O povo precisa de educação: a fundamental, a média e a superior. Precisa de renda mínima, para sobreviver. Precisa de religião para rezar a algum Deus e pedir para que os governantes não roubem.
Precisa de ótimos gestores públicos, mas que não os tem. O que precisa para ser feliz? Que seu time de futebol ganhe o campeonato e que a novela termine com final feliz.
E o Brasil, o que precisa? Precisa dispensar a multidão dos que opinam sobre tudo, mas não conhecem, absolutamente, nada.
Precisa de uma elite governamental comprometida, de políticos que não roubem e não mintam para o povo.
Impossível? As leis podem modificar tudo isso? Não, pois quem faz as leis são os políticos.
O negacionismo oficial dos últimos três anos que elegeu centenas de personagens bizarros agora cobra o preço do atraso. A falta de investimentos na ciência e na educação; a negação da pandemia com milhares de vítimas; o descrédito na democracia e o apadrinhamento institucional das forças armadas, com o crescimento do Centrão, esse bloco oportunista e fisiológico que se formou desde a Constituinte de 1988.
O mais grave: a bagunça na economia gerada por uma política cambial equivocada e a falta de investimentos nos setores produtivos. A cereja desse bolo de tudo isso: a política ultra neoliberal e a destruição das estatais rentáveis. Em resumo: a entrega das nossas riquezas para outros países.
O povo quer o elevado preço dos combustíveis, o desemprego estrutural e carestia nos produtos da cesta básica? Qual a única alternativa?
As eleições. Que já estão com cartas mais ou menos marcadas, isto é, com os mesmos personagens que se apresentam como novidade, num mar de mesmices. Muita gente já se julga eleita, mas ainda não combinou o resultado com o eleitorado.
O que fazer quando existe amor e os dois estão frustrados e insatisfeitos?
Fiz mais de duas décadas de análise e de terapias freudiana, junguiana, reichiana, lacaniana, cognitivo-comportamental e outras que nem sei nomear. Outro dia me perguntaram se algum insight terapêutico mudou radicalmente o rumo da minha vida. Foi fácil responder.
Há alguns anos, estava querendo me divorciar do meu ex-marido, mas sem coragem, pois não encontrava um motivo concreto para a separação. Eu me sentia infeliz, apesar de o meu ex ser um companheiro apaixonado, fiel, inteligente, sério e sincero. Até hoje, anos após a separação, ele é uma das raras pessoas em quem confio plenamente.
Logo no nosso primeiro encontro eu perguntei —brincando, é lógico— se ele sofria de incontinência verbal e verborragia, se conseguia colocar ponto, vírgula e interrogação nas suas frases. Ele fala bastante; eu sou calada, quieta e tenho que fazer um enorme esforço para falar. Ele gosta de sair, viajar e passear; eu, de ficar quieta em casa, lendo, estudando e escrevendo. Ele fica com a televisão ligada o tempo todo e fala horas no celular; eu não ligo a televisão e só uso o celular para questões de trabalho. Ele é sociável e adora encontrar os amigos; eu, como ele sempre criticou, sou “ermitã e bicho do mato”.
Ele me amava, eu o amava, mas o diagnóstico era simples: incompatibilidade de gênios ou de personalidades. Eu não conseguia ser a minha melhor versão com ele, e não permitia que ele fosse a sua melhor versão comigo. Ao contrário, apesar do amor, éramos a nossa pior versão um com o outro. Quantas vezes ele me disse que fazia um enorme sacrifício para me agradar e não conseguia?
Mas o que fazer quando existe amor e os dois estão frustrados e insatisfeitos? Tentamos nos separar uma vez, mas voltamos alguns meses depois. Fomos buscando nos acertar até que uma viagem que deveria ter sido a nossa segunda lua de mel foi um verdadeiro inferno. Ele querendo ficar o tempo todo com casais de amigos, eu querendo ficar só com ele. Assim que o avião pousou no Rio de Janeiro decidi me separar.
Fui ao meu analista com uma folha onde escrevi um balanço do meu casamento. De um lado, as coisas boas: amor, companheirismo, fidelidade, confiança, amizade, admiração e respeito. De outro, coisas ruins: brigas, implicâncias, chatices, irritações, discussões por bobagens, falta de escuta, de diálogo, de compreensão e de intimidade. Antes de eu ler a minha listinha, o psicanalista pegou a folha de papel da minha mão, rasgou em pedacinhos e disse simplesmente: “Acabou!”.
“Será que acabou mesmo?”, ainda tentei dizer apontando as coisas boas. Ele me interrompeu: “Acabou!”. Como ele é lacaniano, a sessão também acabou no momento em que ele rasgou a minha listinha.
O diretor-coreógrafo e ilusionista Maicon Clenk conduziu a direção artística da festa de abertura do maior evento de teatro do Brasil, o Festival de Curitiba, nesta segunda, 28 de março, no Museu Oscar Niemeyer (MON). Clenk possui uma consolidada carreira na criação de espetáculos originais e inovadores. É autor da linguagem artística “Teatro Ilusionista” e fundador da Clenk Company.
A edição especial e comemorativa de 30 anos do Festival de Teatro de Curitiba começa nesta terça, 29/03, e segue até 10/04, após uma pausa de dois anos por conta da pandemia.
Na noite da abertura, 2.500 convidados lotaram o Museu Oscar Niemeyer, considerado o maior museu de arte da América Latina. A festa contou com interações artísticas que criaram um clima de espetáculo, com a integração de múltiplas linguagens e efeitos de ilusionismo originais, características do diretor.
Os convidados foram recepcionados por duas cantoras líricas que interpretaram personagens simbolizando as deusas do teatro em figurinos com mais de cinco metros de altura, além de um painel gigante em formato de mãos que dava as boas vindas de forma sensorial, interagindo e oferecendo drinks. Um grande tapete vermelho na entrada misturou as equipes de imprensa presentes para cobrir o evento com atores interpretando paparazzi e repórteres, trazendo um clima divertido à festa.
Além da direção artística, as coreografias também foram elaboradas por Clenk, com apresentações que misturavam ilusionismo, dança e humor, inovando o formato tradicional da cerimônia.
O próprio diretor e um dos fundadores do festival, Leandro Knopholz, participou de uma cena em que coelhos dançarinos interpretavam mágicos com efeitos de ilusionismo, e declarou: “A festa de abertura de 30 anos do Festival teve o privilégio de ter a cerimônia dirigida pelo Clenk, um dos maiores da sua geração!”, afirmou Knopholz.
A diretora do festival, Fabiula Passini, também participou de uma das cenas ilusionistas, e apareceu magicamente no palco. Estavam presentes na cerimônia a coreógrafa Deborah Colker e a fotógrafa Lenise Pinheiro.
Em 2018, o teatro ilusionista de Clenk também inaugurou o MishMash – evento que faz parte da história e da programação oficial do festival até hoje – com o espetáculo “O Grande Show de Mágicas”.
A abertura do festival marca a retomada do primeiro evento presencial da Clenk Company, que este ano retoma temporadas nacionais com três espetáculos de repertório, incluindo o premiado VIK, vencedor do último Troféu Gralha Azul como melhor espetáculo e melhor atriz entre inúmeras indicações.
O Festival de Curitiba também retoma as atividades presenciais, após dois anos em versão online, no mesmo dia em que um decreto estadual autorizou a liberação de máscaras em espaços fechados no Estado do Paraná e na data de aniversário da capital, que completa nesta data 329 anos.
Sobre Maicon Clenk:
Clenk é ilusionista e diretor-coreógrafo, com uma consolidada carreira na criação de espetáculos originais e inovadores. É autor da linguagem artística “Teatro Ilusionista” e fundador da Clenk Company. Com formação multidisciplinar, integra diversos gêneros artísticos como o teatro físico, a dança, a acrobacia e o ilusionismo para criação de mundos mágicos. Reúne inúmeras premiações e obras que já foram assistidas por mais de 20 milhões de pessoas ao vivo.
A facada de 2018 estará presente na eleição de 2022. Jair Bolsonaro não deixará que ela seja apenas uma lembrança distante, ainda que sombria, do último pleito. A superação faz parte da imagem que ele cultiva do homem que se sacrifica pelo povo e combate a “volta do comunismo” com a própria vida.
Nem 24 horas depois de mais um evento com cara, cores e discurso de lançamento de campanha, só permitida a partir do dia 16 de agosto pela legislação eleitoral, o presidente foi internado devido a “dificuldade de esvaziamento gástrico”. Passou a noite no hospital, onde ganhou dieta líquida, recebeu alta na manhã seguinte e embarcou para o Mato Grosso.
Parecia perfeitamente saudável nos vídeos divulgados em suas redes sociais. Mas a internação, mais declarações de apoiadores, inclusive do filho Flávio Bolsonaro, sobre as “consequências da tentativa de homicídio por um ex-militante do PSOL”, fizeram o assunto voltar a ser um dos mais comentados nas redes sociais, uma base importante para o bolsonarismo.
Não há embasamento para afirmar que a facada tenha sido decisiva para a eleição em 2018, como apontam adversários e críticos, mas na prática Bolsonaro ganhou passe livre para fugir dos debates, onde seria confrontado, e a simpatia de eleitores que passaram a vê-lo com olhos solidários.
A Polícia Federal já concluiu dois inquéritos que apontam que Adélio Bispo agiu sozinho, mas o clã Bolsonaro não aceita o resultado das investigações e investe na narrativa de que foi um complô da esquerda. Esta por sua vez tem parte da militância que alimenta a fantasia de que a facada foi armação.
Bolsonaro tem obviamente a saúde debilitada, mas não toma conta dela, caso contrário não teria se entupido de camarão e baixado no hospital em janeiro. O entra e sai de hospitais causa forte comoção em sua base. A facada já garantiu espaço como cabo eleitoral.
Crônicas de Rubem Braga de 1939, reunidas em ‘Uma Fada no Front’, falam de aflições de um mundo fervilhando
Desde o já distante 24 de fevereiro, quando a Rússia invadiu a Ucrânia, sofro de “insônia internacional”, assim como o amigo do Rubem Braga. Segundo o jovem cronista contara na revista Diretrizes, nos idos de 1939, esse amigo vivia aflito com as notícias da Europa. Além de devorar todos os jornais, atravessava as horas ligando para agências telegráficas e Redações dos diários.
“Ele acaba de me telefonar, declarando: ‘Estou inteiramente pessimista, acho que tudo vai acabar em paz'”.
Felizmente –ou infelizmente–, as notícias da Europa hoje chegam nesta contínua cascata, enfileirando desgraças nas telas dos nossos celulares. Ao contrário do amigo do Rubem Braga, não antevejo paz no fim do túnel. Não me surpreenderia se daqui a pouco ogivas nucleares estiverem cortando os céus. Talvez a culpa da minha descrença na humanidade seja do insuperável cronista.
Reunidas no livro “Uma Fada no Front”, as crônicas de 1939 nos falam de um mundo fervilhando, com forças antagônicas se armando para o enfrentamento. Um tempo de extremos, radicalizado, bélico, à flor da pele. Era só questão de um lunático começar para tudo voar pelos ares.
Nas páginas, o cotidiano em Porto Alegre, para onde Rubem Braga se mudara após deixar Diretrizes e o Rio de Janeiro, é protagonista. Mas até um passeio na rua da Praia exala a tensão da época.
No dia em que a Alemanha declarou guerra à Polônia, em 1º de setembro, ele já estava bem instalado na capital gaúcha, publicando diariamente na Folha da Tarde e no Correio do Povo. Alugara um pequeno apartamento na rua Dr. Flores, em frente à famosa confeitaria Rocco. Naquela manhã modorrenta, chuvosa e fria, batucava a Remmington, com o rádio ligado, quando uma voz grossa se sobrepôs a voz fina de uma mulher que cantava um samba molengo.
“De repente o samba recuou, quase sumiu, baixinho, para um fundo longe – e uma voz grossa de homem leu um telegrama”, contou, na crônica intitulada “Setembro, Chuva”: “A voz grossa falou em 200 aviões bombardeando uma cidade, tropas avançando por quatro pontos da fronteira, aviões lutando sobre o mar, generais conferenciando com ministros. Depois, a voz forte parou – e se ergueu outra vez a melancólica voz de mulher cantando o seu samba mole”.
E lá estava a anunciada guerra, enfiando-se despudoradamente na calma manhã do cronista: “Não, isto é demais! Imaginem os senhores que eu abri todas as válvulas e o sr. Vicente Celestino aproveitou para berrar uma canção”.
O texto é um primor. Entre as notícias do front e anúncios de vinho, Rubem Braga ouviu surpreso Aracy de Almeida cantando “Camisa Amarela”. Porém, para o seu desgosto, logo viria uma sequência de tangos.
Ao correr as linhas, eu pensava no Twitter, a guerra na Ucrânia sumindo, sendo engolida pela fúria de Deltan Dallagnol e pelos novos trambiques do governo Bolsonaro. Nas duas primeiras semanas que se seguiram ao início do conflito, virei noites, acometida do grau máximo de “insônia internacional”, voyeur da batalha digital. Só de vez em quando arriscando um palpite. E a Otan? Pois é, não sei.
A cadeira do Ministério da Educação está vazia pela quarta vez no governo Bolsonaro. Não que faça muita diferença. Enquanto o presidente escolhe o novo ministro de acordo com os critérios do toma-lá-dá-cá, alguma coisa acontece nas escolas brasileiras: sem um ministro escolhido por Bolsonaro para atrapalhar, a Educacão já melhorou em menos de 24 horas.
eles vão começar a dançar in the mood ao som do genésio depois vão se encontrar só pra ver os queirolo num show de trapézio elas vão namorar os senhores do corso da rua das flores e no dorso dos trilhos vai correr um bonde pra onde não sei sei que virão os filhos trazendo uma pá de gibi pra ir troando estão sentados em bando do lado de lá dos cinemas antigos os cartazes irão reunir doces turmas de grandes amigos que um dia estarão nos cafés comentando: esse tempo é um balão descaiu tão perfeito que até parecia uma nave moderna mas pegou de mau jeito no alto da antena da televisão assim mesmo é eterna no fundo do peito a cidade da gente e por ela começa a bater de repente cada coração curitiba é o homem de cabelo branco no banco da praça é a senhora que passa com tantas histórias pra me viajar curitiba é a menina mais linda do mundo dançando na dela pro carinha maneiro que voa na tábua de esqueite pra ela curitiba é o sujeito que vai pro batente a pé ou de expresso é a gente que mete o peito pra frente atrás do sucesso curitiba é o progresso com muito respeito por nossas crianças são milhões de esperanças nas ruas nas praças floridas de ipê curitiba é a história a memória é o agora o que ninguém não vê curitiba é uma glória porque curitiba sou eu e você
O que poderia dar uma boa discussão caiu rápido no tabefe virtual
A festa de gala acabou se tornando festa de galos, deixando as redes sociais em polvorosa: Will Smith estapeia Chris Rock, depois de o comediante fazer piada com a calvície de Jada Pinkett Smith, companheira do primeiro. Atriz premiada com NAACP 2010 por sua interpretação na série dramática “Hawthorne”, Jada sofre de alopécia e precisou radicalizar raspando a cabeça. A perda dos cabelos não alterou em nada sua beleza estonteante, ainda que não tenha sido por opção.
Havia uma pedra no caminho do vencedor do Oscar de melhor ator e ele não teve dó, chutou com tudo. O humor é um tema caro à psicanálise, sobre o qual Freud discorreu em sua obra-prima “O chiste e sua relação com o inconsciente” (1905), no qual ele desvenda sua dimensão em nossas vidas, como forma de trazer à luz conteúdos inconscientes recalcados, tornando-os socialmente aceitáveis.
Espécie de tráfico de material tido como condenável, junto com o sintoma, o sonho, o lapso e o ato falho, o humor é uma formação do inconsciente e como tal não se exaure, revelando seu caráter de ganho de consciência e oportunidade libertadora. Mas também, como sabemos, serve de escoadouro do que há de pior em nós. Sob o guarda-chuva da “brincadeirinha”, humilhações e francas violências correm soltas.
Chris Rock teve uma atitude abominável, como costuma ser este humor que não visa nenhum ganho de consciência ou reflexão, mas apenas cliques. E, nesse quesito, quanto mais escatológico melhor. Não tenho dúvida de que, junto com algum eventual cancelamento, Rock surfará na onda publicitária que se seguiu ao acontecimento.
Resta saber o que pensar de Will Smith, cuja atitude lavou a alma de todos nós, que assistimos à cerimônia e sentimos vontade de socar o anfitrião, com razão. É de se imaginar o estado de nervos — absolutamente compreensível — de Smith, com os olhos do mundo aguardando para saber se sairia ou não vencedor da noite.
Como bem lembraram Joice Berth e Djamila Ribeiro, as mulheres negras são os sujeitos mais oprimidos e violentados de nossa sociedade e é raríssimo que os homens —negros, inclusive— as defendam, que dirá publicamente. Ponto para Smith, que fez o que desejávamos fazer a milhares de quilômetros de distância.
Mas a forma foi lamentável, dando uma outra camada ao acontecimento, na qual dois homens adultos ultrapassam os limites, respondendo a violência verbal com violência física. Ainda estamos em um momento no qual a mulher, principalmente negra, está tão oprimida e invisibilizada na cena, que só resta aos machos alfa se digladiarem. A coisa só não entornou de vez porque toda a violência de Rock está na língua ferina e ele parece habituado a sair impune, apenas recolhendo o gozo de uma plateia que ri até das próprias humilhações.
Quando as mulheres reagem são barraqueiras e histéricas, quando os homens o fazem são nobres e cavalheiros. A cena toda é de uma misoginia exemplar, deixando a vítima estupefata.
Preparada para ver o companheiro brilhar, em uma noite de festa, assumindo publicamente sua calvície na meca da aparência artificial, Jada estava completamente desarmada diante da virulência do apresentador. Ainda assim, reconheceu de imediato o limite ultrapassado, sinalizando com o rosto, enquanto Smith e Lupita Nyong’o continuaram rindo até a ficha cair.
Smith não poderia tê-la defendido falando —como fez depois—, tinha que ser um tabefe, mesmo? Afinal, é isso que esperamos dos homens, que sigam resolvendo as questões no muque? Acredito que não, pois o próprio Smith pediu desculpas em seguida.
O único saldo positivo teria sido a oportunidade de refletir sobre violência, racismo e misoginia. No entanto, as opiniões foram polarizadas com acusações mútuas e o onipresente fogo amigo. Resultado: o que poderia trazer um bom diálogo rapidamente sucumbiu à superficialidade e aos sopapos virtuais conhecidos por todos nós.
A tentativa de censura do ministro do TSE é alerta inquietante do que vem por aí
A decisão do ministro Raul Araújo, do TSE, de impor censura em um festival de música, é um alerta inquietante do que vem por aí. Confundir atos de expressão individual de artistas com “propaganda político-eleitoral” já preocupa bastante por ignorar direito garantido pela Constituição. Mas não surpreende, considerando despacho anterior do mesmo juiz, mantendo painéis de rua com propaganda do candidato à reeleição.
Bolsonaro faz campanha todos os dias. Cada vez que abre a boca é para minar a democracia, as instituições republicanas e as eleições, atacar ministros do STF e do TSE, infringir a lei. Tudo às claras, como fez ao convocar para o “lançamento da pré-candidatura” dele. Mas o juiz apressou-se em tentar calar artistas. A percepção de que a Justiça tem lado é muito perigosa.
Tudo isso me fez lembrar a canção de Belchior, “Como Nossos Pais”, de 1976. A ditadura censurava, matava, torturava, prendia e arrebentava. “Há perigo na esquina”, diz um verso. É a mesma canção que diz: “Para abraçar seu irmão/E beijar sua menina na rua/É que se fez o seu braço/O seu lábio e a sua voz”. É aí que entra Pabllo Vittar, a cantora que desencadeou a reação dos advogados de Bolsonaro e a decisão estapafúrdia do juiz.
A voz, o lábio, o braço, o corpo inteiro da Pabllo Vittar, sua coragem, valem por mil manifestos políticos. Sua disposição para o enfrentamento da hipocrisia, da discriminação e de preconceitos têm imensa capacidade mobilizadora. Pabllo certamente sabe que se torna um alvo fácil, exposta à ira de reacionários covardes, mas não se deixa intimidar.
Pabllo é a combinação irresistível de “cabelo ao vento, gente jovem reunida”, luminosa, transgressora, transformadora. Como disse um amigo meu, precisamos “vittalizar” o Brasil. Vi e revi a imagem da Pabllo e me peguei cantando de novo Belchior: “Pois vejo vir vindo no vento/O cheiro da nova estação/Eu sei de tudo na ferida viva/Do meu coração”.
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