Portfólio

Cartaz, folheto, cartão postal/convite para o filme de Sylvio Back sobre Helena Kolody, década de 1990. © Sérgio Sade

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© Joel Peter Witkin. The Romance of Pain

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A articulação contra o STF

Está em gestação na Câmara uma reação ao Supremo Tribunal Federal após investigações de parlamentares da oposição. O movimento tem adesão, inclusive, de integrantes da base governista.

São duas as principais alternativas discutidas por líderes: tirar do STF os julgamentos que envolvem parlamentares e criar um mecanismo que exija autorização prévia do Congressode para processar parlamentares.

No primeiro caso, os julgamentos de quem tem prerrogativa de foro seriam remetidos aos Tribunais Regionais Federais. Em vez do STF, a instância revisora passaria a ser o Superior Tribunal de Justiça.

Já a segunda prioridade é retomar uma discussão que já foi pauta no Congresso. Ao menos desde 2001, deputados e senadores debatem a necessidade ou não de uma licença do Parlamento para ações judiciais contra seus membros.

A ideia agora é que investigações, mandados de busca e apreensão e processos contra deputados e senadores ocorram só após a anuência das mesas diretoras das casas legislativas. Uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) sobre o tema já circula em busca de assinaturas.

O estopim para as reações envolve as operações da Polícia Federal, autorizadas pelo STF, que tiveram como alvos os deputados bolsonaristas Carlos Jordy e Alexandre Ramagem, ambos do PL do Rio de Janeiro. A PF investiga uma suposta tentativa de golpe e espionagens ilegais feitas pela Abin (Agência Brasileira de Inteligência).

A oposição diz lutar contra os abusos do STF, com ênfase nas ações que têm o ministro Alexandre de Moraes à frente.

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Etude G. L Arlaud – L’ondine from Vingt Études de Nu en Plein Air, 1920.

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Lágrimas de crocodilo – 2021

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O Apocalipse de Carnaval

Baby do Brasil pautou o debate de carnaval. Atenção, todos: estamos em Apocalipse, o arrebatamento tem tudo para acontecer entre cinco e dez anos, procurem o Senhor! Houve contestação imediata de Ivete Sangalo, mas essas palavras — apocalipse e arrebatamento — têm força até para invadir um alegre carnaval.

Ambas são expressões religiosas. Arrebatamento é o resgate dos fiéis antes de tudo acabar. Gosto também de Armagedom, a batalha decisiva entre as forças do bem e do mal. Quem sabe não aparece num trio elétrico do próximo carnaval? Apocalipse, arrebatamento, Armagedom e talvez Megido, o lugar onde as tropas se concentram para a batalha?

Dá música, e o apocalipse pode ser cantado de ponta a ponta no Brasil. Estamos em apocalipse, Valdemar, a PF fechou o cerco contra Bolsonaro. Estamos em apocalipse, anunciam as lojas para divulgar suas liquidações de verão.

Estamos em apocalipse, dirão alguns ecologistas, avaliando os dados das mudanças climáticas. Em apocalipse estão também os moradores de Maceió, com a cidade afundando pela exploração de sal-gema e, ao mesmo tempo, investindo R$ 8 milhões no carnaval do Rio para promover o prefeito e Arthur Lira.

Já tivemos uma visão mais branda de apocalipse no livro de Umberto Eco “Apocalípticos e integrados”. Ali se discutia a posição sobre a cultura de massa. Apocalípticos viam nela uma decadência, como a Escola de Frankfurt. Otimistas, como Marshall McLuhan, viam novas possibilidades graças à integração que criaria uma aldeia global.

Depois disso, veio a internet. O apocalipse agora é diferente. Fake news, ataque a reputações, golpes na democracia. No princípio, havia muita esperança: não se tratava mais de um espectador passivo, mas de alguém que interage com as notícias. O mundo avançaria.

Creio que Baby tocou num ponto interessante, sem perceber que sua visão, estritamente religiosa, é na verdade um instrumento para analisar o mundo. Vejo apocalípticos entre a torcida do Flamengo; a do Corinthians no momento está cheia deles; eles estão por toda parte.

Se falo sobre a profecia de Baby com certa leveza, é porque ela nos dá entre cinco e dez anos para o arrebatamento. Isso coincide mais ou menos com minha expectativa de vida. De certa forma, em termos pessoais, o apocalipse é inevitável: está dentro do prazo.

A orientação dela é procurar o Senhor, garantir a vida depois da morte. Tenho minhas dúvidas quanto a isso. Possivelmente, o apocalipse virá, e restarão na face do planeta apenas máquinas remoendo incessantemente os antigos pensamentos humanos, reelaborando ao infinito nossas loucuras, produzindo artificialmente novos apocalipses, arrebatamentos, armagedons e, se possível, novos carnavais.

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Ato em São Paulo: Bolsonaro prepara rota de fuga pelo Tietê

Jair Bolsonaro fará um ato em São Paulo para homenagear a si mesmo. Preocupado em ser acordado no hotel pela Polícia Federal às 6 da manhã, Jair já preparou uma rota de fuga pelo rio Tietê.

“Será uma fuga marginal”, disse um assessor. “Ele vai estar em seu habitat natural”, disse um internauta. “Mas se ele cair do jet-ski, o Tietê volta a ser o rio mais poluído do mundo.”

Outras pessoas se preocupam com o fato de ele cair, se misturar com o conteúdo jogado no rio e ninguém achá-lo mais. Outros temem que ele fuja pelo esgoto, um lugar bastante conhecido por ele.

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A batalha de Itararé

Aparício Fernando de Brinkerhoff Torelly, também conhecido por Apporelly e pelo falso título de nobreza de Barão de Itararé, foi um jornalista, escritor e pioneiro no humorismo político brasileiro.

Durante a Revolução de 1930, quando Getúlio Vargas partiu de trem rumo à capital federal, então o Rio de Janeiro, propagou-se pela imprensa que haveria uma batalha sangrenta em Itararé. Isto foi vastamente divulgado na imprensa. Apporelly não ficou de fora desta tendência. Esta batalha ocorreria entre as tropas fiéis a Washington Luís e as da Aliança Liberal que, sob o comando de Getúlio Vargas, vinham do Rio Grande do Sul em direção ao Rio de Janeiro para tomar o poder. A cidade de Itararé fica na divisa de São Paulo com o Paraná, mas antes que houvesse a batalha “mais sangrenta da América do Sul”, fizeram acordos. Uma junta governativa assumia o poder no Rio de Janeiro e não aconteceu nenhum conflito. O Barão de Itararé comentaria este fato mais tarde da seguinte maneira:

“ Fizeram acordos. O Bergamini pulou em cima da prefeitura do Rio, outro companheiro que nem revolucionário era ficou com os Correios e Telégrafos, outros patriotas menores foram exercer o seu patriotismo a tantos por mês em cargos de mando e desmando… e eu fiquei chupando o dedo. Foi então que resolvi conceder a mim mesmo uma carta de nobreza. Se eu fosse esperar que alguém me reconhecesse o mérito, não arranjava nada. Então passei a Barão de Itararé, em homenagem à batalha que não houve. ”

Na verdade, em outubro de 1930, Apparício se autodeclarara Duque nas páginas de A Manha:
“ O Brasil é muito grande para tão poucos duques. Nós temos o quê por aqui? O Duque Amorim, que é o duque dançarino, que dança muito bem mas não briga e o Duque de Caxias que briga muito bem, mas não dança. E agora eu, que brigo e danço conforme a música. ”

Mas como ele próprio anunciara semanas depois, “como prova de modéstia, passei a Barão.”

Em 1934, fundou o Jornal do Povo. Nos dez dias em que durou, o jornal publicou em fascículos a história de João Cândido, um dos marinheiros da Revolta da Chibata, de 1910. Em represália, o barão foi sequestrado e espancado por oficiais da Marinha, até hoje, nunca identificados. Depois desse episódio, voltou à redação do jornal e colocou uma placa na porta onde se lia: “Entre sem bater”, mantendo o seu espírito humorístico.

O jornal A Manha circulou até fins de 1935, quando o Barão foi preso por ligações com o Partido Comunista Brasileiro, então clandestino. Foi libertado em dezembro de 1936, já ostentando a volumosa barba que cultivaria por boa parte de sua vida. Retomou o jornal por um curto período, até que viesse nova interrupção, ao longo de todo o Estado Novo e voltando em edições espasmódicas até 1959.

Unido a Bastos Tigre e Juó Bananére, conseguiu exprimir o hibridismo linguístico com a utilização do soneto-piada, que consistia na contraposição rápida de dois contextos associativos.

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Gigante e pigmeu

ANTONY (sem h) BLINKEN, secretário de Estado dos EUA, vem ao Brasil ao encontro de Lula. Fazer o quê? Apaziguar a língua do presidente brasileiro, afoito para recuperar seu protagonismo internacional. Faz diferença o encontro? Faz, para os EUA, que na busca de consenso na Palestina, conversam com gigantes e pigmeus diplomáticos. Para o presidente brasileiro não faz diferença, pois ele sofre de incurável incontinência verbal e só fala os convertidos, seu público interno (exatamente como Jair Bolsonaro); para o público externo, que não dá pelota para o Brasil, ele é “the [funny] guy”, como disse George Bush.

Publicado em Rogério Distéfano - O Insulto Diário | Deixar um comentário
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Língua de Trapo

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O que é isso, companheiro?

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Notícias sobre a operação influencer

Era 7 de novembro de 2023, foi deflagrada pelo Ministério Público de Portugal a operação influencer. Demitiu-se o primeiro-ministro António Costa e foram envolvidos diversos personagens do seu entorno.

Costa e outros investigados eram suspeitos de irregularidades em contratos de exploração de lítio, usado na fabricação de baterias para carros elétricos e em projetos de hidrogênio verde.

A nota pública do MP afirmou que no decurso das investigações surgiu, além do mais, o conhecimento da invocação por suspeitos do nome e da autoridade do Primeiro-Ministro e da sua intervenção para desbloquear procedimentos. Imediatamente, o primeiro-ministro pediu demissão por suspeita de envolvimento em corrupção, foi no início da terça-feira, 7 de novembro de 2023.

A exposição midiática das acusações além de gerar um profundo clima de desconfiança ao governante, fez com que o presidente da República convocasse eleições parlamentares para 10 de março de 2024.

Até agora o primeiro-ministro não teve acesso integral ao processo. Dentre outras coisas, as escutas telefônicas realizadas pelo MP confundiram, formalmente, o primeiro-ministro António Costa com o ministro da economia António Costa Silva, pois nas transcrições houve a omissão do sobrenome Silva.

O primeiro-ministro estava cotado para a presidência do Conselho Europeu, cargo de grande destaque na União Europeia. Tal pretensão, desabou. E agora?

Passados quatro meses da crise, o juiz da causa, Nuno Dias Costa, na apreciação de recente recurso do MP, afirmou que há fatos que não preenchem os elementos típicos de qualquer crime, isto é, há um vazio nas acusações e desvalorizou completamente as suspeitas sobre os acusados.

Em trecho do despacho, o magistrado, afirmou que o MP teve a necessidade, para sustentar a sua posição, de invocar novos fatos que não alegou anteriormente, – outra trapalhada, sem precedentes. Finalmente, o juiz entendeu que os fatos do alegado tráfico de influência (que geraram o nome da operação influencer) não preenchem os elementos típicos, isto é, não foram cometidos crimes.

Os prejuízos causados por tamanho erro judiciário-midiático serão indenizados? E como prevenir as instituições jurídicas de tamanha desfaçatez? Se isto ocorreu com figuras de proa do Estado português, imagine os cidadãos, na planície dos seus direitos violados.

Publicado em Claudio Henrique de Castro | Deixar um comentário
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A voz do poeta

Estávamos conversando num grupo de amigos e eu falei: “Drummond diz que mais vasto do que o mundo é o nosso coração”. Um dos presentes corrigiu: “Na verdade ele não ‘diz’ isso. Ele ‘disse’ – no passado, porque Drummond já morreu”.

Deixei passar porque o assunto principal era diferente, e parar para discutir este detalhe iria atrapalhar nosso rastreamento da outra ideia. Mas essa interferência ficou cavucando no meu juízo. Por que motivo eu tenho que me referir a um escritor no passado, somente porque ele já morreu? Porque (não sei se é assim com os outros, mas comigo é) eu faço uma distinção muito clara, na minha mente, entre aquele senhor careca e de óculos chamado Carlos Drummond de Andrade, que nasceu em Itabira e morreu no Rio, e o poeta Drummond, uma entidade metafísica que nasceu e brotou dentro daquele cidadão, produziu grandes livros de poesia, e que continua atuando, no momento presente, cada vez que alguém relê algum daqueles livros ou simplesmente pensa num dos seus versos.

Fala-se que a literatura é uma forma de imortalidade, e eu creio tanto nesta ideia que a estendo por conta própria a toda a palavra escrita ou falada. A palavra é uma enunciação que, uma vez preservada (através da escrita, da imagem filmada, etc.), é capaz de ser re-enunciada infinitas vezes. O ato de escrever e o ato de falar se enovelam sobre si mesmos, reiterando-se num processo sem fim. Quando leio uma frase de Drummond, a enunciação de Drummond está ali, intacta, sendo reativada pelos olhos do milionésimo leitor. Se leio uma carta escrita por meu pai e minha mãe, o momento da escrita, com tudo que ele continha (ou com a parte que a escrita conseguiu preservar), volta a acontecer diante dos meus olhos. Se vejo no YouTube uma entrevista de Fellini ou de Lennon, aquela palavra não é passada, é presente, é um passado instantaneamente conversível em presente vivo, pelo poder combinado da fala e da audição, ou da escrita e da leitura.

Devemos (ou pelo menos podemos, sem medo de dizer bobagem) nos referir aos poetas e escritores no presente, quando os citamos. Quando falo “Rimbaud acha que o poeta tem que ser um vidente”, é porque o homem Arthur Rimbaud já se desmanchou em moléculas, mas o poeta Arthur Rimbaud acaba de dizer isto agora, pelos meus dedos, pela milionésima vez. Rimbaud já morreu, Shakespeare talvez nem tenha escrito os versos dele que citamos, Homero talvez nem tenha existido.

Mas quando citamos um deles estamos citando uma entidade linguística integralmente preservada em si mesma, do modo como o som de uma orquestra inteira está preservada nos sulcos de um vinil ou nos bits-e-bytes de um arquivo digital.

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Mural da História – 2020

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