Vida – Modo de abusar

Entre o egoísmo e o egocentrismo, vá de ponta a ponta, com paradinhas para abastecer no antropocentrismo. Negue a ancestralidade, ignore a posteridade e não esqueça de ser indiferente à contemporaneidade. Coma embriagadamente, beba nauseantemente, vomite voluptuosamente, urine e defeque abundantemente (não adubandentemente!).

Despreze friamente as convenções porém se dedique fervorosamente às contravenções. Seja imperativo, competitivo, depreciativo, impeditivo, repetitivo e, de aperitivo, destrutivo ou, pelo menos, não-construtivo. Aspire a cultura consumista, inspire a monocultura predatória e respire a incultura reacionária.

Tenha carros potentes, cargos prepotentes, cultos onipotentes, casos impotentes. Desregule a natureza, coagule rios, degole a fauna, engula a flora, engasgue o ar. Permita injustiças, transmita doenças, admita a cobiça, demita a graça, omita a esperança.

Venha ao mundo o quanto antes. Saia do mundo o mais tarde possível.

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Solda vê TV

Da série  criada por Reynaldo Jardim, no Jornal do Estado, 1980.

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Elas

Viktoria Miroshnichenko, atriz, 25 anos, Dylda (Uma Mulher Alta, 2019), Prêmio do Cinema Europeu de melhor atriz, Golden Eagle Award for Best Leading Actress. © Reuters

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A soltura de Valdemar

VALDEMAR DA COSTA NETO ficou preso por 5 dias por suposto envolvimento no golpe do flato de 8 de janeiro de 2023. O ministro Alexandre de Moraes determinou a prisão e a soltura. Ah, um Sérgio Moro no STF deixaria Valdemar mofando por 580 dias, como fez com Lula. Ou não.

Quando leio sobre soltura de delinquentes lembro uma desinência do vocábulo, de largo uso em Portugal e ignorada no brasileiro corrente: caganeira, para significar tanto causa quanto efeito.

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O Diabo, como é sabido,
muito bem apadrinhado
foi nomeado em comissão,
Ad aeternum,
no cargo de eminência parda.

Na repartição do anjo da guarda
seu paletó está sempre no cabide
e nas cabeças vazias é sua oficina.
Ele é o mal necessário, não duvide,
goza há milênios de licença-prêmio
e acumula quinquênios de funcionário.

O Tinhoso, como bom estatutário,
manja tudo de direito adquirido
e, segundo seu advogado,
para o funcionamento da burocracia divina
o Diabo pode até ser odiado,
mas, que inferno!,
nunca será demitido.

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Manhã de Carnaval

Escrever para manhã de carnaval é algo de responsabilidade. Se houver um fato muito grave, tratarei dele na TV, guardando este espaço para a festa. Na suposição de certa normalidade, falo também de minhas lembranças, algumas delas enigmas de carnaval. Uma delas é esta canção: “Ai morena/seria meu maior prazer/passar o carnaval contigo/beijar a tua boca/e depois morrer”.

Não entendi bem esse romantismo trágico. Verdade é que, com o tempo, percebi que “beijar a tua boca” talvez fosse alusão a quatro noites de um exuberante amor. Ainda assim, jamais consegui analisar com clareza essa disposição para a morte, sabendo que há tantos carnavais pela frente.

Na semana passada, li uma nota sobre os moradores de Pinheiros, em São Paulo, que reclamam do carnaval, muita gente, sujeira na rua. Isso acontece também em alguns pontos de Ipanema, mas aqui talvez haja mais resignação. São apenas alguns dias, e o carnaval, conforme demonstrou também Roberto DaMatta, é um momento de esquecimento de regras.

Na verdade, o medo que os moradores de bairros de classe média sentem dessas festas é algo que me lembra também a reação de alguns viajantes europeus no século XIX. Assustavam-se com o cheiro de comida, suor e tantas outras secreções humanas.

Quando estudei brevemente antropologia, um dos livros que nos davam para ler era “Purity and danger”, escrito por Mary Douglas. Um clássico publicado em 1966. Creio que as ideias de Douglas fortalecem ainda mais a análise de DaMatta em seu “Carnavais, malandros e heróis”. Ela mostra como as pessoas se sentem inseguras diante de certa desorganização e sujeira e como isso simboliza uma quebra de ordem.

Longe de mim defender que sujem as ruas e façam xixi por toda parte. Mas é inevitável que haja muitos ambulantes vendendo comida e bebida e que esses milhares de foliões movidos a cerveja não encontrem espaço para suas líquidas necessidades.

Trabalho normalmente no carnaval e aproveito a calma das tardes para uma leitura pesada. Estou fora, limito-me a filmar o desfile do bloco Loucura Suburbana, no Instituto Nise da Silveira, no Engenho de Dentro. Cumpro esse ritual há alguns anos e vejo com alegria que muitos outros doentes mentais fazem também seus desfiles. Em breve, seremos o único carnaval do mundo que tem uma programação de desfiles desse gênero. Muitos assim chamados malucos e seus acompanhantes podem vir ao Rio apenas para esse circuito.

Mesmo tendo me retirado do carnaval, contribuo à minha maneira para sua ampliação para almas que também precisam desses instantes de alegria e prazer. Campanhas contra pipi na rua, roubo de celulares, que nesta época desaparecem em massa, assim como preocupações especiais, como a epidemia de dengue, tudo isso tem meu apoio discreto.

Sei lá, pode ser que no futuro a tecnologia invente o pipi eletrônico, que você faça num pen drive e descarregue quando chegar em casa. O único desejo é que os amantes passem o carnaval juntos, beijem na boca, apesar dos alertas sobre sapinhos, mas não morram no final. Há dezenas de maneiras de aproveitar esses dias e noites, de acordo com a disposição de cada um ao longo da vida.

Que os moradores de Pinheiros e Ipanema aguentem o tranco, pois, como dizia o poeta que é nome de uma de nossas ruas: a gente trabalha o ano inteiro por um momento de sonho, para tudo se acabar na quarta-feira. Inclusive o barulho.

Recomendação final: confete, serpentina, até um pouco de lança-perfume sempre estiveram presentes numa festa que é também uma oportunidade de acasalamento. Mas um fato novo, irreversível, precisa entrar na cabeça dos namoradores: “não” quer dizer “não”. Espero que entendam, pois tudo ficará mais fácil.

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Rogério Dias

Pintura sobre página do Jornal do Estado|1983

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Mural da História – 2012

Me dizem ao pé do ouvido que o símbolo da discórdia no alfabeto chinês são duas mulheres sob o mesmo teto. Agarro-me ironicamente nessa imagem para tornar mais leves os últimos vestígios da saga dos vikingues em suas intrépidas (sempre intrépidas) travessias dos mares. As chalupas eram compridas e estreitas, com uma quilha muito profunda, e construídas com traves finas de carvalho sobrepostas. Assim, mais leves e manobráveis, singravam as águas com apenas uma vela retangular e cerca de 16 pares de remos de pinho.

Eles eram retirados da água por engenhosas portinholas que podiam ser fechadas durante uma tempestade ou por causa de um mar agitado demais. Os vikingues não tinham mapas nem bússolas, mas guiavam-se muito bem pelo Sol e pelas estrelas. Pelas aves marinhas mediam a distância da terra firme. Documentos escandinavos rezam que Bjarni Herjulsson atingiu a América no ano de 985. Tantas viagens, tantas conquistas, mas para nós deixaram apenas um jeito estranho de se adornar com chifres e beber desbragadamente.

Aí volto a pensar na discórdia. Mas acho que ela já está longe. O sufixo córdia vem de coração. Corde em latim. Concórdia é com o coração. Discórdia é sem o coração. A cabeça fica fora disso. Concordar é colocar o coração na mão de outra pessoa. Toma, é minha vida! Enquanto isso, os vikingues eram expulsos da América pelos índios. Eles só queriam levar madeira para as colônias da Groenlândia. Se fossem espertos como os portugueses teriam trazido espelhinhos, colares, Coca-cola.

Os índios iriam cair como patinhos. Porém, segundo parece, o príncipe galês Madoc ap Owain Gwynedd deixou uma placa em Fort Morgan, no Alabama, dizendo que desembarcou na baía de Mobile em 1170 e deixou com os índios a língua galesa. O que os índios fizeram com ela não se pode relatar aqui. Importante é saber que a América já estava na cama e descoberta há muito tempo. Seu corpo escultural sofregamente estendido convidava para prazeres inenarráveis.

(Comentário: as investigações de muitos entendidos tornaram os fatos suficientemente obscuros e inviáveis.)

*Rui Werneck de Capistrano é viajante sem bússola nem bandeira

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Rafael Grécula

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Apparício Torelly

Pobre, quando mete a mão no bolso, só tira os cinco dedos.

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Cautela na regulação das redes sociais

Histórico recente de decisões do Judiciário na seara da liberdade de expressão não inspira confiança sobre grupo do TSE

Alexandre de Moraes, presidente do TSE, disse que o tribunal e o Ministério da Justiça estão constituindo um grupo para rastrear quem atenta contra a democracia na internet.

A fala levanta preocupações, a começar pela participação do Ministério da Justiça, órgão ligado à esfera do Poder (o Executivo) que não deveria se meter na liberdade de expressão, ainda mais em período eleitoral.

Ademais, quem avaliará as postagens? Que critérios linguísticos serão usados para atestar que uma mensagem atenta contra a democracia? Afinal, o que é atentar contra a democracia —esse conceito abstrato?

O histórico do TSE e do STF nessa seara também não ajuda. Foram cometidos abusos no pleito de 2022, como a censura prévia de um documentário que sequer foi visto pelos membros da corte, sob alegação de “situação excepcionalíssima”.

De modo semelhante, Moraes usou o argumento de “afastamento excepcional de garantias individuais” em decisão no STF que bloqueou as contas digitais de um influencer. Num exercício de futurologia, proibiu-se o que poderia vir a ser dito.

O magistrado tem feito ativismo pela aprovação do PL das Fake News. Sugeriu ao Congresso a manutenção de métodos usados na última eleição, como suspensão imediata de conteúdos até mesmo se existir dúvida de que estejam divulgando informações antidemocráticas.

Ofício da PF em inquérito sobre a atuação das big techs contra o PL afirma que o intuito das empresas era “incutir nos consumidores a falsa ideia de que o projeto de lei é prejudicial ao Brasil”. Quem comprovou a falsidade? Pelo visto, a PF agora determina que leis são boas para o país.

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r.i.p._damo_suzuki – 1950|2024

Guinski

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Tempo – 2013

Lina Faria. © Iara Teixeira

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Alerta no Bolsa Família

Uma portaria assinada pelo ministro Wellington Dias, do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, causou estranheza e indignação em funcionários da pasta e aliados do petista. Desde o dia 25 de janeiro, uma servidora que esteve envolvida em pagamentos de auxílios com suspeita de irregularidades durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro passou a atuar na Secretaria responsável pelo programa Bolsa Família.

Desde o mês passado, Carina Melatto Floriano Stringari ocupa um cargo de nome longo, típico da burocracia de Brasília. É coordenadora-geral de Cobrança de Ressarcimento do Departamento de Operação da Secretaria Nacional de Renda de Cidadania. Trata-se de uma função relevante na enorme máquina de pagamentos de benefícios sociais.

Servidora de carreira, ela esteve lotada na gestão Bolsonaro na Assessoria de Cadastros Previdenciários, subordinada ao secretário de Previdência, André Veras, e ao ex-ministro do Trabalho e Previdência José Carlos Oliveira.

Em 2022, coube ao então Ministério do Trabalho e Previdência estruturar o auxílio destinado a taxistas e caminhoneiros. Carina trabalhou na averiguação de quem poderia receber ou não o benefício. A atuação de Carina, de Veras e de Oliveira, no entanto, passou a ser contestada após a CGU (Controladoria-Geral da União) constatar irregularidades nos pagamentos.

De acordo com o órgão, em relatório divulgado em 2023, o total de potenciais pagamentos indevidos foi de 1,97 bilhão de reais nos casos dos caminhoneiros e taxistas. O documento diz que 78% dos taxistas beneficiados e 27% dos caminhoneiros estavam fora do perfil adequado para receber os auxílios.

O ministro Vinícius Carvalho, da CGU, disse à época que os benefícios foram criados “sem nenhum estudo prévio sobre a fragilidade na aplicação dos critérios de elegibilidade” e prometeu acionar os “órgãos competentes para providências”.

“Em relação aos recursos pagos indevidamente, vamos monitorar as providências que vão ser tomadas pela Caixa, pelo MDS (Ministério do Desenvolvimento Social), eventualmente, para recuperar esses recursos. Vamos fazer uma análise de apuração de responsabilidades em relação a eventuais desvios que possam ter sido cometidos”, declarou o ministro de Lula em setembro de 2023.

No governo Lula, Carina ficou no Ministério da Previdência, sob o comando de Carlos Lupi, que foi separado da pasta do Trabalho. Permaneceu até novembro de 2023, segundo dados do Portal da Transparência.

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