Parou faz tempo

BOLSONARO vem a Curitiba no sábado, trazido pelo apóstolo Ricardo Barros. Participam da Marcha Pára Jesus. Não por isso. Bolsonaro parou Jesus desde que foi eleito.

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Deixem o Lula se casar em paz

Às vezes é preciso ser um monge para não sentir prazer com o infortúnio alheio

Talvez não haja na língua portuguesa nenhuma palavra que descreva tão bem a satisfação de testemunhar a desgraça alheia quanto “Schadenfreude”, em alemão. Por melhores que sejam os seus sentimentos e por mais que você esteja em dia com o exercício da empatia, às vezes é preciso ser um monge para não sentir prazer com o infortúnio alheio.

Impossível não experimentar doses involuntárias de “Schadenfreude” ao ver Jair Bolsonaro ser vaiado na Feira do Guará. Às vezes, imagino o dia em que será defenestrado do Planalto e preso. Acredito que não caberei em mim de tanta “Schadenfreude”.

Por outro lado, não cultivo nenhum tipo de sentimento perverso sobre Bolsonaro et caterva em relação as suas vidas pessoais. Ao contrário da turba que se regozija com um suposto chifre do presidente ou com episódios muito mais graves como o atentado sofrido por ele, a indiferença deveria ser o limite. Seja moral, ético ou apenas humano.

Parece óbvio que não tem santo nessa polarização grotesca que vivemos. Tem gente abjeta no espectro político todinho. Ninguém é obrigado torcer pela felicidade de desafetos, mas o bolsonarismo introduziu na sociedade um comportamento para o qual ainda não há nome. Uma mistura de ressentimento com perversidade e violência, reverberado por todos que se identificam com essa seita.

Nesta quarta (18), Lula vai se casar. Na entrevista à revista Time disse que está apaixonado como se tivesse 20 anos. O casamento tem sido explorado pelos bolsonaristas com a vilania de sempre, especulações sobre os gastos, sobre o vestido da noiva, sobre as motivações da união. São os mesmos que fecham os olhos para rachadinha, gastos no cartão corporativo, mansão de milhões do filho 01. Essa gente não entende patavinas de política, de economia, de ciência, não entenderia que Lula pode —e deve— ser criticado sempre, menos por celebrar sua união.

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Mais uma do Agrippino, desta vez com Graciliano – parte II (final)

Schmidt não acreditou no que leu, mas reuniu forças para ler o restante do texto. O primeiro parágrafo não deixava qualquer dúvida para que Augusto Frederico Schmidt ficasse o resto do dia rindo de alegria: “Caetés, do alagoano Graciliano Ramos, é uma droga. Uma droga maravilhosa, que inebria, que embebeda, que embriaga, que extasia a alma do leitor. Nasce, sem dúvida, um dos maiores romancistas do Brasil. A gente termina de ler o livro e quer ler mais livros de Graciliano Ramos, tal o poder da droga”.

Quinze minutos depois, ao telefone, era Agrippino. Não deixou Augusto falar. Apenas disse: “Semana que vem, entro em férias na faculdade e embarco no vapor Fulano de Tal para Recife, onde vou fazer umas conferências, vão me pagar um bom dinheiro. O vapor faz uma escala em Maceió, que dura quatro horas. Telegrafe ao Graciliano para que ele me encontre no cais do porto. Quero conhecer o sujeito pessoalmente e almoçar a comida local”. Schmidt, em pleno domingo, foi ao Correio e telegrafou para Graciliano Ramos.

Na volta ao Rio, Agrippino Grieco lançou suas impressões sobre Graciliano Ramos: “Inteligentíssimo, talentoso, grande escritor e fala coisas sérias e producentes, mas muito tímido. Disse-lhe que fosse morar no Rio de Janeiro porque viver de literatura em Maceió é impossível. Mas ele disse que não poderia, tinha esposa e oito filhos para criar. Uma pena. Temo que se perca um grande romancista. Aos editores do Brasil, aviso que Graciliano Ramos já terminou o seu segundo romance, que se intitula “São Bernardo”. Augusto Frederico não gostou da última frase e tinha lá suas razões. São Bernardo, em 1934, foi publicado pela concorrente Editora Arial.

Numa de suas últimas entrevistas antes de morrer, em 1973, Grieco foi perguntado sobre quais eram os grandes escritores brasileiros. Não pensou cinco segundos e disparou: Dos mortos, Machado de Assis, Lima Barreto e Graciliano Ramos. Dos vivos, Jorge Amado, José Lins do Rego, Ciro dos Anjos, Érico Veríssimo e Lúcio Cardoso.

Graciliano Ramos, que não queria deixar Maceió, a esposa e os oito filhos, acabou aportando no Rio de Janeiro contra a sua vontade, em novembro de 1935. Após a “Intentona Comunista”, foi preso em Maceió, colocado a ferros no porão de um navio e desembarcou no Rio de Janeiro. Foi levado ao presídio Frei Caneca e depois para à Ilha Grande. Ficou onze meses preso, sem jamais ter sido interrogado, acusado ou julgado. Quando foi solto, telegrafou à mulher para que vendesse tudo e viesse com os oito filhos para o Rio de Janeiro.

Na prisão, elaborou várias notas para um livro que escreveu já em liberdade: “Angústia”. Não queria publicar, achava-o muito pessimista. José Lins do Rego, que leu os originais a pedido de Graciliano, foi contra. Disse que era uma obra prima e deveria ser editado. É tido, pelos estudiosos, desde os anos de 1960, como o primeiro livro existencialista do Brasil.

Depois, escreveu “Vidas Secas” (1938), para alguns o seu melhor livro; “Infância” (1945), livro de memórias; “Histórias incompletas” (1946); e “Insônias” (1947).

Em 1945, com a volta dos partidos políticos depois do Estado Novo, filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro, tendo sua ficha sido abonada pelo próprio Luiz Carlos Prestes e, logo após, partiu numa longa viagem pela Europa com a segunda esposa Heloísa. Foi acometido por um câncer no pulmão em 1952 e veio a falecer em 20 de março de 1953.

Nas suas gavetas, foram localizados e publicados os seguintes livros: “Memórias do Cárcere” (1953); “Viagem” (1954) e outras dezenas de títulos.

No seu “Memórias do Cárcere”, Graciliano Ramos, entre tantos, traça perfis maravilhosos de “Apparício Torelly”, “O Barão de Itararé”; “Cubano”, um negro preso sabe-se lá porque, do médico Victor Konder (pai dos escritores Leandro e Rodolfo) e Octávio Malta, velho militante comunista e um dos mais importantes jornalistas da história do Brasil, sendo o “braço esquerdo” de Samuel Wainer na revista “Diretrizes” e no jornal “Última Hora”.

Pelo que li, depois que iniciei o vício, concordo com Agrippino Grieco, Machado de Assis, Lima Barreto e Graciliano Ramos formaram um grande trio que não deve nada aos maiores escritores do mundo.

PS – Segundo publicado no Facebook de Dacio Malta, filho de Octávio, ex-jornalista (“Veja”, “Globo”, “Jornal do Brasil”, “O Dia”) e atualmente cineasta, a CEPE – Companhia Editora de Pernambuco prepara, para o meio do ano, a publicação de uma biografia e vários textos de Octávio Malta. Graciliano Ramos, certamente, aparecerá por lá.

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Eu tive um sonho igual ao Mártin Burguer King

Diário, ontem foi um dia puxado. Trabalhei uma hora inteira.

É que eu fui na abertura de treco da Associação Paulista de Supermercados. Como eu sempre faço agora, pra animar os amigos e botar medo no inimigo, ameacei com um golpe, dizendo que “podemos ter eleições conturbadas”.

Aquela frase ficou na minha cabeça, Diário. E, de noite, eu tive um sonho. Isso mesmo, Diário, como disse um cara aí, que acho que se chama Mártir Burguer King, “eu tive um sonho”. Tudo acontece no dia das eleições. No final da tarde, quando começam a sair os primeiros números que mostram o Nove Dedos em primeiro lugar, meu pessoal começa a agir.

Começa pela turma de Rio das Pedras. Junto com outras milícias, todas bem armadas (porque eu liberei geral), cercam o STF e começam a dar tiros nas janelas. Então vem a Polícia Militar. Mas, em vez de combater os caras, ela se junta a eles e também passam a atirar.

Aí chega o Exército, com seus tanques fumacentos. Só que ele não combate a balbúrdia. Pelo contrário. Arrebenta tudo. Nas cidades, acontece mais ou menos a mesma coisa. É uma tremenda tiraiada pra tudo quanto é lado.

No Rio de Janeiro, invadem a Globo e o Jornal Nacional passa a ser apresentado pelo Augusto Nunes e pela Ana Paula do Vôlei. Em São Paulo, Janaína Paschoal e Carla Zambelli se estapeiam no meio da avenida Paulista, cada uma dizendo que é ela quem vai liderar o golpe.

Enquanto isso, meus apoiadores falam em todas as mídias que a eleição foi roubada. É Ratinho, é Silvio Santos, é bispo Macedo, é Jovem Pan, é todo mundo dizendo que houve fraude e que o comunismo não pode vencer no Brasil, senão vão botar homens de rua morando na sua casa, seus filhos vão virar gays e todo mundo vai ter que tomar vacinas com chips de controle mental.

O Dudu entra no Superior Tribunal Eleitoral à frente de um pelotão usando camisa da CBF e quebra os computadores. O estranho é que, no meu sonho, em vez de porrete, ele usa uma banana gigante.

O Carluxo, vestindo uns chifres de búfalo e um rabo de pavão, comanda a invasão ao Congresso por um monte de marombados de camiseta regata. O Flavinho vai passando pelos locais de conflito e fornecendo chocolate (recheado de laranja) para as nossas Forças Armadas.

Em Brasília, o Alexandre de Moraes, o Fachin e o Barrozo estão ajoelhados à minha frente. Eu uso uma coroa e ouro. Então eu pego minha espada de nióbio, miro nos pescoços deles e… acordo. É que o maldito despertador tocou, porque hoje eu vou continuar minha campanha eleitoral em Sergipe e tinha que pegar o avião cedinho.

Aí, só de raiva, peguei o revólver que eu guardo embaixo do travesseiro e dei umas boas coronhadas nele. O chão do quarto ficou cheio de porca, parafuso e mola. Amanhã esse despertador comunista não estraga meu sonho. O que ele pensa que é? Uma urna?

José Roberto Torero

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Playboy|1970

1979|Ursula Buchfellner. Playboy Centerfold

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‘Revogaço’ e adeus às armas

Futuro presidente precisa anular as medidas de facilitação do acesso às armas

É aterrador o relato do repórter Ivan Finotti sobre sua visita a uma loja de armas, em São Paulo, para o lançamento de uma marca de fuzil. O novo fetiche da turma da bala custa quase R$ 20 mil e pode ser parcelado em até dez vezes no cartão.

A mesma loja oferece tacos de beisebol não para praticar o esporte, mas como um item a mais para o cliente montar o seu arsenal. Os bastões têm inscrições como “Direitos Humanos” e “Diálogo”. É o recado claro e debochado de como resolver conflitos: no grito, na força bruta, à bala.

Este é apenas um exemplo de como a violência passou a ser um valor promovido pelo governo. Bolsonaro conseguiu afrouxar a legislação sobre armas por meio de decretos e portarias. São instrumentos meramente administrativos, que dispensam a apreciação do Congresso. Alguns deles contaram com a conivência do Exército, que perdeu atribuições de controle e rastreamento.

Quase quatro anos de estímulo às armas produzem muitos efeitos. Tem gente ganhando rios de dinheiro com isso, multiplicaram-se os clubes de tiro pelo país e devem estar abarrotados os depósitos das milícias, facções e outras modalidades de crime.

Há ainda outra consequência, difícil de mensurar, que é a naturalização da percepção de que uma sociedade armada até os dentes seria uma garantia de proteção e segurança para o cidadão. O caso do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro, no balcão do aeroporto de Brasília, é autoexplicativo. Ele carregava uma pistola em vez de livros.

Com a convicção de que Bolsonaro não será reeleito, tomo a liberdade de dar uma sugestão ao próximo presidente. No dia da posse, em 1º de janeiro de 2023, como primeiro ato de governo, publique um “revogaço” no Diário Oficial, anulando todas as medidas de facilitação do acesso às armas.

O “revogaço” não resolverá tudo, pois já há um imenso arsenal em mãos erradas. Mas emitirá um sinal poderoso de mudança e de que é possível e urgente dar adeus às armas.

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Mais uma do Agrippino, desta vez com Graciliano – parte I

Graciliano Ramos (de Oliveira) (Quebrangulo, Alagoas, 27/10/1892 – Rio de Janeiro, 20/03/1953), depois de perambular com o pai e os irmãos por várias cidades do Nordeste, veio dar com os costados no Rio de Janeiro, por volta do início da década de 1910. Para sobreviver, escrevia, e era mal pago, para o “Correio da Manhã” e para a revista “O Malho”, vivendo no miserê. No meio do ano de 1915, teve que voltar às Alagoas, tendo em vista que seus quatro irmãos foram vítimas fatais da peste bubônica e o pai necessitava de sua ajuda no pequeno negócio que mantinha.

Escolheram residir em Palmeira dos Índios e, nas horas vagas, Graciliano escreveu seu primeiro livro, “Caetés”, e jogou os originais na gaveta, eis que não havia, no Estado, editoras. Também aproveitou para casar com Maria Augusta de Barros, com quem teve quatro filhos. Em 1920, ficou viúvo e em 1928 contraiu segundas núpcias com Heloísa Leite de Medeiros, com que teve, mais uma vez, quatro filhos. Candidato único, em 1927, foi eleito prefeito da cidade, onde escreveu dois relatórios ao governador do Estado de Alagoas (alusivos aos anos de 1928 e 1929). O governador ficou impressionado, não só com a atividades realizadas por Graciliano, mesmo com o baixíssimo orçamento de que dispunha, mas, principalmente, com o estilo literário com que Graciliano descreveu suas atividades como prefeito municipal. Sabe-se lá como, os relatórios foram encaminhados ao Rio de Janeiro e colocados num escaninho qualquer de um Ministério. Com a Revolução de 1930, Graciliano Ramos renunciou ao cargo de prefeito, antes que o interventor, nomeado por Getúlio Vargas, o colocasse no olho da rua, o que de resto fez com todos os outros prefeitos.

Em meados de 1933, um Rogério Distéfano da vida, que nas horas vagas fica furdunçando petições antigas e processos ainda mais arcaicos, resolveu ler os tais relatórios elaborados por Graciliano Ramos. Ficou impressionadíssimo com o estilo literário utilizado e desconfiou que por trás dos mesmos se escondia um grande romancista. Repassou os relatórios para o amigo Augusto Frederico Schmidt.

Schmidt era intelectual de nomeada, dominava vários idiomas, e rico, muito rico, herdeiro do Visconde de Schmidt, uma das maiores fortunas do Império. Numa viagem aos Estados Unidos, descobriu os supermercados e, na volta, instalou uma rede deles, com o nome de “Disco”, por todo o Rio de Janeiro, aumentando consideravelmente sua fortuna. Teve arroubos integralistas, mas logo em seguida se assumiu como intelectual de esquerda. Para editar seus livros de poesias e ensaios e não ficar dependendo dos editores, fundou sua própria casa editorial, onde editava e vendia os livros, a Livraria Schmidt Editora, local que reunia a intelectualidade do Rio e granjeava inúmeras amizades para Augusto Frederico. Quando terminou de lançar todos os seus livros, passou a editorar o dos outros, sendo que o primeiro a aparecer no catálogo foi um jovem pernambucano chamado Gilberto Freyre, com um calhamaço intitulado “Casa Grande e Senzala”. Sucesso instantâneo de crítica e nem tanto de público, que não dava muita importância (como hoje) aos livros de sociologia. Entre os supermercados, livraria e editoras, ainda achou tempo para ser presidente do Botafogo. Mais tarde, se encantou com Juscelino Kubitschek e, através de amigos comuns, passou a integrar o Comitê de sua candidatura. Da cabeça de Augusto Frederico saiu o slogan que JK adorou e passou a repetir em todos os seus comícios: “50 anos em 5.” Integrou o governo JK em vários cargos: assessor especial da Presidência da República para Assuntos Internacionais, embaixador do Brasil na ONU e na então Comunidade Econômica Europeia. Em 1964, manteve uma perna, a esquerda do intelectual, na canoa de Jango e a direita, do empresário, na canoa dos militares. Como faleceu no início de 1965, não foi amolado nem por um lado e nem pelo outro.

Schmidt, assim que leu os relatórios, teve a mesma desconfiança do Rogério Distéfano de então: atrás daqueles textos havia um extraordinário romancista. Moveu mundos e fundos para localizar Graciliano Ramos, que, na época, com 8 filhos para criar e encaminhar, havia se mudado para Maceió, onde ganhava o pão de cada dia como servidor da Imprensa Oficial e professor da rede pública. Localizado o endereço, telegrafou para Ramos e perguntou se tinha algum romance, eis que estava interessado em publicar. Graciliano, tomado de surpresa, e já sabendo do enorme sucesso de Gilberto Freyre, disse que tinha “Caetés” na gaveta e estava escrevendo outro, cujo título era “São Bernardo”. Augusto Frederico pediu, então, que encaminhasse os originais de “Caetés”, o que Graciliano imediatamente fez.

A intuição do Rogério Distéfano de antanho e de Augusto Frederico se transformaram em certeza e o livro entrou imediatamente em composição para ir ao prelo. Livro pronto, Augusto Frederico encaminhou o primeiro exemplar para Agrippino Grieco e ficou esperando. Só lançaria o livro depois da crítica do mesmo. No domingo, acordou cedo e abriu o “Jornal”, periódico em que Grieco publicava suas críticas. Nada de nadica. Não se importando com o horário, ligou para Agrippino, tirando satisfações. Grieco limitou-se a responder: “Quando recebi o livro, a minha coluna já estava pronta. Mas já comecei a ler e estou adorando. Aguarde domingo que vem”.

O domingo que vem chegou e Augusto acordou ainda mais cedo e pegou o jornal que estava na porta. Foi direto para a coluna de Agrippino Grieco e quando leu o título quase teve uma síncope. Grieco intitulou a coluna com a seguinte frase: “Caetés, do alagoano Graciliano Ramos, é uma droga”

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Soy loco por Teresina!

Mariza Nunes de Carvalho e Pedro Arcoverde, Salão Internacional de Humor do Piauí, em algum lugar do passado. © Vera Solda

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O reles mundo global contra o poder individual

A carne dos dianteiros do boi é de segunda. Os italianos criaram um processo eletromagnético que realinha as fibras duras e emaranhadas dessas carnes e elas ficam semelhantes ao filé mignon. Isso já aconteceu faz tempo. Mas pode passar agora na televisão e tem gente que vai se espantar, achando um crime. São essas mesmas pessoas que, de tão absorvidas pela vida cotidiana, não percebem o quanto estão sendo alinhadas para consumo mais fácil. Os artistas de antigamente tinham o poder de criar estranhamentos e sacudir os pacatos cidadãos quando eles estavam alinhados demais. Este sacudão mostrava que a sobrevivência estava ameaçada pela inércia. Uma grande dose de ar puro (arte) era injetada de tempos em tempos nos pulmões das pessoas comuns. Os artistas eram incomuns. Hoje, somos todos artistas.

Logo, somos todos comuns. E todos enfileirados, alinhados. Nesta toada vem a contradição: criou-se o mundo da individualidade (o artista para si, o homem comum para si) mas, ao mesmo tempo, o mundo tecnocomputadorizado em escala mundial urra logo ali na porta e obriga a participar. Um individualista ferrenho usa cartão de crédito aceito em todo mundo, em todas as lojas. A propaganda individualiza o cidadão para que ele seja global. O cartão que ‘só você tem’ é o cartão de milhares de pessoas. Perplexidade a toda prova! O sonho de um mundo não linear (o linear era o da escrita pura) transformou-se num pesadelo. Porém, estranhamente, é um pesadelo do qual ninguém quer acordar. É o primeiro pesadelo quentinho, com música ambiente e cheirinho de sabão em pó com aloé vera.

Antes da chegada da era eletroeletrônica, o ser humano tinha um roteiro de vida: uma geração levava à outra. Hoje, as mudanças culturais são muito rápidas, minimizando as mudanças genéticas. Não temos mais começo, meio e finalidade. Apenas fazemos conexões e vamos indo. Se não cair, estamos “conectados com o mundo”. Mas, não há no break para garantir a estabilidade emocional.

*Rui Werneck de Capistrano é in-dividi-duo

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E a rachaciata?

DEPOIS do camarão fatal em Santa Catarina, Bolsonaro voltou à lanchaciata, em Brasília, ontem. Enquanto não voltar à rachaciata é tudo firula, conversa pra suas reses dormirem.

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O golpe nosso de cada dia

Publicado em Fernando Gabeira - O Globo | Deixar um comentário
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Bolsonaro diz que Forças Armadas nunca quiseram interferir na eleição porque não vai ter eleição

Em discurso transmitido para dois milhões de robôs no Youtube, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que são infundados os temores de intervenção nas eleições pelo simples fato de que não teremos eleições. Ele disse que nunca criticou as urnas e que sabe comer farofa sem se emporcalhar.

Bolsonaro aproveitou para apresentar algumas sugestões dos militares para melhorar a votação. As urnas, por exemplo, passariam a dar choque elétrico cada vez que alguém apertasse um número diferente de 22. De acordo com o presidente, os militares apresentaram vários indícios de fraude, como por exemplo o fato de ser permitido teclar o 13.

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Obsessão por palavras pode gerar ruídos na comunicação

A estratégia discursiva dos movimentos sociais

Parte dos movimentos sociais está preocupada com o sentido opressor das palavras e buscando soluções para o problema. Exemplos: substituir o termo “seminário” por “ovulário”, e “esclarecimento” por “escurecimento”. O objetivo é mostrar como a sociedade oprime mulheres e negros ao valorizar características masculinas e brancas no léxico da língua portuguesa.

Porém “seminário” vem do latim “seminarium” (“viveiro de plantas”) que, por sua vez, vem de “semen” (semente). Logo, o sentido é de encontro para divulgar e debater ideias (analogia com germinar conhecimento). Da mesma forma, “esclarecer” não tem a ver com raça e sim com luminosidade: tornar claro para poder ver melhor.

Mesmo se a etimologia machista e racista estivesse correta, o uso corrente dessas palavras não apresenta significado preconceituoso. Além disso, exigir que as pessoas sempre reflitam sobre a origem das palavras antes de utilizá-las é um contrassenso. Isso demandaria um desgaste mental e ocasionaria uma perda de tempo que impossibilitariam a comunicação e as ações no mundo social.

A atual obsessão política pelo léxico se baseia na noção de que palavras têm poder e de que é possível mudar o mundo com palavras. Palavras podem muito, de fato: informar, debater, criticar e, algo fundamental no mundo político, conquistar audiência, efetuar parcerias que ampliem o raio de ação das ideias e tornem viáveis as demandas.

Será que inventar palavras sem motivo e produzir estranhamento no interlocutor é uma boa estratégia política? Não é. É academicismo elitista desligado da realidade social e linguística da maioria da população. Gera ridicularização por parte dos opositores e dificulta a compreensão. A luta de qualquer movimento social precisa fazer sentido para além do próprio movimento. Menos paranoia com palavras e mais seminários, mais esclarecimento sobre os problemas que de fato afetam as minorias talvez seja uma estratégia discursiva menos narcisista e mais eficiente.

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