Da eutanásia

Mais cedo ou mais tarde todo articulista decente tem que falar da eutanásia, razão pela qual eu custei tanto a me decidir. De saída é uma palavra tão bonita que, se a pronunciamos contra o céu azul do colocar-do-sol (antigo pôr-do-sol) de um dia de domingo, qualquer pessoa, por menos poética que tenha a alma, percebe imediatamente que somos muito cultos e lidos. De qualquer forma não é necessário esperar o domingo para usar a eutanásia, já que nos dias comuns essa palavra também pode ser empregada, embora só em legítima defesa.

Porém, que é a eutanásia? A eutanásia, inventada no ano de 1200 por Sir Lawrence Olivier Lancelot, tornou-se imediatamente muito popular entre médicos que tinham pressa em receber as contas das viúvas. Aplicada aos doentes, ela dá excelentes resultados, curandoos completamente dessas tola mania de chamar médicos quando está doente. Médicos só devem ser chamados quando se está vendendo saúde. Por exemplo, aos 18 anos, fazendo surfe no Arpoador.

Outrossim (que eliminou da língua o outronão), é muito fácil saber se você contraiu eutanásia: basta olhar pro canto e ver se a junta médica está falando em voz baixa. Se estiver, é porque você acabou de ser convocado para fim de herói russo no período comunista ou pra doador de órgãos na China atual. Isso, no Brasil do século XIX, ainda não se chamava eutanásia, se chamava “Voluntários da Pátria”.

Na Idade Média (aproximadamente 40 anos) essa ciência chegou a ser muito praticada, principalmente em Caxias, no Rio, tendo até mesmo o Sr. Tenório Cavalcanti publicado um livro sobre as melhores maneiras de se empregar a referida Euterpe com metralhadora Lurdinha. Floresceu muito, também, entre os Médicis de Florença e só não floresceu mais porque Florença temeu a concorrência e juizes severos praticaram a eutanásia na eutanásia, tendo ela embarcado para a França, onde apareceu num filme de André Cayatte e posso garantir que estava mais bonita do que nunca.

Mas o local onde crescem as maiores eutanásias que já tive oportunidade de saborear, é no 2o. pavilhão para tratamento psicológico, no Carandiru.

Olha, explico melhor –no tempo em que o cavalo de Tróia ainda era potro, já a eutanásia tinha dado duas voltas ao mundo, usada muitas vezes por pessoas que não tinham a mínima experiência e tentavam apagar alguém praticando a eutanásia e acabavam liquidando sem que a eutanásia sequer desse as caras. (Aqui conviria falar de Hiroshima e Nagasaki, mas eu agora estou sem vontade de me meter na guerra fria, pois acho que essa era até bem quente. Prefiro chuveiro. A propósito, alguém ai tem cinco notas de dez, dessas elásticas estou precisando lavar dinheiro).

Isso é a eutanásia, em suma. Quem souber mais e melhor que me diga, sendo que a bibliografia a respeito é muito rica, estando mesmo Trotsky preparando um grosso volume sobre o assunto quando Stalin praticou a eutanásia nele. E mais não digo porque, aqui pra nós, estou com eutanásia de assunto.

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Vale a pena ver de novo – The Big Tree

Na Maison Jacobsen, Grande Árvore do Humor. Da esquerda para a direita: Cilda Jacobsen, Raquel, Pryscila Vieira, Vera Solda, Tiago Recchia, Sampaio (óculos escuros e boné) o cartunista que vos digita, Juliana Radaelli, Marco Jacobsen (com Théo no colo), Ademir Paixão (de chapéu) e Eduardo, lá em cima. © Bibiana Schneider

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Tempo

Teresina. Salão Internacional de Humor do Piauí, 2007, 25 anos.

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O reles mundo global contra o poder individual

A carne dos dianteiros do boi é de segunda. Os italianos criaram um processo eletromagnético que realinha as fibras duras e emaranhadas dessas carnes e elas ficam semelhantes ao filé mignon. Isso já aconteceu faz tempo. Mas pode passar agora na televisão e tem gente que vai se espantar, achando um crime. São essas mesmas pessoas que, de tão absorvidas pela vida cotidiana, não percebem o quanto estão sendo alinhadas para consumo mais fácil.

Os artistas de antigamente tinham o poder de criar estranhamentos e sacudir os pacatos cidadãos quando eles estavam alinhados demais. Este sacudão mostrava que a sobrevivência estava ameaçada pela inércia. Uma grande dose de ar puro (arte) era injetada de tempos em tempos nos pulmões das pessoas comuns. Os artistas eram incomuns. Hoje, somos todos artistas.

Logo, somos todos comuns. E todos enfileirados, alinhados. Nesta toada vem a contradição: criou-se o mundo da individualidade (o artista para si, o homem comum para si) mas, ao mesmo tempo, o mundo tecnocomputadorizado em escala mundial urra logo ali na porta e obriga a participar. Um individualista ferrenho usa cartão de crédito aceito em todo mundo, em todas as lojas. A propaganda individualiza o cidadão para que ele seja global. O cartão que ‘só você tem’ é o cartão de milhares de pessoas. Perplexidade a toda prova! O sonho de um mundo não linear (o linear era o da escrita pura) transformou-se num pesadelo. Porém, estranhamente, é um pesadelo do qual ninguém quer acordar. É o primeiro pesadelo quentinho, com música ambiente e cheirinho de sabão em pó com aloé vera.

Antes da chegada da era eletroeletrônica, o ser humano tinha um roteiro de vida: uma geração levava à outra. Hoje, as mudanças culturais são muito rápidas, minimizando as mudanças genéticas. Não temos mais começo, meio e finalidade. Apenas fazemos conexões e vamos indo. Se não cair, estamos ‘conectados com o mundo’. Mas, não há no break para garantir a estabilidade emociona

*Rui Werneck de Capistrano é in-dividi-duo

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O “tudólogo”, especialista em nada, comentarista de tudo

Lira Neto

Arautos de certezas inabaláveis, luminares do Facebook, são abençoados com o dom do conhecimento instantâneo Ligo a tevê e lá estão eles, nas bancadas dos telejornais: os “tudólogos”, especialistas em nada, comentaristas de tudo. Falam, com a mesma e peculiar desenvoltura, sobre a guerra na Ucrânia, a variante ômicrom e, quem sabe, a influência da pelagem do tamanduá-bandeira na formação psicossocial dos filhos do primo do vizinho da irmã do guarda.

Conhecem tudo sobre geopolítica do leste europeu, epidemiologia, cibercrimes, física quântica, ambientalismo, cinema indiano, literatura gótica, inteligência artificial, psicanálise, Round 6, sexo entre golfinhos e o que mais lhes der na telha. Padres-mestres que têm ideias prontas e firmes sobre qualquer assunto, notícia ou tema.

Com a segurança, soberba e altivez de um catedrático do Twitter, emitem opiniões polivalentes aos jorros, borbotões e esguichos, glosando seja lá qual for o mote em questão: eleições presidenciais, criptomoedas, terrorismo, saúde pública, novas matrizes energéticas, planejamento urbano, táticas de futebol, menopausa do urso panda, o paredão da Linn da Quebrada, o biquíni de crochê da Anitta.

Já fui convidado a participar de programas radiofônicos do gênero, para falar sobre algum livro meu então recém-lançado — e, já que eu estava ali no estúdio, enquanto aguardava minha vez, os apresentadores começaram a me pedir apreciações, ao vivo, sobre isso e aquilo, alhos e bugalhos, espeto e ovo, cousas e lousas. Política cambial, cerimônia do Oscar, desastre de Chernobyl, voto distrital, tráfego aéreo, Primavera Árabe, a morte do Gugu, os glúteos da Kardashian, o último videoclipe da Beyoncé.

“Não sei”; “sei lá”; “não vi”, “não faço a mais remota ideia do que seja”, deu-me ganas de responder. Pressionado, capitulei. Acabei entrando no jogo e proferi platitudes ginasianas, em tom professoral. Um vexame, em suma. Para sorte minha, no rádio, ninguém nota quando quem está ao microfone começa a enrubescer e suar de vergonha.

Ao final, nos dois únicos casos nos quais caí no disparate de bancar o tudólogo, minha participação foi elogiada pelos locutores, que me consideraram apto e até com algum jeito à arte da embromação. Agradeci, acabrunhado, torcendo para que nenhum amigo meu, sem nada mais de útil a fazer, estivesse sintonizado na emissora àquele horário. Da terceira e última vez que tal me ocorreu, de tão nervoso e constrangido, perdi a fala, acometido de repentina, psicossomática e salvadora rouquidão.

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#ForaPutin!

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War

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Radicalmente neutro

Insulto avisa seus navegantes que não toma partido na guerra Rússia-Ucrânia. Não é apenas por ideologia, ou melhor, é por ideologia, pois a recusa à ideologia representa ideologia. Embora saiba das causas próximas e remotas do conflito, prefere ficar distante, no doce deleite da alienação, assumida e radicalmente alienado. A alternativa é a mesmice do que se vê por aí, todo mundo dando pitaco, um pior que o outro, aquele achismo de dar pena.

O blogue fecha com dois de seus influencers, os Ratinhos, pai e filho. O pai, homem de visão, que conhece a criminalidade desde seu tempo de repórter, quando era pobre de marré; Ratinho pai diz para a gente esquecer o assunto, não tomar conhecimento, cuidar de coisas sérias. Em suma, ficar neutro, até mais que o presidente Bolsonaro, o maior influencer do Brasil – e dos Ratinhos, pai e filho. Neutralidade, a palavra mágica, na vida e na política. Sim, radicalmente neutro, tipo sabonete Phebo.

Os Ratinhos conhecem e praticam a neutralidade, mestres consagrados no esforço de permanecer rigorosamente alheios às disputas, sem apoiar qualquer dos contendores. Afinal, se os dois que disputam tiverem razão seria injusto tomar partido. Que melhor exemplo que o de serem amigos de igual afeto tanto de Lula quanto de Jair Bolsonaro? Ratinho filho, ou júnior, nosso governador, é tão neutro que quando a coisa aperta no Paraná ele a neutraliza nos EUA. Sem perder a neutralidade jamais.

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Ladies Orchestra

© Sára Saudková

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Vai passar? Tem certeza?

Cada paralelepípedo do Largo da Ordem ressoa a letra da canção que Chico Buarque de Hollanda, muito inspirado, escreveu para compor uma dobrada de sucesso com Francis Hime, lançada há 37 anos. Mal sabiam que, no Carnaval pandêmico de 2022, Curitiba vestiria a carapuça do sanatório geral, mas em outra passarela de alegorias: a da cena política!

Cabe aqui um parêntese, antes de enveredar o texto para esse campo minado e tão enviesado ou castrador de contextos quanto as editorias internacionais de noticiários daqui ao reportarem conflitos nos países dos outros, quando não regurgitam com farofa as versões das grandes redes corporativas e seus interesses comerciais. Nunca se viu tanto jurado disposto a julgar quesitos e categorias sobre as quais não entende “lhufas” para, no final das contas, sua contribuição a mais ou de menos acabar por definir as escolas que irão desfilar no final de semana seguinte sobre o salto alto de um campeonato tão duvidoso quanto arbitragem de V.A.R. para os escudos mais pesados em campo.

Mas ainda nem abri o ponto de destaque anunciado… Cabe ressaltar que Curitiba tem uma história bonita e emocionante sobre o entrudo, a festa popular, que dribla obstáculos desde sempre, preconceitos, e que afirma sua identidade o tempo todo. Driblar não é um termo sem propósito em um ambiente que desfila de mãos dadas com outra paixão nacional, a do futebol. A Curitiba do samba no pé e da bola na rede tem memórias preciosas para contar, com páginas amareladas de sorrisos, de extroversão, de muito trabalho, incremento de renda e de valor cultural inestimável. Fora os jeitinhos e a malandragem nossa de cada dia.

Como no restante do país, esse caldo cultural é engrossado com todos os temperos da formação da nossa identidade de povo e da brasilidade que corre alucinada nas veias da nossa gente, com doses, claro, das saborosas imperfeições de que é feita uma realidade. Talvez, colecione torcidas de narizes mais exigentes, requintados e hipócritas justamente por desmascarar que o curitibano tem também (- Pasmem! Jesus Cristinho!) raiz essencialmente popular, negra, alegre, verdadeira e humanamente torta.

Dito isto, a ofegante epidemia do momento acontece mesmo no palco da política, que sapateia e dá bizarras piruetas de contentamento em nome de salvaguardar suas tenebrosas transações e de perpetuar um tempo com muitas páginas infelizes, mantenedoras de confortos e que são seletivas na distribuição das benesses e das oportunidades que a cidade tem para oferecer. Aos barões famintos e napoleões retintos da capital paranaense, séculos e séculos depois dos fatos que inspiraram a genialidade no repertório do Chico, a parte que ainda lhes cabe nesse latifúndio de segregação é errar cegamente pela vastidão territorial do município, levando pedras, feito penitentes, para erguer estranhas e impenetráveis catedrais. Essa realidade fugiria à compreensão de outro cantador, o Zé Geraldo, quando imortalizou sua interpretação de “Cidadão” do Lúcio Barbosa, dizendo que o padre lhe deixava entrar no recinto, construído pelo trabalho de suas mãos e com o suor de suas energias, e que o próprio Nosso Senhor lhe ordenava para deixar de tolices e não se deixar amedrontar por esse contexto de exclusões e de seletividades. Continue lendo

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Elas

Céu (estilizado como CéU), Maria do Céu Whitaker Poças. ©  Felipe Diniz

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Thiago E, o próprio, driblador de gagueira.

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Tempo

2º Festival Internacional do Humor Gráfico das Cataratas do Iguaçu – Planeta Água – 2003

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Flagrantes da vida real

Samuel Lago com a mão na massa. © Maringas Maciel

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