Greca sanciona título para promotora de “cura gay”

Psicóloga diz que homossexualidade é resultado de confusão, trauma ou dinâmicas familiares “confusas” e defende “conversão”

Enquanto o grupo Mães pela Diversidade ainda aguarda ser recebido pelo secretário de Governo, Luiz Jamur, o prefeito Rafael Greca (PSD) sancionou o título de Cidadania Honorária concedido a psicóloga Deuza Avellar. Avellar é militante da chamada “cura gay”, uma prática condenada pelo Conselho Federal de Psicologia por estigmatizar pessoas homossexuais. A sanção do prefeito foi publicada no Diário Oficial do Município no último dia 10 de junho.

O grupo de mães que atua pela promoção dos direitos da população LGBTQIA+ tentava evitar a confirmação da homenagem, que consideram um desrespeito a causa, por atrelar a sexualidade a doença. Na própria sessão da Câmara em que a proposta foi aprovada pelos vereadores da cidade, o autor do projeto, Ezequias Barros (PMB) declarou que “a pedofilia” é defendida “pela esquerda”, quando suas colegas de legislatura se manifestaram contra a homenagem.

Além de uma afirmação falsa, Ezequias também ecoou com esse comentário uma falsa relação entre homossexualidade e pedofilia. Na realidade, pesquisas científicas como uma realizada pelo Hospital de Clínicas do Universidade Estadual de São Paulo apontam que a maior parte das pessoas que violentam sexualmente crianças e adolescentes são heterossexuais e a maior parte das vítimas são meninas. Além disso, mais de 80% são pessoas próximas das crianças, muitas vezes familiares.

Com a sanção, a Câmara fica livre para agendar a entrega da honraria.

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Tempo

Café da tarde na casa dos passarinhos de Rogério Dias: Vera Solda, Otávio Duarte, Sabina Petrovsky, o cartunista que vos digita e Gleuza Salomon. © Verônica Benevolo Filipak

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Flagrantes da vida real

Falar sobre o tempo em Curitiba é chover no molhado. © Maringas Maciel

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Mudos aos arrotos de Bolsonaro

Os generais ainda não decidiram se vão bater continência para Daniel Silveira

Golpes de Estado costumam ser tramados nos subterrâneos, em horas mortas e por mensagens em código. Como jornalista, fui testemunha de dois: o Ato Institucional nº 5, em 13 de dezembro de 1968 (o golpe dentro do golpe), e a Revolução dos Cravos, em Portugal, em 25 de abril de 1974. Mesmo os bem informados só ficaram sabendo deles quando, respectivamente, no Rio, o AI-5 foi comunicado pela televisão, e, em Lisboa, os tanques saíram às ruas. Em ambos, por mais que o clima estivesse pesado, ninguém falava em golpe na véspera.

No Brasil de hoje não se fala em outra coisa. Jair Bolsonaro, cada vez mais certo de que perderá a eleição, já não esconde que sua única salvação é o golpe. Para isso, precisa subverter as instituições, jogando a nação contra o Judiciário, prostituindo o Legislativo com o dinheiro que extorque do Tesouro, corrompendo oficiais menores e policiais para marchar com ele na aventura, infiltrando bufões na Justiça e armando civis de todas as extrações, dentro ou fora da lei, com óbvio objetivo.

É um caso único de golpe com data marcada, como um espetáculo de teatro: ensaio geral a 7 de setembro, com tumulto e violência para coagir, e a estreia —o golpe propriamente dito—, a 3 de outubro, antes que as urnas lhe tirem as imunidades. Não tem outra saída.

Para alguns, o golpe, que até há pouco era uma ameaça real, não tem mais como acontecer; e justamente por não se falar em outra coisa –por estar sendo tão exposto e denunciado. Mas isso pode ser uma ilusão. Um dos atores centrais dessa comédia continua mudo: o Exército. Não pia aos arrotos de seu Líder Supremo.

Talvez os generais ainda não tenham se decidido sobre o que fazer se os baderneiros de Bolsonaro tomarem as ruas —se os reprimem, como seria de seu dever constitucional, ou se aderem e não se envergonham de, no mesmo dia, bater continência para Daniel Silveira.

Publicado em Ruy Castro - Folha de S.Paulo | Deixar um comentário
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Juro que é verdade

No dia 13 de junho, com o título “O quirodáctilo direito”, Rogério Distéfano, no seu O ‘Insulto Diário, invoca o meu testemunho sobre o médico que não queria aprová-lo para ser procurador do Estado do Paraná por causa da “atrofia no quirodáctilo direito”.

Testemunho, sob a fé do meu grau, que tudo que o Rogério escreveu é a mais lídima verdade.

Não sei porque lembrei de “London London” do Caetano Veloso. O Rogério só errou no número de anos, não são 35, mas sim 37 e lá vai pedrada.

Publicado em Paulo Roberto Ferreira Motta | Com a tag | Deixar um comentário
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O povo que se dane…

Segundo a FGV (Fundação Getúlio Vargas) Social, cerca de 28 milhões de pessoas vivem abaixo da linha da pobreza no Brasil. A jornalista Fernanda Mena Kiki, diretora-executiva na Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida, criada por Betinho, o irmão do Henfil, fala em 32 milhões de brasileiros. Antes da pandemia de Covid, em 2019, eram pouco mais de 23 milhões de indivíduos. Em 2022 houve um salto de 11,8%.

Há controvérsias sobre a condição de pobreza: para a ONU, uma pessoa é pobre quando tem uma renda equivalente a US$ 1,25 por dia ou cerca de dois reais. Outros organismos citam US$ 1,90 e até US$ 5,00, o que equivaleria, pelo dólar atual, a pouco mais de R$ 20,00. A União Europeia, por sua vez, diz que uma pessoa pode ser tida como pobre quando ganha 60% da renda média do país. No Brasil, se considerarmos a renda média do última trimestre de 2021 (R$ 1.378,00), seria de R$ 826. Já na Dinamarca, pobre seria quem ganha igual ou menos de R$ 2.500,00.

Seja como for, há muita gente passando fome e sofrendo frio no Brasil. Só em situação de rua, o IPEA estima em 221 mil pessoas. Com tendência de crescimento.

E o que faz o governo para combater a pobreza? Rigorosamente nada, além de programas fictícios, como “Brasil sem Miséria”, que não saem do papel. Dráuzio Varella, aliás, garante que nada se pode esperar de solidariedade dos governantes, que já provaram desconhecer o significado dessa palavra.

O atual desgoverno, então, além de ignorar solenemente a desgraça popular, não aplica na educação, na saúde, na segurança, na previdência social… Quer é encher a pança, própria e a dos aliados congressistas, com o cartão corporativo e o orçamento secreto.

O tema foi enfrentado com coragem e inteligência pelo nosso Cláudio Henrique de Castro, na segunda-feira, aqui mesmo neste espaço: “Não bastasse a propaganda partidária que, na prática, tornou-se propaganda eleitoral antecipada, com personagens que buscam a (re)eleição, temos esse mundo de dinheiro sendo distribuído sem critérios e de forma secreta.”

E seguiu em frente “Atualmente, a liberação de recursos do orçamento é a principal moeda de troca em votações importantes no Congresso. O dinheiro disponível neste ano era de R$ 16,5 bilhões, mas o governo efetuou um bloqueio de R$ 1,7 bilhão em março para compensar o aumento de outras despesas.”

Ainda assim, restou um mundaréu de dinheiro, distribuído através das chamadas emendas parlamentares. Individuais, de bancada e de comissões permanentes, todas sem teto de valor definido.

“As emendas de relator” – escreveu Cláudio Henrique – “ampliaram o controle do Congresso pelo Executivo em relação ao orçamento, em detrimento de ações estruturais dos ministérios”.

CHC sabe o que diz. É jornalista, advogado, historiador, escritor, professor de Direito, servidor público estadual envolvido com os números e futuro deputado federal. Revela que “ao longo do mandato de Bolsonaro, governo e Congresso destinaram R$ 65,1 bilhões do Orçamento para as emendas de relator. Desse total, R$ 36,4 bilhões foram empenhados, etapa em que o dinheiro é reservado para ser pago quando o bem ou serviço forem entregues”.

Com tais acordos e compromissos, não sobra dinheiro para os miseráveis. Eles que se amontoem em praça pública, enleiem-se em seus cobertores puídos, engulam um gole de pinga e alimentem-se com as doações oferecidas pela população, pelas igrejas e pelas ONGs.

O governo tem coisas mais importante para tratar. E morador de rua não vota.

P.S. – O capitão celerado afirma que não tem nada a ver com a morte, com requintes de crueldade, do indigenista e do jornalista. Tem tudo. Afinal, quem é que protege o incentiva os bandidos da Amazônia?

Publicado em Célio Heitor Guimarães | Deixar um comentário
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Sabe nada

SÉRGIO MORO – o Hamlet pé-vermelho – diz que “a população vai decidir” sobre sua candidatura. Sabe nada, o inocente. É aquele político que pensa que a “população” vota. Décadas de estudante, juiz, mestre e doutor em Direito, ministro da Justiça e da Segurança, não lhe entrou no bestunto que a população não elege para cargos eletivos; a população só elege o vencedor do BBB. População é gente que vai do zero aos 100 anos ou mais; que pode ser brasileiro ou estrangeiro residente no país. Quem elege é o cidadão, a população com título de eleitor, este obrigado a votar desde os 18 nos. População é coisa da geografia e eleição é coisa da Constituição.

Publicado em Rogério Distéfano - O Insulto Diário | Deixar um comentário
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O golpe está no ar?

As forças democráticas devem se mobilizar desde já para resistir à ameaça de recaída autoritária. E dar um basta aos generais golpistas

Em artigo recente que se tornou um dos mais lidos aqui no Ultrajano, nosso admirado Frei Betto lembrou episódio envolvendo seu pai em 1964 e se disse preocupado com os ventos golpistas que estão soprando neste ano de 2022, marcado por eleições para  a Presidência da República. Esta semana, o professor Paulo Sérgio Pinheiro, renomado cientista político, também expôs, em artigo reproduzido pelo site 247, seus temores sobre o que pode acontecer no processo eleitoral. Segundo ele, há meses pairam dúvidas sobre a posição das Forças Armadas diante de eventual golpe ou tumulto antes ou depois das eleições. “Agora, todas as dúvidas se dissiparam. Se levarmos em conta recente manifestação do ministro da Defesa ao Tribunal Superior Eleitoral, o alinhamento daquelas com a linha golpista do presidente parece ter se consolidado”, afirma o professor.

Elio Gaspari, que conhece a fundo o pensamento dos militares, adverte que “quando o presidente da República sopra ventos golpistas e o ministro da Defesa, ex-comandante do Exército, repreende o Tribunal Superior Eleitoral”, é bom ficar atento. Por mais remota que seja a ameaça, “admita-se que existem pessoas preferindo um golpe”, diz o experiente jornalista, autor de obra celebrada sobre o período da ditadura militar. Muita gente também está espantada com a distribuição farta de armas para bolsonaristas e os afagos generosos ‒ com promoções e reajustes salariais ‒ para as polícias militares nos estados. Hoje mesmo, o governador do Rio de Janeiro, ligado a Bolsonaro, anunciou bônus de R$ 59 milhões para policiais civis e militares.

Teme-se que essa milícia de extrema-direita entre em campo assim que as urnas eletrônicas confirmarem a vitória do ex-presidente Lula. Mais grave ainda: a virada de mesa teria o apoio dos generais que cercam o presidente mais medíocre de nossa história. Aí está o ministro da Defesa, general Paulo Sérgio de Oliveira, a fazer pressão sobre o TSE e insistir que as Forças Armadas têm todo o direito de intervir no processo eleitoral. De propósito, o general confunde a segurança do transporte das urnas com a responsabilidade pela lisura das eleições. Mas, como já disse o ministro Edson Facchin, quem trata de eleições no Brasil são as “forças desarmadas”, ou seja, a sociedade civil.

Enquanto o general se intromete em seara alheia e afirma que “não nos interessa concluir o pleito eleitoral sob a sombra da desconfiança dos eleitores”, o Exército assiste impávido à tomada da Amazônia por milícias e traficantes de drogas. E nada faz para evitar a invasão de terras indígenas. Diante do desaparecimento do jornalista inglês Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira, o Comando da Amazônia explicou numa nota oficial patética que estava aguardando “ordem superior” para agir. O Exército ficou de braços cruzados enquanto Dom e Bruno eram perseguidos por marginais no Vale do Javari e, ao que tudo indica, brutalmente assassinados.

Porém, em seu desvio da função das Forças Armadas prevista na Constituição, o general Paulo Sérgio de Oliveira só tem olhos para a eleição de outubro. E não esconde de ninguém que seus comandados podem questionar o resultado do pleito. Explica-se, assim, a certeza de Elio Gaspari em seu artigo desta quarta-feira: “Existem pessoas que flertam com o golpe”. Uma das hipóteses é que milicianos e militares golpistas tentarão evitar a diplomação de Lula, inspirados no 6 de janeiro de 2021, quando as hordas de Trump invadiram o Congresso dos EUA, em Washington.

Há que concordar com o professor Paulo Sérgio Pinheiro. Esse cenário golpista é “assustador, obsceno, patético”. O perigo está no ar e exige que as forças democráticas se mobilizem desde já para resistir à ameaça de recaída autoritária. Só assim o resultado das eleições de outubro será respeitado. Não basta redigir manifestos e notas de protestos. E nem contar apenas com a ação de entidades tradicionais, como a ABI, a OAB, a CNBB, a SBPC e a Comissão Arns. A tarefa é dos homens e mulheres que acreditamos na Democracia.

Octávio Costa

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Inscrições abertas para a 16ª edição do projeto Uma Noite na Biblioteca

A Biblioteca Pública do Paraná promove no dia 23 de julho a 16ª edição do projeto Uma Noite na Biblioteca — acantonamento para crianças de 7 a 10 anos. A programação começa no fim da tarde de sábado e termina na manhã de domingo, com um café de confraternização para as famílias dos participantes e funcionários da BPP. As atividades incluem apresentações teatrais, contação de histórias e jogos. As inscrições são gratuitas e devem ser feitas diretamente na Seção Infantil, de segunda a sexta, das 8h30 às 18h30. As vagas são limitadas.

Durante a maratona cultural, que nesta edição trata do tema “Meu lugar no mundo”, as crianças são convidadas a criar laços afetivos e percorrer diferentes espaços da Biblioteca por meio de cenas teatrais, mediações literárias e proposições artísticas. A BPP sugere que protocolos sanitários como o uso de máscaras e a higiene das mãos com álcool sejam obedecidos.

Serviço: Uma Noite na Biblioteca — 16ª edição – Dia 23 de julho, a partir das 17h, na Biblioteca Pública do Paraná – Inscrições na Seção Infantil da BPP de segunda a sexta, das 8h30 às 18h30, até 30 de junho – Informações: (41) 3221-4980

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O preço dos remédios

Na semana passada o Superior Tribunal de Justiça julgou que os planos de saúde somente devem pagar as terapias taxativas, inscritas nos contratos. Em resumo: a decisão deixou milhões de usuários ao desamparo na hipótese de terapias não previstas.

Restou a última tábua de salvação: o Supremo Tribunal Federal.

As agências reguladoras, por seu turno, cumprem o papel de representar os grandes grupos econômicos do negócio da saúde. A síntese: salve-se quem puder, é o livre mercado. E os medicamentos como entram nessa questão?

Além da recente falta de fármacos nas prateleiras, outra surpresa: há diferenças de até 43,49% de preços de medicamentos, conforme informa o Procon de São Paulo.

 O Núcleo de Inteligência e Pesquisas do Procon-SP realizou uma pesquisa comparativa de preços de medicamentos nos sites de seis drogarias e constatou que a maior diferença encontrada foi de 43,49% no medicamento Citalor (atorvastatina cálcica) de 10mg, 30 comprimidos, da Pfizer – em um site, o item foi encontrado por R$ 129,99 e, em outro, por R$ 90,59.

Feito em maio/22, o levantamento pesquisou e comparou os preços dos medicamentos de referência dos sites da Drogaria São Paulo, Drogasil, Extrafarma, Droga Raia, Pague Menos e Ultrafarma. Do total dos itens comparados, a Drogaria São Paulo e a Pague Menos foram os locais que apresentaram a maior quantidade de medicamentos com menor preço.

As diferenças de preços encontradas no mercado podem ocorrer em razão dos descontos concedidos pelos estabelecimentos. Conforme o Procon-SP esses descontos variam de acordo com critérios livremente estabelecidos por fornecedor.

Será?

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) determina que as farmácias e drogarias não podem cobrar preços acima do permitido pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED). Mas o que explica a variação de algumas redes em relação a outras? manipulação, formação de cartel, ajuste de preços? ou simplesmente uma característica comercial desse rentoso mercado? Mistério…

A lista de preços máximos (PMC) permitidos para a venda de medicamentos é disponibilizada no site da ANVISA para consulta dos consumidores e é atualizada mensalmente (https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/medicamentos/cmed/precos).

Em conclusão, temos que passar a limpo os setores econômicos envolvidos com a saúde, pois faturam bilhões de reais anualmente, e por isso tem poderosos lobistas atuando junta à cena política e nos setores regulatórios.

Publicado em Claudio Henrique de Castro | Deixar um comentário
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O Brasil é uma selva

Uma selva habitada por homens desinteressados pelo paradeiro de Dom e Bruno

A imagem mais clichê que se tem do Brasil no exterior não é exagerada. O Brasil é uma selva. Mas em vez de onças, anacondas e jacarés, o animal que coloca em risco a vida das pessoas é o político brasileiro. A letargia do governo em mobilizar esforços para procurar o indigenista Bruno Pereira e o jornalista Dom Phillips é sintoma da selvageria em que vivemos.

Jair Bolsonaro nem tentou fingir alguma preocupação quando questionado sobre o caso. Classificou como “aventura não recomendada” o trabalho dos profissionais. Minimizou a violência à qual a região está exposta, afirmando que os dois podem ter sido vítimas de uma “maldade”. Desde quando dois possíveis assassinatos podem ser chamados de “maldade”? No Brasil de Bolsonaro.

Ele, que gosta de dizer que a Amazônia é dos brasileiros, parece ignorar —ou não se importa mesmo— de que já deu no New York Times que a posse foi entregue a traficantes, pistoleiros, invasores de terra e matadores de indígenas. Bolsonaro conseguiu a façanha de mostrar que não são só nossas florestas que estão à mercê da milícia, mas o país inteiro, refém do bolsonarismo sustentado pelo centrão.

Bolsonaro et caterva normalizam fome, desemprego, mortes na pandemia, chacinas em favelas e violência contra ativistas e jornalistas, atacam instituições, incitam violência, ameaçam adversários políticos. O desaparecimento de Bruno e Dom é tratado como vírgula num cotidiano de barbárie, marca deste governo violento.

A imagem de um país exótico em que os macacos andam no meio dos carros é caricata, mas parte da classe política se encaixa nessa descrição de um Brasil subdesenvolvido, habitado por bárbaros que usariam a lei de talião se pudessem. A verdadeira selva brasileira foi projetada por Niemeyer, fica no Planalto Central e é habitada por homens de terno e gravata que não estão interessados no paradeiro de Dom e Bruno e no que isso representa.

Publicado em Mariliz Pereira Jorge - Folha de São Paulo | Deixar um comentário
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Justiça para quem resiste

O Brasil é um país de muitas Marielles e muitos Andersons, destroçado pelo absurdo, pela perda da sua identidade e pelo avanço da imbecilização coletiva. A milícia que executou a vereadora do Rio de Janeiro e o motorista que a acompanhava, na noite triste de 14 de março de 2018, e que inferniza a vida dos habitantes das comunidades das favelas, é a milícia amiga da família presidencial, com passe livre para agir e espaço cada vez maior no aparelho do Estado. É aquela que oculta a resposta previsível à pergunta que não se cala: quem mandou matar?

O Brasil é um país de muitos Genivaldos, vítimas da truculência policial sem limites, simbolicamente traduzida no improviso macabro da câmara de gás que sufocou o motoqueiro que circulava por uma via pública em Sergipe. Nazismo dentro da Polícia Rodoviária Federal, em maio de 2022, praticado fartamente por vários outros agentes públicos, em várias outras situações, durante quase quatro anos de um governo genocida, insensível e cínico.

O Brasil é um país de muitos Brunos e Dons, desaparecidos de terras indígenas por obra de grileiros, contrabandistas, traficantes de drogas, chefes do extrativismo e da violência, incentivados em seus crimes pela omissão oficial. Um país de sangue espalhado pelo chão, de matas queimadas, de veneno jogado nas águas, da miséria, da fome que cresce, da desesperança e das mortes em série.

Há de haver justiça para Marielle Franco, para Anderson Gomes, para Genivaldo de Jesus Santos, para Bruno Pereira e para Dom Phillips. E há de haver justiça para os milhões de brasileiros que não se curvaram (ou não se curvam) aos desejos obscurantistas do psicopata que pensa (des)governar os seus destinos.

Que o pesadelo, que as chamadas “instituições” deveriam ter eliminado há muito tempo, esteja perto do fim.

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Placa preta

Chevrolet Impala, 1958. © Iara Teixeira

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Desemprego afeta vida sexual

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