tempos sem realizar sessão de autógrafos, o escritor curitibano, ocupante da cadeira 14 da Academia Paranaense de Letras, explica o motivo de promover um lançamento presencial: “Acho que é o reencontro com o público, e também a celebração de chegar ao vigésimo romance”.

Em A Gueixa sem Século, o título, de acordo com o autor, faz uma referência a uma questão fundamental do livro: o tempo – e sua enorme influência sobre as coisas e elementos menos fundamentais, e também a influência (do tempo) consideravelmente menor sobre aquilo que é mais profundo.

No romance, a protagonista Aiko deixa o Japão para conhecer o mundo durante o século 20. Viaro acrescenta que as leitoras e os leitores vão encontrar, em A Gueixa sem Século, aventuras, descobertas, mas também questionamentos a respeito do sentido da vida.

O que se repete em todos os romances do escritor, segundo ele mesmo diz, inclusive em A Gueixa sem Século, é a eterna busca por algo que transcenda a existência banal – e isso pode ser comprovado lendo, por exemplo, O comprador (Insight, 2017), O princípio da incerteza (Insight, 2019), O mestre das polcas (Insight, 2019) e Trem (Insight, 2020), entre outros títulos que Viaro lançou.

Em 2020, ele conquistou o primeiro lugar no Prêmio BPP Digital, da Biblioteca Pública do Paraná, na categoria romance com O Cubo Mágico. “Foi uma grande alegria e serviu como um ponto de referência para descobrir que o que faço pode servir para outros. O resultado e o reconhecimento são importantes e dão confiança, mas não podem se tornar um objetivo”, afirma.

Curitibano, nascido em 1968, o escritor é formado em Letras e dirige desde 2009 o Museu Guido Viaro, instituição que exibe obras de seu avô (ambos têm o mesmo nome) e viabiliza atividades culturais, de exibições de filmes a lançamentos de livros.

Serviço: Lançamento de A Gueixa sem Século (Insight, 2022), vigésimo romance de Guido Viaro. Dia 19 de novembro, das 14h às 19 horas. Local: Museu Guido Viaro (Rua XV de Novembro, 1.348), Curitiba. A obra, de 256 páginas, custa R$ 50. Entrada gratuita.

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Zahira_6. © IShotMyself

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O “Monstro do Maracanã” e o “Pantera Negra” – V parte

Eusébio, ao contrário da vontade de Béla Guttmann, não jogou no domingo e nem foi à Berna enfrentar o Barcelona. Quando o Benfica levou os papéis à Federação Portuguesa de Futebol, o Sporting já tinha apresentado uma representação contra o Benfica por “sequestro de jogador de futebol” e “aliciamento de menores”. A FPF proibiu os Águias de colocar Eusébio em campo, enquanto se reuniria para analisar a questão.

O Barcelona alinhou Ramallets, Foncho e Gracia; Gensana, Verges e Garay; Kocsis, Luisito Suárez, Evaristo, Kubala e Czibor. O Benfica foi a campo com Costa Pereira, João e Martins; Neto, Germano e Cruz; José Augusto, Santana, José Águas, Mário Coluna e Cavém. Na frieza do papel, o Barça era bem melhor, mas dentro do campo a vitória seria portuguesa. Aos 20 do primeiro tempo, Kocsis abriu o placar. Os benfiquistas não se abalaram e empataram dez minutos após, com Águas. Um minuto depois, o mesmo Águas dá um chute despretensioso e a bola se encaminhava pela linha de fundo. Ramallets (goleiro também da seleção espanhola), nunca ninguém entendeu a razão, principalmente ele, resolve ir na bola, se ajoelha e a agarra. Quando levanta para bater o tiro de meta, faz um gesto impensado com o braço e a pelota vai parar no fundo do gol. Foi um dos maiores frangos da história da humanidade. O árbitro manda anotar gol contra de Ramallets. Em um minuto, o Benfica virava o jogo.

Segundo tempo nervoso, mas o Benfica jogava melhor, tanto que com 10 minutos o mulato moçambicano Coluna faz o três a um. O Barcelona não se entrega e vai todo para cima do time de Lisboa. Faltando 10 minutos para o jogo acabar, Czibor faz o dois a três. O jogo passa a ser um massacre do Barça contra o Benfica. Todo o banco de reservas do Benfica, inclusive Guttmann, se ajoelha e passa a rezar para Nossa Senhora de Fátima iluminar o guarda-redes Costa Pereira. A Santa Virgem faz melhor: protege a baliza do Benfica. Luisito Suárez, Evaristo e Kocsis (por duas vezes) acertam as traves do gol do Benfica. O árbitro encerra a partida e o Benfica é, depois de cinco temporadas seguidas do Real Madrid, o grande campeão da Europa. Para completar a festa o artilheiro da competição foi Águas, com onze tentos. O segundo colocado foi Evaristo, com seis. Os benfiquistas de todas as idades, que acompanhavam o jogo pelo rádio, inclusive Eusébio, na sua cama do Estádio da Luz, explodem de alegria. Era a maior conquista esportiva de todos os tempos da “terrinha”. Façanha digna de Vasco da Gama e Pedro Álvares Cabral a ser glorificada por Luís de Camões, Eça de Queiroz e Fernando Pessoa, que só não escreveram sobre o título porque já estavam mortos.

As quatro bolas na trave deram o que pensar. Um engenheiro morador em Berna, que estava no estádio, cuja história não guardou nem nome e nem sobrenome, ficou encafifado: se as traves não fossem retangulares e de madeira, ao menos uma das bolas teria batido nelas e entrado no gol. No dia seguinte, chegando na fábrica em que trabalhava, com as metragens das regras oficiais do futebol, construiu três traves (duas verticais menores e uma horizontal maior) de ferro e cilíndricas e as montou no fundo fábrica. Mandou os trabalhadores chutarem a bola nas traves. Sua teoria tinha dado certo na prática: muitas bolas batiam nas traves e entravam no gol com o novo material e a nova forma geométrica. Conseguiu um caminhão, botou as traves dentro e pegou a estrada rumo à Genebra. Chegando na cidadezinha de Nyon (na região metropolitana de Genebra), foi até a sede da UEFA e mostrou a novidade. Os cartolas da UEFA gostaram da ideia e determinaram que, doravante, nas suas competições, fossem utilizadas traves de ferro e cilíndricas. A novidade não demorou a chegar em Zurich, onde fica a sede da FIFA. Na Copa do Mundo de 1966, as traves já eram cilíndricas e de ferro, depois passaram a usar o alumínio no mundo todo.

Na volta de Berna o time do Benfica foi colocado na “carrinha” dos bombeiros e desfilou em carro aberto por toda Lisboa. O ditador António de Oliveira Salazar os esperou com muita paciência no Palácio de São Bento, onde todos haveriam de ser condecorados. Ao adentrar o Palácio, o presidente do Benfica resolveu jogar uma cartada decisiva: havia conquistado o maior título esportivo da história de Portugal, o que renderia muito prestígio ao ditador. Tinha ainda outra carta na manga: muito embora nunca tivesse admitido, corria a boca pequena em toda Lisboa, que Salazar era adepto do Benfica. Arrancaria a ordem para que Eusébio pudesse jogar nos Águias. Acaso tivesse a autorização do ditador, a Federação Portuguesa de Futebol nada poderia fazer a não ser obedecer. Quando a cerimônia se encaminhava para o final, o presidente do Benfica afastou vagarosamente o ditador da rodinha e ao pé do ouvido disse: “Excelentíssimo Senhor Presidente do Conselho de Ministros (era o cargo que António de Oliveira Salazar formalmente ocupava), necessito de uma audiência com Vossa Excelência”.

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O preenchimento de uma lacuna

A pergunta feita aos jornalistas, em tom de brincadeira, pelo futuro vice-presidente Geraldo Alckmin, após a primeira convocação da equipe de transição, diz tudo e prenuncia uma nova época:

– Vocês notaram como a atmosfera hoje está mais leve, mais amena e mais tranquila aqui em Brasília?

A resposta, foi um sorriso da rapaziada. Sorriso de alívio, de fim de pesadelo, de esperança de dias melhores. Nos últimos quase quatro anos, a imprensa, como todo brasileiro, viveu em constante aflição, angustiada, apreensiva, na constante espera de uma nova desgraça procedente do Palácio do Planalto. Era uma fieira de loucuras, maldades, impropriedades, incúrias e más notícias, interrompidas com o resultado no segundo turno das eleições presidenciais.

O jornalista Ruy Castro sintetizou bem: “Nas duas semanas desde a sua derrota nas eleições, Bolsonaro só foi ao Palácio do Planalto duas vezes (…). Fechou-se mudo no Alvorada e nos poupou de seus insultos, ameaças, mentiras, palavrões, cinismos e perdigotos”.

Ruy acrescenta que “leitores expressaram satisfação por passar dias sem encontrar uma menção a seu nome na primeira página dos jornais”. Nem nos noticiosos televisivos, graças a Deus. E o novo membro da Academia Brasileira de Letras concluiu: “A ausência de Bolsonaro preencheu uma lacuna e, nunca parecemos ter tanto governo quanto neste momento”.

Têm toda razão o vice Alckmin e colunista Ruy Castro. De repente, o ar se tornou mais respirável em Brasília e se começou a falar sério de política administrativa, de forma adulta e construtiva – coisa com a qual nos desacostumáramos no Brasil.

Tanto é que muita gente acha que o governo (ou desgoverno) do capitão já acabou e que ele já foi banido do trono. Ainda não, mas falta pouco e, nessa época – como bem dizia do saudoso presidente o TJ/PR, des. Alceu Conceição Machado – nem o cafezinho é mais servido quente.

O karma bolsonaliano está prestes a acabar. Foi triste, difícil, desagradável, quase insuportável. Mas está no fim, graças aos eleitores.

Ficarão os seus devotos, cegos seguidores, sem consciência e nenhum amor pelo Brasil. Mas a tendência é o esvaziamento em razão do afastamento do poder. Não há divindade que sobreviva sem altar.

A exceção é Lula. Mas deste trataremos oportunamente. Depois de formado o novo ministério, escolhidos os assessores e o caminho a ser seguido.

Luiz Inácio preocupa-nos? Sim e muito. Mas nada que se compare com o demente que está nos deixando. Além do que, estamos botando fé no vice Alckmin e na companheira Janja, bicho do Paraná, de União da Vitória.

P.S. – O cara nem assumiu e já está recebendo uma saraivada de críticas por haver pegado carona para o Egito num jatinho de um empresário. Como o pessoal da Conferência do Clima, que fez o convite, não se pronunciou sobre o transporte e muito menos o atual governo, queriam que ele fosse a nado?! A viagem não é oficial, mas é do interesse do Brasil. E, se me permitem o excesso, do mundo.

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“Monstro do Maracanã” e o “Pantera Negra” – IV parte

Como ainda havia uma folga de horário antes do avião decolar do aeroporto de Lourenço Marques, o presidente do Benfiquinha passou no único magazine da cidade e comprou sapatos, fato (terno), camisa, gravata e um chapéu para Eusébio. Não queria que o puto chegasse mal vestido no Estádio da Luz. Embarcaram e Eusébio esteve nervoso durante todo o voo. Por evidente, era a primeira vez que entrava num avião.

Desembarcaram no aeroporto da Portela tarde da noite e pegaram um táxi rumo ao estádio da Luz. Eusébio, que ainda não havia completado 18 anos, ficou deslumbrado com as iluminadas avenidas de Lisboa, nunca tinha visto nada igual. Mais tarde, muito por influência de seu compatriota Mário Coluna (de quem falo adiante), ficou sabendo que a grande periferia de Lisboa, onde viviam a maioria dos adeptos do Benfica, era repleta de negros, mulatos como ele e brancos pobres que viviam em bairros sem luz, água, esburacados e tão ou mais miseráveis que o seu Mafalala. Jurou para si mesmo que não desperdiçaria a chance que lhe caiu do céu.

Já havia um funcionário para receber Eusébio no Estádio da Luz. Levou-o ao alojamento, que ficava debaixo das bancadas (arquibancadas). Eusébio não acreditou quando o funcionário lhe indicou uma cama e disse “é a sua”. Jamais havia dormido numa. O gajo ainda lhe deu um pijama e um par de tamancos. O alojamento era sujo, úmido, tinha mais de 30 camas, quase todas ocupadas por outros putos, e fedia a urina e fezes já que os banheiros não tinham portas para que os meninos não se trancassem neles para bater uma punheta. Eusébio abriu um largo sorriso, se sentia num palácio. Dormiu como um príncipe.

Na manhã de quinta-feira, foi acordado pelo próprio Béla Guttmann que o mandou ao banheiro fazer a higiene e tirar o pijama. O funcionário lhe deu uma toalha, uma escova e um dentífrico (pasta de dentes), além de um par de peúgas curtas (meias soquete), um box (cueca), uma camisola (camiseta) branca, um short (calção), um par de sapatos desportivos (tênis) e um agasalho de algodão vermelho, onde se lia em letras brancas “Sport Lisboa e Benfica”. Pronto e arrumado, se apresentou a Guttmann que o aguardava na porta do alojamento e foram para o refeitório para o pequeno almoço (café da manhã). Eusébio nunca tinha visto tanta comida e se fartou pela primeira vez na vida.

Terminada a primeira refeição do dia, Guttmann o levou ao departamento médico. O doutor simpatizou de imediato com aquele mulato escuro com um largo sorriso de orelha a orelha. Mandou-o sentar e pediu que narrasse toda a sua história. Eusébio, lembrando-se dos conselhos da mãe, obedeceu e contou tudo. Satisfeito com as respostas, o médico mandou que ele se desnudasse, no que foi prontamente atendido. Colocou-o numa balança e mediu a altura e o peso. Depois, realizou um longo exame em todo o seu corpo. Ao final, olhou para Guttmann e para o presidente do Benfica (que havia chegado) e disse: “Plenamente aprovado. Altura e peso absolutamente compatíveis. Parece ser magro, mas não é assim. Na verdade, não tem um milímetro de gordura em todo o corpo. Joelhos inteirados. Biotipo perfeito para um jogador de futebol. Antes que me esqueça, demitam o médico do Benfica de Lourenço Marques, é meu colega, mas não entende merda nenhuma do corpo humano”.

Guttmann olhou para Eusébio e disparou: “Eusébio, vamos ao relvado (gramado), mas antes vá ao balneário (vestiário) e troque os sapatos esportivos por um par de botas e as peúgas curtas pelas compridas”. Foi atendido.

Ao adentrar o relvado, Eusébio ficou profundamente impressionado com o tamanho das bancadas do Estádio da Luz. Imaginou-as com público e teve um pequeno tremor no corpo. Guttmann chamou o técnico dos juniores e disse: “O gajo aqui do lado é o Eusébio, chegou de Moçambique na noite de ontem. Escale-o como ponta de lança. Eu vou ver o treino na bancada”.

Os demais putos entraram em campo e começaram a jogar, vermelhos versus brancos (time onde estava Eusébio). Na primeira vez que pegou na bola, Guttmann tremeu de emoção.  O cartão de visitas foi sublime, colocou um colega na cara do gol. Na segunda vez que tocou na pelota, Eusébio avançou sobre os marcadores, driblou três e na saída do guarda-redes (goleiro) lhe deu um chapéu, matou o esférico no peito com elegância que só os gênios da bola possuem e marcou um golaço. Béla Guttmann ergueu os braços para o céu, agradeceu ao Deus Único das três grandes religiões do mundo e também a Bauer, afinal o seu ex-jogador não tinha exagerado. Ao final de quarenta minutos, com vários gols e assistências de Eusébio, Béla Guttmann ordenou que o tirassem, tinha viajado muitas horas, deveria estar cansado.

O presidente do Benfica, que também estava muito impressionado, foi até Guttmann e indagou: “E daí?”. Guttmann respondeu: “Inscrevam-no na Federação ainda hoje. Joga domingo!”. “Nos miúdos (juniores)?”, perguntou o presidente, e Guttmann respondeu na lata: “Não, no primeiro quadro”. “Mas é jogo grande, contra O Belenenses!” Guttmann disparou: “Joga domingo contra O Belenenses e na quarta em Berna contra o Barcelona. Inscrevam-no também na UEFA. Ninguém no Barcelona o conhece e iremos aprontar a maior surpresa do futebol europeu com Eusébio. Vai ser um dos maiores jogadores da história do futebol mundial”. O presidente começou a rir e não parou mais durante o dia.

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Morre Isabel, aos 62, ícone do vôlei brasileiro e ativista

Ex-atleta havia sido anunciada na segunda-feira (14) como integrante do grupo de transição do governo Lula

A jogadora de vôlei Isabel Salgado morreu na madrugada desta quarta (16), aos 62 anos, no hospital Sírio Libanês, em São Paulo. A ex-atleta foi acometida de uma pneumonia que se agravou, levando a um quadro de síndrome aguda respiratória.

“Confirmamos a partida de uma das atletas mais importantes que este país teve. No momento, a família está reunida e não teremos nenhuma declaração. Pedimos a compreensão de todos. Isso será feito assim que possível”, disse a assessoria.

Ela estava bem até a semana passada, segundo relato de amigos.

Na última segunda-feira (14), Isabel havia sido anunciada pelo vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, como integrante do grupo de trabalho de esporte na transição de governo Lula.

Isabel Salgado nasceu no Rio de Janeiro, no dia 2 de agosto de 1960. Ela começou a jogar vôlei no Flamengo aos 12 anos e foi campeã brasileira em 1978 e 1980. O destaque no clube a levou à seleção brasileira, e logo ganhou espaço no time. Defendeu o Brasil nos Jogos Olímpicos de Moscou (1980) e de Los Angeles (1984) –a primeira equipe da história do país a disputar grandes competições.

Mesmo tendo como medalha mais importante pela seleção um bronze nos Jogos Pan-Americanos de 1979, em San Juan, Isabel marcou história. Ela foi parte importante de uma geração que colocou o vôlei brasileiro no mapa do esporte mundial e abriu o caminho para as atletas que, na sequência, elevariam o país ao topo da modalidade.

Isabel também se notabilizou pelo pioneirismo. Ela foi a primeira jogadora brasileira de vôlei a atuar em uma liga do exterior, em 1980, quando foi para o Modena, da Itália.

A ex-atleta migrou das quadras para a areia em 1992 e foi campeã mundial da etapa de Miami em dupla com Roseli, dois anos depois. A modalidade se popularizou e estreou nos Jogos Olímpicos de Atlanta, em 1996, mas Isabel não competiu. Ela encerrou a carreira em 1997.

Em 2020, se juntou ao ex-jogador Walter Casagrande Júnior, colunista da Folha, e outros esportistas para formar o movimento Esporte Pela Democracia. Isabel também participou do movimento das Diretas-Já, onde conheceu o ex-atleta, quando a filha mais velha, Pilar, ainda era criança.

Em entrevista à Folha, em 2020, disse que “atletas não podem ficar neutros diante de injustiças” e que o posicionamento servia para “mostrar ao governo que também somos cidadãos”.

“Vejo um grande avanço entre a classe esportiva. A gente tem, por exemplo, a participação da Democracia Corinthiana na época das Diretas-Já, contra a ditadura, na figura do Sócrates, do Casagrande, e de outros que tiveram um papel muito importante. Lembro de participar das Diretas-Já com minha filha Pilar, que tinha quatro ou cinco anos, e são lembranças caras demais. O processo para nos tornarmos uma democracia foi muito duro, eu ficava emocionada na anistia de ver as pessoas voltando para o Brasil e reencontrando seus familiares”, contou.

Ela é mãe dos atletas Maria Clara Salgado, Carolina Solberg e Pedro Solberg, além de Pilar e de Alison, que adotou em 2015. Isabel formou dupla com Maria Clara e Carolina. Depois, se dedicou a fazer parte da gestão das carreiras dos filhos atletas.

Carolina, inclusive, chegou a ser advertida pelo STJ por ter gritado “Fora, Bolsonaro!” em uma entrevista pós-jogo. Ela continua competindo em alto nível, enquanto Maria Clara já se aposentou.

Segundo a família, o funeral está programado para às 11h desta quinta-feira (17), no Crematório e Cemitério do Caju, no Rio de Janeiro.

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Pandemia. Identidade inalterada

Guinski.

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